A icónica Catedral de Notre-Dame, em Paris, ardeu parcialmente na madrugada de segunda para terça-feira, comprometendo a estrutura do edifício. A extensão total dos danos ainda não é conhecida, mas Emmanuel Macron prometeu reconstruir a catedral. As mensagens de solidariedade têm surgido de todo o mundo e o fogo foi extinto depois de 12 horas de incêndio
[dropcap]O[/dropcap] Presidente da França, Emmanuel Macron, fez uma declaração em frente à Catedral de Notre-Dame enquanto os bombeiros ainda se esforçavam para controlar o incêndio que deflagrava no histórico monumento, pedindo aos franceses união e anunciando a abertura de uma subscrição nacional para recolher fundos.
Aos
franceses, Macron disse que “o que aconteceu nesta catedral é
uma terrível tragédia”, agradecendo a “extrema coragem,
profissionalismo e determinação” de “quase 500 bombeiros”
mobilizados para combater o fogo que começou por volta das 18h50
locais (1h50 de ontem em Macau) e atingiu toda a estrutura da
Catedral de Notre-Dame de Paris. Pelo seu trabalho, o Presidente quis
agradecer “em nome de toda a nação”.
O
Presidente francês mencionou que “o pior foi evitado, ainda que
a batalha não tenha sido vencida”, referindo-se à confirmação
dos bombeiros do salvamento da estrutura principal, incluindo o
campanário norte, que esteve em risco de colapsar.
“A
Notre-Dame de Paris é a nossa história, a nossa literatura. É o
epicentro da nossa vida”, caracterizou Macron, dizendo-a “de
todos os franceses, mesmo daqueles que nunca aqui vieram”.
Querendo deixar uma “nota de esperança”, o Presidente
lembrou que o edifício foi construído há 800 anos e que o povo
francês “soube como construí-la e, ao longo dos séculos, como
fazê-la crescer e melhorá-la”.
“Vamos
apelar aos maiores talentos e vamos reconstruir Notre-Dame, porque é
aquilo que os franceses esperam, porque é o que a nossa história
merece, porque é o nosso profundo destino”, disse, antes de
anunciar a abertura de uma subscrição nacional para recolher fundos
para a recuperação, deixando o apelo: “Juntos vamos
reconstruir Notre-Dame”.
Este
incêndio levou o líder francês a adiar a comunicação que faria
sobre um pacote de medidas em relação às reivindicações dos
‘coletes amarelos’, devido ao “terrível incêndio que devasta a
Catedral de Notre-Dame de Paris”, anunciou a presidência
francesa.
Num
momento anterior, Macron publicou na sua conta oficial do Twitter uma
mensagem de pesar pelos acontecimentos: “Emoção de toda uma
nação. Os meus pensamentos estão com todos os católicos e todos
os franceses. Como todos os nossos compatriotas, estou triste por ver
arder esta parte de nós”.
Os
apelos de subscrições nacionais de fundos têm-se somado ao longo
da tarde. Segundo o Le Figaro, a “La Fondation du patrimoine”,
uma organização privada dedicada à salvaguarda e preservação do
património francês, lançou ontem uma “coleta nacional”,
tendo um dos websites onde se podem fazer doações sofrido uma
enchente de visitas.
De
Lisboa ao Vaticano
Hermano
Sanches Ruivo, vereador da Câmara de Paris para os Assuntos
Europeus, disse à Lusa que todos os processos foram “respeitados”
e, por isso, não há feridos a lamentar. “Há muitas coisas que
vão ser ditas, mas há processos que estão estabelecidos em relação
à Notre-Dame. A primeira preocupação são as pessoas. Não temos
indicação de nenhum desrespeito pelos processos, os processos foram
respeitados e não ficou nenhuma pessoa ferida”, afirmou o eleito
lusodescendente local, em declarações à agência Lusa, relembrando
que o monumento é o mais visitado de Paris e começou a arder quando
ainda decorriam visitas.
O chefe
de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou ontem um
“abraço sentido” numa mensagem ao Presidente francês,
Emmanuel Macron, em que lamenta o incêndio na Catedral de Notre-Dame
de Paris.
“Caro
Presidente Macron, meu Amigo: Uma dor que nos trespassa o olhar e
logo nos marca a alma, Paris sempre Paris ferida na sua Catedral em
chamas, um símbolo maior do imaginário colectivo a arder, uma
tragédia francesa, europeia e mundial”, lê-se na mensagem,
divulgada no portal da Presidência da República na Internet.
Marcelo Rebelo de Sousa despede-se de Macron enviando-lhe “de
Lisboa um abraço sentido”.
Também
a directora-geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) manifestou solidariedade
com França na salvaguarda e restauro do património histórico, na
sequência do incêndio. Numa mensagem publicada no ‘Twitter’, Audrey
Azoulay diz que a agência das Nações Unidas está “ao lado de
França para salvaguardar e reabilitar esse património inestimável”.
O
Vaticano também exprimiu a sua “incredulidade” e “tristeza”
quando um incêndio continuava a devastar a catedral Notre-Dame de
Paris, “símbolo da cristandade, na França e no mundo”.
“Exprimimos a nossa proximidade com os católicos franceses e com a
população parisiense. Rezamos pelos bombeiros e por todos os que
fazem o possível para enfrentar esta situação dramática”,
acrescentou em comunicado o porta-voz do Vaticano.
Em
Jerusalém, a Igreja católica da Terra Santa também exprimiu a sua
solidariedade com a Igreja de França. “Exprimimos a nossa
solidariedade com a Igreja de França neste período da semana santa
e desejamos o melhor para essa igreja e para os seus fiéis”,
indicou a Igreja católica da Terra Santa através de um comunicado
divulgado em Jerusalém.
Donald
Trump, muito ao seu jeito e através do Twitter, reagiu a pronto com
uma sugestão que se tornou alvo de algum gozo nas redes sociais. O
Presidente norte-americano sugeriu o uso de meios aéreos para
combater as chamas que deflagravam na catedral. “É preciso agir
rapidamente”, acrescentou.
Uma
hora depois, a Protecção Civil francesa respondeu referindo que a
“descarga de água por um avião neste tipo de edifício poderia
levar ao colapso de toda a estrutura”, que poderia desabar em cima
dos bombeiros que se encontravam a combater as chamas.
Força
no esqueleto
O
secretário de Estado do interior francês declarou ontem que, uma
vez afastado o “perigo do fogo” na catedral de Notre-Dame
de Paris, a questão fundamental é, a partir de agora, saber “como
vai resistir a estrutura”.
“O
perigo do fogo já foi afastado, a questão agora é o edifício:
como é que a estrutura vai resistir ao incêndio da noite passada”,
afirmou Laurent Nuñez, em declarações à imprensa ao início da
manhã de ontem.
“Haverá,
portanto, uma reunião às 08h (15h em Macau) com especialistas e
arquitectos para tentar determinar se a estrutura é estável, e se
os bombeiros podem permanecer dentro do edifício para continuar a
missão”, acrescentou.
Cerca
de 400 bombeiros lutaram durante quase 12 horas contra as chamas que
destruíram um dos edifícios icónicos de Paris e da arte gótica,
apesar do fogo ter sido dado como “parcialmente extinto” e
“completamente contido” pelas autoridades. Neste momento,
cerca de uma centena de bombeiros continua no local.
“O
telhado inteiro está danificado, toda a estrutura ficou destruída,
parte da abóboda caiu”, disse Gabriel Plus, porta-voz do Corpo
de Bombeiros de Paris, ao início da manhã de ontem. No entanto, “os
dois campanários foram salvos”, bem como “todas as obras
de arte” pertencentes ao ‘tesouro’ da catedral, incluindo a
coroa de espinhos e a túnica de São Luís, indicou.
A
Procuradoria de Paris tinha já afirmado que os investigadores
estavam a considerar o incêndio como um acidente, referindo que a
polícia vai avançar com uma investigação por “destruição
involuntária causada pelo fogo”.
“Majestoso
e sublime edifício”, como escreveu em 1831 o escritor francês
Victor Hugo no seu romance “Notre-Dame de Paris”, a catedral foi
construída em 1163 e iniciou a função religiosa em 1182.