Annie Wang, cantora e estudante | Animal de palco

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]queles que já a ouviram cantar nas jazz jam sessions no espaço Live Music Association (LMA) percebem que está ali um talento natural e uma presença forte que é revelada em palco. Fora dele, Annie Wang assume-se como mais introvertida, mais calada, “mas não demasiado”.

Estudante do departamento de inglês da Universidade de Macau (UM), Annie Wang recorre ao filme “Mr e Mrs. Smith”, protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, para se caracterizar em palco.

“Acho que tenho duas personalidades diferentes. Antes de vir para Macau trabalhei como cantora em part-time em bares, quando andava na escola secundária. No dia-a-dia era uma nerd, a carregar os livros e usava óculos. As aulas acabavam às nove da noite e aí punha a minha maquilhagem e ia cantar”, recorda-se.

Annie Wang não faz da música uma profissão, mas começou a cantar ainda antes de aprender as primeiras palavras. Os pais ajudaram-na e incentivaram o nascimento de uma paixão.

“Os meus pais gostam de cantar e quando era pequena cantavam muito comigo. O meu pai cantava uma canção e deixava sempre a ultima palavra da canção para eu cantar. É uma coisa de infância, que começou muito cedo.”

Os pais, professor de educação física, e a mãe, professora de música, também vão fazendo uma perninha como cantores. “Mas são pequenos concertos na nossa cidade”, adianta.

Se Annie começou a cantar ainda antes de falar, as primeiras experiências em palco aconteceram logo no jardim-de-infância.

“Claro que não cantei jazz”, ironiza. “Devo ter cantado algumas canções infantis, muito provavelmente. Tenho uma fotografia e tudo”, recorda.

Desde aí, Annie Wang nunca mais deixou os palcos de fora. “Cantar num palco é uma constante na minha vida. Aconteceu na escola primária. Desde que me lembro todos os anos tinha uma oportunidade de cantar.”

Mudança de mentalidade

A escolha de Macau para fazer os estudos superiores acabou por revelar-se uma agradável surpresa.

“Esta experiência tem sido muito boa. Estou de facto a adorar estudar na UM. Vim estudar para cá por causa dos cursos e dos professores, e quando cheguei aprendi muito com eles. De certa forma mudou a minha vida e a minha forma de pensar.”

No território também teve algumas experiências como cantora, sobretudo em sessões onde se canta de forma livre. “Não fiz concertos a sério”, assegura.

A cantora ouve jazz e todos os tipos de música. Num lugar onde a música ao vivo tem vindo a ganhar outro rumo, Annie Wang destaca o papel importante que o LMA tem tido.

Referindo-se às jazz jam sessions, que decorrem todos os domingos, a jovem estudante garante dar todo o apoio. “Pela minha experiência no LMA há muitos músicos talentosos. Não sabia que aquele lugar existia. Não é um espaço comum em Macau. Há uma certa vibe que é diferente e diversa face ao que existe.”

A cantora adianta que este tipo de concertos, com uma onda mais intimista, não são frequentes em muitas cidades chinesas.

“Não diria que é mais fácil ser cantora na China. Depende do quão queremos isso, do quão queremos subir na carreira. Há mais hipóteses de fazer jam sessions em Macau do que na China.”

Doutoramento na calha

Estando prestes a licenciar-se, Annie Wang não sabe ainda o que quer fazer em termos profissionais. Associar a música à investigação académica é um dos objectivos.

“Sempre cantei mas sempre estudei ao mesmo tempo. Neste momento estou a pensar em continuar os meus estudos e fazer um doutoramento. Nunca vou desistir de cantar, vou procurar algo mas continuar a cantar. Quero focar-me nesse trabalho de investigação que pretendo fazer.”

Ficar em Macau é uma possibilidade, mas a estudante não descarta experimentar outros destinos. “Tudo depende do que acontecer este ano. Vou licenciar-me para o ano que vem e este ano vou procurar outras oportunidades. Vou ver se dá para fazer um doutoramento num outro lugar”, remata.

1 Set 2017