Direito de resposta de Maria Ó Bruno Soares

Maria Ó Bruno Soares, representante legal das vítimas dos crimes de abuso sexual de crianças cometidos por João Tiago Martins, vem exercer o seu direito de resposta à notícia da primeira página do jornal de que V. Exa. é director, publicada em 18-02-2021, sob o título “De culpado a inocente”, na qual é afirmado que a “Justiça portuguesa reverte decisão dos tribunais de Macau”, desenvolvida nas páginas 2 e 3 da mesma edição e assinada pela jornalista Andreia Sofia Silva.

Quanto ao antetítulo “Justiça portuguesa reverte decisão dos tribunais de Macau”:

Contrariamente ao que se infere do antetítulo da notícia, a Justiça portuguesa não pode, em circunstância alguma, reverter as decisões proferidas pelos tribunais de Macau, os quais pertencem a uma jurisdição autónoma da República Popular da China.
Como tal, a Justiça portuguesa não reverteu, nem podia reverter, a decisão proferida pelos tribunais de Macau que, em 5 de Setembro de 2017, condenou João Tiago Martins à pena de 5 anos e 6 meses de prisão efectiva pela prática do crime agravado de abuso sexual dos seus próprios filhos.

Quanto ao título “De culpado a inocente”:

Este título é inverídico e induz os leitores em erro. A Justiça portuguesa não declarou a inocência, nem sequer questionou a culpabilidade do João Tiago Martins na prática dos mencionados crimes pelos quais foi condenado em Macau. Pelo contrário, o Juízo de Família e Menores de Lisboa deu como provada aquela condenação criminal e a respectiva confirmação pelos tribunais superiores da RAEM.
A decisão proferida agora pelo Juízo de Família e Menores de Lisboa, no âmbito de um processo de natureza cível, apenas indeferiu o pedido, instaurado na jurisdição portuguesa, de inibição total das responsabilidades parentais do João Tiago Martins, através de decisão que não transitou em julgado e está sujeita a recurso.
Como tal, para todos os efeitos, o João Tiago Martins é culpado dos crimes em causa e nunca poderá ser considerado inocente, muito menos por uma justiça estrangeira alheia aos tribunais de Macau.

Quanto à frase “Em Portugal, o tribunal considerou que o julgamento de João Tiago Martins em Macau careceu de prova suficiente”:

Também esta frase vertida na entrada da notícia é inverídica e induz os leitores em erro. Em lado algum da decisão agora proferida pelo referido Juízo de Família e Menores, se concluiu que o seu julgamento em Macau careceu de prova suficiente. Ao invés, o tribunal português afirmou que não lhe cabia “realizar avaliação da forma como os factos foram julgados por outros tribunais.”
O motivo pelo qual factos foram dados como não provados na sentença proferida pelo mencionado Juízo é essencialmente formal e , como dela decorre, traduz-se no facto de não ter sido previamente efectuada na jurisdição portuguesa a revisão da sentença penal condenatória proferida pelos tribunais de Macau.

“Daí que tenha concedido ao pai a guarda parental dos filhos contra a vontade da ex-mulher”:

É também errónea a notícia de que o tribunal português tenha concedido ao pai a guarda parental dos filhos. De resto, tal nem sequer estava sob discussão no referido processo de inibição. Com efeito, a guarda parental dos menores cabe, desde 2011, à signatária desta resposta. Acresce que, na sequência da condenação criminal do João Tiago Martins, este foi inibido totalmente de exercer o poder paternal pelos tribunais de Macau, até à maioridade dos filhos, por decisão de 11 de Dezembro de 2019, ainda antes da data de o mesmo ter sido colocado em liberdade condicional.
Considerando a gravidade dos crimes em causa e o facto de ser totalmente desprovida de sustentação factual a autoproclamada inocência do João Tiago Martins (na página 2 da referida edição), tal notícia – que inculca nos leitores conclusões inverídicas e erróneas -, atenta contra a dignidade e o direito à reserva sobre a intimidade da vida privada e familiar das vítimas dos crimes, meus filhos, bem como contra a independência e dignidade dos tribunais de Macau e dos Exmos. Senhores Juízes que, nas três instâncias locais, condenaram, sempre por unanimidade, o autor dos crimes a que este jornal dá voz.
É de lamentar que, perante uma matéria que envolve dois menores vítimas de crimes cometidos em Macau, o jornal que V. Exa. dirige não tenha contactado a representante legal das vítimas, ou os seus advogados, no sentido de confirmar a veracidade das conclusões extraídas pela jornalista que subscreve a notícia, em omissão clara do dever de verificação dos conteúdos jornalísticos por que é responsável.
A signatária reserva todos os direitos que legalmente lhe assistem de recorrer aos meios judiciais para cabal exercício dos direitos dos seus filhos.

Maria Ó Bruno Soares

 

Nota da direção

O jornal Hoje Macau não utilizou, de facto, a linguagem jurídica que consta dos processos, tendo interpretado e “traduzido”, em linguagem comum, as afirmações do tribunal português, que rejeitou as pretensões da signatária, apesar de ter tido acesso aos documentos do processo realizado na RAEM. De igual modo, por respeito aos menores envolvidos, tivemos o cuidado de não expor a sua identidade, bem como a identidade da signatária deste direito de resposta. Se, eventualmente, causámos alguma perturbação à signatária, desde já esclarecemos que não foi essa, de todo, a nossa intenção. Os representantes legais em questão nunca responderam às nossas solicitações de esclarecimento deste ou de quaisquer casos em que tenham estado envolvidos. Esperamos que, para a próxima, esses mesmos representantes legais respondam às nossas solicitações ou nos facultem o contacto dos seus clientes que, infelizmente, não possuíamos. Estamos, contudo, disponíveis para ouvir uns e outros e noticiar as suas opiniões e versões sobre os factos em questão.

23 Fev 2021

Refutar as falsas acusações que me foram feitas

Por Jin Hong Gang

[dropcap]E[/dropcap]screvo este texto com o intuito de protestar contra a má prática jornalística evidenciada no artigo intitulado “Diretora da Faculdade de Letras está de saída e é acusada de abuso de poder”, assinado pela jornalista Andreia Silva e publicado no Hoje Macau do dia 27 de junho de 2019. Focando-se no meu trabalho como diretora da FAH e na minha saída da UM, a jornalista tomou uma posição tendenciosa, usando a linguagem ofensiva dos entrevistados, nomes falsos, falsas acusações, factos não corroborados e fontes questionáveis para me lançar ataques pessoais e prejudicar a minha reputação profissional no momento da minha partida.

Quando me encontrava em licença de pesquisa no estrangeiro, entre 17 de junho e 01 de julho, Andreia Silva contactou-me, mais precisamente, no dia 22 de junho, via email, pedindo-me que comentasse o meu trabalho e a minha saída da UM. Não pude responder ao referido e-mail porque estava em trânsito, com uma agenda intensa de viagens e reuniões e, para além disso, não sabia exatamente sobre que aspetos do meu trabalho, de um período de quase cinco anos, é que a jornalista estaria interessada. Na altura em que estava disponível e em que lhe ia perguntar (no dia 27 de junho, cinco dias depois), o artigo dela tinha sido formalmente publicado. Todo o artigo se centra no meu trabalho como diretora da FAH e na minha profissão. Contudo, a jornalista não fez nenhum esforço para me contactar por telefone ou para entrar em contacto com a minha secretária, limitando-se a enviar aquela simples e abstrata mensagem antes da publicação.

O artigo afetou seriamente a minha reputação profissional, humilhou-me publicamente e causou, não só a mim mas também à minha família, uma tremenda angústia. Considero este tipo de jornalismo um caso de claro abuso do poder mediático, por parte de uma imprensa supostamente confiável, cuja intenção é difamar uma cidadã inocente, tornando-se, por conseguinte, numa “imprensa ofensiva” numa sociedade de Direito. Assim sendo, recorro ao meu “direito de resposta” para responder a este artigo com a finalidade de, não só limpar o meu bom nome profissional, mas também condenar este tipo de comportamento jornalístico revelador de falta de profissionalismo, para além de ser desumano, irresponsável e ofensivo. Reservo-me, aliás, no direito de proceder criminalmente contra a jornalista e o jornal em causa.

Vou concentrar-me em três áreas:
1. A minha qualificação profissional como diretora da FAH;
2. as falsas acusações de “abuso de poder” e “má gestão”, entre outros; e
3. a verdade acerca da minha partida.

Relativamente aos assuntos do Departamento de Português, estes foram abordados na minha entrevista concedida ao Ponto Final e publicada no dia 10 de Junho. Também concordo com os pontos de vista partilhados pelo Professor Yao Jingming no seu artigo publicado no Hoje Macau, no dia 3 de julho. Por esta razão, não vou abordar mais assuntos a ele relativos. O Professor Yao, um conceituado poeta, bom investigador da literatura portuguesa e diretor do Departamento de Português da UM, deixou claro as conquistas do Departamento, o papel que desempenhei, o meu apoio contínuo e o meu relacionamento colaborativo com os colegas no Departamento. Tenho trabalhado em estreita colaboração com os líderes e colegas do Departamento desde o primeiro dia em que cheguei à UM. Aplaudo os impressionantes êxitos conseguidos pelo Departamento de Português nos últimos anos e sinto-me feliz com as oportunidades de trabalhar, de mãos dadas, com colegas do Departamento. Até hoje, continuamos amigos.

As minhas qualificações como diretora da FAH

O artigo citava relatos de um professor, cujo nome falso é “John”, e falava sobre a minha qualificação como diretora e sobre as minhas experiências de gestão no ensino superior. “John” referiu que era muito inexperiente e apenas tinha publicado alguns livros e escrito “alguns artigos em chinês”, sendo apenas uma “professora de línguas”. Ele alegou, sem apresentação de quaisquer provas, que a diretora não possuía nenhuma qualificação ou experiência na administração universitária e que a sua nomeação tinha sido conseguida por meio de corrupção. Por um lado, tais declarações refletem verdadeiramente a falta de profissionalismo e a atitude insultuosa de “John”, assim como a sua profunda ignorância e visão diminuta sobre diversos sistemas de ensino superior a nível internacional. As observações de “John” revelaram o seu preconceito intelectual e a sua ideia preconcebida relativamente à educação em “artes liberais”, pesquisa empírica baseada em sala de aula e ensino em segunda língua. Finalmente, a declaração infundada de “John” sobre a nomeação “corrupta” da diretora revelou a sua verdadeira intenção de minar a reputação da UM nos padrões, políticas e procedimentos de contratação pessoal. Não podemos deixar de nos perguntar por que razão as preocupações de “John” sobre a minha qualificação nunca foram levantadas formal e publicamente no momento ou depois da minha nomeação como diretora, exceto agora, quase cinco anos depois, quando eu estou prestes a deixar o cargo. Por outro lado, é chocante que a jornalista não se tenha dado ao trabalho de verificar o meu background, averiguar e confirmar as afirmações de “John” sobre mim, nem tenha questionado a intenção de “John” e por que razão “John” se escondeu por trás de um nome falso.

No que diz respeito às minhas qualificações e experiência como diretora, os meus 30 anos de conquistas profissionais nos EUA e cerca dos cinco anos de serviço na UM falam por si. Para economizar espaço, resumirei minhas realizações e experiências profissionais, antes da UM, da seguinte forma:

Fui doutorada em Psicologia Educacional pela Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC) e tendo lecionado depois na Universidade Normal de Taiwan, na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign, no Middlebury College e no Hamilton College nos EUA.

Fui nomeada William R. Kenan Chair Professor de 2007 a 2014. Trata-se de uma cátedra a nível nacional com um generoso financiamento atribuído a professores distinguidos dos Estados Unidos.

Sou autora de dez livros e mais de 50 artigos publicados em revistas indexadas e capítulos de livros. Sou líder académica na área de investigação em que estou envolvido. Estou extremamente orgulhosa de poder publicar pesquisas bilingues, já que os meus leitores vêm de ambas as origens. Prestei serviço como diretora de Departamento de Línguas e Literaturas Orientais do Hamilton College durante 5 anos e como diretora Executiva do Programa Associated Colleges in China (ACC) durante 18 anos (ACC é um programa americano de estudo no estrangeiro com sede nos EUA). Ao longo da minha carreira, fui convidada como oradora principal e como oradora de plenário mais de 200 vezes para conferências internacionais e nacionais. Fui ainda convidada para dar palestras e conduzir workshops profissionais mais de 300 vezes em diferentes partes do mundo, incluindo China, Hong Kong, Singapura, Taiwan, Alemanha, Japão e EUA.

Prestei o serviço como Presidente, Vice-Presidente e ex-Presidente para as duas grandes organizações profissionais nos EUA: NCOLCTL e CLTA.

Em 1998, fui honrada com um prémio muito significativo a nível profissional: Professor do Ano nos Estados Unidos. Este prémio resultou da competição entre professores de 56 estados e foi concedido apenas a quatro finalistas em todos os EUA e todos os premiados foram recebidos na Casa Branca.

Recebi o prémio Lifetime Achievement Award atribuído pelo National Council of Less Commonly Taught Languages (NCOLCTL) em 2013 e o outro prémio deste género atribuído pela Associação de Professores de Língua Chinesa (CLTA) em 2015.

Fui duas vezes beneficiária dos Subsídios Federais de Pesquisa Fulbright-Hays (cada um com a duração de três anos), durante seis anos consecutivos, de 2008 a 2014, com um financiamento de 3,0 milhões de dólares americanos.

Também me foi atribuído o Star Talk Grant durante cinco anos consecutivos, até deixar os EUA. Fui Presidente, Vice-Presidente de duas grandes organizações profissionais nos EUA: NCOLCTL e CLTA, ambas organizações nacionais possuem mais de 1000 membros ativos, trabalhando com o conselho de administração no planeamento e implementação de metas e objetivos estratégicos, tomando novas iniciativas, organizando conferências anuais e publicando revistas e boletins informativos.

Trabalhei como Presidente do National AP Chinese Development Committee durante seis anos, liderando um projeto de avaliação a nível nacional, o qual tem mais de 10.000 candidatos.

Se as qualificações e experiências acima mencionadas, em instituições de ensino superior nos EUA e em outros lugares do mundo, não me qualificam para ser diretora e não são consideradas como experiência de gestão universitária, pergunto-me o que é que constituiria a chamada “experiência de gestão universitária”. Sem estas qualificações, como é que uma instituição de ensino superior poderia simplesmente nomear-me como diretora da sua faculdade?

Tenho muito orgulho nas minhas habilitações em “artes liberais” e nas diversas experiências de ensino no mundo. Estas experiências deram-me uma formação administrativa valiosa e relevante em administração universitária na área das humanidades, em comunicação intercultural e deram-me a capacidade de liderar um corpo docente com uma visão clara e sensibilidade. Tenho orgulho de dizer que ganhei o cargo de diretora da FAH devido à minha experiência nacional e internacional, com um sólido background de conquistas académicas. A minha nomeação foi o resultado do meu background de educação em artes liberais, reputação académica na área, sensata visão, estilo de gestão com princípios, espírito trabalhador, capacidade de formar equipas e os meus anos de experiência em posições de liderança nos EUA e em outros lugares do mundo.

Falsas acusações de “abuso de poder” e “má-gestão”

O artigo citava relatos de DUAS pessoas (Custódio Martins, que se demitiu há um ano, e ‘Manuel’, falso nome de um professor), aludindo aos meus vários erros durante o período como diretora. Essas acusações incluíam “abuso de poder”, “má-gestão”, “assédio profissional” e “plágio”, entre outros.

Lendo atentamente este artigo, podemos facilmente dizer que estas acusações ou não apresentam evidências ou possuem exemplos irrelevantes ou confusos. Em primeiro lugar, quando “Manuel” fez acusações de “irregularidades”, “plágio” e “nomeação controversa”, não se preocupou em dar exemplos concretos e evidências corroboradas. Custódio disse que “havia situações claras de abuso de poder e de assédio profissional”, mas não se encontram neste artigo exemplos seus que provem a sua afirmação. Em segundo lugar, estas acusações graves do chamado “abuso de poder” e de “má-gestão” só vieram de dois professores numa faculdade que conta com sete unidades académicas com 122 membros académicos e com quase 30 funcionários administrativos. Usar menos de 1% dos funcionários para representar as opiniões de um corpo docente inteiro é totalmente injusto e errado. Em terceiro lugar, a partir dos relatos, parece que os jornalistas selecionaram intencionalmente o mesmo tipo de entrevistados, isto é, pessoas que pediram para usar nomes falsos e que utilizaram linguagem semelhante, insultuosa, para me humilhar e para pintar um quadro negro da faculdade.

Sendo assim, uma pessoa não pode deixar de se perguntar por que razão é que esses indivíduos usaram nomes falsos para fazer acusações contra mim no momento da minha partida, mas não o fizeram durante o meu mandato. Obviamente, a credibilidade desses entrevistados e a sua intenção são questionáveis. Eles não conseguiram fornecer provas concretas da minha má conduta, nem conseguiriam citar investigações formais e conclusivas da UM contra mim durante o meu mandato como diretora, mas usaram nomes falsos e meios públicos para difamar minha reputação apenas no momento da minha saída. É, portanto, totalmente antiético que o jornal tenha permitido que o artigo, mal-intencionado e difamatório, fosse publicado, contendo fontes falsas, acusações infundadas e irrelevantes, e cujas opiniões não eram representativas de uma faculdade de mais de 150 membros.

O artigo é extremamente enganoso, pois confundiu “abuso de poder” com medidas disciplinares que tomei durante o meu mandato. Como diretora do maior corpo docente da UM, entendo muito bem a natureza do meu trabalho. Preciso de tomar decisões difíceis juntamente com comités departamentais e com a faculdade, tendo em conta investigações concluídas. Ao longo dos anos do meu mandato, como parte do meu trabalho, eu tive de tomar medidas disciplinares contra comportamentos reveladores de falta de profissionalismo e condutas inaceitáveis. Naturalmente, os anos de trabalho ajudaram a acumular um pequeno número de pessoas descontentes, possivelmente por causa do seu fracasso numa promoção não qualificada, no aumento salarial, ou por terem recebido cartas de advertência e ações disciplinares justificadas. No final do meu mandato, essas pessoas podem usar nomes fictícios para expressar os seus ressentimentos e raiva. No entanto, é seriamente errado, e até mesmo ilegal, que uma jornalista tenha usado a imprensa pública para permitir que os ressentimentos se tornassem em linguagem ofensiva e que falsas fontes e acusações tenham sido usadas para difamar alguém publicamente.

Com efeito, se alguém perguntar no campus da UM, a FAH é conhecida como uma unidade exemplar em termos de sistema, administração, cultura e atmosfera, graças aos esforços coletivos dos líderes e colegas da FAH em diferentes níveis. Juntos, construímos um corpo docente progressista, sistemático, organizado, transparente e democrático. Muitos dos nossos colegas são líderes académicos nas suas áreas. A taxa de satisfação dos estudantes da FAH está entre as mais altas da universidade. O perfil de pesquisa da FAH foi classificado pelo QS entre 150-250 em linguística e 400-450 em humanidades, a nível mundial, nos últimos 3 anos (o QS é um sistema de classificação mundial credível no ensino superior). Os nossos professores (da FAH) são conhecidos por serem colegiais, profissionais, solidários e de mente aberta.

Tenho orgulho de ter servido esta faculdade como diretora e estou profundamente grata a todos os membros da FAH, sejam eles académicos ou administrativos. Eles trabalharam de perto comigo e por mim durante o meu mandato de 2014 a 2019. Com objetivos claros em mente, eu esforcei-me para transformar a Faculdade num corpo docente com uma visão clara, políticas e procedimentos mais transparentes, planeamento avançado, comunicação e operações eficientes, cultura solidária e participativa e ambiente cordial e colegial. Lenta mas seguramente dirigimo-nos para esses objetivos.

A razão para deixar a UM

Na última parte do artigo, a jornalista ainda usou as duas fontes, com nomes falsos, afirmando que eu fui forçada a sair da minha posição devido ao abuso de poder e que a minha saída foi ordenada pelo novo reitor como parte das suas medidas de “remover a corrupção”. O artigo também indicou que eu fui forçada a sair por causa da “minha forte associação aos” ex-vice-reitores e reitor. Além dessas citações falsas, em nenhum lugar do artigo é possível encontrar fontes confiáveis da direção da UM e do seu Núcleo de Recursos Humanos sobre a minha chamada “saída forçada” ou “corrupção”.

Aqui quero deixar claros dois aspetos. Em primeiro lugar, não houve nenhuma conversa formal ou investigação contra mim por parte da UM, durante o meu período de cinco anos de trabalho, quase a chegar ao fim. Em segundo lugar, a minha saída nada tem que ver com “abuso de poder” ou “corrupção” mas sim com razões pessoais e familiares. Fui eu que, em abril, apresentei a minha renúncia por razões pessoais e familiares. Antes disso, nenhum reitor conversou comigo, me forçou a renunciar nem me deu qualquer indicação de que eu devia sair.

Obviamente, consegue-se perceber que, ao longo do artigo, as histórias com nomes falsos não refletiram a verdade, os factos estão misturados, fontes credíveis e verificação estão em falta e falsas acusações apareceram em todo o lado. É verdadeiramente ultrajante para a imprensa de confiança pública, cujo financiamento depende do dinheiro do contribuinte, publicar um artigo pouco profissional, irresponsável, infundado e parcial para difamar e humilhar uma cidadã honesta. Portanto, exijo firmemente um pedido público de desculpas por parte da jornalista e do jornal, peço que retifiquem a minha reputação profissional e que reponham a verdade imediatamente.


Nota da direcção

Em nome do Hoje Macau, gostaria de pedir desculpa à Dra. Jin Hong Gang pelo conteúdo da notícia em questão. De facto, reconhecemos que na sua elaboração e publicação foram violados alguns princípios do jornalismo que muito prezamos, como o facto de publicarmos opiniões anónimas sobre a qualidade profissional de alguém. Esta não é a nossa prática. Contudo, aconteceu e pelo facto esperamos que a Dra. Jin Hong Gang nos perdoe. Do nosso lado, garantimos à visada e também aos nossos leitores que tal não voltará a suceder.

Carlos Morais José

31 Jul 2019

Terrível prática do “pseudo-jornalismo”

Por Yao Jing Ming

[dropcap]F[/dropcap]oi numa viagem de serviço oficial que tomei conhecimento do teor da reportagem relativa ao Departamento de Português da UM, publicada pelo jornal Hoje Macau do dia 27 de Junho e assinada pela jornalista Andreia Silva. Fiquei muito surpreendido e desapontado com a irresponsabilidade e falta do profissionalismo evidenciados nesse trabalho jornalístico.

É lamentável que a reportagem tenha saído ao espaço público simplesmente baseada em declarações prestadas por dois docentes da FAH, que, não tendo tido coragem para assumir a sua identidade, optaram por se esconder no anonimato, e por um ex-docente do Departamento de Português que se demitiu por vontade própria há um ano.

O que foi apresentado pelo jornal –sem provas nem fundamento – não corresponde à realidade do Departamento de Português. Uma vez que o Departamento de Português tem trinta docentes e mais de seiscentos alunos (incluindo minor, major, alunos da licenciatura em Direito e pós-graduação), teria sido essencial que a jornalista tivesse procurado ouvir mais pessoas, evitando, assim, a divulgação de mentiras e de comentários infundados.

É completamente falsa e absurda a afirmação de “hostilidades aos portugueses”, tecida pelo senhor “Manuel”. No Departamento de Português trabalham e convivem harmoniosamente professores portugueses, brasileiros e chineses. Não se verificou, nos últimos anos, nenhuma “debandada”, visto que, as poucas pessoas que saíram (e não apenas portugueses) fizeram-no por terem atingido o limite de idade ou por opção própria, por diversos motivos pessoais.

Quanto à alegada “perseguição” referida pelo ex-professor do Departamento de Português, ela também não corresponde à verdade. De acordo com o regulamento da Graduate School da Universidade de Macau, os Professores Auxiliares (Assistant Professors) não estavam autorizados a orientar teses de doutoramento a não ser na qualidade do co-orientador – este impedimento não foi, portanto, imposto apenas a esse professor, mas a todos os que estavam inseridos na mesma categoria. Apenas nos anos académicos mais recentes o regulamento foi alterado. Em relação à referida recusa de “licenças de investigação”, as mesmas podem ocorrer devido ao facto de os pedidos não cumprirem os regulamentos e prazos estabelecidos pela UM, o que, na maioria das vezes, pode ser solucionado com a sua reformulação em conformidade com as regras.

No que diz respeito à minha “promoção apressada, sem justificação curricular”, quero dizer orgulhosamente ao “Manuel” (seja ele quem for), o seguinte: sendo um dos poetas mais respeitados da China, excelente tradutor de poesia portuguesa para chinês e investigador produtivo, sou muito digno desta promoção. Para este efeito, a condecoração pelo Presidente de República de Portugal e vários prémios que me honraram em termos literários e académicos também podem servir de fundamento.

Eu estranho por que motivo é que a jornalista do Hoje Macau ignora o que tem sido desenvolvido pelo Departamento de Português nos últimos anos, preferindo recorrer às informações não verificadas nem confirmadas para a divulgação da maledicência? É sabido que nunca me interessou ser Director do Departamento, cargo esse que me tem roubado imenso tempo para me dedicar à investigação e à criação literária. Entretanto, foram o amor ao português e a vontade de dinamizar o Departamento que me obrigaram a assumir o cargo depois da saída voluntária da Professora Fernanda Gil Costa com a qual continuo a manter uma relação muito amistosa. Graças à colaboração dos colegas e ao apoio indispensável da Professora Jin Hong Gang (tenho de confessar que nunca houve um director da Faculdade tão preocupado com o Departamento de Português como ela), foram melhorados o programa de licenciatura (como por exemplo, foram padronizados os conteúdos do ensino e dos exames) e o programa de Study Abroad (os nossos alunos do terceiro ano já podem realizar o seu estudo em Países de Língua Portuguesa durante um ano lectivo em vez dum semestre). Os nossos cursos de mestrado tornaram-se mais atraentes, tendo sido admitidos os melhores licenciados provenientes da China Interior e também alunos internacionais. Foi posto em prática o plano de leitura que visa encorajar os alunos a ler mais obras em português. Em colaboração com DSEJ, foi concluído uma APP que permite aprender português pelo telemóvel, sendo o seu lançamento previsto ainda para este mês. Em 2017, foi criado o Centro de Formação Bilingue que tem organizado muitos seminários e palestras dirigidos aos nossos alunos e à comunidade local. Em termos de divulgação da cultura portuguesa, foi criado o Prémio de Tradução Literária em parceria com a Fundação Macau e foi iniciado o projecto de tradução de autores portugueses em parceira com uma editora prestigiada de Pequim.

De acordo com a ética jornalística, os jornalistas são responsáveis pela escolha das fontes a que recorrem, pela confirmação da informação que difundem mediante várias fontes e pela análise da autenticidade dos dados. No entanto, a jornalista do Hoje Macau negligenciou esta ética, tendo-se limitado a fazer a “montagem” duma reportagem especulativa, baseada apenas em informações duvidosas e falsas. Será que qualquer pessoa pode usar o jornal com um nome fictício para a maledicência?

Lamento profundamente que um jornal tenha usado o seu poder mediático para praticar este tipo de “pseudo-jornalismo”, e denegrir a imagem da Faculdade e do nosso Departamento. Reconheço que no Departamento haverá, certamente, muito trabalho a fazer e aspectos que podem ser melhorados e, estando aberto a críticas, espero que elas se façam num tom construtivo, em diálogo franco e sem obscuridade.


Resposta da jornalista Andreia Sofia Silva

Antes de mais, lamento que nunca tenha respondido ao meu e-mail, enviado dias antes de publicada a reportagem, relativo à saída da directora da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Macau, onde lhe pedia também um balanço do trabalho realizado pela dra. Hong Gang Jin. A própria dra. Hong Gang Jin também nunca respondeu ao meu email, onde lhe colocava as mesmas questões. Enviei os emails com antecedência, antes da publicação da referida reportagem, mas nunca obtive uma reacção ou mesmo uma simples resposta, acusando a recepção. Desta forma, foi impossível obter o contraditório, facto referido no artigo.

Quanto a não ter contactado mais docentes, tive o cuidado de fazer inúmeros contactos com professores e ex-professores do departamento de português, mas não só: foram também contactados docentes de outros departamentos, precisamente para garantir a pluralidade de opiniões e ter uma visão global do que aconteceu. Muitos não quiseram responder, outros optaram por o fazer recorrendo ao legítimo direito do off the record. São pessoas que, perante mim, se identificaram e cujas posições considerei credíveis para a inserção na reportagem.

Reconheço e tenho o maior respeito pelo seu mérito como poeta, tradutor e docente, mas não poderia deixar de publicar uma opinião de um docente que, assumo, não é a minha.

3 Jul 2019