Quatro filmes portugueses distinguidos nas Canárias

A longa-metragem “Nayola” e as curtas-metragens “O Homem do Lixo”, “Ice Merchants” e “Garrano” foram sábado galardoadas nas categorias principais dos Prémios Quirino de Animação Ibero-americana, numa cerimónia que decorreu em Tenerife, nas Canárias, Espanha.

Os filmes portugueses conquistaram quatro dos nove galardões, nomeadamente o Prémio Melhor Longa-Metragem de Animação Ibero-americana para “Nayola”, de José Miguel Ribeiro, e Prémio Melhor Curta-Metragem para “O Homem do Lixo”, de Laura Gonçalves, anunciou a organização na divulgação do palmarés.

“Nayola” é uma visão do impacto da guerra civil de Angola em três gerações de mulheres e estava nomeada naquela categoria e também para o Prémio Quirino de melhor desenvolvimento visual.

“O Homem do Lixo”, sublinhou a organização do certame, em comunicado, “reflecte a poesia, a nostalgia e a marca autoral que caracterizam a animação portuguesa das últimas décadas”, relatando a história do Tio Botão, um homem capaz de transformar lixo em tesouros.

Também a curta-metragem portuguesa “Ice Merchants”, de João Gonzalez, sobre laços familiares e perda, que tinha sido este ano nomeada para os Óscares, recebeu o Prémio Melhor Desenvolvimento Visual de Obra de Animação Ibero-americana.

O Prémio Melhor Desenho de Som e Música Original de Obra de Animação Ibero-americana foi atribuído a outra obra portuguesa: “Garrano” dirigido por David Doutel e Vasco Sá, e produzida por Bap – Animation Studios, Art Shot (Portugal, Lituania).

Outros premiados

Além das obras portuguesas, também foram distinguidos trabalhos da Espanha e da Argentina, nomeadamente o Prémio Melhor Série, conquistado pela espanhola “Jasmine & Jambo” de Silvia Cortés, uma série que procura explicar conceitos e géneros musicais para o público pré-escolar através das aventuras de dois amigos apaixonados pela música.

O filme argentino “Este perro está raro”, de Facundo Quiroga, Juan Nadalino e Sebastian García, foi reconhecido como Melhor Animação Sob Encomenda.

A lista de vencedores incluiu ainda a curta-metragem argentina em ´stop motion´ “Pasajero” de Juan Pablo Zaramella, vencedor do Prémio de Melhor Design de Animação.

Os vencedores foram seleccionados por um júri internacional integrado por Andrea Fernández, Julio Bonet, Risa Cohen, Robert Jaszczurowski e Simón Wilches-Castro.

A cerimónia de entrega dos Prémios Quirino decorreu no Teatro Leal de San Cristóbal de La Laguna, em Tenerife.

Os Prémios Quirino foram criados em 2018, para reconhecer a produção de quem trabalha no cinema de animação do espaço ibero-americano, dos dois lados do Atlântico.

Mais de 20 países, incluindo Portugal, estiveram na criação destes prémios, baptizados em homenagem ao realizador italo-argentino Quirino Cristiani.

A par da cerimónia dos prémios, os Quirino incluíram uma série de actividades em torno da animação, nomeadamente um fórum, debates e um espaço de negócios.

15 Mai 2023

Herdade

[dropcap]C[/dropcap]om estreia em 62 salas, este é o filme a que se tecem os mais rasgados elogios por parte de comunicação social e dos actores do sector.

É bom o conseguimento de um produtor, o Paulo Branco, e da equipa de comunicação do filme, desta vontade que exprime também a mudança significativa no acolhimento da produção cinematográfica portuguesa, que da indiferença e da crítica assente em pré-conceitos sobre a qualidade das obras, passou a um enaltecer, vendo pérolas cinematográficas nas obras que o cinema português vai conseguindo produzir. E isto é bom, mesmo que nem tudo seja pepita de ouro nos filmes que, por vezes após anos de insistência, vão conseguindo chegar ao grande ecrã.

Um dos problemas com que o cinema português se tem confrontado nas últimas décadas, é o do acesso aos públicos, o que é o mesmo de dizer, enorme dificuldade no acesso à exibição e distribuição. Um filme português ter estreia em 70 salas, a par de outras produções recentes que também chegam ao primeiro contacto com os públicos em 50, 60 ecrãs, é um dado novo que indica uma mudança de enaltecer, e até festejar.

Nas contas do primeiro fim de semana, de 19 a 22 de Setembro o filme foi visto por 19.424 pessoas, nos 62 ecrãs, o que representa uma receita bruta de 105.372,11€.

Herdade, é um excelente filme para, uma vez mais, se colocar a pergunta “O que é o cinema?”, já tantas vezes formulada no seguimento da formulação primeira, por André Bazin, na segunda metade da década de 40 do séc. XX. Curiosamente é também nos anos 50 que se inicia a materialidade cinematográfica deste fresco cinematográfico assinado por Tiago Guedes. A resposta à pergunta é vasta e depende do modelo de abordagem; dispositivo estético, modelos de produção, recepção, linguagem, géneros cinematográficos, cinema mainstream ou cinema indie, cinema-cinemas, são alguns dos possíveis ângulos para a análise e circunscrição da questão. O espaço permitido à escrita de uma crónica de cinema não é o lugar para uma aproximação/resposta à pergunta tantas vezes formulada, mas talvez seja oportuno pensar sobre uma outra pergunta que, por razões várias, anda próxima; o que é escrever sobre filmes?, ou que é hoje, escrever crítica cinematográfica?

Todos os filmes se confrontam com a memória cinematográfica, e o filme vive este aparente paradoxo de ser simultaneamente obra única e obra partilhada. Nunca é pouco o que se exige a cada filme. E ainda bem, esta exigência, esta expectativa de revelação, de emoção, racionalidade e maravilhamento perante cada nova obra cinematográfica que pela primeira vez chega ao grande ecrã é uma das condições para diferenciação cinematográfica na imensa produção audiovisual. Ao contrário do que muitos profissionais do marketing afirmam quando decidem antecipar o que os públicos querem, gostam, ou não gostam, um olhar atento mostra que os públicos de cinema, reconhecem e procuram a excelência cinematográfica, a qual raramente dispensa a história e o processo inteligível de a contar.

Escrever sobre um filme é, obviamente, escrever sobre a fotografia, o argumento, a montagem, os actores, a produção, a realização, mas talvez que seja sempre o fora de campo, que a própria escrita sobre qualquer objecto cinematográfico já é, aliás, o aspecto mais revelador e de interesse na escrita sobre filmes. Afinal, é eco do filme em nós, o que nos apaixona ou distancia da obra cinematográfica.

A primeira cena da Herdade começa com um plano geral no Alentejo, e uma situação narrativa de enorme força. Um sobreiro na paisagem de terra quente onde se adivinha o trigo e a determinação sem reservas nem complacência do confronto fenomenológico entre vida e morte.

Alguém, um homem trabalhador da herdade, decidiu pôr fim à vida. O corpo permanece inerte alguns metros acima da terra, enlaçado e pendurado pelo pescoço na corda grossa atada ao ramo vigoroso do sobreiro. Um outro trabalhador prepara-se para descer o corpo, a acção é interrompida por mando do dono da herdade, é dada ordem para ir chamar o filho – João Fernandes (o personagem interpretado por Albano Jerónimo quando adulto – aqui ainda criança). O pai quer que o filho olhe a realidade, diz-lhe que vai aprender uma lição de vida, indica-lhe o olhar para o enforcado. A criança, perante a crueldade da imagem, após um primeiro momento de confronto com a materialidade da morte, afasta-se a correr, refugia-se no isolamento oferecido pela pequena ilha, a ermida de Stº António, uma pequena ruína, no lago da propriedade. O lugar tenente do pai corre para apanhar a criança mas à voz do patrão que lhe dá ordem para o não fazer, imobiliza-se, regressa ao trabalho de descer do ramo do sobreiro o corpo do companheiro enforcado. Estamos perto da década de 50. A sequência seguinte é já com João Fernandes no lugar do pai, é ele agora o dono da grande Herdade, estamos ainda no Estado Novo, a Guerra Colonial exige esforços e alianças. João Fernandes está no picadeiro com o seu puro sangue, o cavalo negro, é-lhe anunciada a visita sem convite de um ministro de Estado. Nesta sequência conhecemos a família, o lugar tenente do patrão, uma personagem magistralmente criada pelo Miguel Borges, que é sem grande discussão merecedora de um prémio de interpretação pela contenção e desenho do personagem. E claro o contexto da época.

A importância, ou melhor o poder do senhor do latifúndio, e a forma do exercício do Poder do Estado, as necessárias visibilidades das alianças, os améns às decisões do Presidente do Conselho.

O tema é tratado com exagero, é forçada a boçalidade e falta de cortesia por parte de altos funcionários do Estado, com comportamentos onde não há distinção nem as regras básicas da urbanidade. É um exagero mas foi a escolha. Se quando se trata de funcionários da polícia política o tom grosseiro e sem urbanidade é justo e adequado, é desajustado quando em ministro ou seus secretários.

Ficamos a conhecer a Herdade, a família, o trabalho e a polícia política. Há um trabalhador ligado ao PCP que é preso, e o patrão vai a Lisboa libertá-lo. Afinal é casado com a filha do general que comanda a polícia política, e isto das relações de parentesco, antes do 25 de Abril como agora, continuam ser passaportes de grande validade nas mais diversas situações sociais.

A progressão na narrativa vai tendo lugar na maioria das vezes no tom e de forma adivinhada, e o golpe de Estado do 25 de Abril acontece.

Seguem-se os momentos de convulsão social conhecidos, a reforma agrária tentada na forma de ocupação da terra a que com pulso e sem vacilar João Fernandes faz frente, continuando a gerir a Herdade.

Paulo Branco, de quem parte a ideia inicial do filme, não por acaso, convidou para montador do filme Roberto Perpignani, que foi quem montou o famoso documentário “Torre Bela”, onde é dado a ver a ocupação revolucionária da herdade com o mesmo nome. Roberto Perpignani, para além de ser uma vedeta dado ter montado filmes do Orson Welles e do Bertolucci, é um conhecedor do que foram os tempos da reforma agrária em Portugal no chamado verão quente da revolução. O tempo vai passando. O filho cresce. Uma nova linha de dramaturgia explorada, e neste grande fresco pelos perto de 60 anos da paisagem social e política deste país, surge uma estória de amor com contornos de Romeu e Julieta no contexto das barreiras da origem social de classe, a que o interdito do sangue vem acrescentar um toque queirosiano dos Maias, por razões de uma espécie de infidelidade consentida a quem é senhor de terras e patrão de gentes.

A Democracia está instalada, e se antes o problema da permanência da terra da Herdade passou por fazer frente à mudança de propriedade em razão da vontade e legitimação revolucionária, a que João Fernandes conseguiu fazer oposição vitoriosa, agora o problema vem da banca, e a Herdade vai desaparecendo, em parcelas vendidas aos próprios bancos. Um extenso terreno de cultivo de arroz é entregue. Outros já foram. Se a reforma agrária não conseguiu ocupar a Herdade, consegue-o agora a banca, na realidade neo-liberal da democracia.

O homem-tenente do patrão, dádiva irrepreensível do Miguel Borges, pai oficial, do jovem por quem a filha do patrão se apaixona e que é afilhado do patrão, morre num acidente que se adivinha propositado.

O filme termina com a queda e morte do cavalo de raça, e o recolhimento à pequena ilha no lago na infância do personagem principal do filme, num tratamento de arco de personagem de grande fôlego e muito bem conseguido.

Filme poderoso, que nos transporta nesta viagem pela história recente dos grandes territórios da agricultura em Portugal, com uma versão de série para televisão que terá bom acolhimento dos públicos com todo o merecimento.

Escrever sobre cinema é também isto, falar um pouco do filme visto, apelar à vontade de descoberta do filme sabendo que cada espectador tem um filme único à sua espera, e essa é também uma das muitas maravilhas do cinema.

Produzido por Paulo Branco, “A Herdade”, tem argumento de Rui Cardoso Martins e Tiago Guedes, estreou no festival de Veneza e esteve presente no festival de cinema de Toronto. É o candidato de Portugal aos Óscares (EUA) e também aos Goya (Espanha).

Diz o realizador, “A Herdade” é “um filme de personagens, de atores, de interpretações fortes, da grandeza das paisagens que os envolvem e das consequências dos segredos que transportam”.


Título original: A Herdade. Realizador: Tiago Guedes. Montador: Roberto Perpignani. Produtor: Paulo Branco. Com: Albano Jerónimo, Sandra Faleiro, Miguel Borges, João Pedro Mamede, Diogo Dória, Victória Guerra, Ana Bustorff, entre outros. Portugal, cores, 166 minutos
25 Set 2019

Variações – o barbeiro cantor

[dropcap]N[/dropcap]a ante-estreia, Terça-feira, dia 20, na sala Manoel de Oliveira no cinema S. Jorge, com os seus 830 lugares quase ocupados na totalidade, o público convidado aplaudiu de pé a projecção do filme.

António Variações viveu a sua vida de cometa, luminosa e auto incendiária, numa Lisboa inventada, também por ele, entre Braga e New York, numa procura de pós-modernidade onde, o sangue e o brilho, a autenticidade do antigo é seiva que alimenta o presente. Fez notar com a sua postura de excesso que a ourivesaria das mulheres de Viana de Castelo que tem a sofisticação e a arte necessária a qualquer capa da Vogue. Ou que na música tradicional de Mirandela vive a pulsão erótica e radical de uma força telúrica capaz de cabeça de cartaz se tocada no MAAT de New York.

Viveu numa Lisboa que inventava a sua movida num alinhamento próximo com uma Madrid mi mata, num tempo em que Nova Iorque era a cidade mítica da vanguarda artística. Uma Lisboa ainda distante das rotas do turismo de massa da actualidade, pré-Internet, uma cidade-aldeia onde uma tribo relativamente alargada de gente com pequenas tribos dentro se movia, divertia, delirava, trabalhava, vivia.

Um tempo de excesso depois de dezenas anos de uma Europa e de um Portugal com peso excessivo nos corpos e nas vidas pela cinzenta nuvem da guerra que arrasou cidades e de um tempo colonial que findava por cá há pouco.

A cidade tinha um centro, chamava-se Frágil, um bar com pista de dança na rua da Atalaia que abriu em 1982, uma espécie de centro do mundo, um mundo de artistas, professores, alunos, cineastas, actores, designers, jornalistas, políticos, bailarinos, cozinheiros, pilotos, escritores. Um mundo pequeno, mas com ramificações ao mundo todo. Apesar dos excessos, na pista, nos balcões e nas casas de banho, era um lugar confortável, onde o desejo tinha no corpo das artes e da matéria do mundo a necessária presença para que os corpos não se separem do pensamento.

Outros lugares de excesso mais direccionado, não muitos, davam abrigo a tribos mais específicas em particular na sua orientação sexual, a actualmente conhecida comunidade LGBT. Era o caso do Finalmente Club, no n.º 38 da Rua da Palmeira que abriu a 2 de Maio de 1976, e onde todas as noites havia show de travestis. Talvez um dos mais hard na época fosse o Bric-à-Brac , também na zona do Príncipe Real, onde nas casas de banho, no final da noite, o esperma era visível colado nas paredes.

No filme temos o também o célebre Trumps, uma cave na esquina com a Imprensa Nacional, onde os corpos suados se reescrevem em ritmos eléctricos de dança urbana.

Foi neste bar que o Variações fez o seu primeiro concerto, e essa é uma das cenas recriadas no filme.

Mas o excesso do Variações é de outra natureza. É o excesso de um homem que vive a vontade de ser ele próprio e que encontra na canção a forma da sua expressão. O excesso de quem não cede a conformismos, nem a morais dominantes, nem a códigos normativos do que deve ser a arte ou a vida, não por arrogância, mas por verdade. A verdade da dor, a verdade do medo, a verdade da alegria, a verdade da ausência, a verdade do sangue.

Para António Ribeiro, o Variações, a figura icónica, que conheceu e com quem chegou a partilhar o palco, tem um nome e uma voz inesquecível, Amália Rodrigues.

Como refere João Maia, o realizador do filme, para Variações, a voz era o instrumento, não fica difícil entender o maravilhamento pela Amália.

Este filme é um BIOPIC, a film about the life a real person, e por isso, é também um filme musical.
O filme começa em Amares, a aldeia perto de Braga onde o protagonista nasceu, numa celebração Pascal, religiosa e popular, com banda e procissão, onde António ainda criança assiste com os irmãos e a mãe, mas já com o ar ausente de quem sonha. A cena seguinte é numa carpintaria da aldeia onde o jovem António trabalha e que tem como protagonista – a cena – um rádio numa parede que emite e a voz da Amália, os homens e o jovem António imobilizam os movimentos para uma melhor atenção das sonoridades e palavras cantadas. Na cena seguinte continuamos no universo rural e familiar e é-nos dito, pelo próprio jovem António em conversa com a mãe, da sua vontade de sair da aldeia e ir para Lisboa. A elipse temporal para o tempo da narrativa do homem adulto acontece na cena seguinte em que o jovem António, de forma deliberada se corta enfiando a talhadeira na mão. É um momento Luís Buñuel, é em respiração ofegante que António, homem adulto, acorda deste sonho e nos transporta da infância para o tempo da sua vida de músico e barbeiro, em Lisboa, Amsterdão, Nova York, Braga.

A composição do personagem pelo actor Sérgio Praia é a todos os títulos brilhante. Ancorado por um guarda roupa e maquilhagem sem falhas, uma fotografia de excelência, e numa realização em que a distância, posições e movimentos de câmara, são de uma eficácia total que nos fazem viver a emoção do actor. Sérgio Praia, transporta-nos ao mundo interior e exterior do personagem que interpreta de tal forma que acreditamos ser ele mesmo o António Variações.

Ao longo da narrativa somos transportados aos momentos da criação de temas que foram, e vão ser nestes meses do calendário próximo, icônicos, como: Toma o Comprimido, Teia, Perdi a Memória, Canção do Engate, Quero dar nas vistas.

A banda sonora do filme tem direcção musical de Armando Teixeira. João Maia procurou que mais do que uma banda sonora, que o filme desse corpo às ideias musicais que António Variações gravou com músicos amadores nos finais dos anos 70. E tudo correu de tal forma bem, que uma nova banda surgiu e o Sérgio Praia conjuntamente com os Balla lançam agora um disco editado pela Sony Music com os temas tocados e cantados no filme.

Variações é um projecto cinematográfico com inicio em 2000, teve apoio para escrita no ICA logo na fase inicial, mas o processo de desenvolvimento para chegar à rodagem foi demorado. A primeira versão do argumento demorou 2 anos a ser concluída, e a partir dessa altura foram perto de 15 anos para os júris e o ICA darem luz verde para a chegada às salas das imagens e dos sons.

Diz o João Maia: Interessei-me pelo Variações. Trabalhei durante muitos anos em lojas de discos, mas conhecia mal a obra dele e quando comecei a ouvir fiquei muito impressionado, até pelo facto de ele ter gravado o primeiro disco com 37 anos. E pensei; o que terá feito este homem até aos 37 anos para ter gravado um disco com esta idade e ter morrido aos 39?

Em brevíssima conversa com o realizador quisemos saber:

João, em quantos concursos de apoio à produção cinematográfica no ICA o filme esteve, até ter sido apoiado?
Acho que só ganhei há oitava vez que concorri.

Foi útil, no teu processo criativo, os sucessivos adiamentos, quantas versões do argumento escreveste?
O guião é praticamente o mesmo desde 2008. Essa era a 3ª versão. Antes disso só tinha concorrido uma vez. Em 2017 antes da rodagem fiz ainda algum trabalho sobre o guião.

No filme, não é identificada o HIV como a causa da morte do António Ribeiro?  A ideia generalizada é que foi uma das primeiras vítimas em Portugal do vírus HIV, que teve uma expressão aterradora com mais de 25 milhões de mortes no planeta.  A tua pesquisa não confirmou o HIV como causa da morte, ou decidiste não falar do assunto?
O filme conta a história do António. Na altura ninguém queria usar a palavra HIV. Mas no filme está lá tudo.

Durante este tempo longo entre o início do projecto e a chegada a sala, escreveste outros filmes? Qual é o próximo?
Uma adaptação de “Nome de Guerra” de Almada Negreiros

O filme, teve estreia simultânea em 60 salas no dia 22, esta proeza – é difícil a exibição cinematográfica de filmes portugueses em sala, só aconteceu com o filme Parque Mayer de António Pedro Vasconcelos (escrevi sobre o filme na edição do HM de 13 de Dezembro de 2018, filme que fez 43.045 espectadores), sem querer fazer futurologias é de esperar que Variações se aproxime ou ultrapasse os 100 000.

“Variações é uma homenagem a todos os que ainda hoje perseguem os seus sonhos aspirando a transformar as suas vidas.”

Sem grande margem para erro, Variações é um dos filmes do ano.

23 Ago 2019

Mais de uma dezena de filmes portugueses estreiam-se nos próximos meses

[dropcap]O[/dropcap]s premiados “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” e “Diamantino”, as histórias biográficas sobre Snu Abecassis e António Variações e o documentário “Debaixo do céu” são alguns dos filmes portugueses a estrearem-se este ano nos cinemas portugueses.

De acordo com dados compilados pela agência Lusa junto de exibidoras e produtoras, pelo menos uma dezena de produções portuguesas vão chegar ao circuito comercial nos próximos meses, entre as quais “Terra Franca”, a primeira longa-metragem de Leonor Teles, já no dia 10 de Janeiro.

Distinguido em quase uma dezena de festivais, “Terra Franca” é um documentário sobre a vida de Albertino, pescador em Vila Franca de Xira, e a sua ligação ao rio Tejo e à família, tendo sido rodado ao longo de quase dois anos.

Em Janeiro vai estrear-se ainda outro documentário, “Debaixo do céu”, de Nicholas Oulman, com histórias de judeus que passaram por Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Nicholas Oulman, filho de uma família francesa judia fixada em Portugal desde 1920 e que ajudou outros refugiados, quis encontrar e ouvir os relatos pessoais de alguns dos judeus que procuraram refúgio temporário em Portugal, porta de saída para o Ocidente, em fuga desde a Alemanha, onde foram perseguidos pelo regime Nazi.

No trabalho de pesquisa, foram encontrados cerca de 20 sobreviventes, todos com mais de 80 anos e a maioria a residir nos Estados Unidos. No filme entram sete, que à época eram crianças, que vão relatando histórias, ilustradas com imagens de arquivo.

Neste mês estão previstas ainda as estreias da comédia “Tiro & Queda”, de Ramon de los Santos, com Manuel Marques e Eduardo Madeira, e de “Os dois irmãos”, de Francisco Manso, a partir de uma história verídica e do romance homónimo do autor cabo-verdiano Germano Almeida.

Em Março, no dia 7, é esperada a estreia de “Snu”, filme de Patrícia Sequeira sobre a relação entre a editora Snu Abecassis e o político Francisco Sá-Carneiro. No papel do casal estão Inês Castel-Branco e Pedro Almendra.

A 14 de Março, quase um ano depois de ter recebido o prémio especial do júri “Un certain regard” de Cannes, chegará às salas de cinema portuguesa o filme “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora.

O filme foi rodado durante nove meses numa aldeia brasileira no estado de Tocatins e é protagonizado por Ihjãc, um adolescente indígena dos Krahô.

Março será ainda o mês de estreia de “Gabriel”, filme de Nuno Bernardo, protagonizado por Igor Regalla, no papel de um jovem cabo-verdiano que descobre o pugilismo quando ruma a Portugal à procura do pai.

Em abril, estrear-se-ão “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, “Hotel Império”, de Ivo M. Ferreira, e “Quero-te tanto”, de Vicente Alves do Ó.

“Diamantino”, com estreia para 4 de Abril, é a primeira longa-metragem daqueles dois realizadores e cruza comédia, drama, policial e ficção científica, a partir da história de um futebolista, tendo sido distinguido no ano passado na Semana da Crítica, em Cannes.

“Hotel Império”, em exibição a partir de 18 de Abril, foi rodado em Macau, e conta a história de uma portuguesa nascida na cidade – interpretada por Margarida Vila-Nova – que, juntamente com outras pessoas, habita um antigo hotel em vias de ser destruído para dar lugar a um edifício moderno.

Vicente Alves do Ó estreará em Abril a comédia “Quero-te tanto”, protagonizada por Benedita Pereira e Pedro Teixeira, e depois no outono vai ter nos cinemas “Golpe de Sol”.

Sem data de estreia, mas aprazada para o verão, está a longa-metragem “Variações”, de João Maia, sobre o músico António Variações, que morreu em Junho de 1984.

Com Sérgio Praia no papel principal, “Variações” foca-se sobretudo na transformação de António Ribeiro em António Variações, num período de vida entre 1977 e 1981, a época em que um barbeiro ambicionava viver da música.

Este ano é esperada ainda a estreia de “A Portuguesa”, de Rita Azevedo Gomes, a partir de “Die Portugiesin”, de Robert Musil, e deverá estrear-se também “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam, ambos sem data.

Em 2018, segundo dados do Instituto do Cinema e Audiovisual, estrearam-se 38 filmes portugueses e de co-produção portuguesa, com “Pedro & Inês”, de António Ferreira, a ser o mais visto, com 46.717 espectadores.

7 Jan 2019

Buenos Aires vai acolher “a beleza da inquietude e da luta” do cinema português

[dropcap]O[/dropcap]s realizadores João Salaviza, Renée Nader Messora, João Viana, João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata vão acompanhar, em Buenos Aires, a 6.ª Semana de Cinema Português, que decorre de 6 a 9 de Dezembro.

“Terra Franca”, a premiada primeira longa-metragem de Leonor Teles, “Djon África”, o novo filme de João Miller Guerra e Filipa Reis, “Our Madness”, de João Viana, “Luz Obscura”, de Susana Sousa Dias, “Spell Reel”, de Filipa César, e uma retrospectiva dedicada ao cinema, de João Pedro Rodrigues, são destaques da programação que abre com “Altas Cidades de Ossadas”, de João Salaviza, anunciou a associação cinematográfica Vaivém.

A iniciativa, dedicada a um cinema marcado pela “beleza da inquietude e da luta”, como é definido, seguirá para Santiago do Chile no dia 10 de Dezembro, e envolve 17 produções e co-produções portuguesas, de uma dezena de cineastas.

Organizada pela associação Vaivém, a mostra tem por centro o Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires, e conta com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e da Fundação Calouste Gulbenkian.

A programação divide-se em três secções que cruzam entre si “diferentes linhas”: visões da história pós-colonial, o panorama do documentário actual português e a retrospectiva de João Pedro Rodrigues.

Deste cineasta, serão exibidos as longa-metragens “O Fantasma”, “Odete”, “Morrer como um Homem”, “O Ornitólogo” e “A Última vez que vi Macau”, rodado em parceria com João Rui Guerra da Mata, todos eles selecionados ou distinguidos em festivais, das secções paralelas de Cannes, a Locarno, de Turim e Veneza, a Bogotá e Buenos Aires, sem esquecer os portugueses Caminhos e IndieLisboa.

Serão também projectadas as ‘curtas’ “Iec Long”, “Manhã de Santo António”, “Mahjong” e a mais recente, “Oú en êtes-vous, JPR?”, muitas de direcção partilhada com Guerra da Mata.

Na secção “Pós-colonialismo”, serão projectados “Spell Reel”, sobre arquivos da Guiné-Bissau – filme selecionado para Berlim e premiado em Vila do Conde -, “Djon Africa”, sobre um descendente de cabo-verdianos, “Luz Obscura”, a partir os arquivos da PIDE e do militante comunista Otávio Pato, “Our Madness”, rodado num hospital psiquiátrico, em Maputo, e “Altas Cidades de Ossadas”, com recordações do ‘rapper’ Karlon, nascido num subúrbio de Lisboa.

A secção Panorama inclui “Terra Franca”, sobre um pescador do Tejo, filme já premiado em festivais como o Cinema du Réel, em França, “Ama San”, de Claudia Varejão”, distinguido no DocLisboa e no Karlovy Vary, sobre caçadoras de pérolas, no Japão, que mergulham em apneia, e “Fátima”, de João Canijo, que acompanha uma peregrinação de mulheres, e recebeu o Prémio Autores.

Nesta secção será também exibido “Chuva é cantoria na Aldeia dos Mortos”, de Salaviza e Renée Nader Messora, premiado pelo júri da secção Un Certain Regard, em Cannes, e nos festivais de cinema de Mar del Plata, na Argentina, e Rio de Janeiro, no Brasil.

Foi rodado numa aldeia indígena dos Krahô, no estado brasileiro de Tocatins. Em Cannes, João Salaviza e Renée Nader Messora disseram que o prémio foi também para “o Brasil indígena, historicamente negado, silenciado, assassinado”.

Além das projecções haverá ‘workshops’ e encontros com realizadores na Universidade Torcuato Di Tella, no Museu do Cinema e na Universidad del Cine.

“Todos estes filmes, entrelaçados, tecem uma paisagem humanista, de procura e resistência, marcada por essa densa e contundente beleza da inquietude e da luta. Um conjunto que [a associação] Vaivém está orgulhosa por dar a conhecer”, escreve a organização.

26 Nov 2018

Sim, o cinema português existe

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara quem tivesse dúvida, a exposição de cartazes do cinema português no mês de Novembro no salão da sociedade nacional de belas artes, edifício fronteiro à cinemateca onde ficou instalado o núcleo temático referente ao cinema mudo, afirmou essa impossibilidade. A exposição, com curadoria do presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso, teve um terceiro núcleo com cartaz / mupis referente ao cinema contemporâneo, na Avenida da Liberdade em frente ao hotel Tivoli, hotel convocado a espaço expositivo de um núcleo dedicado ao realizador Fonseca e Costa ( Angola 1933-Lisboa 2015).

Escasso, de produção incerta, por vezes querido dos públicos ou da crítica, outras indiferente, o certo é que existe e, essa existência, data do tempo da própria invenção do cinematógrafo. Foi em 1896 que Aurélio da Paz dos Reis, realizou a “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança” com estreia no teatro Sá da Bandeira, Porto, a 12 de Novembro desse ano. Convém relembrar que tinha sido a 22 de Março de 1895 que Auguste e Louis Lumière, tinham exibido “La Sortie de L’usine a Lyon”, que ficou como o primeiro filme doc. da história do cinema.

É de querer que vasto trabalho de arquivo esteja por identificar mas bastante tem vindo a ser feito na actividade do ANIM ( Arquivo Nacional das Imagens em Movimento ) – Cinemateca Portuguesa.

A série de cartazes exposta permite verificar a relação do cinema com o tempo contextual do país quando cada filme é pensado e realizado. Temas, relações entre o cinema português e literatura, relações entre realizadores e artistas plásticos e designers, relações entre cinema e o contexto social e político em que os filmes aconteceram, tornam-se visíveis. Para além da relação gráfica, imediata, que cada cartaz estabelece entre o filme e o design gráfico, é esta possibilidade de construir uma, das muitas possíveis, histórias do cinema português, o que torna a exposição um acontecimento de superior interesse.

Entre muitos outros, Almada Negreiros, artista maior, o português sem mestre, é quem assina o cartaz de um dos filmes ícones nacionais “ A Canção de Lisboa”.

Quando se pensa esta exposição de cartazes de cinema com um olhar que tendo origem nos estudos fílmicos se cruza com as ciências sociais, estudos culturais, historiografia, literatura; facilmente se percebe que se está perante uma história estética e representacional, não só do cinema, mas do país. Coincidente ou não com uma percepção do imaginário colectivo, é dado a ver relações do cinema com as sucessivas ideias do real que vão alicerçando as dinâmicas sociais e culturais ao longo do séc. XX e, este século XXI, prestes a entrar na idade juridicamente adulta. Olhar o cinema no tempo histórico é ver as representações culturais de uma sociedade. Todo o filme enforma, consciente ou inconscientemente, valores estético-ideológicos. “As nossas construções não são diferentes interpretações ou explicações de um mundo pré-existente e independente delas… construções e mundo são uma e mesma coisa”1

Torna-se claro, pelos temas abordados; Fado, Touros, Império, Ribatejo, Canções Populares, mas também Camões, Frei Luís de Sousa, Júlio Dinis, entre outros aspectos, como os carimbos da censura presentes com a palavra “aprovado” nos cartazes expostos ao público, que o cinema sob o Estado Novo teve esforço legitimador para uma ideia de nação nacionalista trabalhada através dos meios de comunicação de massa. No entanto, é também neste período, que o cinema novo começa em Portugal, um cinema movido por outras ambições, e ainda anterior a este movimento, o do Neo-realismo, no cinema português.

“Todavia não é fácil opor cinema convencional e cinema de resistência; eles não são campos opostos; ao contrário, são focos diferentes dirigidos sobre a sociedade, pontos de vista e estéticas diferenciadas, mas não são essencialmente distintos na descrição do mundo que constroem enquanto representação social”2

A “escola Portuguesa”, tem movimento embrionário na geração do cinema novo, em particular António da Cunha Telles, Paulo Rocha, Fernando Lopes, Manuel de Oliveira, entre outros, no contexto por um lado do movimento do cinema europeu independente e próximo da política de autores e, por outro, o real contemporâneo e a memória permanente de um país que sempre procurou outros espaços territoriais muito para além do seu lugar periférico no mapa territorial europeu, como matéria do cinema.

Esta condição não é pacifica nem tem igual entendimento nos diferentes actores do cinema em Portugal, e continua a merecer debate aberto sobre qual a prioridade, a existir, do cinema produzido com fundos públicos, ou seja, 99% dos filmes com capacidade de existir no mercado dos festivais e salas, produzidos em Portugal.

João Maria Mendes,  numa das suas sempre muito interessantes lições, diz sobre a escola portuguesa: “ O conceito de “escola portuguesa”, frequentemente usado para definir o que caracteriza o cinema de autor feito em Portugal, é uma expressão heurística que alude a obras cinematográficas e aos modos de as realizar sem definir com rigor o que lhes dá características idiossincráticas. Está associado à simpatia ou empatia de uma fileira da recepção internacional com “um certo cinema português” e esboçou-se entre scholars e no discurso crítico dos media a partir dos anos 80 do séc. XX, que assistiram à consagração internacional de cineastas como Manoel de Oliveira e António Reis e a uma menorização “política” de outros que defendiam um cinema mais comercial e feito para o entertainment de públicos mais vastos.

Em Portugal, a expressão socializou-se sobretudo a partir da publicação de Histórias do Cinema, de João Bénard da Costa, em 1991.

Paulo Rocha costumava dizer que existe um partido filo-português na crítica cinematográfica internacional, constituído por uma “elite” de cinéfilos atenta aos filmes de autor feitos em Portugal e que vê neles a persistência de uma “escola”. Tal “escola” não é facilmente reconhecida pelos cineastas nacionais, que privilegiam a diversidade de caminhos trilhados por cada um. Mas ao mesmo tempo esses cineastas percebem que a persistência da alusão a essa “escola” os favorece, por criar uma atmosfera internacional favorável às suas criações. De que ideia de cinema é esse interesse sintoma? A que “procura” ou a que “falta” respondem, nas cinematografias actuais, os filmes portugueses valorizados por tais críticos?

Seria Jacques Lemière quem viria a esboçar uma caracterização mais objectiva da “escola portuguesa”, sugerindo que ela é identificável por três tópicos:

 “1. Invenção formal e inscrição do cinema numa nova etapa da modernidade cinematográfica

2. Afirmação da liberdade do cineasta e procura constante dos meios dessa liberdade contra toda a norma industrial

3. Primado da reflexão da questão nacional”.

O primeiro tópico de Lemière remete para 1967 e para o “novo cinema”, quando 15 realizadores portugueses levaram à Fundação Calouste Gulbenkian, então percepcionada como Ministério da Cultura alternativo, o documento “O ofício do cinema em Portugal”, que estará na origem, dois anos mais tarde, da cooperativa Centro Português de Cinema, financiada pela fundação. O segundo tópico remete para a recorrente defesa cultural e política da arte cinematográfica e do cinema de autor contra as normalizações de formatos, géneros e gostos promovidos pelo financiamento, produção, distribuição e exibição de inspiração industrial/comercial. O terceiro tópico refere-se à persistência da reflexão poético/ideológica sobre “o problema português” ou da “sobrevivência nacional” nos realizadores e seus filmes: discussão de equívocos no imaginário histórico do país, sua fantasmática pobre mas imperial, herança complexa da vocação marítima, da longa síndrome salazarista e da guerra colonial, mescla de leituras da abertura gerada pelo pronunciamento militar de 25 de Abril de 1974 e pelo processo revolucionário a que ele deu origem, bem como da normalização política que levou à adesão de Portugal à CEE em 1985. São temas abordados ora em evocações históricas, ora em alegorias poéticas, ora, mais raramente, em filmes-ensaio.” 3

A exposição de cartazes organizada pela Academia de Cinema Portuguesa foi/é, mais uma excelente oportunidade para reflectir sobre o cinema Português.

1 Nelson Goodman, Modos de Fazer Mundos, pág. 5 – prefácio de Carmo D’Orey, Porto, ASA 1995

2 Leonor Areal, Cinema Português Um País Imaginado Vol. 1 –Antes de 1974, Edições 70, pág. 17  ( edição com o apoio da FCT)

3 João Maria Mendes é Presidente da Escola Superior de Teatro e Cinema e professor coordenador no seu Departamento de Cinema. Preside à Comissão Técnico-Científica do Mestrado em Desenvolvimento de Projecto Cinematográfico da ESTC e lecciona no Doutoramento em Artes Performativas e das Imagens em Movimento criado em parceria pela Universidade de Lisboa e pelo Instituto Politécnico de Lisboa. Foi co-fundador e é investigador integrado do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC), criado em 2008 pela ESTC e a Universidade do Algarve. Antes de assumir a presidência da ESTC, foi também Professor Associado na Universidade Autónoma de Lisboa e jornalista. É licenciado pela Universidade Católica de Lovaina e doutorado pela Universidade Nova de Lisboa.

12 Dez 2016