Hoje Macau China / ÁsiaCiclone Biparjoy atinge hoje a Índia e o Paquistão O poderoso ciclone Biparjoy deve atingir hoje à tarde a fronteira entre a Índia e o Paquistão, onde as equipas de resgate já conseguiram retirar mais de 146 mil pessoas. O ciclone Biparjoy, nome que significa “desastre” em bengali, avança pelo Mar Arábico em direção ao porto de Jakhau, no estado indiano de Gujarat, e deve atingir hoje a costa entre o sul do Paquistão e o oeste da Índia, segundo os serviços meteorológicos. Na Índia, mais de 74.000 pessoas foram retiradas até agora em oito distritos do estado costeiro de Gujarat, de acordo com informações prestadas na quarta-feira à noite pelo chefe de governo do estado, Bhupendra Patel, na rede social Twitter, após uma reunião com serviços de emergência. Por sua vez, “mais de 72.000 pessoas foram retiradas de áreas sob ameaça direta do ciclone até agora”, disse Murtaza Wahab, porta-voz do governo da província de Sindh, no sul, na fronteira com a Índia. Na terça-feira, as autoridades de Gujarat disseram que as chuvas torrenciais e os ventos fortes, à medida que o ciclone se aproxima, mataram três pessoas, duas delas crianças, devido a uma parede que desmoronou, e uma mulher foi atingida por uma árvore. Em 2021, a mesma região foi atingida pelo ciclone Tauktae, que matou mais de 150 pessoas e causou estragos consideráveis. Os ciclones são uma ameaça comum nas costas do norte do Oceano Índico, onde vivem dezenas de milhões de pessoas. Segundo os cientistas, estes fenómenos tendem a tornar-se mais violentos devido ao aquecimento global.
Hoje Macau China / ÁsiaBiparjoy | Ciclone sobe para extremamente severo A chegada nos próximos dias do Biparjoy, com ventos de 190 quilómetros por hora, já levou as autoridades da Índia e do Paquistão a tomar medidas de prevenção O ciclone Biparjoy intensificou-se ontem para “extremamente severo”, elevando o nível de alerta ao longo das costas da Índia e do Paquistão, onde as autoridades já começaram a tomar medidas antes da sua chegada prevista para os próximos dias. O Departamento Meteorológico da Índia (IMD) adianta no seu último boletim que o Biparjoy, que atravessa actualmente o Mar Arábico, se intensificou para um ciclone extremamente severo a cerca de 480 quilómetros a sudoeste de Naliya (costa noroeste da Índia). “Atravessará Saurashtra e Kutch (Índia) e o Paquistão por volta do meio-dia do dia 15 de Junho como uma tempestade ciclónica muito severa”, refere o IMD. O ciclone é acompanhado de ventos que atingem 190 quilómetros por hora à superfície, pelo que o IMD recomendou a suspensão de todas as actividades piscatórias na zona até à sua passagem. O departamento meteorológico prevê que estes ventos se reduzam gradualmente ao longo dos próximos dias, atingindo uma velocidade máxima de 150 km/h na quinta-feira, altura em que deverá atingir a cidade de Karachi, no sul do Paquistão, como um ciclone “muito severo”. No entanto, os seus efeitos far-se-ão igualmente sentir no estado indiano de Gujarat, onde o IMD alertou para a ocorrência de chuvas “fortes” e “muito fortes” a partir de quarta-feira, que se intensificarão para chuvas “extremas” em pontos isolados na quinta-feira. Equipas da Força Nacional de Resposta a Catástrofes (NDRF) já foram enviadas para as cidades costeiras de Gujarat, que deverão ser as mais afectadas, informou a agência noticiosa ANI. Do Paquistão Paralelamente, o Departamento Meteorológico do Paquistão informou que a costa sul do Paquistão começará a sentir os efeitos do ciclone na tarde/noite de terça-feira e referiu que “os ventos fortes podem causar danos em estruturas soltas e vulneráveis, como casas de barro”. “São esperados aguaceiros e trovoadas com algumas chuvas muito fortes e ventos tempestuosos (60-80 km/hora)” na costa sul e sudeste do Paquistão, acrescentou. Em consequência, as autoridades de Karachi proibiram no sábado o acesso às suas praias, as actividades de pesca e a navegação. A passagem de ciclones é comum na costa indiana, que no mês passado levantou o alerta sobre várias das suas províncias orientais pela tempestade ciclónica Mocha, de categoria “muito severa”, que fez mais de uma centena de mortos na Birmânia e devastou dezenas de campos de refugiados rohingya no Bangladesh. Em Maio de 2020, o ciclone Amphan fez mais de uma centena de mortos na Índia e no Bangladesh, num dos piores incidentes deste tipo dos últimos anos.
Hoje Macau China / ÁsiaXi envia condolências a Moçambique pelas mortes devido a ciclone O líder da China, Xi Jinping, enviou mensagens de condolências ao Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, pelas mortes em resultado da passagem do ciclone tropical Freddy, que já atingiram 165 vítimas. De acordo com um comunicado divulgado na quarta-feira à noite pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Xi enviou mensagens tanto a Nyusi como ao Presidente do Malaui, Lazarus Chakwera. O chefe de Estado chinês disse estar “chocado ao saber que o ciclone tropical Freddy causou pesadas baixas e danos materiais no Maláui e em Moçambique”. Xi apresentou “profundas condolências pelos mortos no desastre e ofereceu a sincera solidariedade às famílias enlutadas e aos feridos”, em nome do governo e do povo chineses. O líder chinês também disse estar confiante “de que ambos os países irão certamente superar o desastre e reconstruir a sua pátria”. De acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM), um total de 886.400 pessoas foram afectadas pela passagem do ciclone em oito províncias, havendo cerca de 213 centros de acolhimento em funcionamento. Segundo a agência das Nações Unidas, em sete das oito províncias afectadas o número de casos de cólera tem estado a aumentar, tendo sido registados mais de 10 mil casos. Recordes negativos Freddy é já um dos ciclones de maior duração e trajectória nas últimas décadas, tendo viajado mais de 10 mil quilómetros desde que se formou ao largo do norte da Austrália em 04 de Fevereiro e atravessou todo o oceano Índico até à África Austral. O ciclone atingiu pela primeira vez a costa oriental de Madagáscar em 21 de Fevereiro e regressou à ilha a 05 de março, onde deixou um rasto de 17 mortos e 300 mil pessoas afectadas. Em Moçambique, o ciclone, que teve o primeiro impacto a 24 de Fevereiro, voltou a tocar terra há duas semanas. A destruição e as inundações causadas pelo ciclone Freddy deslocaram mais de 500.000 pessoas e “a falta de água potável levou a um aumento dramático dos casos de cólera”, especialmente no Maláui, disse na quarta-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, o Freddy pode ter quebrado o recorde de duração do furacão John, que durou 31 dias em 1994, embora os peritos da instituição não confirmem este recorde até que o ciclone se tenha dissipado.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasCálice e Ciclone [dropcap]A[/dropcap]cabei há dias o segundo romance do “Díptico das origens”, intitulado ‘Ciclone’. Deverá ser publicado no próximo ano e fará companhia a ‘Cálice’, que foi editado pela Abysmo e lançado a público nas Correntes d´Escritas de Fevereiro passado, mesmo antes de a pandemia nos ter confinado. Depois da “Trilogia do Sísifo” (2015-2017) que integrou ‘Gnaisse’, ‘Por Mão Própria’ e ‘Sísifo’, romances que perseguiram temáticas como as do amor, da perda e da iniciação, este novo díptico debate-se com as figuras do pai e da mãe. Trata-se de isotopias fortemente mitológicas e, ao afirmá-lo, sustento-me na visão de Hans Blumenberg, para quem o mito não é uma instância colada a um passado arcaico, mas antes um devir que reocupa todos os presentes, tal e qual como uma onda persistente que nunca passa à fase da rebentação e que, portanto, não deixa incólume nenhum areal da nossa existência. Foi um repto muito difícil e literariamente complexo, até porque impôs uma evasão da experiência subjectiva na direcção de um campo aberto que pudesse permitir identificação, reconhecimento e alteridades várias. O percurso de escrita implicou uma poética da biografia, baseado em dados concretos (mas perecíveis e fluidos no seu domínio referencial), aliada a uma ética do intangível que pressupôs, por sua vez, uma projecção de vidas e de acontecimentos que poderiam ter sido possíveis (e que na ficção encontrarão decerto um justo eco de realização). As palavras “mãe” e “pai” remetem para um imaginário infantil. Desde logo porque espelham uma fonética das origens (as bilabiais “m” e “p” são as primeiras a ser proferidas pelos bebés) e aliciam a melancolia, a saudade e o narcisismo. Nelas estão inscritos tabus sexuais, identitários e genealógicos. Razão por que um pai e uma mãe não têm nome. Ninguém trata uma mãe e um pai pelo seu próprio nome, mas sim pela designação da função. Jamais me teria dirigido à minha mãe dizendo “Olá, Maria Bárbara!”, ou ao meu pai dizendo “Olá, José Geraldo!”. Os nomes instauram naturezas específicas, conotam sagas e logros e povoam metáforas (muitas delas sem tradução nas palavras). Os nomes são, pois, amplitudes excessivas e merecem recato, quando o que está em causa são as figuras que nos deram origem. Daí a reverência que se assemelha bastante à questão teológica dos nomes nos monoteísmos, já que, estando deus, ao mesmo tempo, acima de toda a criação e nela implicado (enquanto causa primeira), não pode ser tratado por um nome, epíteto reservado apenas às entidades e aos seres criados. ‘Cálice’ e ‘Ciclone’ recriam e repõem em cena evidências passadas, a partir de relatos que se foram constituindo como uma dramaturgia dos primeiros anos de vida, para depois se mesclarem em cursos de acção que teriam sido muito desejados, mas jamais efectivados. Creio que este pas de deux se aproxima muito da noção “mimesis” que, ao invés de decalcar ou de pretender representar (como se existisse no mundo uma realidade que pudesse ser representada!), se traduz num sobrevoo que convida sobretudo ao reexame do que somos, do que herdamos, do que perdemos e, em primeiro lugar, do que almejamos. Toda a arte se consuma nesta atitude especular que instiga o ‘outro’ a não se confundir com as suas imagens mais imediatas, obrigando-o a saltar (a sair de si) para um lugar ainda inabitado. É nessa linha de fuga que a ficção pode recolher os frutos para que foi criada, do mesmo modo que toda a imaginação é uma convulsão sem geografia e sem tempo próprio. Já escrevi muitos livros, talvez demasiados. Mas desta vez, senti que este “Díptico das origens” me levou a superar uma fasquia até há pouco completamente desconhecida. Numa palavra: percebi o lugar antes inabitado a que agora cheguei. Para melhor elucidar esta sensação deixo-vos as últimas linhas do capítulo 45 (cinco antes do final do romance): “O corpo da mãe tinha a madrugada colada à pele. Acontecia antes de tudo. Depois de cada concerto havia sempre uma segunda-feira de manhã muito cedo. Um bulício cristalizado que recomeçava lentamente após o silêncio da mais apetecida das mortes. E então a mãe sentava-se no muro. E sabia, por fim, que era ali o seu lugar.”.