As negociatas dos radares

Na semana passada lembrei-me das faixas da esquerda de certas autoestradas da Alemanha e de algumas estradas da Austrália onde não existe limite de velocidade. E lembrei-me por quê? Porque este país é um país de modas nas negociatas. Sim, nas negociatas e não nos benefícios para o povo. Há uns anos foi a moda das barragens, depois foram as energias renováveis onde as eólicas deram lugar a negociatas de cair para o lado.

Chegou a haver um presidente de câmara que ao saber quanto é que um outro autarca tinha recebido para licenciar a instalação dos aerogeradores nas montanhas da sua jurisdição, pediu para ele uma comissão em dobro… depois vieram as negociatas dos projectos para o TGV, para o novo aeroporto de Lisboa, para a terceira ponte sobre o rio Tejo entre Lisboa e a margem sul, as vendas da EDP. Efacec, Portugal Telecom e a negociata inenarrável da TAP.

De seguida, assistimos à negociata dos helicópteros Kamov para combate aos incêndios, os quais estão abandonados por falta de peças. E a negociata da compra de dois submarinos de tecnologia mais avançada? Neste caso o escândalo ainda é tão significativo que os interlocutores alemães do negócio estão presos por terem sido condenados por corrupção. No nosso país não aconteceu nada. Aliás, aconteceu. A comunicação social deu o ar de ter recebido uma “ordem” para não falar no assunto. Negociatas não têm fim. A última a que assistimos atordoadamente foram as centenas de milhões de euros em ajustes directos nas obras para a Jornada Mundial da Juventude.

Mas, voltemos à estrada e à velocidade. Porque em Portugal cada vez mais se vendem “bombas” que podem atingir os 320 quilómetros por hora. Se autorizam a venda de carros de alta cilindrada só por absurdo é que podemos deixar de dizer que se trata de mais um cambalacho. Carros topo de gama para andarem no máximo a 120 quilómetros por hora, a velocidade máxima permitida numa autoestrada. A 120 dá a sensação de um carro dos fabricados nos dias de hoje completamente parado.

Não se admite que ainda não tenha sido autorizada a velocidade máxima para 140, apenas na faixa da esquerda. Pois agora, temos mais uma negociata, não um benefício para o povo, não, temos uma invenção que vai custar ao erário público milhões de euros. Descobriram que um novo rendimento, mais conhecido pela caça à multa, é a compra para todo o país de radares que controlam a velocidade média. O que é isso? Ora bem, se o amigo leitor vier até Portugal, fica a saber que passará a ter radares no norte, centro e sul que controlam a velocidade da sua viatura desde que passa numa câmara até outra câmara instalada muitos quilómetros depois. É o máximo de “chico-espertos” que devem ter dito ao primeiro-ministro: “Senhor Doutor, temos mais uma maneira de ganhar milhões por ano. Temos uma mina de ouro, assim mais ou menos parecida com mais um imposto”…

Que tristeza, ver num país onde a preocupação não é ajudar os pobres, os reformados que recebem uma miséria menor que 300 euros, os sem-abrigo, construir bairros sociais com dignidade onde hajam escola, creche, centro de saúde, parque infantil e pequeno jardim e não os mamarrachos de cimento que têm oferecido aos pobres onde nem sequer existe um café para tomar uma bebida ou comer uma sandes. Não, o importante, o mais importante do país são os novos radares que irão dar muito dinheiro para os cofres das Finanças. Nada de pensar nos professores, nos médicos, nos enfermeiros, nos oficiais de justiça, nos maquinistas da CP ou do Metropolitano, não, o importante são os radares controladores de velocidade entre um ponto e outro da sua viagem.

O próprio presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, afirmou que estes radares controladores “só servem para virem encher os cofres do Estado”. Esta afirmação é de uma importância vital e que mostra bem como as negociatas são efectuadas sem consultar quem sabe da matéria. Carlos Barbosa adiantou que “a sinalização dos radares está mal colocada, alguns sinais nem se veem e que nos outros países têm uma dimensão muito maior que em Portugal e estão colocados dos dois lados da estrada”. Quem tomou esta decisão dos radares controladores devia ter vergonha da decisão que tomou porque num país onde se pagam impostos em exagero, esta medida só vem reduzir o rendimento das famílias portuguesas numa demonstração cabal de que não estão preocupados com o bem do povo, antes pelo contrário, em apenas prejudicar as suas vidas.

20 Ago 2023

Os fogos não queimam, matam

Nesta altura do ano temos uma sina: os fogos pelo país fora. No norte, no centro e no sul. Os incêndios, neste ano, já consumiram dezenas de hectares de floresta. Qualquer dia o país não tem pulmão verde se a inoperância dos responsáveis continuar como se tem verificado ao longo dos tempos. As chamas ficam sem controlo e os meios aéreos a combatê-las somente durante a luz do dia não chegam.

Na zona de Castelo Branco o fogo esteve durante dias a consumir a verdura, e não só. Há aldeias que foram evacuadas. Houve casas que arderam. Pessoas como nós que ficaram sem nada. Em absoluto. Apenas com a roupa que tinham no corpo. Arderam os recheios das moradias, os galinheiros, as alfaias, as máquinas agrícolas, os tractores, os carros, as carrinhas, os camiões.

Representavam a mão-de-obra dos agricultores que de sol a sol tratavam das suas árvores de fruto, das suas colmeias, das suas hortas, das suas vinhas e dos seus animais. Um horror quando escrevemos a palavra nada. Nada é zero. Nada é sofrimento. Nada é lágrimas. Nada é depressão. Nada é olhar o firmamento e perguntar a Deus porquê? E o mais triste de tudo isto é que esta gente não tem a mínima possibilidade de reconstruir sem ajuda estatal. As autoridades dizem todos os anos que vão ajudar, que vão financiar, que vão reconstruir, mas há vítimas dos incêndios que estão há seis anos à espera de um euro vindo da oficialidade.

Neste Portugal interior, chame-se Gerês, Castelo Branco, Cascais ou Ourique é precisamente onde seria obrigatório existirem meios organizacionais que evitassem os fogos. Os bombeiros, que lutam até à morte, debaixo de um calor abrasador, queixam-se que os meios mecânicos não são suficientes para realizarem um trabalho profícuo. Afirmam à boca cheia que se gastaram milhões de euros na compra de aviões que estão abandonados por falta de peças. Os terrenos continuam a não ser limpos de modo a diminuir substancialmente o combustível acumulado. Não se abrem caminhos no meio das florestas de modo a que os camiões dos bombeiros possam passar e evitar que as chamas passem de um lado para o outro. Os especialistas nesta matéria opinam na televisão das mais diferentes formas. Para uns os fogos são devido a isto, aquilo e aqueloutro. Para outros, idem, idem, aspas, aspas.

Quem não aguenta mais são as populações que andam de balde na mão a tentar apagar os fogos que chegam junto das suas casas. O pânico destes milhares de atingidos é constante e chega a sangrar ou a matar. Os incêndios não queimam, matam.

E um grande número de incêndios tem origem em mão criminosa. Os pirómanos são aos montes por todo o país. Pelo menos, 60 pessoas foram detidas este ano pelo crime de incêndio florestal. E a GNR e a Polícia Judiciária já identificaram 117 indivíduos por fogo posto. Mesmo assim, a vigilância destas instituições e da Força Aérea não tem sido suficiente para que os pirómanos actuem a seu bel-prazer. Alguns destes incendiários têm sido presentes a juízes e vão em liberdade. Os pirómanos sabem que têm aliados, tais como, o vento e o imenso calor que se tem feito sentir no país.

O território está em perigo constante dos que por várias razões incendeiam as nossas florestas. Há quem afirme que muitos são pagos para que no final a madeira queimada possa servir para negócios chorudos. Neste mês de Agosto chegam a Portugal milhares de emigrantes que vêm de férias e muitos deles passam o seu período de descanso a ajudar os bombeiros no combate aos incêndios e a verem as suas propriedades a arder. Assistimos a campanhas de sensibilização para que as populações tenham o máximo cuidado, que não queimem nada, que não operem máquinas agrícolas junto do mato, que limpem os terrenos à volta das casas. Campanhas essas, que vão por água abaixo porque os pirómanos rebentam com qualquer tipo de campanha de sensibilização.

Os apelos ao comportamento das populações não servem para nada quando temos criminosos no terreno. Até o incrível aconteceu: dois elementos do Corpo de Bombeiros de Caneças, em Odivelas, com idade de 27 e 19 anos, foram detidos pela Judiciária por crimes de incêndio, depois de terem sido apurados indícios de que já este mês atearam fogos florestais na área de intervenção da sua corporação.

Ficaram em prisão preventiva a aguardar julgamento. Imaginem que o objectivo destes bombeiros-pirómanos era para dar trabalho à corporação onde os dois exercem funções, e há suspeitas de que, para atearem as chamas utilizaram inclusive uma viatura dos bombeiros em que se faziam transportar. Parece mentira que os próprios bombeiros façam parte do grupo de pirómanos. Infelizmente, no meio desta tragédia nacional, um comandante de uma corporação de bombeiros transmitiu-nos que: “há muitos negócios chorudos no meio desta tristeza toda…”.

14 Ago 2023

Muita polémica nas jornadas da juventude

Portugal é um país laico, segundo a Constituição. Este é o busílis da realização da Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, com um dispêndio de mais de 200 milhões de euros. O Papa Francisco deslocou-se a Portugal e foi saudado por cerca de um milhão de pessoas católicas. Durante a semana passada a rádio, televisão e jornais não abordaram outro tema.

Para uns, o maior evento do mundo em Portugal que trará um retorno financeiro substancial e uma promoção do país a nível internacional. Para outros, não é possível que um país pobre como Portugal gaste tanto dinheiro do povo num evento religioso de uma das muitas religiões existentes em Portugal. Esses comentadores referem o facto de sendo Portugal um país laico, o que aconteceria se muçulmanos, evangelistas, protestantes, testemunhas de Jeová e outras, se lembrassem de também solicitarem ao Governo e às Câmaras Municipais de Lisboa e de Loures a mesma quantia para realizarem eventos semelhantes.

A sociedade não católica salienta que a Igreja Católica chefiada pelo Papa Francisco, não fez a justiça devida aos sacerdotes que durante décadas abusaram sexualmente de menores masculinos, femininos e de mulheres que frequentavam as sacristias. As vítimas dos abusos sexuais, hoje adultos, lamentam profundamente que o Papa Francisco não tenha decidido a expulsão da sua Igreja de todos os sacerdotes ou freiras que abusaram de meninos e de meninas. Para outros observadores esta Jornada Mundial da Juventude veio tentar pôr água na fervura junto dos jovens tentando abafar o crime dos abusos sexuais, provados ainda recentemente por um relatório produzido por uma comissão independente.

Mais de um milhão de jovens e adultos que estiveram em Lisboa e Fátima nas cerimónias do evento naturalmente que para os católicos foi um êxito divino e que Portugal mostrou, mais uma vez, que o seu povo é católico. Não é bem assim. A maioria poderá ser católica, mas é devido o respeito a todas as outras religiões existentes em solo português.

Por outro lado, desde o Presidente da República, um católico praticante, ao presidente da Assembleia da República, ao Governo, autarquias, dioceses, paróquias e forças de segurança, todos foram mobilizados para o evento com milhões de euros gastos num país que tem reformados a ganhar 150, 200, 300, ou 400 euros mensais; que tem centenas de sem-abrigo a dormir nas ruas, que tem estudantes a abandonar o ensino por falta de dinheiro para pagar as propinas e que vivem em casa dos pais até aos 30 anos de idade; que tem bairros da lata e outros sociais onde impera a miséria; que tem milhares de jovens que não podem casar e ter filhos porque não lhes é possível comprar ou arrendar uma casa; que tem protestos nos hospitais por parte dos médicos e enfermeiros a reivindicar melhores condições de trabalho e financeiras; que tem bombeiros a afirmar que não têm condições para combater os incêndios; que tem julgamentos a serem adiados por falta de condições financeiras dos oficiais da justiça; que tem centenas de jovens licenciados que emigram todos os anos por não encontrarem emprego; que tem um ministro das Finanças a dizer que este ano não haverá cativações no Orçamento e que os cofres estão cheios. Que absurdo. Se os cofres estão cheios gastavam-se 200 milhões de euros em apoio aos reformados de miséria, às empresas à beira da falência, à construção de novos centros de saúde e de novos bairros sociais e não se privatizando a TAP de modo a que o povo perca os 3,2 mil milhões que foram injectados na empresa de aviação civil.

A semana foi passada com uma enorme multidão em ebulição festejando a sua fé e a possibilidade de ver o seu chefe da Igreja Católica. No entanto, com um milhão de pessoas foi necessário organizar as forças de segurança ao mais alto nível, com brigadas especiais de atiradores, com snipers nos telhados de vários edifícios e com a cidade de Lisboa praticamente impossibilitada de ter outros transeuntes, que não fossem participantes da jornada. Medo de quê? Que matassem o Papa? Ninguém acredita que algum ateu ou não católico enfrentasse uma multidão de um milhão de pessoas e umas forças de segurança altamente preparadas e posicionadas em todos os lugares das cerimónias e tivesse a coragem de pegar numa catana ou numa pistola para fazer mal ao Papa Francisco.

A pedofilia é um crime hediondo e não pode ter branqueamento ou esquecimento por parte dos responsáveis da Igreja Católica. Ainda na semana passada o semanário ‘Tal & Qual’ trouxe em manchete que o bispo Ximenes Belo, acusado de abusos sexuais em Timor-Leste, estava escondido num santuário em Anadia. A pedofilia foi bem lembrada durante a semana através de cartazes outdoors que foram instalados em diversos locais de Lisboa e que chamaram à atenção que já foram abusados sexualmente em Portugal cerca de 4.800 crianças. Cartaz esse que foi censurado e retirado pela edilidade de Oeiras, mas que tudo indica por conselho do Papa Francisco, voltou a ser recolocado. Este facto é chocante e esperemos possível que as novas gerações sejam sensibilizadas para que no futuro não aconteça mais abusos no seio da Igreja, o que se assistiu no passado tão triste?

9 Ago 2023

Estado do clima em 2022-2023 e sua evolução

Entre as muitas publicações produzidas pela Organização Meteorológica Mundial (agência especializada das Nações Unidas que trata do tempo, do clima e da água), sobressaem as que se referem à monitorização do clima e à sua evolução. Antes de tirar conclusões sobre essa evolução, o IPCC, órgão criado pela OMM e UNEP (United Nations Environment Programme), estuda em pormenor as características anuais do clima e tira conclusões sobre as alterações sofridas pelos valores médios dos parâmetros meteorológicos à escala global.

Com os resultados deste estudo a OMM tem vindo a publicar anualmente, desde 1993 até 2020, relatórios intitulados “WMO Statement on the State of the Global Climate” e, desde 2021, com o título “State of the Global Climate”. O mais recente consistiu no “State of the Global Climate in 2022”.

O clima é um sistema altamente complexo e, como tal, não é fácil o seu estudo. Para o monitorizar tem de se recorrer a milhões de dados referentes aos parâmetros meteorológicos medidos diariamente em estações meteorológicas padronizadas. Até há algumas dezenas de anos recorria-se a observadores meteorológicos para efetuar as leituras dos valores registados pelos instrumentos meteorológicos, nomeadamente da temperatura, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, humidade, visibilidade, etc.

As leituras eram feitas nas chamadas horas sinóticas principais (00:00, 06:00, 12:00 e 18:00 horas) e secundárias (03:00, 09:00, 15:00 e 21:00 horas). Desde que foi generalizado o uso de estações meteorológicas automáticas, a quantidade dos dados aumentou significativamente, o que permitiu a sua monitorização contínua.

Estes dados são transmitidos em tempo real para centros meteorológicos, onde são tratados. A principal vantagem das estações meteorológicas automáticas em relação às convencionais consiste no facto de poderem fornecer continuamente dados precisos e fiáveis, inclusive em locais remotos de difícil acesso, podendo ser programáveis para alertar as autoridades aquando da ocorrência de valores extremos. Com base nos dados recolhidos são traçadas cartas meteorológicas que traduzem as condições meteorológicas em vastas regiões.

Os centros meteorológicos mundiais, com base nestes dados, traçam as chamadas cartas sinóticas à escala global, onde se esquematiza o campo da pressão atmosférica referido a uma determinada hora sinótica com o recurso a linhas de igual pressão (isóbaras) e as localizações e intensidades dos vários centros de ação (depressões e anticiclones). Com recurso a modelos físico-matemáticos são elaboradas cartas de prognóstico nas quais se pode seguir a evolução espácio-temporal desses centros de ação, bem como a formação e evolução de outros sistemas de pressão, nomeadamente vales, cristas e colos1.

São também esquematizadas as chamadas frentes, que correspondem a zonas de separação de massas de ar com características diferentes. Estas cartas de prognóstico são válidas para intervalos de 12 ou 24 horas, estendendo-se por 5 ou mais dias, com base nas quais se podem fazer previsões cuja fiabilidade diminui à medida que o período de validade aumenta.

A análise da situação meteorológica, ou seja, do tempo, e a previsão da sua evolução cabe aos meteorologistas, que traduzem em linguagem clara as situações esquematizadas nas cartas de análise e de prognóstico. Compete, por sua vez, aos climatologistas, o estudo dos valores médios dos parâmetros meteorológicos referentes a períodos mais ou menos longos, de preferência no mínimo 30 anos, e a respetiva evolução.

O sistema climático reage a forçamentos externos, manifestando comportamentos que fazem lembrar a reação dos seres vivos a estímulos exteriores. O Professor José Pinto Peixoto (1912-1996), eminente meteorologista e climatologista conhecido mundialmente, referiu-se a esta analogia no livro de sua autoria Physics of Climate (conjuntamente com o meteorologista americano Abraham Oort), “the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”.

Infelizmente os conceitos de “tempo” e de “clima” são por vezes confundidos, não só por entidades oficiais, mas também por alguns meios de comunicação social. Não é raro usar-se a expressão “condições climatéricas” para justificar a interrupção ou impedimento de eventos ao ar livre, devido a ocorrências meteorológicas, como, por exemplo, chuva intensa, vento forte ou trovoada. Dever-se-ia usar a expressão “condições meteorológicas” (ou simplesmente “tempo” ou “estado do tempo”) nessas situações, na medida em que a expressão “condições climatéricas” se refere ao clima. No entanto, o termo “climatéricas” não seria o mais adequado, mas sim “climáticas”, na medida em que o primeiro destes termos é um galicismo que se pode confundir com “climactéricas”, que se refere ao “climactério”, período da vida em que ocorrem alterações significativas no organismo, como, por exemplo, a menopausa e a andropausa.

Além do cálculo dos valores médios e extremos dos parâmetros meteorológicos, a OMM recorre a 7 indicadores para proceder à monitorização das alterações climáticas: concentração de gases de efeito de estufa, temperatura, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos e energia por eles absorvida e armazenada (calor do oceano), gelo marinho e glaciares.

No relatório “State of the Global Climate 2022” sobressaem vários aspetos que põem as entidades governativas e o público em geral de sobreaviso, nomeadamente a alta probabilidade de aumento de frequência de fenómenos extremos, entre os quais secas, inundações, ondas de calor2 e fogos florestais.

É também evidenciado o facto de, apesar de um episódio extraordinariamente longo de La Niña (de setembro de 2020 a março de 2023), fenómeno a que corresponde a um certo arrefecimento do nosso planeta, a temperatura média à escala global nos últimos 8 anos (2015-2022) foi a mais alta registada. O nível do mar e o calor do oceano alcançaram valores recorde e o gelo do Oceano Glacial Antártico atingiu a menor extensão registada. Na Europa foram também alcançados recordes de degelo de glaciares.

Caso não tivesse ocorrido esse episódio de La Niña o aumento da temperatura média teria sido, provavelmente, ainda mais acentuado. Entretanto, o episódio atual do El Niño, iniciado há cerca de um mês, que poderá perdurar aproximadamente um ano ou mais, muito provavelmente contribuirá para um maior aquecimento nos próximos anos. É muito provável que as ondas de calor que estão a afetar a vastas regiões na Europa, América do Norte e Ásia estejam relacionadas com este fenómeno.

Os valores da temperatura máxima deste ano, em algumas regiões, aproximaram-se dos máximos até agora observados, e não seria de estranhar que se registassem recordes mundiais em várias regiões do globo nos próximos anos. Segundo o “Archive of Weather and Climate Extremes”, a temperatura mais alta registada foi em Furnace Creek, Death Valley, Califórnia, com 56,7 °C em 10 de julho de 1913. Na Europa continental o recorde foi de 48,8 °C, na Sicília, em 11 de agosto de 2021. Na Ásia foi de 53,9 °C, em Mitribah, no Kuwait, e em Turbat no Paquistão, respetivamente em 21 de julho de 2016 e 28 de maio de 2017. Os valores da temperatura máxima em Death Valley em 2020 e 2021 foram tão altos, que se decidiu retirar os sensores da estação meteorológica e enviá-los para que se realizassem testes num laboratório independente.

De acordo com uma declaração conjunta da OMM e do Copernicus3, o dia 6 de julho de 2023 foi caracterizado pela mais alta temperatura média global diária, ultrapassando o recorde que havia sido atingido em agosto de 2016, o que indicia o perigo de se estar prestes a atingir o limite de 1,5 ⁰C, estabelecido no acordo de Paris, para o aumento da temperatura média global até ao fim deste século.

Apesar de não querermos ser tão pessimistas como o nosso compatriota António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, não deixa de nos perturbar as suas palavras integradas num discurso proferido na sede da ONU, em 27 de julho deste ano: «The era of global warming has ended; the era of global boiling has arrived».

Segundo a OMM, diz-se que ocorre uma onda de calor quando durante pelo menos 6 dias consecutivos a temperatura máxima diária excede pelo menos 5 graus Celsius a temperatura máxima média durante o período em referência.

Copernicus consiste na componente de Observação da Terra do programa espacial da União Europeia, cujo objetivo de observar o nosso planeta e o seu ambiente para o benefício dos cidadãos europeus.

3 Ago 2023

As férias podem desgraçar a vida

A maioria dos portugueses passa o ano a pensar nos dias de férias. As férias são uma medida merecida para quantos trabalham. O descanso físico e psicológico são factores imperiosos para todos os que laboram nas suas mais diversas profissões. As férias são normalmente planeadas e decididas, na maior parte dos casos para o mês de Agosto. Até a Assembleia da República encerra os seus trabalhos e os ministros vão até ao estrangeiro ou para as praias do Algarve.

As férias têm os mais diversos utilizadores. As pessoas que têm muito dinheiro, as que recebem um salário mediano e os cidadão que não podem ter férias. Estes últimos, são trabalhadores pobres que recebem o salário mínimo nacional ou reformados que usufruem pecúlios de miséria. Estes nem podem pensar em ter um dia à bera do mar.

Quem não pode ter férias sabe o que é o sofrimento de ter uma renda de casa em atraso, ter uma prestação ou mais por pagar ao banco, ter um a ordem de despejo porque não conseguiu fazer frente ao pagamento do arrendamento, ter de vender o seu automóvel para poder pagar as propinas dos filhos. Tenho uma vizinha que decidiu ir com o marido e três filhos para Punta Cana, em Junho passado. Para o efeito, contraiu um empréstimo ao banco de quantia avultada.

No regresso deparou-se com o aumento das taxas de juros no empréstimo para a compra da casa e com o pagamento da prestação mensal ao banco do empréstimo para ir de férias. Entretanto, a senhora ficou desempregada e o salário do marido é absolutamente insuficiente para que a família possa continuar a viver no andar que adquiriram porque já recebeu um aviso do banco que a sua casa terá de ser penhorada. Estão desesperados e a ida de férias desgraçou-lhes a vida. São as opções que se tomam, por vezes, inconscientemente e somente pensando no tal direito a férias.

Em Portugal, segundo um inquérito de uma organização de apoio social, mais de metade dos portugueses não podem gozar férias em lado nenhum. Ficam por casa, levam os filhos ao parque infantil e contam o dinheiro nas compras do supermercado. Quando os familiares lhes perguntam se vão de férias até à aldeia, respondem que não podem. O dinheiro necessário para o transporte, alimentação e a ajuda necessária aos familiares anfitriões não existe na conta bancária desses cidadãos.

Por outro lado, temos casos caricatos. Há três meses que andei a ouvir uma senhora dizendo-me que em Julho estaria numa bela ilha da Grécia de férias. Sonhava com o resort contratado para o ripanço de 20 dias. Chegou a altura de embarcar e a dita senhora seguiu viagem com o filho divorciado e com três netos para a Grácia. Chegou à referida ilha e deparou-se com uma temperatura insuportável de cerca de 50 graus e de seguida com incêndios destruidores.

A senhora e os familiares tiveram de ser evacuados do hotel e andar cerca de 15 quilómetros a pé com as malas de arrojo. As crianças cheias de sede e cansadas tiveram que receber assistência médica quando chegaram ao destino. Quando foram retirados de barco para Atenas, os hotéis estavam superlotados e seguiram para o aeroporto a fim de regressarem a Lisboa. No aeroporto reinava o caos. Passageiros que dormiam no chão, aviões que não levantavam voo devido aos graves incêndios que rodeavam a capital grega. Apenas conseguiram levantar voo para Lisboa passados dois dias, exaustos, nervosos e preocupados com as crianças. O sonho das férias tinha-se transformado num pesadelo profundo e estando à beira do risco de morte, no momento em que foram evacuados do hotel da ilha grega. O sonho das férias, mesmo para quem tem suficiente independência financeira, pode tornar-se numa desgraça nas suas vidas.

As férias são merecidas para todos, mas, infelizmente só alguns as podem gozar e muitas vezes sofrendo o que nunca imaginaram. Tenho conhecimento de pessoas que nunca gozaram dias de férias, outras que há cerca de 20 anos que não têm férias, especialmente, porque o subsídio de férias que recebem do Estado ou da empresa onde trabalham serve para pagar algumas dívidas que foram acumulando junto de amigos.

Há quem diga simplesmente; “É a vida”. Em todo o mundo há pobres e ricos. Certo. Mas, é muito triste chegarmos à altura do Verão, tempo propício para umas férias merecidas e reduzirem-se ao acolhimento do lar, ao arrefecimento da banheira na casa de banho e ao passeio nocturno pelo bairro quando a temperatura fica mais baixa.

Todos os que podem ter as suas férias podem considerar-se uns felizardos num país onde a vida está a ficar desnorteada para metade dos portugueses, quando os jovens acabam o seu curso superior e emigram após terem vivido em casa do pais, muitas vezes além dos 30 anos de idade. Seja como for há que desejar a todos os nossos leitores que podem ter férias que as gozem o melhor possível e que tudo vos corra pelo melhor, já que têm praias lindas na Tailândia, Filipinas, Timor-Leste ou Indonésia. De todo o modo, o nosso desejo de boas férias!

31 Jul 2023

A seita espiritual e a morte de um bebé de catorze meses

Ao que isto chegou em Portugal. Uma seita dita espiritual, denominada Reino do Pineal, instalada na aldeia de Seixo da Beira, em Oliveira do Hospital, no ano de 2020, comprou uma herdade de cinco hectares completamente fechada. O seu líder não acredita que a terra seja redonda ou que o homem tenha ido à Lua. Os membros são brancos e pretos e passam a maioria do tempo em danças e abraços. A seita assistiu à morte de um bebé de pouco mais de um ano, e resolveu cremá-lo e atirar as cinzas para o rio Mondego, em Abril do ano passado. Um crime hediondo, com a agravante de existirem na herdade mais crianças que estão a preocupar as suas famílias e as autoridades.

O Ministério Público já começou a investigar a morte do bebé e a avó de um outro bebé de sete meses alertou as autoridades para forçarem a entrada na herdade e recuperarem todas as crianças que lá vivem. A bebé que a avó reclama nunca foi registada, não foi vacinada e nem teve qualquer assistência médica. A preocupação dos familiares das crianças deve-se fundamentalmente ao facto devido às crenças da seita ali praticadas estarem relacionadas em não ter acesso a cuidados de saúde, educação e cidadania. A Câmara Municipal de Oliveira do Hospital já participou várias denúncias sobre a comunidade em causa à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e consequentemente ao Ministério Público.

Os membros da seita caracterizam-se como “nómadas viajantes com uma vocação espiritual” que escolheram “restaurar, proteger e preservar os modos de vida orgânicos, naturais, espirituais, culturais e indígenas”. Um chorrilho de mentiras chocantes que levam a uma prática incivilizada sem lei e sem moral.

O líder da seita, Água Aknal Pinheiro, teve o desplante de afirmar que “estamos aqui a viver em paz, cuidando respeitosamente da terra que actualmente habitamos até ao momento em que encontrarmos e estabelecermos uma casa permanente, talvez uma ilha…”.

Inclusivamente, a Câmara Municipal de Coimbra já tinha feito denúncias sobre esta comunidade às várias instâncias oficiais, salientando a presença na herdade de mais crianças e com a edilidade coimbrã preocupada com a segurança dos menores e por suspeitar que os mesmos não tinham acesso a cuidados de saúde, cidadania e educação, quando a lei diz que o ensino é obrigatório até aos 12 anos de idade.

A avó de uma bebé de sete meses luta na justiça pela guarda da neta – que está na seita do Reino do Pineal. A criança nascida no seio da seita está a deixar os seus familiares desesperados, sobretudo depois de terem conhecimento da morte de um bebé no ano passado. A avó da criança não consegue falar com a filha e quer urgentemente a guarda da neta.

A Polícia Judiciária já está a investigar as circunstâncias da morte do bebé, mas até agora as outras crianças da comunidade seitosa continuam na quinta à guarda do chefe da seita. Toda esta prática inacreditável nos dias de hoje, poderá ser alvo de processos judiciais, especialmente devido à exposição ao abandono, maus-tratos e profanação de cadáver, crimes pelos quais a seita do Reino do Pineal pode responder judicialmente após a morte e cremação de uma criança.

Vários canais de televisão, jornais e revistas têm dedicado o maior espaço à actuação desta seita em causa, salientando-se que vivem na marginalidade, que a morte da criança e a cremação decorreu completamente na ilegalidade e à margem da lei, que uma comunidade de 40 a 100 pessoas que se instalou em território português e que decretou a autodeterminação, que ao acreditarem que a terra é plana é inserir-se numa teoria de conspiração que leva a todo o tipo de pensamento depravado, que a maioria das pessoas que vivem na herdade não é portuguesa tratando-se de estrangeiros que se conheceram na internet e que ninguém sabe se estão em Portugal dentro da legalidade, que a soberania que apregoam relativamente ao Estado português é por si só uma afronta ilegal ao Direito Constitucional português, que naquele espaço se gera uma grande vulnerabilidade dos direitos fundamentais particularmente dos menores, que se trata de um abuso sobre humano possuir uma criança que morre sem registo e cremada sem certidão de óbito. Enfim, estamos perante algo idêntico ao que tem acontecido por esse mundo fora na área das teorias de conspiração e que em certos casos tem levado ao suicídio dos membros pertencentes a este tipo de seitas.

O que não é aceitável é que perante tanta gravidade, as autoridades judiciais ainda não tenham tomado uma posição severa, chamado à colação os membros da seita e terminar em absoluto com este denominado Reino do Pineal.

24 Jul 2023

Rui Rio regressou na varanda

A história da separação do poder político e o poder judicial é uma treta. O director da Polícia Judiciária (PJ) depende directamente da ministra da Justiça e, por sua vez, é da total confiança do primeiro-ministro. Os inspectores da PJ no decurso do seu trabalho analisam queixas, mesmo anónimas, escutam telefones e têm uma panóplia de trabalhos de investigação infinita. Na semana passada assistimos ao décimo quarto membro do Governo que se demitiu ou foi demitido.

O secretário de Estado da Defesa, Capitão Ferreira, há muito que andava metido em cambalachos e a PJ ao investigar os milhões de euros gastos a mais nas obras do hospital militar descobriu uma data de jogos sujos que levaram à suspeita de corrupção.

O governante demitiu-se logo assim que o Ministério Público (MP) o decretou como arguido num caso de bradar aos céus. O senhor fingiu que contratou um assessor para determinado trabalho, ele próprio efectuou o processo e recebeu por dia a “módica” quantia de 12 mil euros, num total de 61 mil em apenas cinco dias e as ilegalidades não cessam, inclusivamente milhões gastos na manutenção de helicópteros sem passar pelo Tribunal de Contas.

Obviamente, que o falatório pelo país foi generalizado. Simultaneamente o ministro da Cultura, Adão e Silva (nome sonante de outros mundos), criticou em entrevista os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) e os seus membros ficaram na corda bamba através das palavras do socialista governante. Caiu o Carmo e a Trindade.

O presidente da CPI, o igualmente socialista e conceituado deputado e ex-membro do Governo, António Lacerda Sales, respondeu a Adão e Silva de uma forma contundente e salientou que o governante deveria pedir desculpas à Assembleia da República. E mais, Lacerda Sales relembrou o ministro que é o Parlamente que visiona o Governo e não o contrário. Seguiram-se outros socialistas e demais deputados de outros partidos a criticarem Adão e Silva, um dos mais protegidos do primeiro-ministro, António Costa.

Ora bem, quando o mundo político estava com o Partido Socialista e o Governo na corda bamba, de que se lembrou a PJ, a instituição que depende directamente do Governo? De virar o disco e terminar com as “guerrinhas” no seio dos socialistas e na má imagem criada com a demissão do tal secretário de Estado da Defesa. E de que maneira?

Arranjou um modo simples de fazer rebentar uma bomba entre os social-democratas e a generalização de todas as bancadas parlamentares, indo aos magotes, inusitadamente mais de 100 agentes por todo o lado, sem que antes vergonhosamente avisasse a TVI para o espectáculo, particularmente a casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio, e às sedes desse partido no Porto e em Lisboa, de onde levaram os telemóveis e computadores após lá estarem 19 horas, alegando que Rui Rio teria gasto dinheiro público em pagamentos a funcionários ou a colaboradores do partido.

Mas, isso é o que todos os partidos fazem. O dinheiro, segundo a lei, não é público, é concedido pela Assembleia da República aos partidos com assento parlamentar, a fim de ser utilizado nas suas despesas, incluindo na contratação de colaboradores para a efectivação do trabalho parlamentar. E esses colaboradores não são obrigados a trabalhar no Palácio de S. Bento.

Por exemplo, se um fotógrafo é contratado por um partido para efectuar a cobertura da actividade dos deputados nas mais diversas acções no exterior do parlamente, esse fotógrafo tem de ser pago pelo seu trabalho. Ou seja, a PJ pariu um rato e até obrigou Rui Rio a vir à varanda, imagine-se, para explicar aos jornalistas o seu ponto de vista irónico sobre o que se estava a passar. Esta actuação da PJ até mereceu um comunicado da Procuradoria-Geral da República salientando que ninguém foi anunciado como arguido, mas o PSD enviou uma carta de protesto à procuradora-geral protestando contra o circo levado a efeito pelo MP.

A jogada dos inspectores deixou a maioria a pensar que todos seríamos atrasados mentais, porque viu-se de imediato que a estratégia judicial era abafar as críticas diárias ao secretário de Estado da Defesa e ao ministro da Cultura, mudando a agulha do remoque aos socialistas e ao Governo e passar a bola para um assunto que não é assunto, mas que deu impacto mediático em todos os órgãos de comunicação social.

Não, o MP não esteve bem, mais a mais, porque se tratou de uma denúncia vingativa de alguém no interior do PSD que se sentiu prejudicado no reinado de Rui Rio quando este tentou limpar a casa e diminuir as despesas no seio do seu partido.

Agora, fica-se na perspectiva de saber se o MP irá dirigir-se às sedes de todos os partidos políticos presentes na Assembleia da República e se as suspeitas irão recair igualmente em Mariana Mortágua (BE), Paulo Raimundo (PCP), António Costa (PS), Rui Rocha (IL) e André Ventura (Chega). O mais espantoso é que o crime organizado tem aumentado em Portugal de uma maneira assustadora e a PJ não anuncia a detenção dos vários cabecilhas que se passeiam em carros topo de gama por esse país fora controlando todas as redes de tráfico de droga e de prostitutas/tos brasileiros…

16 Jul 2023

Este país não é para políticos com maioria absoluta

O nosso país não é para políticos que façam parte de uma maioria absoluta. Por quê? Porque goste-se ou não, o PCP é o único partido político coerente e que na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) só se preocupou com os muitos cambalachos que aconteceram na TAP ao longo de diferentes governações. Na semana passada foi apresentado o relatório preliminar dos trabalhos que decorreram durante meses. Assistimos a 46 audições no parlamento. Mas, ninguém acredita, que o relatório é um autêntico branqueamento de diversos assuntos graves que tomámos conhecimento ao longo das audições. A TAP foi partidarizada pelo governo de Passos Coelho. Essa partidarização foi uma vergonha, onde os accionistas levaram a companhia aérea portuguesa quase à falência. Um deles, David Neelman até levou uma indemnização de cerca de 50 milhões de euros. Um escândalo. E o relatório quase que se preocupou apenas com isso. Depois, o governo de António Costa nacionalizou a empresa e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, delegou no seu secretário de Estado Hugo Mendes a tutela da TAP. Esse governante teve uma prática política que bradou aos céus, dando ordens constantemente à CEO francesa da TAP, esta CEO começou a embirrar com a competência da administradora Alexandra Reis, ao ponto de a querer despedir e colocar os advogados de ambas as partes a negociar uma indemnização para a engenheira Alexandra Reis. Esta gestora acabou por levar 500 mil euros de indemnização para deixar a administração da TAP. O ministro das Finanças, Fernando Medina disse na CPI que não teve conhecimento… quase para rir. Não ter conhecimento do meio milhão de euros que foi entregue à engenheira, quando a sua mulher era directora jurídica na TAP e que aconteceu com o beneplácito do ministro Pedro Nuno Santos, que ao mentir e ao meter os pés pelas mãos sobre o assunto, acabaria por se demitir. Medina ainda viria, para cúmulo, a convidar Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro. A bronca dos 500 mil euros rebentou e a senhora nem aqueceu o lugar no ministério.
Nas audições da CPI, João Galamba, como ministro que substituiu Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas teve um comportamento indigno e a provar-se que, realmente, o primeiro-ministro devia ter aceitado a sua demissão. Galamba, através da sua chefe de gabinete, contactou com o SIS (Secretas) a fim de esta instituição ter um comportamento ilegal de funções policiais ao ir reaver um computador de um adjunto do ministro Galamba. O caso deu água pela barba e agora o relatório da CPI não aborda a gravidade destes factos que ficaram provados. O partido neonazi, de André Ventura, até já marcou pontos, vindo anunciar que o relatório foi redigido pelo Governo e entregue à deputada presidente da CPI. Os outros partidos políticos têm-se manifestado abertamente contra o branqueamento inserido no relatório sobre factos graves de que se tomaram conhecimento ao longo das audições e que o relatório nada refere.
O Estado português introduziu na TAP mais de três mil milhões de euros do povo, alegando que seria para salvar a empresa de transporte aéreo. Com esse dinheiro foi criado o tal Fundo da Airbus, para a aquisição de aeronaves, mas afinal, a TAP ainda tem mais de 20 aviões por receber da Airbus. A discussão não tem fim. Há partidos políticos que dizem ir votar contra o relatório. Outros manifestaram que irão redigir outro relatório com todos os factos graves que foram abordados na CPI e que todo o país ouviu e leu através da comunicação social.
Um relatório sobre 46 audições parlamentares não pode ser uma espécie de generalizações balofas omitindo as passagens graves que comprometiam membros do Governo e até o Partido Socialista, quando, por exemplo, o seu grupo parlamentar mobilizou uma reunião com a CEO da TAP para combinarem as perguntas e respostas durante a audição na CPI. O facto de um relatório parlamentar desta importância ser apresentado de um modo leviano e partidário é muito grave. O primeiro-ministro, António Costa, disse que se pronunciava apenas quando o relatório estivesse finalizado. Pudera, ele sabe que o relatório não haverá de conter nada que comprometa a sua governação. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (que voltou a desmaiar na semana passada) também afirmou que aguarda pelo final das conclusões do relatório para convocar o Conselho de Estado. O caso não é nenhuma brincadeira e o povo sabe perfeitamente que a TAP tem sido um cambalacho de enormes dimensões para certos indivíduos e os trabalhadores é que viram os seus salários diminuir e outros foram mesmo despedidos da empresa aérea. O relatório tem, no mínimo, três pontos muito polémicos e de grande controvérsia: a afirmação de que o Governo não interferiu na gestão da TAP, quando se sabia que o ministro Pedro Nuno Santos dava ordens para a CEO da TAP todos os dias, a afirmação de que não sabia do valor da indemnização de meio milhão a Alexandra Reis, quando o próprio secretário de Estado Hugo Mendes é que tratou de tudo e depois deu conhecimento ao seu ministro e a ausência de referências ao episódio que envolveu João Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, o que constituiu uma das maiores palhaçadas jamais vista na governação democrática. Neste último particular, inventaram-se cenas de pancadaria, agressões a funcionárias, roubo de computador, chamada dos SIS para fazer de Polícia Judiciária, insultos ao telefone e o relatório nada refere? Não, assim, o povo já nem na casa da democracia acredita. É o descrédito total quando Ana Paula Bernardo, relatora do relatório se encontrou com os jornalistas, dissecou uns quantos (poucos) temas relacionados com as 200 páginas e levantou-se da mesa dizendo que tinha de se ir embora porque existia outro compromisso, precisamente no momento em que os jornalistas queriam colocar as mais diversas perguntas. Bem, isto já não é democracia, não é nada. Reina o compadrio, o partidarismo e a pouca vergonha.

10 Jul 2023

Amêijoas à bulhão patos-bravos

Os patos-bravos criminosos ganham milhões de euros com o tráfico humano para a apanha de bivalves nas lamas dos rios Tejo e Sado, mesmo em frente aos ministérios do Terreiro do Paço, de Lisboa. Uma mafia bem organizada que sem ninguém conseguir explicar, fecharam os olhos durante anos às autoridades competentes (neste caso, muito incompetentes). Os patos-bravos criminosos estendiam a sua rede de traficar pobres seres humanos, especialmente, de países asiáticos ou do terceiro mundo, nomeadamente da Tailândia e Roménia. A apanha de amêijoas-japónicas tem sido feita por cerca de 1700 mariscadores ilegais. A amêijoa-japónica foi introduzida nas águas portuguesas do Tejo e do Sado como uma experiência ambiental para purificar mercúrio, chumbo e cádmio. Actualmente, esta espécie invasora, tóxica para os humanos, chega aos consumidores em Portugal e Espanha através de redes de caça furtiva. A amêijoa-japónica absorve as biotoxinas das águas dos rios lisboetas, um vestígio de um passado industrial que se tornou agora num problema de saúde pública. Apesar da sua elevada toxicidade, pode ser consumida caso tenha sido sujeita a níveis adequados de purificação, mas, na sua maioria, é obtida furtivamente, é frequentemente mal descontaminada e intoxica o consumidor, causando graves consequências que podem até levar à morte, segundo afirmou ao HojeMacau um médico especialista.

O problema tem crescido nos últimos anos. As redes clandestinas que traficam a amêijoa-japónica chegam a capturar até 14 toneladas por dia. Após um processo de limpeza insuficiente e documentos falsos, as amêijoas podem acabar em supermercados dos dois países ibéricos, apesar de não estarem aptas para consumo. Em Maio passado, foram apreendidas 1,5 toneladas de amêijoa-japónica impróprias para consumir.

Agora, as autoridades levaram a efeito uma operação relâmpago na vila do Samouco, Alcochete, onde existe um armazém que estava repleto de centenas de imigrantes ilegais e que eram explorados para a apanha dos bivalves. As autoridades depararam-se com um cenário de horror: cerca de 300 homens e mulheres, asiáticos, em condições absolutamente deploráveis, nojentas mesmo. Até foi difícil de entrar ou ainda menos permanecer no interior devido ao mau cheiro. Estava tudo no chão e pelo número de fatos de mergulho encontrado pelas autoridades, a conclusão é de que estão em Portugal muito mais imigrantes para a apanha ilegal. Quatro cabecilhas da rede criminosa foram detidos, três portugueses e um tailandês, indiciados de associação criminosa e exploração de mão de obra ilegal. A mega operação da Unidade Central de Investigação Criminal (UCIC) da Polícia Marítima estava a ser preparada há meses e já se sabia que numa rua do Montijo viviam dezenas de imigrantes asiáticos, explorados na apanha dos bivalves. Chegam a Portugal com a promessa de trabalho, mas acabam por ficar presos a intermediários e sofrem ameaças. Em média, os mariscadores vendem a amêijoa-japónica a três euros o quilo e os intermediários, depois de ensacados os bivalves, vendem a 18 euros, num negócio ilegal que pode render até 30 milhões de euros por ano. Deslocámo-nos ao Montijo para obter mais informação e ninguém quis falar sobre o assunto. Impera o medo. Apenas nos disseram que estão envolvidos indivíduos muito poderosos e perigosos. Falar sobre a apanha das amêijoas-japónicas é o mesmo do que se passava no tempo da PIDE sob a alçada do ditador Salazar.

Sob a ponte Vasco da Gama, as águas do Tejo têm um elevado nível de toxicidade, de acordo com o instituto meteorológico português. Uma prática comum dos caçadores furtivos é adulterar a origem das amêijoas, ou seja, apanhá-las no Tejo e certificar que são do rio Sado, por este ter muito menos toxicidade. A maior parte das capturas é transportada por intermediários para Espanha, principalmente para os portos de Vigo e Pontevedra, onde é entregue em estabelecimentos de aquacultura. Muitos destes estabelecimentos conhecem a origem dos bivalves, os quais também podem ser acusados da prática de crime contra a saúde pública. Uma das informações que recolhemos diz respeito à manobra do transporte. As redes criminosas falsificam os documentos de registo e as amêijoas partem para Espanha em carrinhas preparadas que fazem movimentos quase diários. E o mais grave é que de Espanha são comercializadas para toda a Europa.

Este perigoso e letal negócio que se inicia em Portugal com o tráfico humano vindo de países normalmente asiáticos, está a constituir um grave problema para as autoridades policiais, pois, os mafiosos não brincam em serviço, e têm ameaçado de morte quem se intrometa no negócio. Os responsáveis pela saúde pública também estão deveras preocupados com as negociatas porque uma grande quantidade de bivalves fica em Portugal.

3 Jul 2023

O povo não está cansado

Um amigo meu tem uma pequena fábrica de placas de contraplacados. Há dias, encontrámo-nos e a conversa percorreu vários continentes desde aquela loucura de irem ver os destroços do ‘Titanic’ a 3.800 metros de profundidade até às empregadas domésticas que cada vez são mais abusadas sexualmente para que possam obter um pecúlio extra dos patrões. No entanto, o principal da conversa situou-se na ideia peregrina que está em estudo nas hostes governamentais de se trabalhar apenas quatro dias por cada semana. O povo está cansado? Qual quê, qual carapuça. O meu amigo transmitiu-me que para o país andar para a frente, as fábricas e outras empresas até deviam trabalhar ao domingo. Aliás, algumas já o fazem, tal como hipermercados e centros comerciais. Antes, trabalhar aos domingos era um crime. Depois começaram a ficar de boca aberta ao verem as lojas dos chineses abertas ao domingo e agora uma grande parte de comerciantes já trabalham no “dia santo”…
O meu interlocutor explicou-me que a possível medida de trabalhar apenas quatro dias por semana, deve ser um caso para países ricos, muito desenvolvidos e que não tenham dívida externa. Se o pessoal começa a ter descanso três dias: sexta, sábado e domingo, a sua opinião é que o país regressa à bancarrota. Para alguns patrões trata-se da sorte grande porque ao parar tudo, a despesa da água e da luz diminui substancialmente. E os trabalhadores? Passam a receber o mesmo salário? Esses, estão muito enganados com o tri-descanso. O dia em que não trabalham será para dormir até ao meio-dia, depois têm de limpar a casa, pôr a roupa a lavar, passar a ferro, limpar os vidros e as varandas, cortar a relva, arranjar o jardim, lavar o carro e por aí adiante. Não haverá descanso nenhum, e irão trabalhar muito mais do que se estivessem no escritório ou na fábrica.
A medida dos quatro dias de trabalho por semana tem os seus apoiantes, mas também existe um grande número de trabalhadores que acha não haver qualquer vantagem. E alguns até já me salientaram: “É pá, mas o que é que eu estou a fazer em casa ou no café? A olhar para a televisão e a engordar com o sedentarismo ou no café a aturar bêbedos?”. A opinião varia. A medida poderá ser implementada, mas quer-nos parecer que ao fim de um ano tudo voltará ao princípio. O pessoal está habituado a um certo ritmo de vida e não está interessado em nenhum tipo de pasmaceira ou de trabalho caseiro de borla.
Para os que apoiam trabalhar só quatro dias por semana, segundo estatísticas confidenciais a que tivemos acesso, a maioria dos apoiantes tem dinheiro, é classe média alta. Pode pegar no carro com a cara-metade e passar três dias no ripanço numa praia ao longo da costa plantada. Mas, essa maioria tem um problema: se tiver filhos, já não haverá passeio para um turismo rural ou hotel de cinco estrelas porque a miudagem tem aulas à sexta-feira. Ou então, as escolas (professores, assistentes sociais, cozinheiros e funcionários da limpeza) também encerram porque só passam a abrir quatro dias por semana? Tudo isto, é muito confuso e perplexo. Não será fácil agradar a todos, como tudo na vida, mas o Governo terá de pensar muito bem, contactar patrões e comissões de trabalhadores antes de decidir pelo decreto. Não é fácil e sobre esta matéria muita água irá correr por baixo da ponte.
O que nós pensamos é que o país tem mais de dois milhões de cidadãos no limite da pobreza. Muitos desempregados, outros que fazem biscates durante todo o dia, outros dedicam-se à prostituição e ainda outros “inscrevem-se” nos gangues e a nessa vida fácil cometem um vasto número de crimes, que na maior parte das vezes, leva-os a ir ver o sol aos quadradinhos. Semana com quatro dias de trabalho? Hum… cheira-me que os pobres que trabalham (a maioria) não vão gostar da decisão e ainda vamos ter, pela primeira vez, uma manifestação sob o slogan “Somos pobres, queremos trabalhar!”. Uma verdade é certa: o povo não está cansado de trabalhar, o povo está é cansado de ganhar mal…

26 Jun 2023

Seis meses de inquérito à TAP

Seis meses, meus amigos. Seis meses de inquirições na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP. Aproximadamente 60 sessões de audições das mais variadas personalidades que terminaram na passada sexta-feira. Podemos concluir que se tratou de uma maratona parlamentar repleta de confusões, mentiras, deturpações, corrupção, desvios do tema principal, confrontos partidários, inquiridos a deturparem factos verdadeiros. Um sumário de assuntos que deveriam ser apenas relacionados com a TAP e assistimos a dada altura à ocupação das inquirições a um escândalo de um adjunto do ministro João Galamba que foi demitido após a chefe de Gabinete do ministro Galamba que recebeu ordens governamentais para contactar o SIS (Secretas), a fim de reter o computador de trabalho do referido adjunto ministerial ao bom estilo da antiga PIDE/DGS, quando se tratava de um assunto unicamente relacionado com a Polícia Judiciária. Este tema deu água pela barba e o povo acabou por ficar sem qualquer confiança nos SIS, por esta instituição não estar provida estatutariamente de qualquer acção do foro policial ou judicial.

A Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP abordou ao longo dos seis meses os mais diferentes acontecimentos relacionados com a TAP, tais como privatização da empresa, nacionalização, indemnizações absurdas e investimento estatal de mais de três mil milhões na empresa num total desrespeito pelo dinheiro dos portugueses. A dada altura, o tema principal foi verdadeiramente ligado às indemnizações ilógicas e ilegais, como os 55 milhões a um fulano que era accionista da empresa enquanto privada, 500 mil euros à engenheira Alexandra Reis e apenas porque a CEO francesa da TAP entrou em discordância com a administradora portuguesa. A mesma Alexandra Reis haveria passado pouco tempo de ingressar como presidente da NAV, uma empresa igualmente pública e da área da aviação civil e logo de seguida “roubada” à tutela do Ministério das Infraestruturas para o Ministério das Finanças, por sinal, ministérios tutelados por dois rivais políticos, Fernando Medina e Pedro Nuno Santos. As audições conseguiram ser tão maçadoras e nada esclarecedoras que o país inteiro estava desejoso que terminasse o desiderato indicado.

As contradições e mentiras foram de tal ordem que podemos adiantar que a pior presença na sala de audições foi a do actual ministro das Infraestruturas, João Galamba, que simplesmente demonstrou incompetência, má preparação para a inquirição mentindo sobre factos que já estavam provados e a melhor presença foi efectivamente a de Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e Habitação que haveria de se demitir devido ao caso relacionado com Alexandra Reis. Pedro Nuno Santos mostrou ser um “lobo” político que se iniciou nestas andanças aos 14 anos de idade e que se apresentou aos deputados bem preparado, com seriedade, assumindo os erros cometidos e as responsabilidades que lhe coubera. É na verdade, o grande candidato a ser o futuro líder do Partido socialista.

As audições para as pessoas mais distraídas tiveram um número surpreendente de presenças que nos deixa perplexos ao imaginarmos as incongruências que ali foram ditadas. Para que tenham uma ideia real do que teria acontecido foram ouvidos pela Comissão algumas personalidades tais como: Eugénia Correia, chefe de Gabinete do ministro João Galamba; presidente da Comissão de Vencimentos da TAP; Fernando Pinto, ex-presidente executivo da TAP; Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA); Sindicato Independente de Pilotos de Linhas Aéreas (SIPLA); Sindicato dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STAMA); Plataforma de Sindicatos de Terra do Grupo TAP; Cristina Carrilho, coordenadora da Comissão de Trabalhadores da TAP; Tiago Faria Lopes; Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC); Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC); Paulo Duarte, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA); Ricardo Penarróias, dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC); Mário Lobo, Parpública; Carlos Durães de Conceição, Parpública; José Gato, Direção Geral do Tesouro e Finanças; Maria João Araújo, Direção Geral do Tesouro e Finanças; Representante da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados responsável pela representação de Alexandra Reis nas negociações com a TAP; César Sá Esteves, jurista da SRS Advogados; António Manuel Ferreira dos Santos, Inspector-geral da Inspeção-Geral de Finanças; Manuel Teixeira Rolo, ex-Presidente do Conselho de Administração da NAV; Jaime Serrão Andrez, presidente da Parpública; Luís Ribeiro, ex-presidente da ANAC; José Luís Arnaut, presidente do conselho de administração da ANA; Violeta Bulc, comissária Europeia que avalizou a privatização da TAP em 2015; Margrethe Vestager, comissária Europeia que tratou da reestruturação da TAP; Sérgio Monteiro, secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações entre 2011 e 2015; António Pires de Lima, ministro da Economia entre 2013 e 2015; Pedro Marques, ministro das Infraestruturas entre 2015 e 2019; Luís Laginha de Sousa, presidente da CMVM; Responsáveis da DGComp com o acompanhamento do plano de reestruturação da TAP; Carlos Elavai, Managing Director e Partner da BCG; Auditores da TAP (PWC); Maria de Fátima Castanheira Cortês Geada, ex-Presidente do Conselho Fiscal da TAP; Luís Manuel Martins, Comissão Vencimentos TAP; Responsável pelo departamento jurídico da TAP na ausência de Stéphanie Sá Silva; Stéphanie Sá Silva, ex-diretora jurídica da TAP; Abílio Martins, ex-vice presidente do Marketing and Sales, da TAP; João Weber Gameiro, ex-administrador financeiro da TAP; António Macedo Vitorino, presidente da Assembleia Geral da TAP; David Neeleman, ex-accionista e administrador da TAP; Diogo Lacerda Machado, ex-Administrador Não-Executivo da TAP; Miguel Frasquilho, ex-presidente do conselho de administração da TAP; Rafael Quintas, ex-administrador financeiro da TAP; Antonoaldo Neves, Ex-CEO da TAP; Ramiro Sequeira, ex-CEO e atual Chief Operating Officer da TAP; Humberto Pedrosa, ex-accionista e administrador da TAP; Gonçalo Pires, administrador financeiro da TAP; Manuel Beja, presidente do conselho de administração da TAP; Christine Ourmières-Widener, CEO da TAP; Alexandra Reis, ex-administradora executiva da TAP, ex-Presidente do CA da NAV e ex-Secretária de Estado do Tesouro; João Galamba, ministro das Infraestruturas; Maria Antónia Barbosa de Araújo, ex-chefe do Gabinete do Ministro das Infraestruturas e da Habitação e actual chefe do Gabinete do Secretário de Estado das Infraestruturas; Hugo Santos Mendes, ex-secretário de Estado das Infraestruturas; João Nunes Mendes, ex-secretário de Estado das Finanças de João Leão e ex-secretário de Estado do Tesouro de Fernando Medina; Miguel Cruz, ex-secretário de Estado do Tesouro; Mário Centeno, ex-ministro das Finanças; João Leão, ex-ministro das Finanças; Pedro Nuno Santos, ex-ministro das Infraestruturas e da Habitação (período 2019 e 2023) e Fernando Medina, ministro das Finanças. É inacreditável e fantástico. Tanta personalidade ouvida, e ao fim e ao cabo, as contradições foram tantas que ninguém entendeu nada de nada.

19 Jun 2023

A ingratidão do 10 de Junho

Li atentamente no Facebook uma referência a um macaense que é um grande artista plástico, um gráfico de se lhe tirar o chapéu e autor, há vários anos, do cartaz do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, de seu nome Victor Hugo Marreiros.

O texto referia que a República Portuguesa já o devia ter condecorado pelo seu amor a Portugal na exteriorização da sua arte. Não faço a mínima ideia se Macau já o agraciou, o que sei é que nunca vi que o artista tivesse sido chamado ao Palácio de Belém para receber uma condecoração nacional bem merecida. Esta, é uma das formas de ingratidão do 10 de Junho que se diz dedicado às Comunidades Portuguesas.

O que têm feito os diferentes governos portugueses pelas suas comunidades espalhadas pelo mundo? Têm enviado bolas de futebol para entreter a pequenada do Luxemburgo, de Moçambique, da Austrália ou dos Estados Unidos da América? Têm-se preocupado com os lusodescendentes que se licenciaram nas mais diversas universidades internacionais e contactá-los para saber o que precisam no futuro da sua profissão ou mesmo convidá-los a trabalhar em Portugal? Têm organizado os inúmeros consulados portugueses a receber condignamente os emigrantes que aos milhares desejam tratar do seu cartão de cidadão ou passaporte? Neste particular de “consulados” temos sido uma vergonha. A maioria dos casos informa os portugueses no estrangeiro que são “honorários”. Em outros casos, dizem que os assuntos têm de ser tratados nas embaixadas, assim ao estilo de tirar a água do capote. Por exemplo, no grandioso país que é a Austrália, como é que um português pode dirigir-se de Darwin, Perth, Brisbane ou mesmo de Melbourne até Camberra para ir à Embaixada de Portugal, se nem sequer sabem o horário de atendimento.

Não, não é um dia dedicado às Comunidades Portuguesas. Essas comunidades pouco ou nada usufruem da atenção, dedicação e obrigação de velarem pelos seus inúmeros problemas. Em grande número de casos, os emigrantes resolvem os seus problemas burocráticos quando se deslocam de férias a Portugal, normalmente no mês de Agosto. Há emigrantes que nem sabem onde é o consulado português, querem registar a sua nova vida, leia-se, residência, no país para onde decidiram viver e não o conseguem fazer.

Em Inglaterra, ao longo dos anos, temos lido as mais diversas queixas dos nossos compatriotas contra os consulados que não estão ao seu serviço. No Canadá um casal quis registar o seu filho que acabara de nascer e responderam-lhe que o registo seria feito após os dois anos de idade. Dois anos? A que propósito? É assim que se dedica o Dia de Portugal às Comunidades Portuguesas?

O que temos assistido é à ignóbil fanfarronice de anualmente um secretário de Estado, um ministro ou o primeiro-ministro e o Presidente da República deslocarem-se a um país onde residem portugueses, chegam lá, “mamam” umas almoçaradas e jantaradas, dão uns beijinhos, proferem uns discursos ocos e sem sentido, afirmam que gostam muito do patriotismo de quem por lá trabalha de sol a sol e viajam em primeira classe, porque a económica nas aeronaves deve ter percevejos…

O Dia de Portugal não pode ser a ida à África do Sul do Presidente Marcelo zangado com o primeiro-ministro António Costa, fingirem que nem se veem e andarem a visitar uns museus sul-africanos – o que tem isso a ver com os emigrantes? –, participarem nuns jantares com beijinhos e abraços aos que foram convidados, nem sequer explicar aos mais jovens quem foi o nosso maior poeta Luiz de Camões e regressar o mais depressa possível à Régua para observarem no Douro a poluição dos barcos do patrão da TVI e um fogo de artifício. Na Régua até o ministro João Galamba foi assobiado pelo povo e o primeiro-ministro confrontado pela ineficácia dedicada aos professores. O que restou de benefício para os portugueses da África do Sul a visita oficial deste ano? Nada.

Portugal tem de pensar profundamente que estes emigrantes que vivem desamparados oficialmente pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros são os mesmos que depositam milhões de euros nos bancos portugueses anualmente. Eles ajudam a economia portuguesa, eles fazem por viajar na TAP, eles alugam carros em Portugal, eles edificam a sua casa nas suas terras natais, eles frequentam durante um mês tudo o que é monumento, restaurante e mercado. E isto, não tem importância? O Governo não se acha com competência para colocar os consulados portugueses a servir dignamente os emigrantes? Não tem informações dos nossos emigrantes que adquiriram um prestígio enorme onde vivem, tal como o artista de gabarito internacional Victor Hugo Marreiros? Como diria o meu vizinho: “Não me lixem”…

Crédito para a foto: Cartaz de Victor Hugo Marreiros

11 Jun 2023

Portugal está a perder a juventude

Quando eu andava no Liceu de Évora apenas sonhava com a universidade em Lisboa. A família tinha meios financeiros para que eu pudesse estudar. Digo-vos isto, porque no nosso país estão a acontecer fenómenos tristes e desoladores com a nossa juventude.

Cada vez há menos alunos que desistem do ensino secundário; cada vez mais estudantes que terminam o secundário não têm possibilidades de ordem financeira para se inscrever numa qualquer universidade; cada vez mais temos “jovens” com 35 anos de idade a viver na casa dos pais porque não têm emprego que lhes proporcione o aluguer de uma residência; cada vez mais existem casais de namorados que não podem decidir casar porque não têm possibilidade de pagar as despesas do casamento, dinheiro para conseguirem uma casa e muito menos pensar em ter filhos; cada vez mais temos jovens universitários que a meio dos cursos desistem por falta de apoio oficial para o pagamento das propinas e procuram um trabalho diverso, em alguns casos, apenas conseguem laborar num restaurante; cada vez mais temos jovens que terminam o curso superior e não têm condições para obter o mestrado e o doutoramento; cada vez mais temos jovens que tiram o curso de enfermagem e assim que iniciam o trabalho num hospital ou centro de saúde, logo concluem que o salário obtido não chega para sobreviver e decidem emigrar; cada vez mais assistimos a jovens licenciados a emigrarem para Inglaterra, Alemanha, França e Holanda; cada vez mais somos confrontados com jovens que nos interrogam se existe alguma possibilidade de irem trabalhar para Macau; cada vez mais temos à vista desarmada jovens a dormir na rua depois de terem consumido um qualquer tipo de estupefaciente e cada vez mais ouvimos jovens a dizer que em Portugal não têm futuro e que se vão embora para o estrangeiro.

Naturalmente, que esta realidade é chocante e revoltante, porque as autoridades governamentais não querem dar-se conta que o país está a perder a sua juventude e que daqui a uma década serão muito poucos os jovens que viverão em Portugal. Não é possível chegar aos 35 anos e continuar a viver em casa dos pais, alguns na companhia da namorada. E este caso processa-se em residências paternais que têm possibilidades de sustentar os filhos, porque a grande maioria não tem o pecúlio necessário para manter os filhos em casa. Isto, é degradante, é triste e leva-nos a pensar que os governantes não têm qualquer preocupação com o futuro da juventude.

Há dias, um jovem que tinha desistido do curso de Medicina por não poder pagar as despesas inerentes às aulas, dizia-nos que iria para Espanha, mais concretamente para Madrid, visto que tinha lá um amigo que lhe arranjava um bom emprego numa clínica médica e que simultaneamente poderia terminar o seu curso clínico. São inúmeros os exemplos como este. Os jovens só por si são revolucionários e sonhadores. Nós também o fomos, mas nos dias de hoje em Portugal nem podem ser revolucionários nem sonhadores. O único sonho é a emigração. E esta, tem inserido milhares de raparigas e rapazes. Se forem a Paris ou a Londres logo se deparam com este triste panorama, felizmente de bom grado para os jovens que decidem emigrar. E há o outro lado da moeda. A família. Os jovens que emigram sofrem com saudades dos pais, dos irmãos e muitas vezes das namoradas. Os pais ficam pelas suas localidades a vaguear e a pensar a toda a hora nos filhos que viram partir e que não sabem quando os voltarão a rever. É um quadro negro para uns e outros. Para os que partem e para os que ficam.

Na semana passada recebi um email de um filho de um amigo pedindo-me que nada dissesse aos pais. O jovem transmitiu-me que iria deixar a Europa e que tinha arranjado um bom contrato para exercer a sua profissão de engenheiro na Nova Zelândia. Ou seja, no fim do mundo. Imaginam certamente, o estado em que vão ficar os seus pais quando souberem que o filho vive para lá da Austrália. O país, melhor, os responsáveis pelo ensino e pelo trabalho dos jovens têm muito rapidamente de mudar de atitude e legislar medidas de grande apoio social aos jovens. Se um estudante a meio do curso participa às autoridades que não tem dinheiro para continuar, o Governo tem a obrigação de lhe pagar as propinas. O Governo não pode continuar a assistir impávido e incompetente face ao que se passa com a juventude. E, para não falarmos no ano lectivo que está a terminar e que foi um ano perdido para a maioria dos estudantes devido à justa luta dos professores que há mais de um ano enfrentam um ministro da Educação incompetente, cruel, arrogante e que conseguiu que durante o ano lectivo as escolas estivessem praticamente encerradas. Ainda na semana que findou os professores atravessaram Portugal de norte a sul para explicar ao povo do interior as razões da sua luta e a incompreensão vaidosa do ministro e da sua equipa na tutela da Educação.

Não temos dúvidas que Portugal está a perder a sua juventude, o que já acontece nos dias de hoje. As estatísticas de jovens que têm emigrado são assustadoras e chocantes. Termino com um apelo a quantos amigos leitores vivem em Macau: se receberem algum contacto de um licenciado a pedir ajuda para trabalhar na RAEM, façam tudo o que puderem para que esses jovens possam ter um trabalho, casa, companheira e filhos.

4 Jun 2023

A igreja quer esconder os abusos sexuais

Na semana passada Portugal assisti a um acontecimento histórico que decorreu pela primeira vez através da estação televisiva SIC. Em toda a nossa história contemporânea nunca tínhamos visto a imensa coragem que três vítimas de abusos sexuais, por parte de sacerdotes católicos ou freiras, darem a cara publicamente e contar os pormenores dos abusos sexuais de que foram alvo em criança.

É do conhecimento popular, onde me incluo como testemunha, que há muitas décadas que existem abusos sexuais em seminários, em sacristias de igrejas, em casas paroquiais, em confessionários, em colégios internos dirigidos por clérigos, em instituições de acolhimento de menores e em casas alugadas ou da propriedade da Igreja Católica portuguesa. Foram milhares de crianças e jovens que sofreram os maiores desmandos sexuais e que ficaram traumatizados para toda a vida. Em alguns casos, o trauma foi de tão elevada dimensão que levou as vítimas ao suicídio.

As vítimas que vieram dar o seu testemunho sem máscara são hoje adultos. Contaram aos portugueses que os abusos de padres e freiras ultrapassaram o inimaginável. No seminário de Santarém, uma das vítimas com apenas 12 anos era abusada por um sacerdote todas as noites. A este propósito, a Igreja deu luz verde à criação de uma comissão “independente” que apresentou um relatório que brada aos céus e onde mais de 400 vítimas de abusos sexuais prestaram os seus depoimentos. Esse relatório final foi entregue à Conferência Episcopal, presidida pelo bispo José Ornelas, o qual tal como o patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, diminuíram a importância de tudo o que foi descrito pelos amargurados que sofreram e sofrem os males que lhes foram feitos. Chegaram mesmo a afirmar que a justiça trataria de investigar e que os responsáveis pela Igreja portuguesa nada podiam fazer sem provas. Mas, quereriam esses senhores mais provas do que foi dado a conhecer por parte das vítimas? Quereriam filmes, fotografias ou as feridas com que tantas mulheres ficaram? Esses responsáveis sabem bem tudo sobre as queixas que inúmeras vítimas realizaram ao longo de anos junto dos chefes das dioceses onde tinham acontecido os abusos e nem respostas obtiveram. Soube-se apenas que mudaram os sacerdotes abusadores para outra paróquia e nunca foram expulsos da sua função sacerdotal ou presos por decisão de tribunais. O testemunho na televisão deixou os portugueses de lágrimas nos olhos. Uma das declarantes afirmou que não optou por ter um filho com receio que esse nado viesse a sofrer o que ela sofreu. Algumas das vítimas gastaram ao longo da vida rios de dinheiro em medicamentos, psiquiatras e psicólogos. E mesmo assim, quando se abordou o tema de as vítimas serem indemnizadas, a resposta que nos foi dada a conhecer por parte da Igreja é que não teriam o dinheiro suficiente para tal. Acontece que em Portugal nem se cumpre a palavra contundente do Papa Francisco que tem demonstrado a sua repulsa pelos abusadores e tem manifestado que todos têm de ser afastados da Igreja Católica. O Papa Francisco tem apoiado também a ideia de que as vítimas têm de ser ressarcidas do sofrimento que as atingiu. Em vários países já foram pagas às vítimas de abusos sexuais quantias avultadas e até já se verificou que em alguns países a Igreja vendeu património para poder pagar às vítimas.

A Igreja portuguesa não tem dinheiro? Como é possível defender essa tese se a Igreja portuguesa é possuidora de uma riqueza incalculável, é proprietária de um vasto património de quintas e de imóveis. Tem em Fátima um recipiente na Capela das Aparições que enche diariamente de ouro e notas incontáveis. Fátima proporciona uma riqueza anual de milhares de milhões de euros à Igreja portuguesa. Sabemos de centenas de idosas e idosos que deixam em testemunho todo o seu riquíssimo espólio de propriedades e de dinheiro em contas bancárias à ordem da Igreja. Como é que se atrevem a afirmar que não têm dinheiro se, mesmo ao pé da rua onde resido existe uma vivenda enorme de luxo com um jardim de grande dimensão e onde as freiras que lá residem possuem automóvel topo de gama e ainda alugam quartos a estudantes? E este facto acontece por todo o país.

A Igreja portuguesa perde mensalmente fiéis, crentes que deixam de frequentar as igrejas desde que vieram a lume as notícias de factos concretos de abusos sexuais por parte de sacerdotes ou freiras. As vítimas são o cerne da questão. São hoje mulheres e homens cujo sono não existe no seu organismo. Choram sempre que recordam o que lhes foi feito e alguns vivem com as maiores dificuldades ou estão desempregados com reformas de miséria. E nesta situação a Igreja portuguesa ainda põe em causa se vai ou não contemplar as vítimas com as indemnizações que viessem a ser declaradas como justas?

Infelizmente, os abusos sexuais a crianças e jovens continuam no nosso país e recordemos que o caso Casa Pia foi de uma gravidade extrema, mas apenas dois ou três dos muitos meliantes foram justiçados. Casos como o da Casa Pia de Lisboa aconteceram por várias cidades, incluindo na Casa Pia de Évora e os dirigentes da Igreja continuam a tentar esconder o óbvio. Para vergonha máxima da Igreja foi criada recentemente uma comissão com elementos escolhidos pelos responsáveis da Igreja, cuja comissão teve o desplante de dizer que a mesma se destinava a apoiar as vítimas e os abusadores. Os abusadores? Total surrealismo e revolta absoluta de quem não pode ouvir tal desiderato vergonhoso.

28 Mai 2023

Secretas obedecem a uma chefe de gabinete

A semana passada na política portuguesa assemelhou-se a um circo, incluindo com a actuação de palhaços porque na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP ouviram-se gargalhadas. O surrealismo e a incredulidade reinaram nas audições que foram realizadas com a audição do ministro das Infraestruturas, João Galamba, – já denominado como Sócrates Júnior -, com a sua chefe de Gabinete, Eugénia Correia, – que começou a trabalhar na esfera governamental com José Sócrates -, e com o ex-adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro.
A primeira maratona de cinco horas decorreu na Assembleia da República com a presença de Frederico Pinheiro, que tinha sido acusado ilegalmente de ladrão pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Infraestruturas. E aqui começa a “telenovela mexicana” quando António Costa prevaricou ofendendo Frederico Pinheiro de ladrão, sem cumprir a presunção de inocência e desrespeitando a separação dos poderes políticos e judiciais.
António Costa é o principal responsável de tudo o que se passou quando não aceitou a demissão do ministro João Galamba, apenas com a intenção de atirar uma “pedrada” ao Presidente da República, dando a entender à classe política que pretendia eleições antecipadas e não se candidatar a primeiro-ministro com o fito de viajar para um cargo na Comissão Europeia. Esta, é a principal razão de tudo o que aconteceu durante a semana passada na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.
Um cidadão doutorado, com vários anos de experiência em gabinetes ministeriais de diferentes governos, competente e sempre leal aos superiores interesses do país passa de um momento para o outro de fiel funcionário a simples ladrão, despedido pelo telefone com ameaças físicas por parte do ministro Galamba. Este, viria a dizer o contrário na CPI sublinhando que foi Frederico Pinheiro que o ameaçou.
O que se passou nas audições de Eugénia Correia e de João Galamba ultrapassou o limite do surrealismo: contradições, invenções, mentiras e ilegalidades ficaram bem patentes. Os deputados da CPI ficaram de boca aberta quando ouviram Galamba mencionar que contactou o primeiro-ministro e este não atendeu, depois ligou ao secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro que estava acompanhado de outro secretário de Estado Adjunto do Gabinete do chefe do Executivo, com a ministra da Justiça e com o ministro da Administração Interna, algo que nunca tinha referido. Acrescentou que o contacto com o ministro da Administração Interna foi com o intuito de este o colocar em contacto com a Polícia de Segurança Pública. Gargalhadas. Então, um ministro e a sua chefe de Gabinete não têm o número telefónico da PSP? E o mais grave viria quase no fim da audição a deixar toda a gente perplexa, quando Galamba informou que tinha dito ao primeiro-ministro que o SIS (Secretas) tinham sido contactado… tanta mentira de tanta gente com responsabilidades era impossível. O primeiro-ministro tinha dito que não fora informado sobre se o SIS tinha sido contactado e depois Galamba coloca o chefe do Governo como mentiroso ao anunciar que informou António Costa.
Por outro lado, a triste figura que fez a chefe de Gabinete de João Galamba deixou o país atónito quando se ficou a saber que no interior de um Ministério passam-se, segundo a senhora afirmou, cenas de pugilato, gritos, encerramento de funcionárias na casa de banho, roubo de computador, sequestro do ex-adjunto Frederico Pinheiro e a ilegalidade de contactar as Secretas, quando esta instituição nada tem a ver com factos do foro criminal ou policial. O Governo dá ordens ao SIS? Uma chefe de Gabinete tem poderes para colocar as Secretas a deslocarem-se de noite a casa de um cidadão para reaver um computador? Desculpem, mas eu que sofri na pele as agruras da PIDE (polícia política da ditadura salazarista) penso que a actuação do agente do SIS, que inclusivamente ameaçou Frederico Pinheiro – o qual já anunciou que vai avançar com queixas-crime contra António Costa e João Galamba -, é digna de se assemelhar ao que a PIDE levava a efeito. Tudo foi vergonhoso em directo, através da televisão, para todos os portugueses.
Os partidos políticos, excepto o Socialista, já manifestaram que Galamba é um elemento tóxico no Governo e que deve ser demitido o mais depressa possível. Deputados da CPI chegaram ao ponto de pedir já a audição do primeiro-ministro, porque as trapalhadas e mentiras são mais que muitas. O próprio Presidente da República afirmou aos jornalistas que nada diz por enquanto, mas sublinhou que mantém tudo o que disse há 15 dias. Naturalmente, podemos deduzir que o Presidente Marcelo mantém a ideia que João Galamba não pode ser membro do Executivo, especialmente, pela sua tutela conter casos de elevada importância, como a TAP, a rede ferroviária e a construção do novo aeroporto de Lisboa. A política governamental, com António Costa, a assobiar para o lado e a presenciar o concerto dos Coldplay, ao mesmo tempo em que o seu ministro era ouvido na CPI, demonstra que o pântano em que o país se encontra resulta de não se resolverem os graves problemas sociais do povo e andar-se com palhaçadas circenses em plena plataforma governamental.

22 Mai 2023

Ainda há deputados sérios

A Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso TAP continua a dar água pela barba. As sessões sucedem-se e as personalidades que vão ser inquiridas pelos deputados da referida Comissão são de um número elevado, incluindo, já esta semana, o ministro João Galamba, tal como o seu adjunto a quem ofenderam dizendo que tinha “roubado” o seu computador de trabalho e a chefe de gabinete de Galamba que tratou de tudo nos contactos ilegais com o SIS (Secretas).

Entretanto, à porta fechada, foram inquiridos por outras comissões do parlamento, os dirigentes do SIRP e do SIS, bem como Constança Urbano de Sousa, presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa. Se estiverem lembrados, esta senhora foi a tal ministra da Administração Interna, do Partido Socialista, que o Presidente Marcelo moveu a sua influência para que fosse demitida devido à sua incompetência nos fogos trágicos que mataram dezenas de pessoas.

E é a mesma senhora que agora, segundo as nossas fontes, foi dizer, na reunião à porta fechada, que o pedido feito pelo gabinete do ministro Galamba ao SIS para ir recolher o computador do adjunto do ministro Galamba foi um acto “legal”. Imaginem bem, como o partidarismo destrói as instituições.

O SIS não tem qualquer atribuição para actos policiais, nunca poderia ir recolher um computador, mesmo que o gabinete de Galamba justificasse que existiam documentos confidenciais no aparelho informático, e esta senhora tem o desplante de afirmar que a acção do SIS foi legal. Obviamente, que toda a oposição está contra Constança Urbano de Sousa por se ter comportado como uma funcionária superior de uma instituição independente e que cumpriu logo ordens emanadas dos seus camaradas socialistas.

Este caso vai fazer correr muita tinta quando o ministro for prestar declarações à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP, onde Galamba se encontrar na sala algum buraco enfiar-se-á por ele abaixo…

Mas, tudo isto vem a propósito da seriedade, profissionalismo e dignidade dos deputados que foram eleitos pelo povo. No hemiciclo sentam-se os mais diversos seres humanos que se dizem políticos, mas cujo cargo que ocupam serve para as mais diversas funções. Certos deputados, muitos, trabalham mais nos escritórios de advogados e a mover influência em tribunais do que no parlamento.

Outros, possuem empresas em nome das esposas e com a influência de serem deputados conseguem que essas empresas ganhem os concursos “públicos” nas mais diversas autarquias do país. Há ainda outros deputados que passam a maioria do seu tempo em consultorias, onde os seus conselhos valem ouro. Na referida Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP os deputados têm tido um comportamento indevido e em alguns casos, de autêntica falta de educação. Deve ser por estarem ali fechados numa sala horas e horas.

Discutem uns com os outros, insultam-se, não obedecem ao presidente da Comissão e neste ponto posso adiantar-vos que na semana passada deu-se o inimaginável. O presidente da Comissão, o socialista Jorge Seguro Sanches, apresentou a demissão porque os deputados passaram mais de uma hora a questionar os tempos das audições. Foi a gota de água para que um dos poucos deputados sérios, dignos, trabalhadores e competentes pegasse na pasta e virasse as costas à bandalheira.

Há muito que a gestão dos trabalhos por parte de Seguro Sanches incomodava os representantes dos partidos presentes nas reuniões, acusando o presidente de se comportar como a maioria absoluta governamental. Uma ofensa que nunca devia ter sido comparada com a maioria absoluta porque Seguro Sanches sempre mostrou uma imparcialidade exemplar na direcção dos trabalhos da Comissão. Foi uma postura que o socialista considerou inaceitável, e a que que se juntaram pressões para alterar o calendário da Comissão, atrasando os trabalhos e as suas conclusões. A Comissão deveria terminar no próximo dia 23, o que só acontecerá lá para aas calendas.

Nesta mesma Comissão um deputado socialista já tinha pedido para sair, mas esse, pelas piores razões, pois, participou numa reunião secreta com a CEO da TAP para combinarem as perguntas e respostas para quando a senhora francesa fosse à Comissão prestar declarações.

Ou seja, existem deputados quem nunca deviam ter entrado pela porta da Assembleia da República. Servem-se e não servem o povo. Alguns, passam-se anos e nem uma vez usaram da palavra, nem que fosse para defenderem os baldios lá na sua terra que vão sendo vendidos escandalosamente com o conluio dos autarcas. Temos deputados que passam o tempo das sessões ao telemóvel enviando e recebendo mensagens de negociatas onde estão metidos.

E temos aqueles que devido à posição financeira que usufruem só sabem convidar as colegas mais bonitas para jantar e oferecerem-lhes prendas. Como, valha-nos isso, ainda temos deputados sérios e dignos, era essencial reduzir o número de deputados. Em Portugal é um exagero para um país tão pequeno. 230 deputados é um desperdício de dinheiro que podia servir para os mais desprotegidos. O parlamento português trabalhava excelentemente com 120 deputados que se dedicassem com paixão à sua função, e só isso.

15 Mai 2023

Eu bem vos disse…

Que as polémicas na governação de Portugal não iam cessar. A passada semana foi de loucuras. De polémicas inacreditáveis. De mais “casos e casinhos”. De incompetência, ilegalidade e de mais aldrabices, desta vez com o pior ministro do governo, o das Infraestruturas, João Galamba. A polémica principal foi acerca das mentiras de Galamba.

Este, tinha dito que a CEO francesa da TAP lhe tinha pedido uma reunião, quando afinal, foi Galamba que convocou a senhora para uma reunião secreta e até lhe entregou um guião sobre as respostas que a CEO da TAP haveria de pronunciar quando fosse chamada à Comissão de Inquérito da Assembleia da República sobre a TAP. E Galamba fez mais: convidou a CEO da TAP a estar presente numa outra reunião secreta com deputados socialistas para serem combinadas as perguntas e as respostas na Comissão de Inquérito.

Quando parecia que as polémicas se ficavam por aí, eis que rebenta um escândalo inacreditável: Galamba que tinha ido a Singapura – ninguém sabe o que lá foi fazer – chega a Lisboa e é alertado pela sua chefe de Gabinete que decorre no interior do Ministério uma “deplorável” cena em que um assessor de larga experiência governamental, que tinha transitado da equipa do anterior ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, para a confiança total de Galamba como ministro, que era o assessor que dirigia as reuniões com a TAP, que estava por dentro de toda a reestruturação da empresa, que sabia tudo sobre aeroportos e de outras estruturas, é acusado de “ladrão” por querer levar o seu computador de trabalho para fora do Ministério.

De imediato, Galamba tenta falar com o primeiro-ministro e este não lhe atende o telefone. Dá indicações à chefe de gabinete para efectuar contactos com secretários de Estado ligados a António Costa, com a ministra da Justiça, com o SIS (imagine-se, com as Secretas) e posteriormente com a Polícia Judiciária. Tudo isto, alegando-se que o computador do assessor tinha material confidencial, como se o assessor não tivesse extraído cópias de todas as matérias em segredo de Estado ou não tivesse entregado já um ficheiro com toda a confidencialidade ao seu ministro.

Mais uma polémica, esta gravíssima: o SIS não tem funções policiais e alguém deu ordens para que um funcionário do SIS fosse a casa do assessor ministerial reaver o computador. Quando o assessor foi contactado pelo SIS disponibilizou-se de imediato a entregar o computador, o que veio a acontecer junto da sua porta de casa. O SIS posteriormente entregou o computador à Polícia Judiciária. A ministra da Justiça confrontada pelos jornalistas fez uma figura triste e essa sim “deplorável, não respondendo a nada.

Estava instalada uma trapalhada digna de telenovela mexicana e António Costa e João Galamba, dois políticos inteligentes, logo viram que podiam ter ganho o Euromilhões, combinando um esquema maquiavélico que bradou aos céus. Costa combina com Galamba que irá ao Palácio de Belém reunir com o Presidente da República, que daria a ideia ao Presidente que demitiria Galamba, tal como toda a gente pensava que aconteceria, que, entretanto, Galamba desse uma conferência de imprensa e anunciasse a sua demissão quando já sabia que Costa não aceitaria. Costa esteve reunido duas horas com o Presidente Marcelo e deu a entender que já tinha substituto para Galamba.

Terminada a reunião e quando o primeiro-ministro chega ao Palácio de S. Bento e reúne com o seu círculo duro de ministros, decide telefonar ao Presidente Marcelo para lhe transmitir que vai anunciar ao país que não aceita a demissão de Galamba. Obviamente, que o Presidente viria a sentir-se enxovalhado e traído por Costa. De seguida, Marcelo deu a conhecer ao público uma nota inédita e peculiar, onde dizia que “discordava” de Costa.

O povinho, as televisões e os jornais passaram o tempo a falar numa possível dissolução da Assembleia da República. Isso, era impossível, porque o Presidente é um dos melhores constitucionalistas portugueses e sabe perfeitamente se lançasse a “bomba atómica” que a Comissão de Inquérito à TAP terminava. Ora, nessa Comissão ainda vamos saber mais escândalos sobre a TAP e o controlo que os governantes têm exercido na sua gestão, vamos ter conhecimento de mais assuntos graves que provocarão mais polémicas. A procissão ainda vai no adro.

Entretanto, o primeiro-ministro deslocou-se na quinta-feira passada para Braga e Barcelos, a fim de dar um ar de normalidade governamental, quando de repente, recebe um telefonema do Presidente para se apresentar em Belém às 18.30 horas. Costa tinha apenas duas horas para se deslocar e conseguiu (não se sabe como) – se por avião ou em excesso de velocidade – chegar a Belém apenas com quatro minutos de atraso. O Presidente Marcelo apenas lhe transmitiu que iria falar aos portugueses e que o seu discurso seria arrasador para o Governo e que iria estar atento diariamente sobre a actividade governamental. E realmente, Marcelo perdeu a cabeça e afirmou que o Governo não tem “confiabilidade, credibilidade, respeitabilidade e autoridade”. A lua de mel de sete anos entre Marcelo e Costa tinha terminado.

O futuro deste país poderá ser uma tragédia e tudo o que de mau Galamba faça em processos importantíssimos como a privatização infeliz da TAP, o novo aeroporto, a estrutura ferroviária e outras, serão única e exclusivamente da responsabilidade de António Costa que decidiu ficar com Galamba ao colo. Num país de polémicas, posso garantir-vos que mais aí virão…

7 Mai 2023

A festa de Lula

Na semana passada, Portugal viveu mais uma polémica: a visita oficial de Lula da Silva, Presidente do Brasil. Infelizmente, a festa de Lula foi transformada em discussão, protesto e vergonha. O metalúrgico que chegou a Presidente da República pela segunda vez foi convidado oficialmente pelo seu homólogo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

A maioria dos brasileiros que vivem em Portugal regozijaram-se com a presença de Lula da Silva e logo manifestaram a sua alegria nos mais diversos locais por onde passou. No entanto, a polémica atingiu o convite que foi feito ao visitante para ser recebido solenemente na Assembleia da República. Dois partidos políticos, o Iniciativa Liberal e o Chega contestaram a presença de Lula da Silva no parlamento e demonstraram que de democratas têm muito pouco. Os deputados do Iniciativa Liberal não estiveram presentes na sessão oficial parlamentar, excepto o seu líder Rui Rocha e o Chega envergonhou todos os portugueses que não são neofascistas.

O Chega, contra todas as regras da ética parlamentar, levantou os braços com cartazes insultuosos contra Lula da Silva, chamando-lhe corrupto. O Chega até se esqueceu que Portugal é um dos países da Europa onde mais impera a corrupção a todos os níveis. Este acto de um partido que é essencialmente antidemocrata recebeu de imediato o protesto do presidente da Assembleia Legislativa, onde Santos Solva protestou veementemente contra a atitude dos deputados neofascistas.

Lula da Silva é um ser humano como todos nós, mas soube disfarçar o sentimento de tristeza pelo que assistiu e manifestou o seu contentamento pela forma como foi recebido em Portugal. Os brasileiros apoiantes de Lula da Silva saíram à rua para gritar palavras de apoio a um homem que conseguiu derrotar em eleições livres um ex-presidente fascista que provocou durante o seu mandato a morte de milhares de brasileiros.

Bolsonaro tudo fez para que Lula da Silva não fosse eleito, inclusivamente deu instruções, ao estilo de Donald Trump, para que as sedes do governo e do tribunal, em Brasília, fossem ocupadas e vandalizadas. Nas ruas de Lisboa ainda apareceram alguns apoiantes de Bolsonaro que de um momento para o outro foram expulsos dos locais onde apareceram a dar vivas a Bolsonaro. A propósito, lembrar que o Chega, de André Ventura, vai realizar uma conferência e convidou Bolsonaro a estar presente e este aceitou.

Neste particular, dizer-vos que os portugueses deixaram de ser um povo lutador pelos valores democráticos e que passivamente assistem à ingerência política cada vez maior dos neofascistas. E é por essa razão, que alguns analistas, já se pronunciaram que a democracia está em perigo. Os portugueses que se sentem democratas tinham a obrigação de se organizarem para contestar veementemente a presença de Bolsonaro em Portugal.

Todos os partidos democráticos tinham a obrigação, juntamente com todos os sindicatos, de se dirigiram ao local onde estivesse Bolsonaro e não permitir que a sua presença fosse pacífica. O local onde o Chega vai receber Bolsonaro podia mesmo ser invadido pelos democratas portugueses e não permitir que o fascista brasileiro usasse da palavra. Lembremo-nos de que este mesmo Bolsonaro nunca visitou Portugal enquanto foi presidente da República do Brasil e foi malcriado e insolente para com o Presidente Marcelo, quando este se deslocou ao Brasil.

Lula da Silva pode ter tido um passado com erros políticos, acusado de corrupção, preso injustamente, pronunciando-se contra a União Europeia, da qual Portugal faz parte, tomando posição a favor da Rússia, mas, o povo brasileiro é soberano e elegeu-o novamente Presidente. Não pode ser esse passado a desrespeitar uma visita oficial do Presidente Lula da Silva a Portugal, até porque o próprio manifestou que pretende as melhores relações económicas com Portugal no futuro e nesta visita já foram assinados vários acordos de índole económica.

Há um facto que me deixou satisfeito na eleição de Lula da Silva: a Amazónia já não será destruída e os seus indígenas irão ser apoiados significativamente pelo governo de Lula da Silva. O importante é que o Brasil não volte a cair nas mãos de verdadeiros corruptos, fascistas e de um governo que deixe os pobres ainda mais pobres.

2 Mai 2023

País maravilhoso

Portugal é um país maravilhoso. Alguns dizem o contrário. Que os portugueses estão nas ruas da amargura. Que existem dois milhões ao nível da pobreza e que a classe média está a passar pela maior crise económico-financeira de sempre. A classe média? Não consigo compreender como é que a classe média se queixa em qualquer situação, que não consegue pagar a prestação da casa, mas não prescinde de carro para o marido e outro para a mulher, que os preços dos produtos essenciais estão cada vez mais caros e que já não vão jantar fora.

Pois é, mas essa mesma classe média o que nos demonstra é que vive num país maravilhoso que por ter este ano o mês de Abril com calor e praia decide ter 10 dias de férias, do pé para a mão. 10 dias de férias? É verdade, no passado sábado iniciaram um ripanço formidável com uma ponte até amanhã que é o feriado do 25 de Abril, depois metem quarta, quinta e sexta como dias de férias, vem mais um sábado e domingo e segunda-feira seguinte é feriado novamente por ser o dia 1º de Maio. 10 dias em beleza, partindo para o Algarve ou para as margens do Douro, onde o turismo rural em quintas aprazíveis lhe proporciona 10 dias sem trabalho em plena altura do ano em que não é costume haver férias para ninguém.

Quando encontramos alguém que tem um emprego razoável e que pertence à chamada classe média, logo ouvimos que a vida está mal, que isto em Portugal está impossível de se sobreviver e a lamentação não tem fim. Esquecem-se daqueles que vivem com uma reforma de 200 ou 300 euros, esquecem-se dos sem-abrigo, esquecem-se dos jovens estudantes que deixam as universidades por não poderem pagar as propinas, esquecem-se dos que vivem em bairros da lata, esquecem-se das mulheres que trabalham nas limpezas e que começam às sete da manhã e correm escritórios e casas de famílias até às oito da noite, esquecem-se daqueles que já têm de escolher entre comprar carne ou peixe e medicamentos, esquecem-se dos que estão há um ano a aguardar por uma cirurgia, esquecem-se dos que nas urgências dos hospitais esperam 20 horas para ser atendidos, esquecem-se das mulheres grávidas que têm de andar numa ambulância cerca de 100 quilómetros para ter um filho. Enfim, a chamada classe média tem de andar mais caladinha porque em Portugal há quem sofra profundamente e que até passe fome.

Em Portugal, a vida está difícil, isso não tem discussão, mas felizardos não faltam. O que tem chocado a maioria são as greves constantes de professores, trabalhadores dos transportes públicos, oficiais de justiça, enfermeiros e outras profissões que têm sido alvo da incompreensão governamental, que soube colocar na TAP mais de 3 mil milhões de euros – dinheiro do povo – e depois aumentam os reformados miseravelmente, governo que não chega a acordo com os trabalhadores que protestam por melhores salários.

Neste país, ultimamente, têm acontecido factos que entristecem e que deixam as pessoas perturbadas. Referimo-nos aos abusos sexuais dos padres da Igreja Católica e de doutos professores que nas universidades não podem ver uma aluna bonita, de seios grandes que não a convidem logo para jantar ou que façam chantagem no sentido se as estudantes não condescendem ao abuso sexual, o seu ano lectivo será a reprovação. Na semana passada, ficámos desolados com a notícia que atingiu o professor doutor Boaventura Sousa Santos acusado de abuso sexual a várias alunas, algumas que até se pronunciaram na televisão. Boaventura, um homem que sempre se pronunciou como grande democrata, defendendo a moralidade, a solidariedade e a igualdade.

Amanhã, festeja-se o dia 25 de Abril, data histórica em que um grupo de militares levou a cabo um golpe de Estado e terminou com a ditadura que subjugou e matou vários antifascistas. No entanto, esse mesmo 25 de Abril em 2023 é comemorado na praia e a maioria dos jovens nem sabe o que se passou no chamado dia da liberdade, mas, que infelizmente, liberdade de vária ordem tem havido muito pouca ao longo de 50 anos em determinados actos da vida, nomeadamente na comunicação social, onde criaram uma lei de imprensa que é uma autêntica limitação da liberdade expressão. Já não falando de um caso passado com um familiar meu, comunista, e que à semelhança de tantos cidadãos, tem o seu telefone debaixo de escuta há mais de cinco anos.

Sobre o 25 de Abril muito teríamos a escrever, mas todos sabemos que Portugal tem tido personalidades políticas de grande gabarito, honestidade e solidariedade e outras, especialmente nos governos, que só se preocuparam em exercer a corrupção, o compadrio e a desonestidade. É assim, é o país maravilhoso que temos.

24 Abr 2023

Governo de polémicas

Portugal tem sido governado por uma maioria absoluta do Partido Socialista. O povo votou cheio de esperança de que muito iria mudar na estrutura do Estado. O povo pensou que essa maioria absoluta política teria entre mãos todas as formas de valorizar a credibilidade política. Uma política que deveria ser praticada por dirigentes governamentais competentes e sérios. O povo admitiu que o actual primeiro-ministro, António Costa, tinha todo o poder de modificar uma situação degradada no tecido social nacional.

No entanto, temos estado perante as mais diversas polémicas derivadas de casos e “casinhos” que só têm colocado o panorama político em discussões, divergências, ilegalidades e críticas, algumas do próprio Presidente da República.

A situação governamental tem sido de uma tristeza atroz e desde que a ministra da Saúde, Marta Temido, se demitiu, de madrugada, sem que ninguém tivesse sabido as verdadeiras razões da sua saída do Governo, nunca mais pararam os factos que têm levado ao descrédito do Governo. As últimas sondagens apresentam um empate técnico entre o PSD e o PS. Não foi o PSD que subiu, já que tem sido um partido com uma prática absolutamente negativa. O que tem acontecido é que o povo está a perder a confiança num Governo socialista que apenas vai deixando andar a governação ao “Deus dará”.

As demissões no Governo têm-se sucedido. O caso mais vergonhoso prendeu-se com o ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado Hugo Mendes. Demitiram-se os dois por falta de seriedade. O ex-ministro Santos – no caso da TAP, onde a CEO francesa entrou em litígio com a administradora Alexandra Reis e que levou ao seu despedimento com uma indemnização de 500 mil euros, afirmou primeiramente que nada sabia e que tudo era tratado com a TAP pelo seu secretário de Estado. Mais tarde, veio a público confirmar que o seu secretário de Estado lhe tinha dado conhecimento do andamento litigioso na administração da TAP.

No Partido Socialista nota-se que existem as mais diversas facções, o PS de António Costa, o PS de Pedro Nuno Santos, o PS de Fernando Medina, o PS de Carlos César, o PS de Francisco Assis e a divisão é de tal gravidade que na semana passada o grupo parlamentar do PS, sem conhecimento do seu secretário-geral António Costa, promoveu uma reunião secreta com a CEO da TAP a fim de preparar as perguntas e respostas que a CEO da TAP deveria pronunciar na existente Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso TAP. Sobre este propósito, as audiências na referida Comissão de Inquérito, foram um escândalo quando os inquiridos, nomeadamente, a CEO da TAP, Alexandra Reis e o ex-presidente do Conselho de Administração da TAP, Manuel Beja, anunciaram o contrário uns dos outros e chegou-se à pouca vergonha de ficarmos a saber que o Governo interferia na gestão da TAP e que inclusivamente os comunicados emanados pela TAP eram redigidos pela tutela governamental.

A comissão de Inquérito tem sido um “buraco” difícil de poder ser tapado porque até um dos deputados socialistas, Carlos Pereira, que mais atacava os inquiridos, acabou por se demitir da Comissão de Inquérito, por suspeição de irregularidades e fraudes financeiras. A TAP tem estado na berlinda depois de os portugueses terem injectado na empresa 3,2 mil milhões de euros. Ora, este cenário na TAP onde têm ocorrido os mais variados casos de discussão, nomeadamente, a pretensão de adquirir uma nova frota automóvel, de despedir milhares de trabalhadores, de se ter privatizado a empresa o que veio a demonstrar ter sido um fiasco e o Governo de seguida ter nacionalizado a empresa, para agora querer novamente privatizar.

As polémicas sucedem-se. A CEO da TAP foi demitida em directo na televisão pelo novo ministro das Infraestruturas, João Galamba, o qual nunca devia ter entrado para o Governo devido à sua total incompetência política. Polémicas que chegam ao ponto de se saber que a mulher de João Galamba trabalha no Ministério das Finanças como coordenadora de um departamento e cujo contrato não foi publicado em Diário da República como a lei nacional assim o exige, mas, entretanto, possivelmente por vergonha já pediu a demissão. Algumas das polémicas têm trazido a lume trapalhadas e cambalachos que quase diariamente a imprensa dá à estampa.

Outra das grandes polémicas é a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. Parece que andam a brincar aos aeroportos. Agora, já foram considerados nove locais para a construção do novo aeroporto de Lisboa, incluindo Monte Real e Santarém, que em nada se podem comparar com a estrutura já existente em Beja. O primeiro-ministro anunciou aos jornalistas que até ao fim do ano nada deve estar decidido, porque a pressa é má companheira. O que não é boa companhia é a inércia governamental que está a deixar o povo em polvorosa e a desacreditar, cada vez mais, na maioria absoluta socialista. A inflacção desceu um pouco, mas os preços dos bens essenciais continuam a subir. As famílias pobres já não aguentam a sobrevivência triste e degradada que lhes caiu em sorte. Os portugueses desanimam constantemente, basta referir que pagam o passe para os transportes públicos e estes estão assiduamente em greve, verificando-se que milhares de trabalhadores não conseguem chegar ao local de trabalho.

Polémica atrás de polémica, veio a lume a possibilidade da dissolução da Assembleia da República, mas o Presidente Marcelo logo respondeu que isso não está no seu horizonte porque a oposição não tem condições alternativas ao novo Governo. De imediato, o líder do PSD, Luís Montenegro, veio contrariar o Presidente dizendo que o PSD está preparado para governar já hoje. Um líder social-democrata sem qualquer credibilidade e que está à frente de um partido, que além de exercer uma oposição péssima, ainda tem mais facções internas que o Partido Socialista. No meio disto tudo, as sondagens indicam que os neofascistas do Chega continuam a ter cada vez mais apoiantes. Um caso grave para a democracia que não está a ser entendido pelo Governo, quando não se preocupa em governar alterando muitas das estruturas nacionais, nomeadamente, a ferrovia e o fim das portagens nas autoestradas. As polémicas têm sido de tal gravidade que até proporcionaram ao ex-Presidente da República, Cavaco Silva, dar-se ao desplante de comentar a má prática governamental e afirmar que Portugal está a degradar-se.

Neste particular, estamos perante um político que devia estar calado, à semelhança de Ramalho Eanes, com a agravante de nos lembrarmos o mal que Cavaco Silva fez aos portugueses nos mais diversos parâmetros da governação enquanto ocupou 10 anos o cargo de Chefe do Executivo. Uma coisa é certa: as polémicas não vão terminar.

17 Abr 2023

A habitação é uma barraca

Na semana passada a discussão política em Portugal teve como tema a habitação. Passaram anos e anos em que os governos pouco se preocuparam com os pobres que habitaram centenas de bairros de barracas. A habitação ainda é uma barraca.

Milhares de portugueses e imigrantes vivem em condições imensamente precárias em autênticos bairros da lata. Vivem da forma que podem. Com muito calor, frio intenso ou chuvas para o interior das barracas. Visitámos recentemente um bairro social onde a degradação das casas é o ponto forte, junto do aeroporto de Lisboa, o bairro da Quinta do Mocho, onde a maioria dos habitantes é oriunda de São Tomé e Príncipe.

Acreditem que aquela gente pobre conseguiu construir com restos de madeiras um “restaurante” onde em parte alguma comi melhor peixe grelhado na brasa. Uma delícia que esgota os lugares existentes todos os sábados e domingos.

O braseiro de carvão, com uma grelha artesanal de ferro, ao ar livre, faz com que um cozinheiro exímio apresente o tal peixe grelhado inigualável. Uma construção que apresentamos aqui a sua imagem e que todos vós dirão que não é um restaurante. No entanto, toda aquela gente pensa no dia em que as autoridades camarárias chegam e trazem ordens de demolição.

Tal como o referido “restaurante” existem milhares de casas em perigo de serem demolidas. Contudo, tivemos o primeiro-ministro, António Costa, acompanhado dos ministros das Finanças e da Habitação, a anunciar o projecto do Governo que titulou de Mais Habitação. Caiu o Carmo e a Trindade nas hostes da oposição. Foi a discordância total quando o Governo anunciou que as regras no licenciamento e no investimento de novas casas iriam mudar radicalmente.

O Governo pretende essencialmente que as casas que estejam vazias sejam arrendadas a famílias necessitadas, que não sejam concedidas mais licenças para o chamado ‘alojamento local’ e que as famílias mais pobres terão um subsídio de apoio ao arrendamento. Especialmente em Lisboa e no Porto existem milhares de casas e terrenos devolutos e os proprietários nunca se preocuparam em alterar a situação. A verdade, é que já é tarde que se veja a habitação e a sua obrigatoriedade constitucional como uma solução para os jovens e idosos que não conseguem ter uma casa.

No âmbito do programa Mais Habitação, o Conselho de Ministros aprovou duas propostas de Lei a submeter à Assembleia da República e um decreto lei que visa promover o investimento em arrendamento acessível, reforçar a confiança no mercado de arrendamento e mobilizar património disponível para o afectar à habitação.

A ministra da Habitação, Marina Gonçalves, sublinhou que a primeira linha de intervenção é estimular novos projectos privados de arrendamento acessível, o que será feito através da cedência de terrenos ou edifícios devolutos do Estado, complementado com uma linha de financiamento bonificado, com previsibilidade das rendas, assentes no programa de rendas acessíveis, e com incentivos fiscais.

Tudo isto é muito lindo e seria bom para os mais pobres que os projectos avançassem o mais rápido possível. Mas, como é possível ter boas intenções se em pleno bairro de Alvalade foi construído um prédio de grande dimensão pertencente à edilidade, que está pronto há mais de um ano e que foi anunciado que se destinava a rendas acessíveis.

O prédio está vazio e a Câmara de Lisboa informou-nos que as fracções já tinham destinatários desde que se iniciaram as obras dos alicerces.

A ministra referiu que a segunda intervenção seria o reforço do sector cooperativo, através da cedência de terrenos e edifícios do Estado, com financiamento bonificado, tendo o Estado como parte desses projectos. Mas, como poderá essa intenção avançar se o Estado nunca contabilizou o número de imóveis devolutos pertencentes ao Estado? O Governo nem sabe quantos imóveis devolutos existem.

Uma terceira medida anunciada pela ministra tem a ver com o apoio ao arrendamento. É fácil de politicamente anunciar medidas que mais parecem de propaganda, porque centenas de cidadãos já manifestaram às autoridades que vivem com imensa dificuldade e com três e quatro meses de renda por pagar e não tiveram qualquer resposta?

O Governo anunciou o combate à especulação na venda e no arrendamento. Combate de que forma se as imobiliárias fazem o que bem entendem e os preços das casas estão cada vez mais caros? O Governo pode estar cheio de boas intenções, mas como poderá mudar o paradigma nacional onde pululam os bairros de lata? Todas as medidas podem ser da maior importância e de enorme benefício para as populações, mas lendo com atenção o que o primeiro-ministro anunciou e que tem de passar pelo parlamento e pela aprovação do Presidente da República, concluímos que o tempo em aprovar os projectos, terminar as obras e cumprir a nova regulação não acontece em menos de cinco a 10 anos.

Porque não começar pela construção imediata de residências para estudantes e de bairros sociais com a dignidade eclética possuindo centros de saúde, correios, parques infantis e jardins para os idosos jogarem às cartas?

A habitação, ou a falta dela, é um mal nacional e se os governantes não actuarem com rapidez e eficiência ficaremos na mesma com uma habitação que é uma barraca.

3 Abr 2023

Enxame de TVDE tem tráfico humano

O que é TVDE? É o Transporte Individual e Remunerado de Passageiros em Veículos Descaracterizados a partir de Plataforma Electrónica. Em Portugal qualquer dia não existem táxis porque o enxame de TVDE é infindável. As plataformas principais que se instalaram no nosso país são a Uber, Bolt, Cabify e Taxify.

Apresentamos hoje aos queridos leitores de Macau um dos casos mais graves existentes na sociedade portuguesa, especialmente em Lisboa. Para se poder ser motorista de um veículo TVDE tem de se possuir a carta de condução portuguesa há, pelo menos, três anos, realizar um curso totalmente em português e efectuar um exame final escrito em português.

Acontece que os veículos TVDE de há uns meses a esta parte começaram a ser conduzidos por indivíduos do Paquistão, Bangladesh, Nepal e outros países, chegados a Portugal há dias ou há semanas, e de imediato começaram a guiar os TVDE. Como é isso possível? Não sabem falar português, a maioria fala mal o inglês, não têm carta de condução portuguesa, muito menos há três anos como exige a lei para ser-se motorista dos TVDE, não realizaram qualquer curso para obterem a licença de conduzir TVDE e muito menos conhecem a capital lisboeta, mesmo usando o GPS.

Há veículos TVDE que chegam a ser conduzidos por 10 indivíduos numa semana, mudando a fotografia da licença TVDE que pertence a um indivíduo estrangeiro que obteve a referida licença para conduzir TVDE. As nossas fontes confirmaram que estamos perante diferentes mafias pertencentes aos referidos países que exercem tráfico humano desses motoristas TVDE que já são às centenas e que chegam a Portugal todos os meses.

O crime de tráfico humano está à vista de todos. Estes “motoristas” de TVDE não recebem qualquer salário nos primeiros meses para que fique pago à mafia correspondente a sua vinda para Portugal. Esses motoristas têm causado a maior diversidade de problemas aos clientes das plataformas.

O que esperam as autoridades portuguesas para terminar com esta situação assombrosa e perigosa? O que esperam a Uber, Bolt, Cadify e Taxify para terminarem imediatamente que estes indivíduos sem carta de condução portuguesa e sem licenciamento TVDE? Impõe-se uma tomada de posição imediata, porque os veículos TVDE estão a efectuar serviço durante a noite e as queixas de incompetência, abuso e inoperância sucedem-se todas as semanas.

Outros, mal chegam a Portugal, começam a conduzir motos e trotinetas realizando o serviço de entregas ao domicílio oriundas dos mais diversos restaurantes, nomeadamente, de pizas e hamburgueres.

Até hoje, nenhum órgão de comunicação social português abordou este assunto de gravidade extrema e de lucros incalculáveis para os gangues que controlam toda esta actividade exercida pelos novos imigrantes.

29 Mar 2023

Enfermeiros “chico-espertos” dão tiro no pé

Os enfermeiros em Portugal são das profissões mais nobres e sacrificadas. Trabalham nos hospitais do Estado realizando horas extraordinárias sem receber um euro a mais, com salários miseráveis, tendo, no entanto, a sua profissão garantida e alguns têm-se pronunciado que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi a sua escolha de paixão e de perfeito serviço ao povo português.

Os enfermeiros estão divididos em sindicado e numa Ordem que tem feito muito pouco em benefício dos soldados da enfermagem. Contudo, ao longo dos anos temos assistido à proliferação da construção de hospitais privados como os da CUF, da Luz e dos Lusíadas. E logo os enfermeiros “chico-espertos” decidiram abandonar o SNS e ingressaram nos quadros dos hospitais privados porque admitiam que as condições de trabalho eram indubitavelmente melhores.

E não falamos dos enfermeiros que optaram em emigrar e hoje trabalham em Inglaterra e em outros países, tendo apenas como positivo o maior pecúlio recebido, mas sempre cheios de saudades do seu país. Quanto aos enfermeiros que optaram pelos hospitais privados, assistimos na semana passada a uma surpresa inesperada: ao protesto dos enfermeiros que trabalham nos estabelecimentos hospitalares privados e chegaram ao ponto de nos deixar de boca aberta quando anunciaram uma greve, porque querem aumento de salários e melhores condições de trabalho. Ops! Greve? Sem mais, uma greve.

Uma verdade dura e pura que demonstra que nos hospitais privados nem tudo são rosas e, afinal, muitos já estão arrependidos de ter deixado o SNS. Um exemplo: num dos hospitais privados um grupo de enfermeiros quando marcaram férias para Agosto próximo, foram logo informados que escolhessem outro mês do ano para descansar. A greve dos enfermeiros nos hospitais privados não tem pés nem cabeça. Foram esses profissionais grevistas que escolheram deixar o serviço público porque queriam mais dinheiro.

Viram agora que o paraíso hospitalar não está na privada hospitalar e a maioria do povinho riu-se da referida greve. Os enfermeiros que abandonaram o SNS ficaram a saber que o capitalismo apenas visa o lucro e nada tem a ver com a defesa dos interesses dos pobres e, muito menos, com todos os que esperam horas, dias e meses para ter uma consulta no SNS. Será bom que reconsiderem e que decidam bem se vale a pena continuar ao serviço dos grupos poderosos que apenas se servem da Saúde para ganhar muito dinheiro e deixem de dar tiros nos pés…

Na semana passada, Portugal assistiu a um caso inédito que não se via desde 25 de Abril de 1974 quando os militares se revoltaram contra a hierarquia do regime. No Funchal, capital da Ilha da Madeira, estava aportado o navio de guerra “Mondego”. A dada altura, o comandante do navio recebeu indicações secretas que teria de realizar uma missão para controlar uma embarcação russa que navegava em águas portuguesas e que poderia estar em acção de espionagem.

Quando o comandante do navio ordenou aos seus homens a partida para a missão confidencial, eis que, 13 militares do “Mondego” negaram-se a cumprir a ordem de comando alegando que o navio não estava em condições materiais para seguir para o mar. Esses tripulantes cometeram de imediato três infracções graves.

Não obedeceram à hierarquia de comando, algo sagrado nas Forças Armadas, e deixaram a imagem de Portugal junto dos países da NATO que alguma coisa iria mal no reino das Forças Armadas portuguesas e o mais grave, terem anunciado publicamente nas redes sociais o que se estava a passar no interior do navio. A missão não foi realizada. Gravíssimo.

O chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Gouveia e Melo, deslocou-se imediatamente ao Funchal e foi falar com os tripulantes do navio e comunicar-lhes a gravidade do sucedido. Os 13 militares estão hoje já a serem ouvidos em Lisboa pela Polícia Judiciária Militar e podem passar para o foro judicial criminal e apanhar anos de prisão. Gouveia e Melo sublinhou muito bem que a disciplina militar se não existir, então, não existem Forças Armadas.

O caso foi imensamente criticado pelo país fora e a maioria dos portugueses pede um castigo severo para os indisciplinados. Na verdade, não tem havido verbas suficientes por parte do Governo para as muitas lacunas que existem nos três ramos das Forças Armadas e muitas das unidades móveis no Exército, Força Aérea e Marinha não tem cumprido a sua missão devidamente por falta de manutenção nessas mesmas unidades. Todavia, uma coisa é a insuficiência de verbas, outra é a indisciplina e a insubordinação de militares.

Para que se riam do que vai acontecendo por este Portugal, termino informando-vos que a empresa Transtejo, que possui a frota das embarcações que fazem a travessia do rio Tejo, comprou 10 navios eléctricos, para defesa do meio ambiente, mas os navios não poderão funcionar porque o orçamento não incluiu cerca de 15 milhões de euros para a compra das baterias para os navios eléctricos…

20 Mar 2023

A TAP voa baixinho

Um comandante da aviação comercial disse-me um dia que o mais perigoso no voo de uma aeronave era quando a mesma voava baixo, porque ao mínimo poço de ar podia acontecer a tragédia. Tragédia é o que tem acontecido na companhia nacional TAP.

Os diversos governos e os administradores da TAP têm-se servido da companhia aérea de bandeira nacional de uma forma que mais parece o jogo do monopólio. A TAP vende, compra, perde, ganha e faz bluff. A TAP já esteve à beira da falência e a dada altura passou a uma empresa público-privada. Entraram pelo gabinete da administração dois “cómicos”, o Barraqueiro e o Neeleman.

Este último, antes de o Governo decidir-se pela nacionalização e acabar com esta dupla, decidiu vender os aviões boeing e comprar airbus, mas com uma facturação que lhe proporcionou cerca de 400 milhões de euros e com esse dinheiro pagou a sua propriedade no novo estatuto público-privado. A TAP dava para tudo, mas o prejuízo era constante.

Quando o Governo decidiu nacionalizar a empresa tudo começou mal. Com a treta de que a companhia estava numa situação de bancarrota, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu comparsa das Finanças introduziram 3,2 mil milhões de euros na companhia, dinheiro dos portugueses, com a lamúria de que era dinheiro para recuperar a empresa e que esse dinheiro haveria de ser recuperado. Tudo balelas.

O mesmo ministro com a tutela da TAP, que apenas em pequenino deve ter brincado com um aviãozinho, nomeou uma senhora francesa para CEO da TAP, como se não existisse em Portugal um cidadão competente para o cargo. Mesmo com a francesa Christine Ourmières-Widener a TAP continuou a voar baixinho. Como vogal da administração tinha uma amiga da esposa de Fernando Medina – ex-presidente da Câmara de Lisboa e actual ministro das Finanças – Alexandra Reis, a qual começou a discordar da CEO francesa.

Bem, nem imaginam o que a partir daí tem dado que falar. Alexandra Reis sai da TAP para a Nav Portugal, empresa do mesmo ramo aeronáutico e da mesma tutela, recebendo uma escandalosa indemnização de meio milhão de euros. A mesma Alexandra Reis, assim que Fernando Medina tomou posse do cargo de ministro das Finanças, nomeou a amiga da sua esposa para secretária de Estado do Tesouro. Nem chegou a aquecer a cadeira do gabinete governamental.

A bronca dos 500 mil euros de indemnização rebentou na comunicação social e Alexandra Reis pediu a demissão e agora um relatório da Inspecção Geral de Finanças indica que a indemnização de Alexandra Reis foi ilegal e que deve devolver o dinheiro ao Estado.

No entretanto, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado, Hugo Mendes, meteram os pés pelas mãos e primeiro disseram que nada sabiam sobre Alexandra Reis na TAP, depois foi o secretário de Estado que anunciou ter recebido uma mensagem sobre o assunto e que nada disse ao ministro e por fim o ministro demitiu-se dizendo que, afinal, tinha tido conhecimento do sucedido. Uma vergonha, disse o povo e revoltou-se nos programas de rádio onde o público pode opinar. Mas, a TAP sempre a voar baixinho, ainda na semana passada esteve nas bocas do mundo.

Agora, o Governo quer privatizar novamente a empresa e vendê-la totalmente. Há ministros que não concordam com a venda total do património. A Lufthansa parece ser a grande interessada e quase o único grupo de aviação com poder financeiro para se chegar à frente. E a telenovela TAP não irá terminar tão cedo.

O Governo tem actualmente como ministro a tutelar a TAP, um fulano, João Galamba, que não tem nível intelectual e técnico para ser assessor de um secretário de Estado, quanto mais, ministro das Infraestruturas. O homem não sabe o que faz nem o que diz. Os jornalistas perguntaram-lhe sobre se era verdade que a CEO francesa tinha sido demitida.

O ministro respondeu que a senhora sairia da TAP dentro de dias e nomeou o presidente da SATA, dos Açores, para CEO da TAP. Tudo muito em cima do joelho e sem pensar que a senhora francesa não se chama Alexandra Reis porque já anunciou que vai para tribunal entendendo que o despedimento é sem justa causa. E pelas contas feitas por um fiscalista meu amigo, a senhora Christine irá receber mais de dois milhões de euros como indemnização.

Isto é a TAP que já despediu mais de dois mil trabalhadores e tem administradores e directores a ganhar salários estrondosos e inimagináveis. É a TAP que deixa passageiros sem receber o dinheiro dos bilhetes quando cancela voos. É a TAP que tem mais aeronaves estacionadas do que a voar. É a TAP que vê pilotos-comandantes constantemente a saírem para outras companhias aéreas. É a TAP que agora irá ter uma nova administração bem paga e sem saber por quanto tempo.

Na Comissão Europeia sempre que aparece por Bruxelas um ministro português logo lhe perguntam o que se passa na TAP. É uma vergonha. Voar baixinho é realmente a parte mais perigosa do voo…

13 Mar 2023