Não há sobreviventes do voo da China Eastern que caiu na região de Guangxi

Uma semana depois da queda do avião da China Eastern, na região de Guangxi, foi encontrada a segunda caixa negra do Boeing 737-800 e confirmada a morte de todos os tripulantes e passageiros a bordo. Causas do acidente estão por confirmar. Familiares visitaram local dos destroços na sexta-feira

 

A segunda “caixa negra” do Boeing 737-800 que se despenhou, esta semana, na China, foi ontem recuperada, anunciou a Xinhua. “A segunda ‘caixa negra’ do voo da China Eastern MU5735 foi encontrada”, indicou a agência estatal chinesa. A primeira “caixa negra” tinha sido recuperada na quarta-feira. O avião, que se despenhou às 14h38 na segunda-feira, na região de Guangxi, fazia a ligação entre as cidades de Kunming e Cantão.

Segundo o jornal China Daily, os dados da segunda “caixa negra” estão em “relativo bom estado”, sendo que outras partes ficaram “severamente danificadas”, adiantou Zhu Tao, chefe do departamento de segurança aérea da Autoridade de Administração da Aviação Civil da China.

No sábado, a Administração da Aviação Civil da China confirmou que todas as pessoas a bordo do voo MU5735, 123 passageiros e nove tripulantes, morreram.

“Os 123 passageiros e nove membros da tripulação do voo MU5735 da companhia China Eastern morreram a bordo em 21 de Março”, noticiou a CCTV, citando o director-geral adjunto da administração da aviação civil, Hu Zhenjian.

No sábado, a Reuters falou com alguns familiares, incluindo Qin Haitao, que viajou da província vizinha de Hunan na esperança de saber mais notícias sobre a filha, Shujun, de 40 anos, que trabalhava em Guangzhou. Esta tinha viajado para Kunming para acompanhar a sua mãe numa visita a um médico especialista.

“Não conseguíamos acreditar e não nos atrevíamos a dizer alguma coisa, com o medo de que a minha mulher não conseguisse aguentar”, disse Qin sobre o momento em que soube do acidente. “Os nossos olhos estavam cheios de lágrimas, mas não nos atrevíamos a chorar. De facto, sabíamos a verdade, mas ocultamo-la dela por uma noite, um dia e mais uma noite”, acrescentou.

Na terça-feira Qin, o seu filho e dois outros viajaram para Wuzhou, tendo visitado o local em que foram encontrados os destroços, acompanhados por pessoal da China Eastern. “É muito doloroso. Não temos mais nada do que o luto agora. Vivemos em luto todos os dias.”

Além de Qin, mais familiares dos falecidos visitaram o local dos destroços na manhã de sexta-feira. Muitos queimavam incenso no local.

“Rezei e coloquei o nome da minha filha lá. Era o aniversário dela naquele dia, então disse: ‘O pai veio ver-te, minha filha. Feliz aniversário”, contou Qin.

Shujun deixou uma filha adolescente. “Não temos mais exigências a fazer agora. Só queremos encontrar o corpo da minha filha o mais cedo possível e trazê-la para casa.”

Dados em caixa

As “caixas negras”, que registam todos os dados de um voo, incluindo os diálogos na cabine de comando, contêm informações cruciais e linhas de investigação, que chegam a poder explicar cerca de 90 por cento de um acidente aéreo.

Estes gravadores, introduzidos na aviação nos anos de 1960, encontram-se no interior de caixas metálicas reforçadas, concebidas para resistir a choques extremamente violentos, fogo intenso e longa imersão em águas profundas.

Cada uma das caixas pesa entre sete e dez quilogramas e, ao contrário do que o nome indica, são de cor laranja com bandas brancas refletoras, para que sejam mais visíveis. Os dados são protegidos por uma cinta blindada, que resiste imersa a profundidades de até seis mil metros ou exposta a temperaturas elevadas, uma hora a 1.100º Celsius.

O nome de “caixa negra” ficou a dever-se à película fotográfica protegida por uma cinta negra, usada nos primeiros gravadores de voo. De acordo com as normas em vigor, um avião comercial possui duas “caixas negras”, uma FDR (gravador de dados) e uma CVR (gravador de voz da cabina de comando).

O gravador FDR regista, a cada segundo, todos os parâmetros técnicos ao longo de 25 horas de voo, como velocidade, altitude e trajectória, entre outros. O CVR guarda os diálogos trocados na cabina de comando, mas também os sons e anúncios ouvidos no local. Uma análise aprofundada permite conhecer o regime dos motores.

Em caso de imersão, as “caixas negras” têm um alarme que emite um sinal de ultrassom, todos os segundos, durante pelo menos 30 dias consecutivos, com um alcance de detecção médio de dois quilómetros.

Em declarações à TDM, no sábado, o comandante Vicente Serafim declarou que se trata de um avião construído recentemente. “Este avião é um 737-800 e há quase mil unidades a voar, com um recorde de segurança espectacular. O avião é praticamente novo, construído em 2015, e não deve ter grandes corrosões. Vamos aguardar que vamos aguardar as duas caixas negras para saber o que se passou.”

O comandante acredita que, mesmo com algumas danificações, será possível recuperar os dados registados nas caixas negras. “Pelo que se sabe, o circuito onde estão os chips de memória está ligeiramente danificado. [As caixas] vão ter de ser enviadas para o fabricante para recuperar [as informações], o que vai, de facto atrasar ligeiramente a investigação”, disse.

Mike Daniel, antigo investigador de acidentes na Administração Federal da Aviação dos EUA, e consultor na área, disse que a recuperação das partes estruturais do avião pode ajudar a perceber como é que ocorreu o acidente. “Deveria ser recolhido o maior número de peças possível para reconstruir o avião”, frisou, ainda que tal seja “praticamente impossível” dado o impacto violento do avião assim que atingiu o solo.

Identificações por fazer

O Boeing 737-800 caiu na segunda-feira, numa encosta arborizada, perto da cidade de Wuzhou, no sul da província de Guangxi, cerca de uma hora depois de o avião partir de Kunming, capital da província vizinha de Yunnan.

Ontem as autoridades da aviação civil anunciaram ter identificado 120 das 132 pessoas que seguiam a bordo e adiantaram que o trabalho de recuperação continua. Segundo o director dos Bombeiros da região, um laboratório de física e química examinou 41 das 66 amostras recolhidas no local do acidente e não localizou vestígios de explosivos.

O acidente, em que o avião desceu rapidamente de uma altitude superior a oito mil metros, é considerado muito pouco comum. O avião pareceu corrigir o seu rumo brevemente durante a descida, mas de seguida despenhou-se contra um bosque. Segundo as autoridades, foram realizadas várias tentativas de contactar a tripulação, mas não houve resposta. Cerca de três minutos após o início da descida, o sinal desapareceu.

A companhia aérea China Eastern, que operava o voo, é uma das quatro principais transportadoras chinesas, juntamente com a Air China, a China Southern Airlines e o grupo HNA. Fundada em 1995, a empresa China Eastern tem sede no Aeroporto Internacional de Pudong, em Xangai. Desde 2010 que a China, um dos três principais mercados de aviação civil do mundo, não registava qualquer acidente aéreo com mais de cinco mortes.

28 Mar 2022

Encontrada uma caixa–negra do avião que caiu no sul da China

A China disse hoje que foi encontrada uma das duas caixas-negras, que contêm os dados de voo e os gravadores de voz da cabina, do avião que caiu no sul do país na segunda-feira.

O Boeing 737-800 da companhia China Eastern Airlines, com 132 pessoas a bordo, caiu perto da cidade de Wuzhou, na região autónoma de Guangxi. O voo partiu da cidade de Kunming, na província de Yunnan, sudoeste da China, com destino final em Cantão, sul do país.

A bordo seguiam 123 passageiros e nove tripulantes, indicou a Administração da Aviação Civil da China. De acordo com a televisão estatal chinesa CCTV, não foram encontrados, até agora, quaisquer sobreviventes, no desastre aéreo mais mortal da China em décadas.

A caixa–negra está, no entanto, gravemente danificada. As autoridades não conseguem identificar se é o gravador de dados de voo ou de voz da cabina.

Mao Yanfeng, diretor da divisão de investigação de acidentes da Autoridade de Aviação Civil da China, disse em conferência de imprensa que estão agora à procura da outra caixa–negra.

A recuperação daqueles aparelhos é considerada chave para descobrir o que causou o acidente. A busca por pistas foi suspensa hoje, quando a chuva cobriu o campo de destroços.

As autoridades usaram veículos aéreos não tripulados (‘drones’), ferramentas manuais e cães farejadores nas encostas densamente florestadas, em busca dos gravadores de voz da cabina e dados do voo.

Familiares de passageiros começaram a chegar hoje à vila nas proximidades da zona de embate, onde, juntamente com os repórteres no local, foram parados pela polícia e autoridades, que usaram guarda-chuvas abertos para bloquear a visão do local.

Os investigadores dizem que é ainda muito cedo para especular sobre as causas do acidente. O avião entrou numa queda quase na vertical, uma hora após a partida.

Um controlador de tráfego aéreo tentou entrar em contacto com os pilotos várias vezes, depois de ver a altitude do avião cair drasticamente, mas não obteve resposta, disse Zhu Tao, diretor do Escritório de Segurança da Aviação da Autoridade de Aviação Civil da China. “Até agora, não foram encontrados sobreviventes”, disse Zhu.

O Boeing 737-800 voa desde 1998 e tem um bom histórico de segurança. É um modelo anterior ao 737 Max, que ficou parado em todo o mundo por quase dois anos após acidentes mortais, em 2018 e 2019.

A China, um dos três principais mercados de aviação civil do mundo, não registava um acidente aéreo com mais de cinco mortes desde 2010, até à queda do Boeing 737-800, na segunda-feira.

Em 24 de agosto de 2010, um Embraer ERJ 190-100, operado pela Henan Airlines, com 96 pessoas a bordo despenhou-se, já na aproximação à pista, quando se preparava para aterrar em Yichun, no nordeste do país.

No acidente e no incêndio que deflagrou morreram 44 pessoas, enquanto 52 sobreviveram. Os investigadores atribuíram o acidente a um erro do piloto, que estava a aterrar à noite, com visibilidade reduzida.

23 Mar 2022