João Santos Filipe SociedadeEducação | Professor aponta dificuldades no ensino de música local Qi Zixiang, professor na Escola Secundária Kao Yip, defende que a música local devia ser mais valorizada ao nível do ensino. O docente considera importante o reforço educativo da música de cariz católico e Nanyin compostas em Macau O sistema de ensino local está a falhar na missão de ensinar aos alunos a música criada no território. A opinião é de Qi Zixiang, professor na Escola Secundária Kao Yip, e foi publicada como parte dos materiais preparados para o 21.º Seminário Internacional da Sociedade Internacional para a Educação Musical, que decorreu em Julho. Num documento intitulado “Um Balanço sobre a Reforma entre 1999 e 2007 do Currículo da Disciplina de Música no Ensino Secundário de Macau”, Qi aponta que um dos aspectos que está por concretizar é a valorização da música local, que muitas vezes é desprezada. O docente argumenta que esta manifestação cultural de Macau está excluída dos manuais escolares em que se baseia o ensino da disciplina e que existe incompreensão em relação à sua verdadeira importância. “A implementação [do ensino da música local no currículo] foi mal-sucedida por uma série de factores”, escreve o académico. “Alguns políticos acreditam que não existe muita música local, e que a música local é a tocada nos grandes eventos do território, como o Festival Internacional de Música de Macau”, acrescentou. Contudo, o problema, indica o académico, também tem a ver com a mentalidade de alguns professores. “Acrescente-se também a falta de vontade dos professores para ensinarem a música local em Macau. É o que concluo das minhas observações”, argumentou. O facto de as escolas locais utilizarem manuais do Interior, Hong Kong e Taiwan é apontado como outro problema, uma vez que não têm conteúdos sobre Macau. “Assim os livros de música negligenciam os géneros locais, como as músicas católicas, música Nanyin local e o estilo Xian Shui Ge”. A música Nanyin é um estilo clássico chinês, muito popular no sul da província de Fujian, mas que se difundiu em vários locais, como Taiwan, Hong Kong ou outros países do Sudeste Asiático, acompanhando a diáspora de outros tempos. Noite portuguesa, dia chinês Além de falar das dificuldades em promover o ensino da música local, Qi Zixiang considera que a disciplina de música pode assumir um papel mais importante na educação. Segundo o académico, as escolas orientam muito o ensino da disciplina para os concursos de música que existe no território e para os testes PISA, ou seja, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos. No entender do professor de música, é essencial dar mais espaço para os alunos aprenderem diferentes técnicas, estilos musicais e fazerem a ligação com uma arte muito presente. Qi Zixiang deixa o desejo que o caminho possa ser melhorado, para que Macau assuma o papel de cidade internacional da Grande Baía, com uma produção cultural correspondente. Apesar das críticas apresentadas, o académico faz um balanço positivo da evolução do programa da disciplina de música após a transição. Segundo Qi, Macau passou de uma colónia desinteressada na educação, em que as autoridades permitiam que as escolas privadas adoptassem o tipo de ensino que bem desejassem, no que definiu como laissez faire educativo, para um sistema mais orientado, com subsídios e orientação por parte da actual Direcção de Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude. O académico elogia assim o trabalho feito nos últimos anos, reconhecendo que o caminho percorrido, com forte apoio económico, só foi possível devido ao grande desenvolvimento do jogo.