O evento diplomático mais importante do ano de 2024

Por Francisco Leandro – Professor Associado da Universidade de Macau

Vai decorrer em Macau, no próximo fim-de-semana, o evento diplomático mais importante do ano: a VI Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Este evento é composto por três momentos, divididos por dois espaços: no dia 21 de Abril, terá lugar o jantar de boas-vindas aos delegados da VI Conferência Ministerial do Fórum Macau, no Centro de Convenções Internacionais, na Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental; no dia 22 de Abril, decorrerá a Cerimónia de Abertura da VI Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e no dia 23 de Abril, a Conferência dos Empresários entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Estes dois últimos eventos, terão lugar no Salão Nobre do novíssimo Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

São quatro as razões para considerar esta conferência o evento diplomático do ano na RAEM. A primeira, relaciona-se com a consolidação do papel de RAEM no contexto da sua contribuição para os planos nacionais, não só no contexto de “Um País Dois Sistemas”, mas também na política “Um Centro, Uma Plataforma e Uma Base”. O desenvolvimento sustentado e diversificado da RAEM, para além de estar a encaminhar a região para se tornar “Um centro com quatro indústrias nascentes” – “Um Centro” de turismo de nível mundial, facilitando ao mesmo tempo a desenvolvimento de quatro indústrias, nomeadamente: a indústria da saúde de alta qualidade, os serviços financeiros modernos e de nível internacional; as indústrias de alta tecnologia; e a indústria de convenções e exposições – deve estar também atento ao aprofundamento do conceito de Macau como plataforma comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

A segunda, está associada ao facto de terem decorrido cerca de 8 anos (desde 2016), sem contar com a Conferência Ministerial extraordinária que se realizou online em 2022, desde que os representantes dos 10 estados soberanos, tiveram oportunidade de consolidar laços pessoais e institucionais. Ė, portanto, tempo de estabelecer um plano de acção para os próximos 3 anos, que seja capaz de corresponder ao consenso das diferentes expectativas político-diplomáticas e continuar a valorizar o Fórum Macau, como um bem comum e de interesse público. Um plano de acção estratégica que tenha em conta os novos desafios colocados pelas transformações internas dos 9 países de língua portuguesa, bem como os desenvolvimentos da Grande Baia e da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau, em Hengqin.

A terceira, prende-se com o facto de ser a primeira vez que a delegação da Guiné Equatorial, membro de pleno direito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (desde 2016 na XI Cimeira, em Brasília) e do Fórum Macau (desde 2022), participará ao mais alto nível, alargando o horizonte das possibilidades de cooperação e a visibilidade africana do Fórum Macau.

Finalmente, no momento particularmente tumultuoso da ordem internacional, de um novo dinamismo que a administração do Presidente Lula da Silva veio imprimir às relações Sino-Brasileiras e do recém eleito Governo de Portugal, importa consolidar e alargar a cooperação para o desenvolvimento, num espírito de paz, de modo sustentado, dando passos concretos para que um dia seja possível estabelecer, entre a China e os Países de Língua Portuguesa, uma comunidade de destino partilhado, à semelhança das que a China estabeleceu com o Laos (2019), com a Tailândia (2022), com o Camboja (2023) e com o Quirguistão (2023).

19 Abr 2024

Fórum Macau | Delegados destacam trabalho da secretária-geral Xu Yingzhen

Delegados representantes de países de língua portuguesa junto do Fórum Macau consideram que Xu Yingzhen, ex-secretária-geral, foi fundamental no trabalho de diplomacia económica sino-lusófona. A responsável deixou Macau com destino a Pequim este domingo

 

[dropcap]O[/dropcap]s delegados do Fórum de Macau de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe disseram ontem à Lusa que a ex-líder da entidade se destacou na promoção do comércio sino-lusófono nos quatro anos de mandato. “Destaco a promoção do comércio e investimento, bem como o fomento de parcerias industriais na nossa relação com a china”, afirmou o delegado de Cabo Verde no Fórum Macau, cujo nome oficial é Fórum de Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. “Aumentou-se o nível de intercâmbio com Cabo Verde, desenvolveram-se algumas parcerias com províncias chinesas”, sublinhou Nuno Furtado.

A secretária-geral do Fórum de Macau, Xu Yingzhen, cessou as funções e regressou a Pequim no domingo, anunciou hoje a organização de cooperação económica e comercial entre a China e os países de língua portuguesa.

Nuno Furtado lembrou os bons resultados, ao longo dos quatro anos de mandato de Xu Yingzhen, ao nível do desenvolvimento de recursos humanos, que significaram, na prática, a formação, “anualmente, de 50 quadros cabo-verdianos”.

Na mesma linha, o delegado de São Tomé e Príncipe, Gika Simão, destacou a preponderância e a contribuição de Xu Yingzhen para o aumento das trocas comerciais China/Macau com aquele país africano.

As competências humanas, a capacidade de diálogo e a capacidade de trabalhar em equipa foram algumas das qualidades de Xu Yingzhen que os dois delegados destacaram.

“Como diplomata, sabe gerir muito bem os conflitos, sabe fazer as coisas acontecerem. Deixa saudades”, frisou Gika Simão, acrescentando que a ex-secretária-geral “aproximou o Fórum dos países de língua oficial portuguesa”. “O Fórum não visitava de forma permanente os países. Com a Xu, o Fórum passou a visitar todos os países [representados] uma vez por ano”, disse.

A liderar desde 2016

A China estabeleceu a RAEM como plataforma para a cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa em 2003, ano em que criou o Fórum de Macau. Este Fórum tem um secretariado permanente, reúne-se a nível ministerial a cada três anos e integra, além da secretária-geral e de três secretários-gerais adjuntos, oito delegados dos países de língua portuguesa, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Xu Yingzhen, que assumiu funções em Julho de 2016, presidiu a “uma série de eventos de grande importância”, como a 5.ª Conferência Ministerial do Fórum de Macau, “a celebração do 15.º Aniversário da Criação do Fórum de Macau” e participou ainda às comemorações do 20.º aniversário da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, em 20 de dezembro de 1999, lembrou o Fórum.

Xu Yingzhen iniciou as funções na mesma altura em que São Tomé e Príncipe integrou o Fórum de Macau, ajudando o país e criando condições para ficar “ao mesmo pé de igualdade que os restantes” membros, frisou Gika Simão. Também o delegado de Cabo Verde enfatizou o “trabalho que foi realizado num ambiente de muita cooperação e colaboração”.

“Tivemos uma secretária-geral com competência, capacidade de diálogo e habilidade para concretizar as medidas plasmadas nos planos de acção da 5.ª conferência inter-ministerial” que se realizou em outubro de 2016, afirmou Nuno Furtado. Já o secretário-geral adjunto do Fórum de Macau, Rodrigo Brum, destacou, em declarações à Lusa, a “boa colaboração, profícua”, que existiu entre os dois.

14 Set 2020