Livraria Portuguesa acolhe exposição de livros de artista

Da pintura à banda desenhada, passando pela escultura, fotografia e arquitectura, a Livraria Portuguesa alberga a partir de sexta-feira uma exposição de livros de artista com trabalhos de mais de 50 autores portugueses e locais. Do conjunto de obras que, muitas vezes, não eram para ser ou serviram de base para criações artísticas, destaque para produções de Julião Sarmento, Blaufuks, Rusty Fox e Chong Hoi

 

 

A partir de sexta-feira, a Livraria Portuguesa acolhe uma exposição dedicada a livros de artista, que junta cerca de 68 obras de mais de 50 autores portugueses e locais. Organizada pela Associação Cultural 10 Marias, a segunda edição da “Book Hop” em Macau vai exibir publicações independentes, de pequena escala, únicas ou que tenham servido de esboço para criações artísticas ou profissionais, nas mais diversas áreas, como a escultura, a pintura, a banda desenhada ou a arquitectura.

Depois de em 2018, a 1.ª edição do evento no território ter servido, sobretudo, para mostrar o que era feito em Portugal na área, a exposição que pode ser apreciada na galeria da Livraria Portuguesa até 5 de Dezembro pretendeu integrar mais artistas locais, especialmente de matriz chinesa.

“A exposição que fizemos em 2018 foi essencialmente para mostrar o ‘estado de arte’ daquilo que se fazia em Portugal ao nível dos livros de artista. Trouxemos para Macau a maior parte dos livros e entrámos em contacto com alguns artistas locais como o Carlos Marreiros, o Alexandre Marreiros, o Konstantin Bessmertny, entre outros. No fundo, arranjámos um núcleo aqui de Macau, mas mais ligado à lusofonia digamos assim”, começou por explicar ao HM o curador da Book Hop, Paulo Côrte-Real.

“Da edição passada para esta (…) temos agora muito mais artistas locais connosco, especialmente chineses. Isto para nós é importante porque há uma diferença em termos de pensamento e de abordagem aos assuntos, entre as pessoas de Macau de matriz portuguesa e de matriz chinesa. Integrá-los neste evento é uma boa maneira de juntarmos toda a gente”, acrescentou.

A exposição conta com a participação de artistas portugueses como Julião Sarmento, Daniel Blaufuks, João Louro, Leonor Antunes, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Pousada, Alexandre Baptista, João Miguel Barros e artistas locais como Chong Hoi, Alan Ieon, Rusty Fox, Jack Wong, Tang Kuok Hou, Yolanda Kog ou Yang Sio Maan.

Sublinhando que um dos objectivos da curadoria passa por “ir buscar o maior número possível de disciplinas”, Paulo Côrte-Real destaca a presença do recém-falecido artista multidisciplinar e “internacionalmente reconhecido”, Julião Sarmento, os trabalhos fotográficos de Rusty Fox e Daniel Blaufuks e as criações de João Louro e Pedro Valdez Cardoso nas áreas do desenho e da escultura. De referir ainda, a obra de “corte e colagem” feita a partir de revistas dos anos 20 da autoria do Anonymous Art Project.

 

Faz-se caminhando

 

Para Paulo Côrte-Real, o facto de existir uma exposição em Macau dedicada aos livros de artista pode contribuir para “abrir os horizontes” e fazer com que “mais pessoas percebam que um livro pode ser uma obra de arte”.

“Há pessoas que não fazem ideia que este tipo de objectos pode ser exposto. Tendo cuidado e construindo o conceito como uma ‘obra de arte’, um livro ou um caderno pode até acabar exposto na parede como uma pintura. Pode ser que mais tarde se aventurem a fazer também as suas criações”, acrescentou.

Sobre a exposição propriamente dita, o curador aponta que tanto a disposição como a sequência em que vão ser apreciadas as obras está ainda ser definida, mas a organização poderá respeitar motivações temáticas, cronológicas ou cromáticas. Entre os exemplares expostos, haverá ainda obras originais e outras reproduções de edições inferiores a 300 exemplares.

Perante o apoio demonstrado pelos artistas locais à iniciativa, agora em maior número, no futuro a ideia será levar mais autores locais, sobretudo de matriz chinesa, para Portugal, numa evolução de sentido inverso relativamente às origens do Book Hop, cuja primeira edição portuguesa aconteceu em Coimbra, no Centro de Artes Visuais.

“Com a inclusão de mais artistas locais queremos virar o conceito ao contrário, ou seja, em vez de trazermos os artistas portugueses até Macau, queremos dar a conhecer os artistas de Macau a Portugal. Estamos a começar a pensar nisso e na forma de concretizar esta ideia”, rematou o curador, apontando para a possibilidade de isso acontecer já no próximo ano.

17 Nov 2021

Exposição | Fotógrafo Jorge Simões prepara projecto sobre Macau

O fotógrafo português Jorge Simões, curador da Book-Hop, a primeira exposição de livros de artista no território, que inaugurou ontem, tem na calha um projecto com Macau como pano de fundo

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um projecto que se encontra na gaveta, mas que pode em breve vir a conhecer a luz o dia. Macau surge como pano de fundo e a fotografia como meio. Jorge Simões, fotógrafo português, está de regresso ao território, onde, além da curadoria da exposição que o trouxe de volta, procura dar continuidade a um trabalho que iniciou em 2012.

“Na altura, vim a Macau também a propósito de uma exposição e aproveitei a minha vinda para fotografar e fazer também o meu trabalho pessoal enquanto artista”, contextualizou Jorge Simões ao HM. A cidade despertou-lhe os sentidos e, mesmo sem estar preparado para essa missão, não deixou de capturar momentos, atraído pela “envolvência de uma cultura completamente diferente”, do clima, às pessoas, aos cheiros.

“Acabou por ir acontecendo durante o tempo que estive aqui porque fui conhecendo os sítios, as pessoas e isso depois levou-me a querer fotografar cada vez mais”, sublinhou Jorge Simões que pretende aproveitar o regresso para dar “continuidade ao trabalho”, conferindo-lhe uma maior proximidade, com enquadramentos mais fechados e sobretudo rostos. “Estava a pensar em mais fotografias de ‘close ups’, de pessoas”, realça.

“Cada indivíduo vê as coisas à sua maneira, [pelo que] as minhas fotografias retratam o meu olhar. Eu vejo os cheiros, as pessoas, a arquitectura, a construção, a massificação e também o consumismo – que em Macau é notório –, os casinos, a luxúria, os brilhos, as luzes. Tudo isto é impressionante”, observa o fotógrafo português.

Livro de artista

Já “pronto a sair a qualquer momento” tem um livro de artista que, por motivos óbvios, não se encontra patente na exposição que inaugurou ontem na Casa Garden. Isto apesar de essa faceta ter ficado “sempre para trás” devido à crescente procura pela produção de exposições, à qual se dedica há 20 anos.

“Cada vez mais sou procurado pelos artistas para ajudar na produção e montagem de exposições, o que ocupa grande parte do meu tempo e quase não deixa espaço para o meu trabalho de artista”, afirmou, lamentando de “alguma forma” que assim seja. “É um pouco limitativo em termos criativos” mas, “por outro lado, é muito bom e gratificante quando conseguimos ajudar outras pessoas a desenvolverem os trabalhos que queriam e não conseguiriam fazer sozinhas”. Não obstante, reconhece que, no fundo, cada exposição acaba por reflectir o seu trabalho e, naturalmente, a criatividade nela exposta.

A Macau trouxe então a Book-Hop que figura como a segunda edição da exposição de livros de artista, a seguir à realizada em Coimbra, mas que não deverá ser a última. “Entretanto já recebi um convite para fazer a terceira, também em Portugal”, adiantou.

A Book-Hop, que pretende divulgar o livro de artista enquanto obra de arte independente, conta também com a curadoria do designer Paulo Côrte-Real, o qual ficou responsável pela selecção de artistas locais, onde se incluem nomes como Rui Rasquinho, Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny, Francisco Ricarte e João Miguel Barros.

26 Set 2018