Andreia Sofia Silva Perfil PessoasAnnie Wang, cantora e estudante | Animal de palco [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]queles que já a ouviram cantar nas jazz jam sessions no espaço Live Music Association (LMA) percebem que está ali um talento natural e uma presença forte que é revelada em palco. Fora dele, Annie Wang assume-se como mais introvertida, mais calada, “mas não demasiado”. Estudante do departamento de inglês da Universidade de Macau (UM), Annie Wang recorre ao filme “Mr e Mrs. Smith”, protagonizado por Brad Pitt e Angelina Jolie, para se caracterizar em palco. “Acho que tenho duas personalidades diferentes. Antes de vir para Macau trabalhei como cantora em part-time em bares, quando andava na escola secundária. No dia-a-dia era uma nerd, a carregar os livros e usava óculos. As aulas acabavam às nove da noite e aí punha a minha maquilhagem e ia cantar”, recorda-se. Annie Wang não faz da música uma profissão, mas começou a cantar ainda antes de aprender as primeiras palavras. Os pais ajudaram-na e incentivaram o nascimento de uma paixão. “Os meus pais gostam de cantar e quando era pequena cantavam muito comigo. O meu pai cantava uma canção e deixava sempre a ultima palavra da canção para eu cantar. É uma coisa de infância, que começou muito cedo.” Os pais, professor de educação física, e a mãe, professora de música, também vão fazendo uma perninha como cantores. “Mas são pequenos concertos na nossa cidade”, adianta. Se Annie começou a cantar ainda antes de falar, as primeiras experiências em palco aconteceram logo no jardim-de-infância. “Claro que não cantei jazz”, ironiza. “Devo ter cantado algumas canções infantis, muito provavelmente. Tenho uma fotografia e tudo”, recorda. Desde aí, Annie Wang nunca mais deixou os palcos de fora. “Cantar num palco é uma constante na minha vida. Aconteceu na escola primária. Desde que me lembro todos os anos tinha uma oportunidade de cantar.” Mudança de mentalidade A escolha de Macau para fazer os estudos superiores acabou por revelar-se uma agradável surpresa. “Esta experiência tem sido muito boa. Estou de facto a adorar estudar na UM. Vim estudar para cá por causa dos cursos e dos professores, e quando cheguei aprendi muito com eles. De certa forma mudou a minha vida e a minha forma de pensar.” No território também teve algumas experiências como cantora, sobretudo em sessões onde se canta de forma livre. “Não fiz concertos a sério”, assegura. A cantora ouve jazz e todos os tipos de música. Num lugar onde a música ao vivo tem vindo a ganhar outro rumo, Annie Wang destaca o papel importante que o LMA tem tido. Referindo-se às jazz jam sessions, que decorrem todos os domingos, a jovem estudante garante dar todo o apoio. “Pela minha experiência no LMA há muitos músicos talentosos. Não sabia que aquele lugar existia. Não é um espaço comum em Macau. Há uma certa vibe que é diferente e diversa face ao que existe.” A cantora adianta que este tipo de concertos, com uma onda mais intimista, não são frequentes em muitas cidades chinesas. “Não diria que é mais fácil ser cantora na China. Depende do quão queremos isso, do quão queremos subir na carreira. Há mais hipóteses de fazer jam sessions em Macau do que na China.” Doutoramento na calha Estando prestes a licenciar-se, Annie Wang não sabe ainda o que quer fazer em termos profissionais. Associar a música à investigação académica é um dos objectivos. “Sempre cantei mas sempre estudei ao mesmo tempo. Neste momento estou a pensar em continuar os meus estudos e fazer um doutoramento. Nunca vou desistir de cantar, vou procurar algo mas continuar a cantar. Quero focar-me nesse trabalho de investigação que pretendo fazer.” Ficar em Macau é uma possibilidade, mas a estudante não descarta experimentar outros destinos. “Tudo depende do que acontecer este ano. Vou licenciar-me para o ano que vem e este ano vou procurar outras oportunidades. Vou ver se dá para fazer um doutoramento num outro lugar”, remata.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeDSAL | Trabalhadores da Galaxy queixam-se de irregularidades Representantes de 300 trabalhadores estiveram ontem reunidos com a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais onde apresentaram várias reivindicações contra a Galaxy. Em causa está a falta de pagamentos e más práticas durante o tufão Hato [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem fez o turno da noite não pôde sair e foi obrigado a ficar. Quem entrou de manhã teve de se deslocar para o trabalho, mesmo com o sinal 8 de tempestade içado. Estas reivindicações, num total de 21, foram ontem apresentadas numa reunião que juntou representantes de 300 trabalhadores da operadora de jogo Galaxy e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). O deputado José Pereira Coutinho, que esteve presente na reunião e acompanhou o caso, disse ao HM que muitas das reivindicações referem-se a situações que já têm “barbas brancas”. A passagem do tufão Hato terá reforçado o descontentamento. “A lista de reivindicações é longa e não posso deixar de referir o facto da empresa, durante anos e propositadamente, fazer coincidir o descanso semanal com os feriados obrigatórios”, começou por dizer o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Além disso, “os trabalhadores acham que a empresa faltou à palavra ao não conceder os bónus dos últimos anos até à presente data.” Três representantes da Galaxy estiveram na reunião, tendo sido feita uma contra-proposta, que foi recusada pelos trabalhadores. Segundo Pereira Coutinho, ainda não há uma data para a resolução do problema. Um Hato por resolver Na passada quarta-feira os trabalhadores terão sido obrigados a ficar no local de trabalho sem terem direito a um dia de descanso. “Quando o sinal 8 foi içado os trabalhadores foram forçados a voltar para o trabalho. Os que estavam dentro da empresa foram obrigados a fazer horas extraordinárias contra a sua vontade. Muitos pediram para ir para casa e isso foi rejeitado”, explicou o deputado. As horas extraordinárias foram pagas pela empresa, mas, segundo Coutinho, “o que os trabalhadores queriam era ter direito a um dia para irem para as suas casas reparar os estragos”. Segundo um artigo do South China Morning Post, o sinal 8 de tufão só terá sido içado às 9h00 de quarta-feira para que os casinos não pagassem horas extraordinárias aos seus trabalhadores. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter uma reacção por parte da Galaxy. Fichas ao ar Outra das queixas que foi apresentada na reunião de ontem prende-se com o funcionamento das mesas de jogo, problema que, segundo Pereira Coutinho, deveria ter sido apresentado à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). “Não existindo clientes a jogar nas mesas de jogo, os croupiers são obrigados a distribuir cartas durante horas, sem que haja um único cliente a jogar. Isto tem criado doenças profissionais face ao prolongado tempo de trabalho.” Foram ainda feitos relatos sobre o comportamento da operadora de jogo face às alegadas agressões que os croupiers são sujeitos. “Os queixosos manifestaram um grande desagrado face ao comportamento da empresa no tocante às agressões feitas aos croupiers. A empresa, em vez de os defender, persegue-os e aplica sanções, quando deveriam ser apresentadas queixas-crime junto das autoridades policiais.” Nos últimos dias a Galaxy tem sido alvo de comentários negativos nas redes sociais sobre o facto de, alegadamente, ter pedido ajuda a voluntários para a limpeza das piscinas do empreendimento hoteleiro. Contudo, Pereira Coutinho adiantou que este assunto não foi abordado no encontro de ontem.
Andreia Sofia Silva EventosPessanha, 150 anos | José Drummond apresenta “O Exorcismo” este domingo Conhecido artista plástico, José Drummond lança no domingo um livro que reúne poemas escritos à mão no início dos anos 90. Os textos falam de sentimentos mas mostram também o próprio autor na pele de artista [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]entimentos e palavras sobre pintura, ou simplesmente reflexões. O universo privado de José Drummond cabe todo em “O Exorcismo”, o livro de poesia que será lançado este domingo no edifício do antigo tribunal, inserido nas comemorações dos 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha, uma iniciativa do Hoje Macau. A revelação de Drummond como poeta não passa de uma forma do autor exorcizar – daí o nome – aquilo que lhe ia na mente e na alma no início dos anos 90. Mais de uma década depois, poucas alterações foram feitas e a publicação aconteceu mesmo. “Este foi um período bastante intenso, em que tinha sempre uma série de cadernos antigos e ia escrevendo duas ou três linhas”, recordou ao HM. “Escrevi reflexões sobre pintura mas também reflexões sobre o que me acontecia na altura, fosse relacionado com amores ou o com o estado do tempo, por exemplo.” Drummond nunca deixou esses cadernos, e no meio de idas e vindas, a poesia acabou por acompanhá-lo sempre. Alguns poemas chegaram a acompanhar uma exposição que o autor realizou em 1992. “Alguns cadernos desapareceram, outros permaneceram. Há cerca de um ano e meio, voltei a pegar neles e olhei para eles de uma outra forma. Comecei a encontrar correspondências com o trabalho que continuei a fazer e algumas linhas dos meus trabalhos na área das artes plásticas estão ali expostas.” Daí a ligar a publicação do livro ao evento dedicado ao Camilo Pessanha foi um passo. Inicialmente havia a ideia de editar as crónicas que o Hoje Macau publicou no suplemento H, mas os poemas fizeram mais sentido na cabeça de José Drummond. Palavras com sentido Aquilo que Drummond escreveu à mão há anos atrás, quando escrever no computador estava longe de ser algo comum, ainda faz sentido nos dias de hoje. O artista plástico lembra que até utilizou alguns escritos para a última exposição que fez na Casa Garden, com curadoria de Margarida Saraiva e apoio da Fundação Oriente. “Tenho algumas expectativas de ver como é que as pessoas vão reagir. Pessoalmente penso que o livro faz sentido também enquanto artista plástico, porque o que lá está escrito é um reflexo de um período no qual as linhas condutoras do meu trabalho como artista se mostram ali”, contou. O nome do livro surgiu da necessidade de colocar cá fora “demónios privados”, um acto de exorcismo que aconteceu através das palavras. Depois de ter dado provas como artista plástico, José Drummond não tem grandes expectativas face aquilo que o público vai pensar dele na versão poeta. “Espero que o público olhe para o livro como ele é. É apenas um livro de poesia, mais nada do que isso.” Pessanha, a influência Associar o lançamento de “O Exorcismo” à efeméride dos 150 anos do nascimento de Camilo Pessanha é, para José Drummond, uma grande oportunidade. O poeta português faz parte dos seus autores favoritos. “Para mim o Pessanha foi um génio, e está dentro do grupo de escritores que mais me influenciaram, ou que influenciam. Também lá estão o Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa e alguns poetas americanos. Há um lado que me interessa muito no Pessanha que é a forma simbólica e a musicalidade que as palavras têm na sua obra. É uma oportunidade óptima poder participar nestes encontros”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeColoane | Uma semana depois estragos ainda são visíveis Nas primeiras horas após a passagem do tufão Hato, os membros da protecção civil demoraram a chegar a Coloane por falta de meios. Primeiros grupos de voluntariado começaram a aparecer na tarde de quinta-feira e tiveram de esperar pela recolha do lixo. Quase uma semana depois, ainda há muitos sinais da tempestade que passou [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lugar das praias, da vila pitoresca onde se comem os célebres pastéis de nata e onde persistem as palafitas ficou tão ou mais destruído com a passagem do tufão Hato face a outras zonas do território, mas a falta de meios levou a que a ajuda tenha faltado logo nas primeiras horas após a calamidade. Durante a tarde de quarta-feira, à medida que iam baixando todos os sinais de tempestade, os agentes da protecção civil começavam a encher as ruas da península. O mesmo não aconteceu em Coloane que, por falta de meios, só começou a receber ajuda das autoridades a partir de sexta-feira. “Fomos na quinta-feira ao final da tarde e depois fomos de novo na sexta-feira de manhã. Não havia lá ninguém, as pessoas estavam a arrumar e a limpar as coisas sozinhas, não vi agentes nenhuns da protecção civil, nem bombeiros”, recordou Cíntia Leite Martins, fundadora do projecto Manavida que organizou os grupos de voluntariado. A ideia deste grupo era “ajudar os pequenos comerciantes, os mais velhotes, e também ajudar a limpar as ruas”. “As pessoas que apoiamos eram os empregados das lojas, não vimos mais ninguém”, lembrou. António Barrias ajudou a organizar outro grupo de voluntariado que juntou cerca de 300 pessoas e que, nas primeiras horas após a calamidade, começou a fazer limpezas a partir da Taipa, também junto ao Galaxy. “Fizemos uma tentativa de ir a Coloane na sexta-feira, mas as vias estavam impedidas. Tivemos que deixar a protecção civil fazer o seu trabalho”, contou. “No sábado fomos lá e pareceu que tudo aquilo estava um bocado esquecido por toda a gente. Havia casas completamente destruídas, parecia um cenário de guerra. Era muito semelhante ao que se encontrava no Fai Chi Kei, mas claramente não se via o mesmo número de pessoas a ajudar. Havia muita policia, mas reparei que se estavam a esquecer das casas pequenas.” António Barrias chegou a ser interpelado por uma idosa que não conseguia sequer chegar a casa. “Estacionei o carro porque levei muito equipamento comigo. Fui parado por uma senhora idosa que estava na rua porque a única forma que ela tinha de entrar em casa era através de uma rua na floresta. Estivemos a ajudá-la a limpar e só nessa rua demoramos quase uma hora a tirar tudo. Era mesmo ao lado do estabelecimento prisional e ninguém a ajudava”, frisou António Barrias. Falhas na recolha de lixo Cintia Leite Martins recorda-se de ajudar a recolher lixo e de ser obrigada a parar porque faltavam camiões de recolha adequados. “O problema foi a acumulação do lixo e houve horas em que não havia muito para fazer, porque não tínhamos locais onde o pôr. Começou a ficar escuro, porque não havia electricidade em muitos sítios, e as pessoas disseram para voltarmos no outro dia, porque haveria luz do dia.” “Só na sexta-feira é que chegaram mais agentes. Mas havia muita falta de camiões de recolha e os que vinham eram muito altos. Era impossível colocar lá o lixo, porque estamos a falar de máquinas e mobílias”, adiantou Cíntia Leite Martins, que afirma ter-se sentido frustrada, tal como os seus colegas voluntários, por não conseguirem fazer mais e de maneira mais rápida. Também ela foi abordada por uma senhora idosa que vive sozinha e que “não tinha ajuda de ninguém”. “Fomos nós que conseguimos tirar as coisas de dentro da casa e do jardim.” Ainda há sinais Ao HM, responsáveis de grupos de voluntariado que se deslocaram à zona relatam que, quase uma semana depois da passagem do tufão Hato pelo território, ainda há muito a fazer na ilha de Coloane e em alguns locais do Cotai. “Coloane ainda está muito mal, tenho passado de carro e ainda se vêem alguns estragos. Desde o One Oásis até ao Galaxy as ruas estão cheias de lixo e há árvores caídas. Esta parte foi esquecida e é isso que queremos fazer esta semana”, adiantou Cíntia Leite Martins, uma das mentoras do projecto ManaVida, que alia a prática desportiva ao apoio social. Cintia Leite Martins criou um evento nas redes sociais para que, nos próximos dias, mais voluntários se disponibilizem para limpar ruas perto do empreendimento Galaxy, no Cotai, e também no edifício One Oásis. Há também relatos que falam da destruição que persiste no parque de animais de Seac Pai Van. “É triste estar a limpar muitas zonas e chegar a casa e ver tudo ainda num caos”, aponta a fundadora do ManaVida, que reside no One Oasis. Em Coloane os estragos ainda se fazem sentir e há muito por arrumar. Na sua página do Facebook, a pastelaria e padaria Lord Stow’s, famosa pelos pastéis de nata e local habitualmente cheio de turistas, afirma que estará fechada ao público nos próximos dias para reparar os estragos. Sem criticas A destruição trazida por um tufão que foi um dos maiores dos últimos 50 anos obrigou a definir prioridades e urgências e não houve tempo para tudo. “O cenário que se via na vila de coloane era de destruição completa. Havia casas que estavam bem mas outras que ficaram completamente destruídas, em que tivemos de deitar quase tudo fora. O chão estava todo cheio de lama e cimento quebrado, não era agradável de se ver.” Barrias adiantou que, se algumas estruturas ficaram de pé, o mesmo não aconteceu com o recheio das casas. “O nível de perda dos bens pessoais de todos foi enorme. Limpamos casas em que não se salvou absolutamente nada e as pessoas estavam no desespero completo.” Ainda assim, António Barrias acredita que Coloane vai ficar recuperada nos próximos dias, por ser um sítio que atrai muitos turistas. Barrias também não culpa os agentes da protecção civil e os bombeiros pelo atraso porque, no fim de contas, fizeram o que podiam e como podiam. “Sem a ajuda deles havia muita coisa que não conseguíamos fazer”, frisou. “Quando chegamos já lá estavam agentes da policia, do IACM e bombeiros. Eram muitos estragos para o pessoal que Macau tem.” Os voluntários de António Barrias dividiram-se em dois grupos, um de limpeza e outro destinado à entrega de mantimentos em locais como o orfanato localizado em Ka-Hó ou o hospital Kiang Wu, localizado na zona da Taipa Velha. Lai Chi Vun | “Todas as casas estão vazias” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s estaleiros onde outrora residiu uma industria naval já eram frágeis, e a passagem do tufão Hato só veio acentuar ainda mais os estragos. Na pequena povoação à entrada da vila de Coloane há casas que ficaram vazias, sem telhados. David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, recorda que, nos dias a seguir à tragédia, “a maior parte do trabalho foi feito pelos locais e moradores”. “Os agentes da protecção civil estavam lá mas eram apenas uma ou duas pessoas”, disse, defendendo que Coloane “foi uma zona com menor prioridade” junto dos decisores. Na antiga vila de construção naval, ainda há casas bastante destruídas e o apoio financeiro decidido pelo Executivo não se adapta a estas situações extremas, apontou David Marques. “Há muitas casas que ficaram sem telhados. O Governo disse que ia ajudar as pessoas com apoios financeiros, mas o que foi criado foi para empresas e não para este tipo de casas. Perdemos tudo e vamos precisar muito desse dinheiro. Todas as casas estão vazias, sem electrodomésticos. O subsídio foi feito para compensar os estragos em portas e janelas e não para este tipo de problemas”, rematou.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasZombie Tuna, agência de marketing | Uma ajuda aos pequenos negócios O projecto é embrionário e acaba com uma lacuna no mercado: a falta de uma empresa com estratégias de marketing para as Pequenas e Médias Empresas. Tito Rafael está radicado em Macau há pouco tempo e quer trazer criatividade aos pequenos negócios [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á passou por Londres e Pequim, onde trabalhou depois de ter concluído um MBA na Porto Business School, em Portugal. Em Macau há pouco tempo, Tito Rafael quer partilhar a sua experiência no marketing criativo, tendo criado a Zombie Tuna. “Tive sempre a trabalhar na área do marketing nos últimos sete anos”, começou por contar ao HM. “Vim parar a Macau porque a minha esposa veio trabalhar para cá. Depois vi que tinha oportunidade de criar uma coisa nova e fazer algo de raiz.” Nesta fase a Zombie Tuna existe apenas na sua casa e não emprega qualquer pessoa, mas Tito Rafael já tem planos e alguns contactos para começar. “Quis criar uma nova agência mais focada no marketing criativo, de forma a conseguir chegar a clientes mais pequenos e não às grandes empresas de Macau. Há uma oportunidade aqui, sobretudo por ser um meio pequeno, de fazer diferente e promover negócios mais pequenos”, contou ao HM. A ideia é “optimizar os clientes que trabalhem localmente”, num território que, por hábito, costuma procurar estratégias de marketing em Hong Kong. “Apercebo-me de que há uma tendência de olhar sempre para Hong Kong como o sítio de reserva onde se pode ir buscar tudo. Na verdade Macau é auto-suficiente em muitas coisas. Agências de marketing, nos termos do que quero fazer, não existem.” Tito Rafael aponta o foco para clientes com poucos recursos financeiros através de plataformas digitais. “Quero propor uma série de serviços que englobem a definição da estratégia do negócio, passando pelo design e pelas redes sociais. A ideia é vender serviços de consultadoria para promover o negócio nas plataformas digitais, disponibilizar serviços de consultadoria e know-how”, adiantou Tito Rafael. O objectivo é que as PME “tenham a possibilidade de, mesmo com valores baixos, chegar ao mercado e expandi-lo”. “Queremos ajudar as pessoas a desenvolver estratégias locais para o negócio crescer”, acrescentou o marketeer. Obstáculo linguístico A trabalhar sozinho nesta fase, Tito Rafael considera que o chinês é, por enquanto, um entrave na expansão da Zombie Tuna, mas não deverá sê-lo para sempre. “A língua pode ser um entrave, sem dúvida. A ideia é, no futuro, abranger o cantonês. Já estou a trabalhar numa nova versão do site para que seja multilingue. Conforme vou expandindo a empresa espero encontrar uma pessoa, para a área comercial, que seja bilingue e que possa estabelecer os contactos.” Antes de enveredar por esta aventura, Tito Rafael já tinha tido duas experiências de trabalho no território, que o fizeram perceber o funcionamento do mercado. “Fui-me apercebendo de algumas lacunas no mercado. Lacunas que são relativamente fáceis de resolver e foi aí que pensei que poderia fazer qualquer coisa para atingir o objectivo de fazer algo diferente.” A empresa ainda agora começou a criar uma imagem nas redes sociais, e a ideia é ir crescendo com o tempo. “Estamos mesmo numa fase embrionária. Ainda estou a usar a minha casa. Quanto aos clientes estou a estabelecer os primeiros contactos. A ideia está a ser posta em prática e agora é esperar para ver o que podemos fazer pelas pessoas”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemAs soluções para as cheias do Porto Interior que teimam em não sair do papel A zona da Barra, Porto Interior e Praia do Manduco estão habituadas às cheias, mas não teria de ser assim. Falta de vontade política, de soluções integradas a longo prazo e o choque com interesses privados têm impossibilitado uma solução para as inundações crónicas. Além disso, existe uma evidente insuficiência da rede de esgotos assim como a falta espaço no estuário do Rio das Pérolas para a subida da maré [dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]oi tudo empurrado para dentro, tinha em casa água do mar, lodo, lama, esgoto de sanita e os diabos da cidade”, conta António Conceição. O empresário que vive no bairro da Almeida Ribeiro, junto aos tintins, ficou com a casa inundada a partir de dentro. “Aconteceu pela parte de escoamento da canalização, retrete, pia e ralos”. Dejectos que deviam ter uma viagem só de ida, fizeram o retorno pelas canalizações acima das casas da zona do Porto Interior, trazendo, por arrasto, todo o tipo de detritos e águas. “Há uma deficiência muito grande para controlar a subida do nível da água em Macau, mas a inundação da minha casa deveu-se, sobretudo, à insuficiência estrutural da rede de canalização”, explica António Conceição. Este é um problema crónico de certas zonas da cidade, em particular das zonas da Barra, Porto Interior e Patane, que estão sujeitas a estas situações quando se dá a conjugação de factores normais como a subida da maré, chuvadas intensas, ou ocorrência de tufões. Têm-se procurado soluções para resolver do problema da zona ribeirinha, como a criação de uma bacia de retenção temporária e a construção de uma central de bombagem para assegurar a drenagem das águas da chuva, mas os projectos nunca saíram da gaveta. Foram também apresentadas propostas para remendar os problemas, quase simbolicamente, como a construção de muros mais altos junto à margem. Estas são consequências. As causas não se ficam pela normal acção da natureza. Mário Duque, arquitecto, encontra nas várias transformações ao longo do estuário a causa para as constantes subidas dos níveis das águas. Com as contínuas construções de aterros e urbanizações o espaço para a entrada da maré no estuário foi diminuindo. “É um problema conjunto causado por toda a região de Guangdong, relacionado com a necessidade de captar água para consumo em pontos acima do estuário”, explica o arquitecto. Pias e fontes A necessidade de fazer aterros cada vez mais altos também tem consequências ao nível da transferência da vulnerabilidade para os aterros mais antigos e baixos, isto numa cidade com um solo predominantemente impermeável, com um tempo rápido de concentração de água da chuva e sem bacias de retenção. Tudo ingredientes que fomentam as calamidades crónicas que se reflectem na destruição que arruína a vida de quem vive nas zonas baixas. Além da ausência de mecanismos estruturais para lidar com as transformações do estuário do Rio das Pérolas, há outro elemento de “chicoespertice” que origina calamidades domésticas como a que sofreu António Conceição. “Em Macau proliferam ligações de esgoto doméstico ilegal, ou seja, instalações sanitárias improvisadas e ligadas directamente ao esgoto pluvial mais próximo”, elucida Mário Duque. O arquitecto esclarece que esta é uma “situação tipificada como crime contra a saúde pública e ambiente”, mas uma realidade que só é revelada por um cenário de inundação. António Conceição sentiu isso, uma cheia que veio de dentro dos canos e que transformou a sua casa numa piscina com mais de um metro de profundidade. Na altura, o empresário não estava em casa, mas estava um amigo que “pegou nas coisas mais valiosas e conseguiu guarda-las no mezzanine”. Ficou um espólio submerso constituído por centenas de livros, muita informação digital e uma colecção de desenhos feitos ao longo de uma década de trabalho. Além de bens de valor intangível, António Conceição fez um “cálculo redondo das despesas que devem rondar cerca de 85 mil patacas, com muito equipamento à mistura”. Também a casa ficou, naturalmente, inabitável, num estado bastante degradado. O empresário destaca os pobres acabamentos da construção de Macau que potenciou o “impacto brutal na casa”. Ainda assim, António Conceição entende que está longe de ser um caso grave, uma vez que “houve pessoas que passaram perigo de vida e perderam tudo”. Gaveta de projectos O tufão Hato deixou a nu todos estes problemas estruturais que deixam a zona ribeirinha vulnerável à fúria dos elementos. Vítor Chan, porta-voz do Governo, revelou que foram feitos dois estudos para resolver o problema. O primeiro é a criação de uma barreira. O segundo é uma avaliação conjunta com as cidades de Zhuhai e Zhongshan para a criação de um plano integral “que resolva o problema na fonte”, explicou o representante do Executivo. Ambos os estudos foram submetidos ao Conselho de Estado, estando o Governo da RAEM a aguardar resposta. Os trabalhos de avaliação de impacto ambiental e orçamento foram acelerados e vão decorrer ao longo do segundo semestre deste ano, sendo que é expectável que no próximo ano esteja concluída uma versão final do estudo. Esta é uma conversa que se vem repetindo há mais de trinta anos. Miguel Campina, arquitecto que acompanha estudos que intervenham neste domínio desde os anos 1980 não entende “o que se anda a estudar há tanto tempo”. O arquitecto equipara a resolução deste problema à falta de acção para a concretização do plano director. “A única coisa que fizeram, pensando que iam resolver alguma coisa, foi um murozinho para evitar situações mais comuns da maré alta entrar para a zona mais baixa do Porto Interior”, recorda Miguel Campina. O arquitecto considera que esta não chega a ser uma solução. “Não funciona, é como tratar uma doença grave com aspirina, não tem qualquer efeito prático a médio longo prazo”, acrescenta. Miguel Campina vai mais longe e afirma que “aquilo que se tem feito é fingir que se faz alguma coisa, mas na prática é só adiar”. Na década de 1980 houve um projecto para solucionar os problemas de inundações do Porto Interior relacionado com a drenagem da bacia do Rio das Pérolas. “Era preciso criar um sistema de retenção subterrâneo e uma central de bombagem para assegurar que a drenagem da água da chuva pudesse continuar a ocorrer mesmo nas situações de maré alta”, explica o arquitecto. Soluções que tentam resolver o problema resultante da diferença entre os pontos de descarga e o nível da água que fica mais alto. Devido à sobrecarga dos colectores, a água não só fica impedida de sair como, pelo contrário, sai pelos pontos de drenagem das vias circundantes. Tudo trabalhos de grande envergadura do ponto de vista da engenharia, “mas nada que fosse particularmente difícil”. Porém, os projectos esbarraram na falta de vontade política e nos diversos lobbies que controlam a decisão política, de acordo com Miguel Campina “O Governo teria de exercer aquilo que é a sua prerrogativa, mas isso não aconteceu porque nunca há vontade de mexer nos interesses instalados, é preferível manter tudo na mesma”, comenta Miguel Campina. O arquitecto apenas vê uma solução para o problema se esta for lucrativa. “Ficamos à espera que um dia apareça uma situação milagrosa, que se traduz na prática na oportunidade de um negócio”, projecta. Em conferência de imprensa, o porta-voz do Governo pediu compreensão e paciência para a resolução do problema da zona ribeirinha. Vítor Chan enumerou a necessidade de conjugação de trabalhos por parte de vários departamentos e da interligação com os serviços das cidades vizinhas como um factor de complexidade que atrasa os trabalhos. No entanto, a população que vive no Porto Interior espera uma solução para um problema crónico que não tem de resultar nas consequências catastróficas que se verificaram na semana passada e que, por certo, se vão repetir. O arquitecto Miguel Campina, fez parte de uma equipa que elaborou o projecto para tratar desta situação ainda antes da transferência, corria a década de 1980, há mais de trinta anos. Um plano que nunca foi posto em prática, mas que poderia ainda ser aproveitado nos dias de hoje. “Nada é impossível, o contexto alterou-se mas a validade das propostas formuladas mantém-se. Pode-se salvaguardar o essencial da filosofia de intervenção é possível fazer-se qualquer coisa”, considera Miguel Campina. No entanto, o arquitecto alerta que “quanto mais tempo passar, menos coerência final haverá do ponto de vista daquilo que poderia ser alcançado”. Entretanto, a população das zonas ribeirinhas de Macau continuam à espera de uma solução, muitas das vezes com água pela cintura.
Andreia Sofia Silva PolíticaAIPIM “repudia” posição da CAEAL sobre publicação de entrevista [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês (AIPIM) reagiu ontem à tomada de posição da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), que exigiu ao semanário bilingue Plataforma Macau a retirada da entrevista publicada online ao candidato às eleições José Luís Pedruco Achiam. No comunicado, a AIPIM afirma que “repudia esta situação”, pois considera “incompreensível que um conteúdo jornalístico, neste caso uma entrevista, seja equiparado a propaganda”. “Na linha do que foi referido no nosso comunicado, datado de 20 de Abril último, a AIPIM considera que é fundamental que, em todas as ocasiões e períodos, inclusive antes do início da campanha eleitoral, o exercício da liberdade de imprensa e o direito à informação sejam integralmente respeitados, incluindo a realização de entrevistas e cobertura noticiosa de acções envolvendo candidatos, em consonância com o que está consagrado na Lei Básica da RAEM e na Lei de Imprensa”, lê-se ainda. A entrevista foi publicada na edição do Plataforma Macau do passado dia 18 de Agosto. A CAEAL invocou a Lei Eleitoral para a remoção da entrevista no que diz respeito ao período de proibição de propaganda eleitoral, tendo sido referido que “quem não cumprir as instruções incorre no crime de desobediência qualificada”. Linhas “invisíveis” Maria Caetano, coordenadora do semanário, publicou um texto onde denunciou o caso, intitulado “Linhas Invisíveis”. “O conteúdo foi retirado, e as possíveis consequências seriam demasiado gravosas caso este jornal assim não procedesse. O que não significa que se deva permanecer calado ou deixar de contestar a imposição, seriamente ilegítima e limitadora dos direito, dever e liberdade de informar – que, até hoje, se encontram consagrados no ordenamento jurídico de Macau”, escreveu. Maria Caetano defende que a CAEAL, “na sua actuação”, “dispôs um número de linhas invisíveis, que confundem conceitos, atropelam direitos e que impõem o medo pela simples capacidade que este órgão, responsável, tem de determinar arbitrariamente a quem impõe instruções”. “O Plataforma tem vindo semanalmente a entrevistar com equilíbrio cada um dos candidatos às eleições do próximo mês. Fá-lo na expectativa de garantir informação e debate num espaço público e político cada vez mais coarctado, e em vista de eleições que se arriscam a ser as mais desinformadas e anódinas de sempre. Espera poder continuar a fazê-lo”, rematou a coordenadora do jornal.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Ho Iat Seng deixa mensagem para nova legislatura O presidente da Assembleia Legislativa pede que os deputados que vierem a compor a nova legislatura “estabeleçam o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”. No relatório de balanço é dado destaque às alterações feitas ao regimento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] passagem do tufão Hato pelo território adiou o habitual encontro do presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, com os media, mas o relatório de balanço da legislatura que chegou ao fim foi ontem lançado. Nele Ho Iat Seng deixa um apelo aos deputados que venham a compor a próxima legislatura do hemiciclo, que arranca em Outubro, após a realização das legislativas de Setembro. “Desejo que os deputados da nova legislatura prossigam a boa tradição, defendam o cerne da política ‘Um País, Dois Sistemas’ e estabeleçam com firmeza o sentido de missão histórica e de responsabilidade perante a era actual”, escreveu. Ho Iat Seng acrescenta ainda que os novos deputados devem ser “solidários e devotados, desempenhar efectivamente as funções e o papel da AL, servindo de elo entre o passado e o futuro, por forma a construir uma RAEM melhor”. No ano legislativo que findou realizou-se um total de 50 plenários, sendo que a taxa média de assiduidade dos deputados chegou aos 94,73 por cento. Houve um total de 135 reuniões das comissões, com uma taxa de assiduidade dos membros do hemiciclo de 88,48 por cento. Um total de 20 deputados apresentaram, até ao dia 15 de Agosto, 591 interpelações escritas, tendo sido realizadas dez reuniões para debater 72 interpelações orais. Os deputados realizaram, nos seus gabinetes, um total de 285 atendimentos a residentes, tendo chegado, via e-mail ou telefone, um total de 124 opiniões ou pedidos. Mudanças elogiadas Ho Iat Seng fez ainda elogios às alterações que foram levadas a cabo ao Regimento da AL. A medida “melhorou os procedimentos de interpelação oral”, pois “procedeu-se ao agrupamento das interpelações da mesma área e sobre o mesmo assunto, para serem respondidas em conjunto”. “Acredita-se que esta forma inovadora de agrupamento possa ajudar a elevar os efeitos dos trabalhos no âmbito das interpelações da AL e, ao mesmo tempo, demonstrar que existe uma simbiose entre a coordenação e a supervisão exercidas pelo órgão legislativo sobre o órgão executivo, a qual promove uma interacção positiva entre os mesmos”, apontou. O presidente da AL considerou ainda que “face às múltiplas pressões e desafios”, o hemiciclo “realizou ordenadamente os trabalhos e cumpriu escrupulosamente as atribuições legais”. “Com um espírito altamente responsável, concluiu com sucesso a apreciação de todas as iniciativas legislativas, congregando amplamente o consenso e equilibrando os diversos interesses”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufões | Recolhidas cerca de duas mil toneladas de lixo A passagem do tufão Hato obrigou à recolha de cerca de duas mil toneladas de lixo nos últimos dias, e ainda não há uma data certa para que as ruas voltem à normalidade. Existem ainda 25 edifícios sem água potável [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o dia em que o exército chinês regressou ao quartel, depois de três dias intensos de limpeza dos destroços causados pela passagem do tufão Hato, o Governo chamou os jornalistas para fazer o balanço daquela que foi a maior tempestade dos últimos 50 anos e que levou à ocorrência de dez mortes. Fong Vai Seng, do serviço de licenciamento e ambiente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), referiu que, no último fim-de-semana, 1787 toneladas de lixo foram recolhidas das ruas, sendo que só na madrugada de domingo para segunda-feira foram recolhidas 150 toneladas. O trabalho tem vindo a ser feito em parceria com grupos de voluntários e a empresa responsável pela recolha do lixo, sendo que não há, até ao momento, uma data para que as ruas do território voltem a estar limpas como antes. “Temos vindo a melhorar a situação mas ainda há zonas com lixo de grande porte, cremos que ainda vai levar algum tempo até regularizar a situação.” Sobre o fornecimento de água, Susana Wong, directora dos Serviços Marítimos e da Água (DSAMA), garantiu que cinco estações de fornecimento da Ilha Verde estão agora a operar normalmente. A água produzida “é suficiente para abastecer todo o território”, apontou, apesar de ainda existirem “25 edifícios que não têm água abastecida de forma normal”. Susana Wong assegurou ainda que não há qualquer perigo em consumir a água que sai das torneiras. Quanto aos edifícios que possuem tanques de reserva de água, os moradores devem fervê-la um pouco antes do seu consumo, uma vez que esse bem essencial vem indirectamente da rede pública e está armazenado em tanques que podem ter sido danificados. Sem doenças Ung San Hong, do IACM, referiu que já foram detectadas situações em que lojas e supermercados procuram colocar nas prateleiras produtos que estiveram em contacto com água suja, algo que tem vindo a ser controlado. “Temos feito inspecções junto de restaurantes e supermercados. Os alimentos não estão em condições de revenda pelo facto de terem estado em contacto com água suja.” Lam Cheong, representante dos Serviços de Saúde, adiantou ainda que, até ao momento, não foram registados casos de febre da dengue ou outras doenças transmissíveis devido ao lixo acumulado na rua e à falta de água potável. “A Barra e a Ilha Verde são zonas muito afectadas e temos feito o trabalho de erradicação dos mosquitos. Temos enviado um total de 150 trabalhadores e todos os dias temos feito este trabalho”, frisou. Registaram-se apenas alguns casos de gastroenterites no hospital público e no Kiang Wu. Vítor Chan, porta-voz do Governo, adiantou que não há dados sobre os estragos ocorridos nas concessionárias de jogo. O mesmo responsável defendeu que o Governo não deve intervir no dinheiro que, até ao momento, foi doado pelas operadoras, por se tratarem de “iniciativas da sociedade civil”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTufão Hato | O lado político e falhado de uma tempestade Nas redes sociais circularam fotografias de alguns governantes na ajuda à limpeza nas ruas, mas para o politólogo Eric Sautedé o Governo reagiu tarde e falhou por completo na comunicação à população. Apesar das reuniões com a protecção civil, só ontem Chui Sai On foi ver de perto a calamidade que muitos viveram [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oras depois da passagem do tufão Hato pelo território, muitos questionavam a ausência dos secretários e do próprio Chefe do Executivo nas ruas, numa altura em que, sem água ou electricidade, as pessoas se deparavam com as suas casas e lojas viradas do avesso. Circulariam mais tarde fotografias de governantes a ajudar nas acções de limpeza, tal como o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, e Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça. Também Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andou nas ruas. Wong Sio Chak foi, aliás, afectado pelo tufão, tendo ficado sem algumas portas e janelas de casa. O Chefe do Executivo, apesar de ter participado em diversas reuniões com bombeiros e protecção civil, só saiu à rua ontem, tendo visitado a zona da Ponte e Horta e também junto ao templo Hong Kung. Eric Sautedé, politólogo, tece críticas ao comportamento do Executivo na forma como lidou com a catástrofe. Na sua visão, as respostas foram tardias e incompletas. “Se o Chefe do Executivo tivesse ido para as zonas mais prejudicadas teria ajudado. Mas em vez disso foi mais tarde e houve alguns comentários que referiram que ele fez por se manter em segurança. Claro que ter um problema de saúde como a gota faz com que as suas deslocações sejam limitadas, mas ele demonstrou várias vezes uma total falta de empatia.” Eric Sautedé dá vários exemplos, tal como a publicação de um texto inserido na rubrica “Palavras do Chefe do Executivo”, no website do Governo, que “quase roça a caricatura”, sem esquecer a conferência de imprensa na quinta-feira ao final do dia. “A mensagem que foi lida pelo Chefe do Executivo foi um desastre em termos de comunicação política: limitou-se a ler um guião e fez um grande esforço para esconder o embaraço”, apontou. Para Eric Sautedé, a população precisava de dados concretos e de acções, e muita coisa falhou nas primeiras horas. “Houve muitas contradições, previsões (sobretudo no que diz respeito ao número de vítimas), em vez de terem sido providenciadas respostas às verdadeiras preocupações das pessoas, tal como quando é que a água e a electricidade iriam estar novamente disponíveis.” “Pedir desculpas é importante, mas tal foi feito com uma total falta de empatia, que foi assumida e compreendida como existindo uma total incompetência”, acrescentou o professor universitário. Caso único Alexis Tam, que fez por visitar alguns bairros afectados na zona norte e o hospital público, foi o único “capaz de falar para o público sem ler um discurso”. Ainda assim, Eric Sautedé considera que “não foi capaz de dar respostas às pessoas”. “A ajuda providenciada por membros do Governo foi, na maioria, apenas para a fotografia, e esperamos sempre que os líderes liderem, e não que carreguem objectos e limpem as ruas. Alguns tiveram um melhor comportamento do que outros: Lionel Leong chegou tarde, mas foi genuíno, enquanto Sónia Chan apareceu de mocassins brilhantes e parecia constrangida com a situação”, recorda o ex-docente da Universidade de São José. Eric Sautedé não deixou de apontar a presença de alguns deputados nas ruas, sendo que uns “agiram com mais boa-fé do que outros”, dada a aproximação do acto eleitoral de Setembro. “A forma tardia como o Governo reagiu, e de forma inapropriada, são produto de um sistema em que os interesses empresariais prevalecem e a lealdade está acima da competência”, frisou, lembrando a ocorrência de dez mortes. “Era suposto a situação melhorar com o novo Executivo, que tomou posse em Dezembro de 2014, mas, obviamente, falharam na missão e desta vez isso custou vidas humanas”, concluiu ao HM. Porto Interior | Ng Kuok Cheong questiona atrasos nas obras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong interpelou o Governo sobre os efeitos das obras temporárias na zona do Porto Interior para a prevenção das inundações. O objectivo é tentar compreender se o adiamento dos trabalhos de erradicação das inundações na zona está relacionado com as obras do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong recorda que, já em 2014, obteve respostas dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), bem como da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) sobre a prevenção das inundações. À data, a resposta dos SMG previa a conclusão das obras temporárias em 2015, sendo que existiria uma proposta, de médio e longo prazo, para uma reconstrução da zona. Iria ainda ser levada a cabo uma integração com o projecto do metro ligeiro. O deputado deseja saber, portanto, se esse projecto foi adiado por causa dos atrasos ocorridos na primeira fase da obra do metro ligeiro. Ng Kuok Cheong pede ainda uma responsabilização dos funcionários e que se avancem de imediato com os trabalhos de reconstrução. A interpelação faz ainda referência aos dez mortos causados pela passagem do tufão Hato, que fez a maior parte dos estragos nas zonas baixas da península, tal como o Porto Interior e a zona da Barra. Além das vítimas terem morrido por incidentes nas ruas, houve ainda corpos encontrados em parques de estacionamento.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufão Hato | Voluntários ajudaram a limpar as ruas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ssociações e cidadãos arregaçaram as mangas para ajudar a limpar uma cidade que se transformou, sexta-feira e sábado, num sítio nauseabundo. A limpeza era urgente antes da chegada do tufão Pakhar Fosse a recolher lixo ou a distribuir comida e água, centenas de voluntários fizeram “o que podiam e o que não podiam” pelo regresso à normalidade em Macau, após a passagem do tufão Hato. As zonas mais afectadas pelas inundações foram invadidas por verdadeiros ‘exércitos’ empenhados em remover as toneladas de lixo amontoado nas ruas. Tsé Fung foi um dos muitos jovens que trocou o refrescante conforto do ar condicionado de casa pelo intenso calor da rua. Por volta das 16h00 encontrava-se pela Rua dos Ervanários. “A minha casa não foi afectada, mas este é o meu bairro, por isso, tinha de vir ajudar”, disse o estudante de 19 anos à agência Lusa, com a voz abafada pela máscara que usa a cobrir a boca e o nariz, como tantos outros, para não respirar o cheiro nauseabundo, durante uma pausa ao fim de seis horas consecutivas de labuta. Sio, de 37 anos, pôs mãos à obra na véspera. Faz-se o que pode e o que não pode pela terra onde nasceu: “Se vês algo [como isto] tens de reagir”. “Não há recursos humanos suficientes para dar resposta a tudo”, lamentou, enquanto ajeita as luvas de borracha que vão até ao cotovelo. “As pessoas estão simplesmente a seguir os seus instintos porque não esperam – nem podem esperar – nada. Só se valem a si próprias”, sublinhou, antes de voltar a pegar na vassoura. “Um trabalho excepcional” Não muito longe andava Sandra Carrilho, de 45 anos, que também começou na sexta-feira a ajudar a remover o lixo, inserida num grupo que conheceu na véspera nestas andanças. “Hoje há imensa gente na rua”, comparou, antes de fazer um ponto da situação: “Não se podia circular aqui, mas os voluntários limparam isto tudo e no Porto Interior, onde moro, o trabalho também foi excepcional”. “As pessoas têm noção da gravidade, havia comida solta, dispersa na rua, daí o esforço enorme para se recolher todo o lixo até porque pode voltar a haver inundações”, observou. Enquanto filas de dezenas de contentores aguardavam vez para serem ‘tombados’ para o camião do lixo, chegaram “reforços” sob a forma de carrinhas de caixa aberta de particulares e empresas que estacionam ao lado de mobílias e electrodomésticos sem salvação. A onda de voluntariado não se cingiu apenas à recolha de lixo, uma vez que houve também muita gente a distribuir comida e água. Ana Cristina Vilas, por exemplo, além de recolher lixo, foi distribuir água em Coloane na sexta-feira. No sábado, com o apoio de amigas, decidiu ajudar outros e de outra forma: comprou centenas de tecidos da loja onde se costuma abastecer, gastando mais de quatro mil patacas. Isto além de ter lançado antes um apelo pelo Facebook nesse sentido para que “a única loja de tecidos do centro da cidade”, que estava a vender “tudo ao desbarato não feche as portas”. “Esta é a única forma de ajudar os pequenos comerciantes” afectados pelas inundações, sublinhou Ana Cristina Vilas, mostrando os panos húmidos dentro do ‘trolley’ de compras que, quando estiverem secos, vão servir o “Dress a Girl Around the World”, pelo qual é responsável em Macau desde Abril. “São pessoas que conheço há 30 anos”, enfatiza a funcionária pública que, depois da experiência de trabalho que viveu na quinta-feira, o dia a seguir à passagem do tufão Hato, decidiu tirar um dia de férias na sexta-feira. “Não tínhamos água nem ar condicionado. Não tínhamos condições para trabalhar. Chegámos ao mais baixo possível e por isso fui antes ajudar quem precisa”, realçou. Por todo o lado A Associação dos Jovens Macaenses (AJM) também organizou acções de rua. Na sexta-feira, a partir das 18h00, cerca de 70 pessoas ajudaram a limpar a zona adjacente ao Mercado Vermelho. No sábado houve outras tantas na zona da Almeida Ribeiro. Ontem foi dia de “andar a correr de um lado para o outro a distribuir comida aos idosos ou a limpar as ruas”, contou ao HM Guiomar Pedruco, presidente da AJM. “Não houve muita destruição mas houve muito lixo. As pessoas das lojas estavam desesperadas”, recorda Guiomar Pedruco, que tece uma crítica à actuação do Executivo. “Houve gabinetes que não tiveram água e electricidade e o Governo deveria ter reunido esses funcionários públicos para ajudarem a limpar as ruas, em vez de estes ficarem sentados nos seus gabinetes.” Guilherme e Cíntia Leite Martins, criadores do projecto Mana Vida, também organizaram uma acção de limpeza na vila de Coloane, que ficou também bastante afectada.
Andreia Sofia Silva EventosExposição de Vhils em Macau em risco [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma das inúmeras consequências da passagem do tufão Hato por Macau foi a destruição do mural do artista Vhils junto à Escola Portuguesa de Macau. Além disso, a exposição “Destroços”, que o artista, também conhecido como Alexandre Farto, inaugurou nas Oficinas Navais, na Barra, poderá ter ficado seriamente afectada. Um membro da equipa garantiu ao HM que estão a ser apurados os estragos e que “Destroços” deverá mesmo fechar portas. “Posso dizer que foi com grande tristeza que recebemos a notícia do que se passou em Macau. Foi um choque para todos. Estamos neste momento a apurar todos os estragos e possivelmente teremos que encerrar a exposição pois será difícil recuperar a maior parte dos trabalhos.” Aquela que é a primeira exposição de Vhils em Macau foi inaugurada a 31 de Maio, sendo que estaria patente na zona da Barra até 5 de Novembro. No local, Alexandre Farto colocou, além dos trabalhos com pedra trabalhada, instalações de vídeo. À Lusa, o artista disse que o objectivo de “Destroços” era “fazer uma reflexão sobre o meio urbano de Macau e as suas particularidades”. O mural que Vhils fez sobre Camilo Pessanha, exposto nos jardins do consulado-geral de Portugal em Macau, ficou intacto.
Andreia Sofia Silva EventosTufão Hato | Dois residentes criam logótipos solidários Manin Vong é designer e decidiu criar o logótipo “Rezar por Macau” que, horas depois da passagem do tufão Hato, começou a povoar várias fotos de perfis de locais no Facebook. Uma funcionária pública criou outro logótipo em inglês e português [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]êm ambos das cores da bandeira da RAEM e contêm mensagens de esperança para horas que foram bem difíceis. Ainda no rescaldo da passagem dos tufões Hato e Pakhar por Macau, dois residentes criaram dois logótipos que se têm tornado virais na rede social Facebook. São já várias as pessoas que optaram por criar uma foto de perfil com estes logótipos, que dizem “Rezar por Macau” em chinês ou ainda “Que Deus abençoe Macau”. Manin Vong, designer de moda e fotógrafo freelancer, contou ao HM porque decidiu criar esta imagem. “Momentos depois da passagem do tufão, todos nós nos sentimos muito tristes”, referiu. “Sentimos que o Governo não estava a dar o devido apoio à população. Na internet líamos comentários negativos vindos de Hong Kong. Então decidi fazer algo para unir as pessoas em Macau.” O tufão Hato vai ficar para a história como o maior dos últimos 50 anos e esta é talvez a primeira vez que no território se cria este tipo de imagens para as redes sociais. Manin Vong estudou em Taipei, mas hoje vive e trabalha em Macau. Afirma não ter tido propriamente uma inspiração especial para fazer este logótipo. “Na verdade é um símbolo muito simples. Usei a imagem da bandeira e a frase ‘Rezar por Macau’. Decidi usar esta imagem em vez das palavras”, explicou. Na sua visão, o facto de tantas pessoas decidirem ter utilizado o logótipo na sua foto de perfil só mostra que, na hora da tragédia, todos se uniram para ajudar. “Acredito que esta imagem simboliza a esperança que todos têm neste momento”, disse. Críticas ao Executivo O HM falou com Martin Vong quando o Exército de Libertação do Povo Chinês chegava a Macau para ajudar a limpar as ruas. Nessa altura, em muitas das zonas as pessoas limpavam os destroços sozinhas ou com a ajuda da protecção civil. “Esperamos poder recuperar as nossas casas o mais cedo possível, para que Macau possa voltar ao normal”, defendeu o designer, que considera que a resposta dada pelo Executivo demorou a chegar. “O Governo de Macau demorou muito tempo a reagir ao desastre. No dia seguinte à passagem do tufão, os membros do Governo não apareceram. Sabemos que o pessoal da linha da frente, como os polícias e bombeiros têm trabalhado muito, mas infelizmente não vimos de imediato nenhum apoio do Governo”, referiu. Um dia depois desta entrevista, vários membros do Governo, tal como Lionel Leong, secretário para a Economia e Finanças, Alexis Tam, dos Assuntos Sociais e Cultura, ou Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, andaram nas ruas a ajudar nas limpezas, a verificar a acção da protecção civil ou a visitar os doentes no hospital público e os mais necessitados em diversos bairros. Chui Sai On, Chefe do Executivo, visitou a protecção civil horas depois da passagem do tufão Hato, mas só ontem é que se deslocou a algumas zonas do território, tal como a zona da Ponte Horta e Costa. O HM tentou ainda falar com a criadora do logótipo em português e inglês, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeTufão Pakhar: Sinal 3 içado “esta noite ou madrugada”. Sinal 8 amanhã de manhã [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) acabam de informar que o sinal 3 de tempestade tropical deverá ser içado “esta noite ou madrugada”, graças à passagem do tufão Pakhar pelo território. “Espera-se que os ventos se fortaleçam gradualmente já esta noite e amanhã”, aponta a entidade. Amanhã, domingo, durante o período da manhã, “perto do meio-dia”, o tufão aproximar-se-á de Macau “cruzando a cerca de 100 ou 150 quilómetros a sudeste”. Os SMG ponderam ainda içar o sinal 8 amanhã de manhã. “Na altura, será um momento alto do impacto do ciclone tropical para o território. Aguaceiros e ventos vão tornar-se mais frequentes. Desde modo, os SMG não descartam a hipótese de içar o sinal de tempestade tropical 8, amanhã de manhã”, lê-se no comunicado. Mais inundações Os SMG prevêem também a ocorrência de “ligeiras inundações” nas zonas situadas perto do Rio das Pérolas. Hoje as limpezas dos destroços e do lixo continuam para que se possa prevenir a propagação de doenças. O trabalho tem sido feito não só pelo serviço de protecção civil bem como por vários grupos de voluntários. Deverá ser içado o sinal amarelo de “storm surge” “em breve”. “Recomenda-se à população que toma medidas preventivas contra a tempestade tropical e inundação”, alertam os SMG. Por volta das 14h00 a tempestade tropical estava localizada a cerca de 720 quilómetros de Macau, à medida que se movimenta em direcção à costa oeste da província de Guangdong.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemPorto Interior e Barra | Comerciantes com perdas de milhões e sem informações Caminhar a partir da Rua dos Mercadores, no Porto Interior, até à zona da Barra é tropeçar em lixo e coisas que a água e o vento desarrumaram e destruíram. Muitos deles exigiram a presença de membros do Governo no local e questionaram a ausência do estado de calamidade [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pés, enfiados em chinelas, chapinham na lama que se formou de uma tempestade que ainda não se compreendeu de onde veio, mas que todos já sabem o que deixou. Os rostos são tristes com uns sorriso pelo meio porque, no fim de contas, o Porto Interior inunda todos os anos, porque todos os anos há um ou outro tufão. Há um estranho hábito de lavar e arrumar impregnado na pele de quem vive junto ao rio das pérolas. Com o tufão Hato tudo foi diferente, e agora olha-se para o futuro com mais matemática na cabeça. Há quem tenha perdido milhões de patacas em negócios acabados de criar, há outros a quem só resta limpar o lixo que ficou na loja de uma vida, porque não há outra hipótese de sobrevivência. Depois da tempestade, o senhor Lau limpa o seu espacinho de venda de carnes secas que fica mesmo ali na esquina da Rua dos Mercadores. A ajudá-lo está a mulher, enquanto vários comerciantes como ele vêm falar-lhe das últimas. Aquele que ficou com a água até ao pescoço porque foi salvar o arroz que tinha no armazém, o outro que ficou preso no parque de estacionamento. Sofia Margarida Mota O senhor Lau aponta para um pedaço de espelho e assegura: “a água chegou até aqui!”. “As pessoas não tinham tempo de fugir. Foi muito grave este tufão, todos ficaram com muitos prejuízos e ainda não sei quanto me vai custar tudo isto”, contou ao HM. “O maior problema foi a água da chuva, que subiu repentinamente”, disse ainda, apontando o dedo ao Executivo. “O Governo precisa de melhorar o sistema contra inundações aqui na zona.” Na Rua dos Mercadores cada um está por si. Todos os que ali moram ou trabalham se entre ajudam, mas não se vê nenhum membro das forças de protecção civil a dar uma ajuda nas limpezas. Há quem não queira contar a sua história da tempestade porque “não tem tempo”. Ali ao lado, no Louceiro Foc Iu Cheong, limpam-se os estragos ao mesmo tempo que se aproveita para ir vendendo umas coisas. O negócio existe há largas décadas e agora o senhor Foc, com mais de 80 anos, nem sequer sabe que contas fazer à vida. Ainda assim, defende que o Governo não tem culpa. “Isto não tem nada a ver com o Governo, tudo aconteceu devido à natureza. Nunca aconteceu isto em Macau.” Naquela manhã, o senhor Foc ainda não tinha água na loja, nem luz. “Não consigo estimar os prejuízos e não sei se o Governo vai dar apoio.” O Executivo já anunciou apoios às pequenas e médias empresas, através da concessão de empréstimos sem juros acima das 600 mil patacas. Esta foi uma das primeiras medidas decretadas nas primeiras horas após a tragédia que já vitimou oito pessoas. No rescaldo dos acontecimentos, são ainda poucos os que têm conhecimento. Becos da balbúrdia Se entrarmos pelos becos adentro, o caos começa a adensar-se. Há papéis e coisas espalhadas, cheiros que se misturam, objectos amontoados em cima da lama. Os moradores da zona, sobretudo idosos, lavam as sapatilhas com água roubada das bocas de incêndio porque não há mais nada. Uns metros mais à frente, o senhor Cheong Kuok Veng, alfarrabista, assume: “nunca vi nada assim”. Lá dentro amontoam-se livros em chinês, mas muitos deles vão para o lixo. “Vamos continuar com a loja porque temos de sobreviver, não somos funcionários públicos”, ironiza, chamando a atenção para o facto do dia ter acordado como se nada tivesse acontecido. “O Governo deveria ter declarado estado de calamidade. Tive água até ao peito nesta zona, e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) deveriam ter içado o sinal 8 mais cedo, fizeram uma previsão muito incorrecta. Vamos levar uma semana até termos tudo arranjado”, disse. Sofia Margarida Mota Pela Rua do Pagode abaixo, comenta-se a mesma história que tem vindo a partilhar-se nas redes sociais. Uma família cujos filhos morreram porque quiseram salvar os bens e acabaram sugados pela água. Chao, que vende velharias na Rua das Estalagens, atira ao chão um monte de livros molhados, cujo destino é o lixo. O nível da água chegou até ao peito naquele pedaço de loja minúsculo. “Devo ter aqui cerca de 100 mil patacas de prejuízo, mas ainda não fiz bem as contas. Ainda não sei como é que vai ser o apoio do Governo, mas de certeza que vai ajudar alguma coisa.” Por ali vende-se roupa molhada por todo o lado e há calças de ganga de lojas penduradas para quem as quiser comprar. O número 80 da Rua das Estalagens, onde Sun Yat-Sen morou e instalou uma farmácia, parece ter ficado intacto, ainda que com uma ligeira inundação. Danos na Portuguese Street Pedro Esteves abriu há poucos meses o espaço “Food Truck”, junto à chamada rua portuguesa, que trouxe para Macau a bifana tipicamente portuguesa. Agora o cenário é de vazio e destruição. “Quando aluguei isto perguntei se a água chegava aqui. Não sou novo em Macau e sei como são as coisas. Mas hoje, logo ali a partir da zona do Mercado de São domingos percebi logo. Fiz amizades com os chineses aqui da rua e só olhávamos uns para os outros. Toda a gente ficou prejudicada.” Pedro Esteves estima ter perdido cerca de 250 mil patacas com os danos causados pelo tufão Hato. “Perdi tudo e não imaginava como isto ia estar. Quando cheguei aqui encontrei o caos. Não conseguia abrir a porta sequer. Estava tudo no chão.” O proprietário do espaço Food Truck lembra, contudo, que o espírito de entreajuda se fortaleceu com a tragédia. “O tufão fez com que as pessoas tenham ficado mais próximas umas das outras. Estamos a ajudar-nos.” Pela rua adentro, o cenário é semelhante. Onde antes estava água há agora um rasto de destruição. Todos os produtos das lojas estão amontoados cá fora. Limpa-se o que ficou, tenta-se encontrar um rumo. Restaurantes destruídos Na zona da Barra o trânsito é quase normal, não fossem as paragens de autocarro estarem cheias de objectos caídos e árvores que roubam os passeios às pessoas. Não há um pedaço de rua que não tenha lixo ou água suja. Há caixas com garrafas espalhadas, usam-se mangueiras para apagar a destruição, enquanto várias pessoas almoçam onde podem. António Rodrigues, alentejano, há 35 anos em Macau, nunca viu nada assim e está tão desesperado que assegura: “se tivesse aqui um fósforo pegava fogo a isto e quem viesse a seguir fazia tudo de novo, para não se aproveitarem do que fizemos aqui”. A Casa do Porco Preto foi um dos novos restaurantes que abriu na zona da Barra, bem perto do templo de A-Má, e nada restou. A água subiu muito e destruiu o negócio de uma vida. António Rodrigues mostra-nos os seis lugares que lhe pertencem e que ficaram destruídos: o restaurante, a futura padaria, os armazéns e a carrinha que faz o abastecimento dos produtos que importa do Alentejo para Oriente. No total, estão ali mais de dois milhões de patacas perdidos. “É pena que em vez de virem aqui vocês, jornalistas, não venham representantes do Governo para ver como isto está. Estão fechados nos seus gabinetes. Tudo isto aconteceu porque há um problema com a drenagem das águas e não resolveram ainda”, disse. No chão pousam enchidos e queijos prontos a ir para o lixo, dezenas de garrafas de vinho molhadas pela água, frigoríficos que já não funcionam, papéis com dívidas acumuladas molhados. “Pergunta-me porque é que estamos aqui. Este é o sítio mais baratinho, os contentores chegam aqui é mais fácil fazer o desembarque”, explica. Fornecimento atrasado Os armazéns da empresa de António Rodrigues ficam ao lado dos armazéns da Nam Kwong, responsável pela distribuição dos supermercados e mercados do território. À hora em que o HM visita o local, não há luz e ainda se arrasta a água com vassouras. Há caixotes por todo o lado com garrafas de refrigerantes que estão por chegar às prateleiras. Ninguém consegue estimar quando é que o fornecimento regressará ao normal. Questionado sobre o apoio que o Governo quer conceder às PME, António Rodrigues lança mais críticas. “O apoio que deviam dar era virem aqui. Vão conceder empréstimos sem juros? Com tanto dinheiro deveriam dar, já que dão a universidades chinesas que ninguém conhece”, defende. Para o empresário, “o senhor Fung Soi Kun (director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos) deveria demitir-se e não esperar para ser exonerado. O secretário Raimundo do Rosário também, porque já foi director das Obras Públicas e sabe muito bem que havia estudos para esta zona”. António Rodrigues critica também o facto do Executivo não ter decretado estado de calamidade. “Neste momento não há condições para Macau ter uma vida normal. Está tudo cheio de lixo, deveriam ser garantidos apenas os serviços mínimos.” Lorcha sem luz À porta do restaurante A Lorcha, do macaense Adriano Neves, há cadeiras espalhadas por todo o lado e empregados a comer Mcdonalds porque, lá dentro, o cenário é de escuridão. “Tudo o que conseguimos ver está aqui fora. Do resto ainda não sabemos porque não temos luz. Tudo o que estava dentro do frigorifico foi para o lixo. Não consigo fazer uma previsão. Só sei mais coisas quando me derem água e luz.” Adriano Neves também não compreende porque é que, até aquela hora, nenhuma autoridade se dirigiu à Barra para ver de perto os estragos. “Já passei por muitos tufões, mas este assim, tão violento, é o primeiro. O Governo devia vir ver in loco e não olhar para as notícias. Não vi aqui ninguém, nem um polícia apareceu aqui.”
Andreia Sofia Silva SociedadeCasinos | Sinal 8 de tufão foi içado tarde demais, diz Cloee Chao [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]avia suspeitas, mas a verdade é que os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) só decretaram o sinal 8 de tempestade tropical às 9h00 de quarta-feira, o que fez com que muitos trabalhadores do jogo se apresentassem ao serviço. É esta a ideia de Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo. Ao HM, a responsável considera que o Governo reagiu de forma errada em resposta aos danos causados pelo tufão Hato, tendo adiantado que este não é caso único. “O sinal 8 não é içado com base na realidade e na necessidade. Em vez disso, é içado segundo um tempo bem organizado em prol dos benefícios das operadoras de jogo”, defendeu Cloee Chao. Cloee Chao aproveitou ainda para divulgar a carta que enviou ontem à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), onde se manifestou contra as regras adoptadas pelas operadoras de jogo em períodos de tufões. “Toda a gente sabia o que ia acontecer na quarta-feira, mas as operadoras de jogo alertaram os trabalhadores de que, caso não viessem trabalhar, iriam tratar o caso como se fosse uma falta ou dia de férias sem remuneração”, apontou. Casinos reagem Entretanto, as operadoras de jogo MGM e Melco Crown já reagiram ao tufão Hato que levou ao inédito encerramento dos casinos. “As operações no Cotai continuam a decorrer normalmente”, aponta a Melco Crown, que lembra as dificuldades de acesso ao local de trabalho na manhã de quarta-feira. “Compreendemos que os nossos empregados passaram por dificuldades para chegar ao trabalho devido aos impactos do tufão. Para mostrarmos o nosso apoio, vamos ser flexíveis nos horários de entrada nos próximos dias.” Também a MGM afirma ter vindo a trabalhar com o Executivo para “restaurar as operações e proteger os nossos trabalhadores e hóspedes”. “Registamos alguns danos no edifício de pequena dimensão, mas acreditamos que não vai ter qualquer impacto no nosso regresso às operações”, apontou ainda a operadora. Entretanto, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) disse estar “a prestar estreito acompanhamento sobre os assuntos de indemnizações [a trabalhadores], tendo mantido contactos com a Associação de Seguradoras de Macau”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeHong Kong | Associação alerta para quebra na liberdade de imprensa O relatório da Associação de Jornalistas de Hong Kong alerta para uma redução da liberdade de expressão e de imprensa na região vizinha, com o surgimento de novos media online com mais independência. José Carlos Matias, da AIPIM, diz que Macau tem diferentes especificidades [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hama-se “Dois sistemas sob cerco – Pequim com maior controlo sobre os media de Hong Kong” e é o mais recente relatório da Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA, na sigla inglesa) relativo a este ano. As conclusões são demolidoras, com a associação a considerar que “nos últimos 20 anos tem-se registado uma regressão na liberdade de expressão em geral e na liberdade de imprensa mais em particular, apesar das tentativas dos trabalhadores dos meios de comunicação social de lutarem contra esta tendência”. Alertando que esta situação “tem sido exposta em diversos relatórios publicados por observatórios de media”. Na visão da HKJA, “não há dúvidas de que a pressão de Pequim é a principal razão para a erosão da liberdade de imprensa”. “O aumento da pressão é reflexo da mudança da política de Pequim face a Hong Kong nos últimos anos e o facto das tensões entre os dois sistemas terem aumentado”, lê-se ainda. Dados citados no relatório mostram que “oito dos 26 meios de comunicação social estão sob controlo da China ou têm accionistas chineses”. Além disso, “a situação de auto-censura tem vindo a piorar”. Um inquérito realizado pela HKJA, em parceria com a Universidade de Hong Kong, revela que 30 por cento dos jornalistas correspondentes fazem auto-censura. “Um nível semelhante foi revelado em 2006 com um questionário realizado também pela associação, mas é, contudo, uma tendência preocupante”, lê-se no documento. Outros dados mostram que “72 por cento dos jornalistas que responderam ao questionário afirmam que a liberdade de imprensa tem-se deteriorado no último ano, tendo apontado o caso do desaparecimento dos cinco livreiros, no final de 2015, como a maior preocupação”. Diferenças de cá Contactado pelo HM, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês (AIPIM) lembrou que Hong Kong “tem especificidades advindas da situação política e social que não são exactamente as mesmas de Macau”. “Haverá alguns problemas que são semelhantes e outros que são diferentes relativamente aos obstáculos do trabalho do dia-a-dia”, apontou ainda José Carlos Matias, que defendeu que a dificuldade de acesso às fontes seja um dos problemas mais sentidos. “Naturalmente que o acesso às fontes é um factor que condiciona tudo o que podia ser um exercício mais robusto do jornalismo e da liberdade de imprensa”, disse. O presidente da AIPIM referiu que “muito em breve” será tornado público o relatório sobre o inquérito efectuado pela associação a cerca de 40 jornalistas e que poderá “tornar mais clara a situação” dos media locais. Batalhas online O relatório da HKJA dá ainda conta do surgimento de vários meios de comunicação social nas plataformas online como forma de resposta ao aumento dos constrangimentos nos media tradicionais. Estes “têm surgido como cogumelos” mas enfrentam “duas batalhas”: a “pressão financeira e a política do Governo”, uma vez que não têm o reconhecimento oficial que os outros media têm, nem têm o mesmo acesso à informação, denota o relatório. Também em Macau a situação é bem diferente, pois o surgimento de websites informativos está numa fase embrionária, notou José Carlos Matias. “Aqui ainda existe um modelo um pouco tradicional. Sei que em chinês estão a surgir alguns sites informativos online que começam a ter alguma expressão. Temos alguns meios de audiovisual ou imprensa escrita, e ainda não estamos ao nível de outros territórios e jurisdições. Não existe ainda um enquadramento formal para os meios que funcionam estritamente online”, concluiu. Para a HKJA, o Governo liderado por Carrie Lam deve reconhecer que “os meios de comunicação online fazem um trabalho jornalístico legítimo e que têm igual acesso às instalações governativas e à informação que é transmitida à imprensa”. Pede-se ainda que o Governo de Hong Kong adopte “uma forma mais aberta de lidar com os meios de comunicação social”, pois, nos últimos anos, “tem realizado poucas conferências de imprensa para anunciar grandes políticas”.
Andreia Sofia Silva SociedadePlaneamento Urbanístico | Deputado quer discussão sobre novo posto de gasolina O deputado Leong Veng Chai não está satisfeito com a construção do posto de abastecimento de gasolina à entrada da Taipa e pede que haja uma discussão no seio do Conselho do Planeamento Urbanístico [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] construção de uma nova bomba de gasolina na estrada Almirante Marques Esparteiro, à entrada da Taipa, continua a não gerar consenso. Depois de vários protestos de residentes, o Governo decidiu mesmo dar o aval ao projecto, mas o deputado Leong Veng Chai considera que o projecto deveria ser alvo de debate por parte dos membros do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU). “O Governo vai ponderar a inclusão dos referidos projectos na lei do planeamento urbanístico e o estabelecimento de regras para que esses projectos possam ser discutidos no CPU e permitir uma maior participação da população?”, questionou em interpelação escrita. Na visão do deputado à Assembleia Legislativa, o debate sobre este assunto é importante porque “em Macau os terrenos são poucos e os habitantes são muitos”, sendo que alguns projectos, “como os postos de gasolina ou as estações de tratamento de águas residuais têm de ficar afastados de zonas residenciais”. Leong Veng Chai considera ainda que é importante tornar público o relatório de impacto ambiental relativo ao projecto de construção. Em Janeiro deste ano, foi notícia um aviso do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) quanto à aprovação das obras. Protestos ignorados Na sua interpelação escrita, o deputado lembra a contestação social que houve nos últimos anos sobre a construção de uma nova bomba de gasolina numa zona residencial. “Em Junho de 2014 o Governo, sem qualquer consulta pública, autorizou a Caltex Oil Macau a construir um posto de abastecimento de gasolina num local de lazer (além de ser uma zona residencial, existe nas imediações um hotel e zonas pedonais).” Além disso, “o referido lote de terreno fica muito perto de uma zona de queima de panchões, que é aberta durante o ano novo lunar”. Portanto, “se o fumo e as chamas chegarem ao posto, as consequências podem ser desastrosas”. A obra chegou a ser suspensa, tendo sido autorizada sem que tenha existido um anúncio oficial sobre o assunto. “Em Junho de 2014 as obras de construção do referido posto de gasolina pararam devido à grande oposição de alguns deputados e moradores da zona. Depois disso o local de lazer não voltou a ser aberto para a utilização dos moradores”, lembrou Leong Veng Chai. As obras decorrem agora a bom ritmo e, segundo anunciou o IACM em Janeiro, exigiram a queda de algumas árvores para a construção do edifício.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasIn Portuguese Food, restaurante | Mostrar as origens Aberto há quatro anos, o restaurante In Portuguese Food mudou a oferta de pratos e contratou, há um ano, um novo chefe de cozinha. Herlânder Fernandes garante que quem janta e almoça no restaurante pode agora experimentar pratos portugueses ainda mais tradicionais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] pão que é servido à mesa não é congelado e sai directamente do forno do restaurante. As sobremesas são feitas por quem ali trabalha e o objectivo diário é servir pratos que se poderiam comer em Portugal, sem que se notem os muitos quilómetros que separam o país de Macau. É esta a promessa do In Portuguese Food, um restaurante de comida portuguesa localizado na Taipa que mudou de chefe de cozinha há um ano. Ao HM, Herlânder Fernandes explicou como se processou esta mudança, visível até no próprio menu. “Há cerca de um ano vim trabalhar para aqui e mudámos um pouco o restaurante. Neste momento estamos a fazer a verdadeira comida portuguesa, mais tradicional”, apontou o chefe de cozinha, que lembrou mesmo a importância do nome do espaço. “O restaurante chama-se ‘In Portuguese’ e, como tal, deve ser comida tradicional. Não tem lógica servir comida portuguesa que fuja às suas raízes.” Herlânder Fernandes garantiu que não há uma intenção de desenvolver novos projectos nos próximos meses. “Para já não temos intenção de inovar pois mudámos o menu recentemente, há cerca de quatro ou cinco meses. Estamos a tentar manter o que estamos a construir”, apontou. Com pratos bem conhecidos do público, o “In Portuguese Food” tem apenas uma receita de bacalhau de assinatura que, no entanto, vai buscar influência ao que já se faz em Portugal. “Trabalhamos com um pouco de tudo. Temos o polvo à lagareiro, o arroz de marisco, temos também os pasteis de bacalhau, que são feitos aqui, tal como as queijadas de leite ou as amêijoas à bulhão pato”, explicou. Herlânder Fernandes garante que os clientes têm mostrado o seu agrado, não só pessoalmente como também nas redes sociais. “Temos tido um feedback positivo, as pessoas têm gostado de tudo. Tem sido muito bom.” Desafios da mudança Num território onde existem vários restaurantes portugueses, com mais ou menos anos de existência, há ainda espaço para a abertura de novos espaços. “Há condições para continuar, porque apesar de haver muita oferta não deixa de existir muita procura”, defendeu Herlânder Fernandes, que antes de passar pelo “In Portuguese Food” esteve ainda num outro restaurante português. Habituado a cozinhar com colegas portugueses, Herlânder Fernandes teve de passar por um processo de adaptação, pois muitos dos seus colegas são filipinos. “No inicio não foi fácil e tem de se ensinar tudo, mas a partir do momento em que aprendem…temos de perder algum tempo e ser persistente.” No “In Portuguese Food” o desafio foi “encontrar os produtos adequados a estes pratos”. “Tive de adaptar o sal para não deixa a comida demasiado salgada para o gosto asiático. A partir do momento em que as coisas ganham um padrão é fácil trabalhar.” Apesar dos desafios, o chefe de cozinha garante que o trabalho no território tem sido enriquecedor. “Estou em Macau há dois anos e a experiência tem sido enriquecedora. É bom estar a mostrar a nossa comida a pessoas que não estão habituadas a comê-la e ter de adaptar a comida ao paladar de quem está a comer. Os chineses não têm tanta tolerância ao açúcar e sal.” Não à inovação Herlânder Fernandes tem uma visão mais tradicional daquilo que deve ser a oferta de gastronomia portuguesa em Macau. Esta deve ser o mais fiel possível às origens, porque “não estamos num sítio onde se possa inovar muito”. “Estamos fora do nosso país. Com a comida portuguesa podemos fazer coisas diferentes, mas nós aqui temos de mostrar a essência da comida portuguesa. Se inovarmos não estamos a mostrar isso, estamos a fazer uma desconstrução e a dar o nosso toque. E não é isso que nos compete.” Para o chefe de cozinha, “não tem lógica ter um restaurante português que vá servir comida diferente. O português vem aqui comer e procura recordações, procura um bacalhau como comia em casa. É isso que faz um restaurante ter sucesso”, rematou.
Andreia Sofia Silva PolíticaEleições | Novo Macau protesta contra notícia do jornal Ou Mun Paul Chan Wai Chi esteve ontem junto ao edifício do jornal Ou Mun para protestar contra o que considera ser uma notícia com um falso conteúdo sobre a participação nas eleições legislativas, afastando a ligação a Au Kam San e Ng Kuok Cheong [dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap]s três listas de candidaturas vão enfrentar a influência da partilha da fonte de votos e conflitos internos.” É esta a frase da notícia do jornal Ou Mun, publicada na edição de ontem, que enfureceu os candidatos da lista Novo Progresso de Macau, às eleições legislativas deste ano. A lista tem ligações à Associação Novo Macau (ANM). Ontem Paul Chan Wai Chi e outro membro da associação deslocaram-se ao edifício que serve de redacção ao jornal de língua chinesa para protestar contra uma notícia que consideram ser falsa. Foi exigido à direcção do diário a correcção do artigo e a sua publicação com igual destaque ao que foi dado na edição de ontem. Chan Wai Chi quer ainda que o jornal “publique notícias relacionadas com as eleições de forma mais rigorosa e verdadeira”. A ANM referiu ainda que os impactos causados pela notícia são “inestimáveis”, pois “é o jornal mais lido pelos residentes”. O texto do jornal Ou Mun descreveu que a ANM sempre participou nas eleições dos últimos anos com duas ou mais listas separadas, sendo que, este ano, além da lista Novo Progresso de Macau, há ainda mais duas (uma referência às listas encabeçadas por Au Kam San e Ng Kuok Cheong). Paul Chan Wai Chi, vice-presidente da ANM, quis deixar bem claro que este ano só há uma lista da Novo Macau a participar no acto eleitoral de Setembro. “Uma vez que há uma grande concorrência nas eleições deste ano, quaisquer divergências e notícias falsas podem levar a injustiças para com os grupos de candidatura. Por isso, exigimos que o jornal Ou Mun, em cumprimento da lei de imprensa, faça um esclarecimento e uma correcção”, apontou Chan Wai Chi. Para Chan Wai Chi, que foi deputado à Assembleia Legislativa até 2013, ano em que não conseguiu ser eleito, o objectivo do protesto visa assegurar que o público conhece a verdade, além de garantir a justiça e a imparcialidade nas eleições deste ano. Separação total Aos jornalistas, Paul Chan Wai Chi explicou que, apesar de Au Kam San e Ng Kuok Cheong terem sido candidatos em representação da ANM em 2013, Au Kam San acabaria por se desvincular da associação o ano passado. Já Ng Kuok Cheong, apesar de continuar a ser um membro da ANM, anunciou que se candidata novamente a um cargo de deputado numa lista à parte. Por isso, na visão de Paul Chan Wai Chi, os dois nomes não têm qualquer ligação à ANM no próximo acto eleitoral. Em 2013, a Associação do Próspero Macau Democrático foi encabeçada por Ng Kuok Cheong, que se candidatou ao lado de Paul Chan Wai Chi. Já a lista da Associação Novo Macau Democrático foi liderada por Au Kam San, que concorreu ao lado de Sou Ka Hou. Jason Chao, que abandonou recentemente a liderança da ANM, concorreu ao lado de Scott Chiang, actual presidente, na lista intitulada Liberais da Novo Macau. Meses depois do acto eleitoral de 2013, que colocou de novo Au Kam San e Ng Kuok Cheong na bancada do hemiciclo, estes anunciaram a separação dos escritórios face à ANM, tendo criado uma nova associação, Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau. Au Kam San deixou mesmo de ser membro da ANM. Ao HM, Scott Chiang disse ainda que a ideia é garantir que as pessoas não têm acesso a falsas informações. “Estamos numa situação em que um órgão de comunicação publica uma notícia com um falso conteúdo e quem é prejudicado somos nós, a ANM. Exigimos por isso uma rectificação com destaque igual ou maior ao que foi dado. Quem leu fica com a impressão de que a ANM participa nas eleições com três listas, o que não é verdade, tem apenas uma”, adiantou. Sobre o facto do Ou Mun ter escrito que existem conflitos internos, e quanto à possibilidade de partilha de fontes de votos, Scott Chiang limitou-se a dizer que se trata de uma “questão antiga”. “Vamos ver o que acontece”, concluiu.
Andreia Sofia Silva SociedadeSaúde | Governo promete mais apoio a doentes terminais [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde (SS), garantiu, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Zheng Anting, que os doentes de cancro, em fase terminal, terão acesso a uma maior oferta de cuidados paliativos. “Futuramente os SS irão estar atentos à situação da utilização dos serviços de tratamento de alivio e planeiam o aumento de camas para cuidados paliativos ou o aumento de enfermarias para doentes em fase terminal, em diversas especialidades, com vista a responder à procura de tratamento de cancro e de serviços na fase terminal pela sociedade”, lê-se na resposta. Além do sector privado, encontra-se em funcionamento o centro paliativo Hong Neng, que abriu portas em 2000 e que, o ano passado, contava com uma taxa de ocupação na ordem dos 84,3 por cento, com um total de 55 camas. A partir de 2006, “os SS começaram a subsidiar entidades privadas para a criação de centros de recuperação que recebam doentes”. Lei Chin Ion disse ainda que a formação de pessoal médico e de enfermaria é outro dos objectivos para os próximos anos. “O Governo irá, face à procura de serviços de tratamento de alívio, reforçar de forma continuada a devida formação de pessoal, efectuando atempadamente a revisão e o aperfeiçoamento e proporcionar serviços atempados e apoio a doentes em fase terminal e à respectiva família.” Economia | Taxa de inflação situada nos 1,18 por cento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] taxa de inflação em Macau fixou-se em 1,18 por cento nos 12 meses terminados em Julho em relação aos 12 meses imediatamente anteriores, indicam dados oficiais ontem divulgados. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), o Índice de Preços no Consumidor (IPC) aumentou sobretudo devido a subidas nos índices de preços das secções da educação (+7,53 por cento), bebidas alcoólicas e tabaco (+5,94 por cento) e transportes (+5,37 por cento). Só em Julho, o IPC geral, que permite conhecer a influência da variação de preços na generalidade das famílias de Macau, cresceu 1,03 por cento em termos anuais. Tal deveu-se principalmente ao aumento dos preços das refeições adquiridas fora de casa, das consultas externas, do calçado e das propinas escolares, indicou a DSEC. Em relação a Junho, o IPC geral sofreu um crescimento ligeiro de 0,02 por cento. Em 2016, a taxa de inflação de Macau foi de 2,37 por cento, a mais baixa desde 2009, ano em que se fixou em 1,17 por cento. Segundo as mais recentes projecções do Fundo Monetário Internacional (FMI), a taxa de inflação de Macau deve fixar-se em 2 por cento este ano, em 2,2 por cento no próximo e em 3 por cento em 2022.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteHong Kong | Prisão de activistas gera novo protesto e criticas de ONG [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] prisão dos activistas Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow levou ontem cerca de dez mil pessoas às ruas de Hong Kong. Em Macau, Larry So diz que a pena foi demasiado pesada e que bastava uma condenação a trabalho comunitário. Scott Chiang, líder da Associação Novo Macau, defende que os activistas não podem perder a esperança. Os olhos do mundo estão de novo postos em Hong Kong após o Tribunal de Recurso da região vizinha ter condenado os activistas Joshua Wong (20 anos) a seis meses de prisão, Nathan Law (24 anos) a oito meses, e Alex Chow (26 anos) a sete meses. A condenação surgiu na sequência do pedido de agravamento das sentenças pelo Governo, já depois de, no ano passado, os activistas, ligados ao partido Demosisto, terem sido condenados a trabalho comunitário. Um painel de três juízes decidiu na quinta-feira agravar as sentenças conforme pedido de recurso pelo secretário para a Justiça, Rimsky Yuen. A decisão substitui as sentenças decretadas o ano passado, de 80 e 120 horas de serviço comunitário, para Joshua Wong e Nathan Law, e pena suspensa de três semanas de prisão para o ex-dirigente da federação de estudantes Alex Chow. Os juízes disseram que era preciso dissuadir outros manifestantes de tais actos e condenaram à prisão os três jovens, depois de deduções de um mês nas sentenças de Wong e Law por serviço comunitário já cumprido. Entretanto, os três activistas vão recorrer da sentença, disse um líder estudantil dos protestos de 2014. As acusações de pressão política e tentativa de silenciamento dos movimentos pró-democracia na região vizinha surgiram de imediato. Ontem, segundo o órgão de media Hong Kong Free Press, cerca de dez mil pessoas terão estado na zona de Wanchai a protestar na intitulada “Marcha contra a Perseguição Política”. Segundo a reportagem em directo, transmitida nas redes sociais, membros do partido pró-democracia People Power lembraram que os três activistas presos têm menos de 30 anos e que, por isso, podem continuar a luta pela democracia quando saírem da prisão. “É o seu futuro”, disse um dos membros do partido. Raymond Chan Chi-chen, deputado do Conselho Legislativo (LegCo) pelo People Power, defendeu ao mesmo órgão de comunicação que a decisão do tribunal não passa de uma perseguição política e que os grupos que lutam por um sistema político mais democrático “sofrem pressões neste momento”. Raymond Chan Chi-chen teceu ainda duras criticas ao posicionamento do secretário Rimsky Yuen em todo o processo. Pena excessiva Em Macau também se fala de uma tentativa de silenciamento e diminuição do poder que os movimentos pró-democracia têm obtido nos últimos anos. Ao HM, Larry So, politólogo, considerou que a pena decidida pelo tribunal foi “demasiado pesada”. “Seria suficiente aplicar-lhes uma pena de trabalho comunitário e não uma pena de prisão. É uma decisão com uma maior orientação política do que propriamente legal. Desse ponto de vista, penso que há uma tentativa de suprimir os jovens de virem à rua e protestarem contra o Governo”, apontou. Na visão do ex-docente do Instituto Politécnico de Macau, a decisão do Tribunal de Recurso “não é uma boa medida e é uma tentativa de silenciamento”. “É uma pena que o tribunal de Hong Kong tenha sentenciado estes jovens a penas de prisão”, acrescentou. No protesto de ontem em Wanchai questionou-se a continuação do trabalho do partido Demosisto, agora que os seus principais líderes estão atrás das grades. Para Larry So, pode de facto haver um retrocesso nos movimentos pró-democracia. “A curto prazo podemos sentir um efeito nesse sentido (uma redução dos protestos nas ruas), porque é um sinal claro junto da comunidade e uma tentativa de travar um pouco os jovens. É uma decisão que diz ‘Não tomem decisões radicais e não vão para a rua, pois podem ser presos’.” Em Macau, cujos movimentos pró-democracia têm registado uma expressão diminuta, haverá, segundo Larry So, poucas consequências destas prisões. “Macau ainda não atingiu essa fase em que os jovens assumem posições mais radicais. O território vive uma melhor situação económica. Não vejo acontecimentos destes no futuro de Macau, e penso que Macau deve olhar para Hong Kong e aprender algumas lições com o que tem acontecido nos últimos tempos”, disse o politólogo. Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau (ANM), pede, sobretudo, que não se perca a esperança. “O que esperamos é que Joshua Wong e outros activistas não percam a esperança de lutar pelo seu destino”, disse ao HM. “Estas prisões vão trazer dois tipos de consequências. De certeza que vão afastar algumas pessoas e fazer com que se dê um passo atrás nestes movimentos. Diria que esta decisão do tribunal vai dividir um pouco a sociedade de Hong Kong”, acrescentou o presidente da ANM. Projectos adiados Tanto as condenações a penas de prisão efectivas como a de outros 13 activistas no início da semana passada, por um caso anterior ao movimento ‘Occupy’, aumentaram os receios de que o sistema judiciário independente de Hong Kong esteja sob ameaça por o Governo da cidade apoiado por Pequim alegadamente estar a usar os tribunais para reprimir a oposição e restringir a sua capacidade de protesto. Antes do julgamento, o Departamento de Justiça de Hong Kong disse que não havia “absolutamente nenhuma base para inferir qualquer motivo político” da sua parte em relação ao caso. No ano passado, Nathan Law, então com 23 anos, tornou-se o mais novo deputado a ser eleito em Hong Kong, mas, tal como outros cinco eleitos pela população, viria meses mais tarde a ser desqualificado por usar o seu juramento para protestar contra Pequim. Joshua Wong, de 20 anos, também falou de seu desejo de se candidatar, mas não pôde fazê-lo por não ter a idade mínima de 21 anos. Alex Chow, que na sexta-feira faz 27 anos, pretende fazer um doutoramento no estrangeiro, mas a sentença veio atrasar os seus planos. ONG criticam decisão do tribunal [dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rupos de direitos humanos e políticos norte-americanos já condenaram as penas de prisão efectiva aplicadas pelo Tribunal de Recurso de Hong Kong. A Amnistia Internacional disse que a busca “incansável” pelo Governo de penas de prisão para Joshua Wong, Nathan Law e Alex Chow foi um “ataque vingativo” à liberdade de expressão e reunião pacífica. “O verdadeiro perigo para os direitos de liberdade de expressão e reunião pacífica em Hong Kong é a continuada perseguição pelas autoridades de proeminentes activistas democratas. As acusações destinadas a dissuadir a participação em protestos pacíficos devem ser paradas”, disse a directora da Amnistia Internacional em Hong Kong Mabel Wu, citada pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. A directora da organização Human Rights Watch para a China, Sophie Richardson, reagiu através da rede social Twitter. “A democracia em Hong Kong, que se posiciona como centro legal, de negócios e de liberdade de expressão foi gravemente prejudicada pelas sentenças de hoje”, escreveu. O académico da Universidade de Hong Kong Eric Cheung, que estava no tribunal em apoio aos jovens presos disse que estava triste que os três jovens fossem colocados atrás das grades e destacou a sua dedicação e “grande potencial”. “O que eles fizeram (…) foi realmente por preocupação com Hong Kong”, disse Cheung. Censura americana Nos Estados Unidos, o senador Marco Rubio, que lidera uma comissão no Congresso sobre a China, também criticou as sentenças: “As acusações políticas e as novas sentenças destes jovens são uma vergonha e mais uma prova de que a estimada autonomia de Hong Kong está precipitadamente em erosão”. Rubio disse que as políticas dos EUA devem reflectir a realidade de que Pequim está a tentar esmagar a nova geração do movimento pró-democracia de Hong Kong e a minar o princípio “Um país, dois sistemas”, que entrou em vigor em 1997, com a passagem da soberania de Hong Kong da Grã-Bretanha para a China.Pequim prometeu deixar a cidade manter a sua ampla autonomia e direitos civis, como liberdade de expressão e manifestação, desconhecidos no interior da China. O congressista Chris Smith acrescentou que Hong Kong pode arriscar perder o seu estatuto especial perante as leis dos Estados Unidos se Pequim recusar seguir as promessas feitas na Declaração Conjunta sino-britânica.
Andreia Sofia Silva PolíticaDeputados ligados à FAOM em balanço [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s três deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Ella Lei, Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang, deram ontem uma conferência de imprensa para fazerem o balanço do trabalho desenvolvido na Assembleia Legislativa (AL). Kwan Tsui Hang, que está de saída do hemiciclo, deixou bem claro que os discursos políticos dos três deputados nunca visaram a discriminação dos trabalhadores não residentes (TNR). “Os números mostram que a economia de Macau tem de depender dos TNR. Além de não discriminarmos os TNR, consideramos que as leis precisam de proteger os direitos destas pessoas”, apontou. A deputada afiança que as críticas que têm sido feitas alertam apenas para as deficiências existentes no mecanismo de importação de mão-de-obra. Quando esse mecanismo melhorar, com mais fiscalização, as críticas irão diminuir, defendeu Kwan Tsui Hang. Já Ella Lei lamentou o facto de vários diplomas terem ficado pelo caminho, como é o caso da lei sindical. Apesar de lembrar o esforço dos seus colegas, afirmou não ter ficado satisfeita com os trabalhos desenvolvidos durante a V legislatura, sobretudo nas áreas do aproveitamento dos terrenos, o fornecimento de habitação pública ou a implementação da licença de paternidade. A deputada, que foi eleita pela via indirecta em 2013, lembrou que apresentou quatro propostas de debate na AL, relacionadas com assuntos de interesse público, tendo três sido aprovados. Lam Heong Sang, vice-presidente do hemiciclo, vai também deixar a vida de deputado e disse que é necessária uma maior coordenação entre as empresas, os trabalhadores e o Governo. “De 2005 até hoje, sabemos quais têm sido os lucros das seis operadoras de jogo e qual é o rendimento médio dos residentes”, lembrou, alertando ainda para as dificuldades na aquisição de habitação. Entre 2013 e 2017, a FAOM diz ter tratado de quase 1500 casos relacionados com assuntos laborais, que representa a maior proporção, com 30,8 por cento. Os casos relacionados com a habitação surgem em segundo lugar, seguindo-se as garantias dos benefícios dos trabalhadores. Questionado sobre o seu futuro depois de sair da AL, Lam Heong Sang entende ter duas prioridades: continuar na FAOM, onde promete continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores, e manter o trabalho desenvolvido na Associação Choi In Tong Sam.
Andreia Sofia Silva SociedadeRenovação urbana | Definidas percentagens de concordância para obras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Conselho da Renovação Urbana chegou a consenso sobre a percentagem de concordância de condóminos para a realização de obras dos edifícios. Os prédios entre 30 e 40 anos necessitam da aprovação de 85 por cento dos moradores A renovação das zonas mais antigas do território poderá ser uma realidade nos próximos anos. Ao fim de vários meses de discussão, o Conselho da Renovação Urbana (CRU) chegou finalmente a um consenso quanto à percentagem de concordância dos moradores dos edifícios que necessitam de obras. Segundo adiantou ontem o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, será necessária a concordância de 85 por cento dos moradores para edifícios que tenham entre 30 a 40 anos. Esta percentagem será também aplicada caso se tratem de “edifícios especiais, em ruínas ou com interesse público”. Caso os edifícios tenham mais de 40 anos, será exigida a concordância de 90 por cento dos moradores. Para os edifícios com uma idade inferior a 30 anos, continua a ser necessária a concordância de todos os moradores, regra que até então tem sido seguida para todos os prédios. Tratando-se o CRU de um conselho de carácter consultivo, caberá agora à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes elaborar uma proposta, que terá de obter a aprovação do Chefe do Executivo. Ajudas para alojamento Além das percentagens, a reunião de ontem do CRU serviu ainda para definir o conceito de alojamento temporário, que reuniu o consenso de todos os membros. Tal conceito significa que, caso um edifício necessite de obras, os seus moradores podem ter direito a alojamento temporário. “Não decidimos ainda quais os terrenos ou locais [onde estes edifícios serão construídos], mas no caso de haver a reconstrução de um edifício as pessoas temporariamente podem ficar alojadas nestes espaços. As pessoas têm o direito de trocar uma casa por outra ou receber uma indemnização. Esse conceito será também submetido para aprovação superior”, acrescentou Raimundo do Rosário. As comissões especializadas do CRU discutiram ainda a questão da alteração da finalidade dos edifícios industriais, para que haja uma reutilização dos espaços que ficaram vazios nos últimos anos. Contudo, o secretário garantiu que não houve qualquer conclusão. O CRU já reuniu com vários serviços públicos sobre esta matéria, mas está ainda tudo por decidir. Entrada de Macau na Global Media adiada para Setembro [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] negócio que irá permitir à KNJ Investment Limited controlar 30 por cento do grupo português Global Media deve ser fechado em Setembro, disse ontem o administrador da empresa de Macau. “Estamos a tratar de documentos jurídicos entre as duas partes. Espera-se que esteja terminado em Setembro”, afirmou Kevin Ho, numa resposta enviada por e-mail à Agência Lusa. A assinatura do contrato esteve inicialmente prevista para Março. Sem entrar em detalhes, o administrador da empresa explicou não haver “uma razão específica” para o atraso: “Houve outra transacção na qual tivemos de trabalhar, por isso o processo abrandou um pouco. Nada de especial”. O anúncio de que a KNJ ia fazer uma injecção de capital de 17,5 milhões de euros na Global Media, passando a controlar 30 por cento do grupo de media, foi feito em Outubro, altura em que foi firmado um memorando de entendimento entre as partes. Segundo garantiu Kevin Ho, “os planos diferem um pouco [face ao inicialmente previsto], por diversas razões, mas o principal foco não mudou e será uma quota de 30 por cento. Outros detalhes serão anunciados assim que [o negócio] for concluído”. A injecção de capital da KNJ deverá implicar a redução das participações actuais dos empresários António Mosquito e Joaquim Oliveira (27,5 por cento cada um), de Luís Montez (15 por cento), do Banco Comercial Português (15 por cento) e do Novo Banco (15 por cento). Kevin Ho mantém que as negociações do acordo em si não contemplam uma redução de postos de trabalho no grupo que inclui o Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF. No entanto, o futuro investidor do Global Media advertiu que “qualquer aumento ou redução dos empregos vai depender das necessidades do negócio e planos futuros”. “Neste momento, não posso garantir nada, mas não vejo necessidade de qualquer redução”, concluiu. A Macau KNJ Investment Limited é liderada por Kevin King Lun Ho e, segundo o registo comercial, foi fundada em 2012, dedicando-se ao investimento imobiliário, médico e de saúde, bem como à restauração. Kevin Ho é sobrinho do antigo Chefe do Executivo, Edmund Ho.