Covid-19 | Embaixada portuguesa na China numa “corrida” para assegurar equipamento médico

[dropcap]O[/dropcap] embaixador português em Pequim admitiu estar numa “corrida contra o tempo” para garantir equipamento médico vital na luta contra a epidemia do novo coronavírus, numa altura de forte aumento da procura a nível mundial.

“Queremos lutar pelos nossos cidadãos e ter a capacidade de cumprir com a nossa obrigação. O problema é que o mundo está cá todo”, afirmou à agência Lusa José Augusto Duarte, à margem de um encontro comemorativo da doação de quase quatro milhões de euros em equipamento médico pela EDP e pela sua acionista chinesa, a estatal China Three Gorges (CTG), ao Ministério da Saúde português.

A EDP e a CTG entregaram esta manhã na embaixada portuguesa em Pequim 50 ventiladores, 200 monitores médicos e outros equipamentos, que serão agora enviados para Portugal. Lembrando que o montante oferecido “não é brincadeira”, Augusto Duarte revelou que a CTG foi a primeira empresa do país asiático a oferecer ajuda às autoridades portuguesas.

A oferta surge numa altura em que os ‘stocks’ mundiais se têm mostrado insuficientes para a elevada procura, à medida que a doença se alastra por todo o mundo, fazendo mais de 31 mil mortos e paralisando países inteiros.

A crise de saúde pública, que começou em Wuhan, no centro da China, alastrou-se, entretanto, à Europa e aos Estados Unidos, resultando numa escassez global de ventiladores ou máscaras cirúrgicas.

“Se hesitássemos cinco segundos a fechar o contrato, estes ventiladores não estariam aqui”, admitiu Zhang Dingming, vice-presidente executivo da CTG, durante a cerimónia.

A pandemia da covid-19 está também a expor as consequências da centralização das cadeias de produção globais na China, primeiro ao paralisar a indústria eletrónica ou de automóveis, devido ao encerramento de fábricas, portos e cidades inteiras no país asiático, e a seguir a demonstrar a incapacidade dos países ocidentais de se auto-abastecerem com equipamento médico crucial, à medida que a doença de alastrou além-fronteiras.

Depois de dois anos marcados pela guerra comercial e tecnológica entre Washington e Pequim, analistas prevêem que a crise de saúde acelere a dissociação entre as cadeias de distribuição globais.

José Augusto Duarte admitiu “não ter a menor dúvida de que há muita coisa que está a ser questionada e debatida”, mas ressalvou que a “meio de uma crise, não é a melhor altura para se tomarem decisões”, porque “temos tendência para ver só a parte negativa”.

“Nesta altura estamos a ver um aspeto que consideramos menos positivo, que é a concentração num país desta capacidade produtiva de determinados aparelhos que fazem falta, mas também que foi esse processo que permitiu ter produtos mais baratos e a criação de outros tipos de emprego em outras partes do mundo”, resumiu.

A televisão estatal chinesa CGTN compareceu no encontro na embaixada. As autoridades e entidades chinesas têm realizado doações de equipamento médico, quase sempre acompanhadas de cerimónias mediatizadas pelos órgãos oficiais de Pequim.

Esta semana, Josep Borrell, alto representante da União Europeia para a Política Externa fez um alerta contra a “política de generosidade” da China, que identificou como uma “luta por influência” e uma “batalha global pelo domínio da narrativa”.

“Na batalha das narrativas, temos visto também tentativas de desacreditar a União Europeia e alguns casos em que europeus foram estigmatizados como se fossem todos portadores do vírus”, disse.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infectou mais de 667 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 31.000. Dos casos de infecção, pelo menos 134.700 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

A China, sem contar com os territórios de Hong Kong e Macau, conta com 81.439 casos (mais de 75 mil recuperados) e regista 3.300 mortes. A China anunciou hoje 45 novos casos, dos quais 44 oriundos do exterior, e mais cinco mortes, numa altura em que o país suspendeu temporariamente a entrada no país de cidadãos estrangeiros, incluindo residentes.

Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 119 mortes, mais 19 do que na véspera (+19%), e registaram-se 5.962 casos de infecções confirmadas, mais 792 casos em relação a sábado (+15,3%).

29 Mar 2020

Diplomacia | José Augusto Duarte encara a China como a grande prioridade

Está em na capital chinesa desde Janeiro e terminou ontem a sua primeira visita a Macau. Para o Embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, o projecto de Porto de Sines deve avançar a bem da integração da política “Uma faixa, uma rota”. No que toca às liberdades, o diplomata entende que estes são assuntos que apenas dizem respeito à China

 

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em Pequim, fez a sua primeira visita a Macau. O objectivo foi tomar conhecimento da situação local e definir objectivos estratégicos de forma a melhorar as interações entre a RAEM, o continente e Portugal. Apesar de bem impressionado, o diplomata que assumiu funções em Janeiro, admite que há ainda muito a fazer. “Temos uma relação constitucional saudável e equilibrada e não há propriamente problemas de fundo, ou tensões a resolver”, começou por dizer no encontro de ontem com os jornalistas. De acordo com o embaixador, há espaço para aumentar as trocas comerciais, o investimento, e as relações culturais, científicas e tecnológicas. Quanto a Macau, as condições estão criadas, porém, é preciso passar à acção e ao envolvimento da sociedade civil. “Temos de ter acordos que permitam os investimentos. A partir do momento em que já os temos, como é o caso em Macau, temos de ter também a própria dinâmica da sociedade civil para aproveitarmos estes mecanismos existentes”, apontou.

Continente à espera

No que respeita ao continente a situação mantém-se, mas é preciso ainda trabalhar em alguns processos legislativos. José Augusto Duarte avança que está em curso, há vários anos, a possibilidade de exportar para o mercado chinês carne congelada portuguesa. De acordo com o diplomata, esta é uma matéria com “enorme interesse para as associações de suinicultores portugueses e para o Ministério da Agricultura, mas as negociações ainda decorrem”.

Para já, as empresas portuguesas com registos de sucesso estão a ter lucros que não teriam em qualquer outro mercado internacional, referiu. “Exemplo disso é a Superbock, que está a ter um sucesso imenso nas suas exportações em grande parte devido às exportações para o mercado chinês. É, neste momento, a cerveja mais importada para a China”, apontou.

Sines estratégico

Em relação Porto Marítimo de Sines, o diplomata olha o futuro com optimismo. “O debate está a ser feito. Portugal tem um interesse inequívoco em ficar conectado com esta iniciativa de um ponto de vista económico”, esclareceu o embaixador José Augusto Duarte. “Não é apenas um interesse político abstracto, é concreto. Se Sines estiver ligado ao projecto “Uma faixa, uma rota”, a nossa economia pode sair muito beneficiada porque temos uma posição estratégica única na Europa de facilitação de ligação aos continentes americano e africano, por mar e terra, a toda a massa continental euro-asiática”, explicou. A embaixada está “em contacto com as autoridades chinesas para defender isso mesmo e provar que seria uma parceria win-win”, que estaria aberta a outras estruturas portuárias e não apenas a Sines, disse o diplomata.

Entretanto, a China está no topo das prioridades de Portugal. “A China impõe-se por si. Para onde quer que nos viremos a China marca presença e é um prioridade da política externa portuguesa”, sublinhou.

Liberdades à parte

Questionado acerca da sua posição relativamente ao crescente poder do presidente chinês Xi Jinping, José Augusto Duarte considera que se trata de um assunto que apenas à China, e aos seus cidadãos, diz respeito. “Acho que compete aos cidadãos chineses e à China fazer os debates que consideram oportunos, as reformas que consideram adequadas, e ter o seu próprio modelo de desenvolvimento e de evolução naquilo que são os direitos cívicos, ou o que são as ordens constitucionais estabelecidas relativamente ao número de mandatos”, referiu. Por outro lado, salientou que “uma coisa é certa, a China com o seu próprio modelo estabelecido, sobretudo após as reformas iniciadas por Deng Xiaoping. Atingiu patamares de desenvolvimento económico e social que dão que pensar ao mundo inteiro e que fazem  a criação de um ordem geo-económica internacional nova.

O embaixador mantem uma posição de prudência também em relação ao impedimento de entradas no território de autores que iriam participar no Festival Rota das Letras. “Aqui, não vejo questões internas como um problema, acho que devemos estar atentos, devemos ir observando”.

Por outro lado, este tipo de situações, considera, em nada afectam a política de “Um país dois sistemas”. “Acho que seria muito forçado considerar que estaria em causa a solidez dessa política”, disse, até porque, “qual é o país do mundo que nos seus processos de integração ou de independência tem algo parecido com o que existe entre a RAEM e a China?”, questionou retoricamente. “Neste momento, não temos motivos que nos levem a ter uma preocupação ou a pôr em causa o que quer que seja na negociação que foi feita relativamente à transição”, rematou.

Mudar o dia de Portugal

Se até agora o dia de Portugal, 10 de Junho, era comemorado na embaixada de Pequim com a realização de um cocktail. O embaixador José Augusto Duarte quer alterar a celebração de forma a mostrar o melhor de Portugal a Pequim. “Quero mudar a forma como se comemora o dia de Portugal”, revelou. A razão deve-se ao facto de ser um momento privilegiado em que “temos uma boa parte da administração do Estado que nos recebe, temos convidados estrangeiros que competem connosco, temos amigos vários e temos a imprensa. Já que tenho estas condições aproveito e projecto o meu país de uma forma mais elevada”, justifica.

Este ano, a opção foi um concerto de música barroca. O evento vai contar com a presença da Orquestra de música barroca da Casa da Música do Porto e com um filme que apresenta a cidade invicta. A escolha não foi ingénua. “No fim do séc. XVII houve um imperador chinês, Kanxi, que teve uma relação espacialíssima com Portugal. Apreciava o país e teve um conselheiro diplomático português que foi de Macau. O conselheiro era Tomás Pereira, do Porto e era também musicólogo. Por isso, “ao invocar Kanxi, Tomás Pereira e o Porto estamos a invocar uma época áurea entre o nosso entendimento”, abrilhantado com o melhor da música erudita.

Entretanto, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, Vítor Sereno, termina o mandato este ano e pode ter já o sucessor escolhido. “O substituto já está à partida escolhido, mas são processos longos e burocráticos e não está ainda garantido”, referiu o embaixador. Quanto à data para a substituição, ainda é um incógnita, sendo que “não andará longe dos seis meses”.

Consulado em aquecimento

A abertura do consulado em Cantão, a terceira maior cidade da China, “é literalmente uma questão de dias”, afirmou ontem o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte. “Temos todas as autorizações e já estão pessoas a trabalhar lá dentro”, anunciou o embaixador, durante uma conversa com os jornalistas, na residência oficial do cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong. Trata-se do terceiro consulado de Portugal na China, depois de Macau, Pequim e Xangai, e terá como área de jurisdição as províncias de Guangdong, Hainan, Hunan, Fujian e a região autónoma de Guangxi. Questionado sobre a possibilidade de abrirem mais consulados na China, o embaixador declarou não haver “para já” essa hipótese. Mas “mais importante do que abrir mais consulados, é dotar as embaixadas que já temos com todos os meios necessários”, ou seja, “mais recursos humanos e materiais”, sublinhou.

2 Mai 2018

Embaixador português em Pequim distinguido

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] embaixador de Portugal em Pequim, Jorge Torres Pereira, recebeu esta quarta-feira em Lisboa o prémio de melhor diplomata económico do ano, atribuído pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP).

Em comunicado terça-feira enviado à Lusa, a CCIP precisou que o prémio anual, baptizado com o nome de Francisco de Melo e Torres, prestigiado diplomata português do século XVII, e que vai na quarta edição, foi entregue ao embaixador português, no âmbito do Seminário Diplomático promovido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, a decorrer no auditório do Museu do Oriente.

Licenciado em Medicina, Jorge Ryder Torres Pereira ingressou na carreira diplomática em 1986 e já esteve colocado em Londres, Telavive, Moscovo, Madrid, Ramallah e Banguecoque, antes de representar Portugal em Pequim.

O diplomata recebeu o prémio para o chefe de missão diplomática que, ao longo do ano, mais se destacou “no apoio à internacionalização de empresas portuguesas e na captação do investimento estrangeiro, contribuindo para o crescimento da economia portuguesa”, das mãos do presidente do júri, o embaixador António Monteiro, e do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone.

Boas aplicações

No valor de 25 mil euros, o prémio – de cujo júri fazem ainda parte Paulo Portas, vice-presidente da CCIP, e Miguel Horta e Costa, membro da direcção – será aplicado em “acções de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e na captação de investimento estrangeiro, contribuindo deste modo para a melhoria do desempenho da missão diplomática premiada”, lê-se no comunicado.

Para escolher o vencedor, o júri “analisa casos concretos de empresas que se tenham internacionalizado com o apoio do diplomata nomeado, casos de empresas estrangeiras que se tenham estabelecido em Portugal ou entrado no capital de uma empresa portuguesa através da actuação directa do chefe de missão diplomática, bem como eventos organizados pelo nomeado para promover a imagem de Portugal”, refere-se ainda no documento.

O presidente da CCIP sublinha a importância do Prémio Francisco de Melo e Torres, argumentando que este “tem vindo a afirmar-se como uma referência” ao reconhecer “o papel fundamental que os nossos diplomatas têm na aplicação objectiva e com resultados da diplomacia económica nas empresas e na economia portuguesa.”

5 Jan 2017