Victor Ng PerfilPerfil | Jacinto Ng, engenheiro civil [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] engenheiro civil, nascido em Macau, mas que optou por seguir a vida em Inglaterra. Com 24 anos, Jacinto Ng fez o mestrado na Universidade de Surrey e recorda que o desejo de ir para o estrangeiro pode ter nascido das conversas que ouvia dos pais, enquanto criança. Curioso, acabou por viajar para Inglaterra e prosseguir lá a sua formação. Afinal, “só assim poderia perceber como é que seria viver fora de Macau”, diz ao HM. Ao chegar e do que recorda, Jacinto Ng notou de imediato que as cidades inglesas são mais calmas do que Macau. “As lojas estavam localizadas no centro e fechavam as portas, geralmente, por volta das seis da tarde. À noite não havia muito para fazer”, refere. Quando lá chegou, por ter um nível de inglês ainda muito baixo, não conseguia perceber bem o que se passava à sua volta, nem comunicar o que queria. Só um ano depois, com a mudança para Londres, é que se começou a integrar. Rumo à experiência Hoje em dia, trabalha como assistente de engenharia numa empresa de consultoria. Jacinto Ng tem a seu cargo a concepção para as instalações básicas de prédios residenciais. Apesar de ter estagiado em Macau e ter tido a oportunidade de ficar no território onde nasceu, Jacinto Ng optou por regressar ao Reino Unido. A razão, aponta, é a possibilidade de um “enriquecimento cultural e profissional que o convívio e trabalho em Inglaterra proporcionam”. Mas, nem tudo foram rosas. Ao optar por trabalhar em Inglaterra, o primeiro passo, o de conseguir emprego, “foi complicado”. “A engenharia civil é uma área com muita concorrência”, recorda. Mas, depois de várias tentativas e alguns falhanços, conseguiu. Do ambiente laboral que tem, não pode dizer melhor. “Sou bem acolhido e há muito o espírito de entreajuda”, diz. Outra vantagem, considera, é o facto de não ter um trabalho que lhe proporcione stress. “Quando temos projectos a entregar, o stress sente-se perto dos prazos de entrega, mas antes disso, trabalhamos sem muita pressão e de modo planeado”, explica o engenheiro civil. Casa encontrada Mas a vida também é lazer e, mesmo que ligada ao trabalho, Ng já tem uma estrutura social montada. “É comum saírem para conversar e trocar impressões sobre a actualidade”, diz. Esta proximidade com os colegas que se transformam em amigos deve-se ao facto de ser uma empresa pequena, explica. “Há muitas vantagens em não trabalhar em empresas de grande dimensão. Aqui, porque se trata de uma empresa com poucas pessoas, posso ter uma relação mais estreita com os meus colegas”, ilustra. Depois de um dia de trabalho, os colegas e amigos são a companhia para uma ida a um bar, os adversários de um jogo de futebol ou os companheiros ideias para um barbecue. Regresso distante Jacinto Ng não tem, para já planos para regressar a Macau. Para o engenheiro, continua a ser fundamental adquirir mais experiência profissional, e mesmo de vida no estrangeiro. Tratam-se de factores que, considera, podem vir a ser muito relevantes no futuro. “Num futuro mais distante, vou querer regressar, até porque se trata do lugar onde nasci e onde tenho família”, refere quando pensa no que fazer a longo prazo. “Mas, só depois de bem preparado. Quero trazer a minha experiência e conhecimento para o território de modo a melhorar a qualidade de vida das pessoas”, confessa. Para já, Jacinto Ng está “num país com mais liberdade e ideal para quem gosta de visitar museus e conhecer a história”. Outra vantagem, tem que ver com a natureza. “Em Inglaterra há paisagens muito bonitas e muitos espaços verdes onde dá para fazer caminhadas”, diz. Apesar de longe, o engenheiro civil não deixa de apontar algumas qualidades de Macau. “Mesmo sendo uma região muito pequena, é sempre mais fácil sair à ruas com os amigos e há sempre muitos eventos a acontecer”, elogia.
Isabel Castro PerfilPerfil | Rui Barbosa, engenheiro civil [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um número redondo. Dez anos é uma vida, até podem ser mais, dependendo do que se viveu e daquilo que fez. É o caso de Rui Barbosa, engenheiro civil, residente do território há uma década, comemorada este ano. Veio porque a namorada recebeu um convite de trabalho, a história clássica de muitos casais. Duas mãos cheias de anos depois, tem dois filhos, uma empresa e uma vida cheia. Pelo meio, ainda está o desporto. A voz que se empresta ao desporto. Pelo início. Rui Barbosa nasceu em Lisboa, aventurou-se pela Engenharia Informática quando chegou a hora de entrar na universidade. Foi “uma experiência frustrada” que durou dois anos, até decidir fazer aquilo em que tinha pensado quando era “mais miúdo”. Troca uma engenharia por outra, sempre tinha gostado de matemática, de física e de desenho, e assim aconteceu um engenheiro civil. Os primeiros anos de trabalho foram passados em Portugal. Macau foi um acontecimento de que não estava à espera, numa altura de contrastes: em 2007, a situação laboral portuguesa começava a degradar-se; por cá, multiplicavam-se estaleiros de obras. Rui Barbosa trabalhava com um empreiteiro e não estava contente com a situação. “Falava-se da crise, mas muita gente não se apercebia. A construção acaba por ser um barómetro bastante importante para se perceber como está o estado da economia”, nota. Com a namorada de malas feitas a caminho de Macau, não hesitou e enviou um ou dois currículos. “Dois meses depois de ter vindo, estava a trabalhar.” A adaptação não foi difícil, até porque não atribuiu um significado especial à ideia das “experiências”. “Vou em frente”, explica. Veio. Não chegou sozinho e vários amigos aterraram em Macau pouco tempo depois, o que ajudou à integração. “Foram dois ou três anos em que houve um grande boom de gente com 20 e muitos, 30 anos. Tivemos também a sorte de criar logo um grupo de pessoas que tinham chegado há pouco tempo e que estavam necessitadas de se sentirem enquadradas”, recorda. Desses tempos, uma conclusão: “Macau é uma cidade onde é importante as pessoas não se fecharem. Se o fizerem, se ficarem em casa, se não tentarem criar amizades, pode ser complicado.” Obras da casa O arranque profissional em Macau aconteceu bem mas, passados dois anos, o engenheiro civil ouvia, de novo, uma palavra que conhecia bem: crise. No território, teve uma dimensão diferente daquela que conheceu em Portugal, mas o projecto em que estava a trabalhar foi suspenso. Corria o ano de 2009. “Estive algum tempo em projectos mais pequenos que não me satisfaziam tanto profissionalmente como aquele que agarrei quando vim para cá”, conta. Entretanto, recebeu uma proposta. “Na altura, não como sócio, mas para alavancar uma empresa que estava na ideia de alguns investidores. Achei a ideia interessante.” Dois anos mais tarde, acabou por ficar a liderar o projecto. A KPM Project Management “tem sido a minha criança aqui em Macau, que vai crescendo com os passos que tem que crescer – às vezes devagarinho, às vezes um bocadinho mais”. A “criança” profissional de Rui Barbosa vai procurando um posicionamento no mercado local. “Começámos muito mais virados para o ‘project management’, na área da construção. Depois começámos a abordar a parte do design, da arquitectura. Ultimamente, a KPM decidiu voltar um pouco às raízes, porque quando estive em Portugal estive sempre muito ligado à construção.” Em termos concretos, a KPM faz, por exemplo, o design de um apartamento que precise de ser reformulado. Depois de conceber o projecto, trata também da obra, numa lógica de serviço individualizado. “A área onde estamos mais presentes acaba por ser a residencial e a corporate, os escritórios”, diz. Mas não só: “Ultimamente, estamos a tentar entrar mais na área do retalho, portanto, para outro tipo de clientes”. Projectos e obras à parte, Rui Barbosa vai ainda tendo tempo para dar voz a comentários de programas desportivos. Foi mais um acaso, mais um resultado de se “atirar de cabeça para as coisas”. Um par de anos depois de ter chegado a Macau, um amigo convidou-o para para fazer comentários na televisão a um jogo de futebol. Foi uma experiência de madrugada, às três ou quatro da manhã, que correu bem. Passou a ser uma presença mais ou menos assídua em jogos de Mundiais, Europeus, campeonatos italianos, espanhóis, e depois veio ainda o Grande Prémio. Sozinho ou acompanhado, a um microfone da TDM. Hoje em dia, já não acorda às duas da manhã com tanta frequência para fazer comentários a uma partida da Liga dos Campeões. “Agora com filhos é mais difícil, mas vou fazendo com prazer.”