O que se sabe sobre o incêndio que matou 128 pessoas em Hong Kong

Hong Kong continuava hoje a contar as vítimas do incêndio que devastou um complexo residencial na quarta-feira, o mais grave em décadas, com pelo menos 128 mortos. As autoridades da região administrativa especial chinesa vizinha de Macau detiveram 11 pessoas por suspeita de negligência, mas as causas do incêndio ainda não foram determinadas.

Eis o que se sabe sobre a tragédia, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP):

O que aconteceu?

O alarme para o incêndio foi dado pelas 14:50 de quarta-feira. O fogo atingiu um complexo imobiliário de 1.984 habitações e oito torres de 31 andares cada, chamado Wang Fuk Court, localizado em Tai Po, nos Novos Territórios, no norte de Hong Kong. O complexo, inaugurado em 1983, estava a ser alvo de obras de renovação, mas continuava ocupado por cerca de quatro mil pessoas que ali viviam.

Chamas imensas propagaram-se com extrema rapidez entre os edifícios, que estavam rodeados por andaimes de bambu e redes de proteção. Centenas de bombeiros foram mobilizados para prestar socorro e extinguir o incêndio. Os bombeiros só declararam o fim das operações contra o fogo hoje de manhã (sexta-feira).

Quantas vítimas?

O balanço provisório mais recente era hoje à tarde de 128 mortos, dos quais 89 ainda não tinham sido identificados, segundo o chefe de segurança de Hong Kong, Chris Tang. Mais de cem pessoas continuavam desaparecidas na mesma altura. Também havia 79 feridos, 11 dos quais em estado considerado crítico. Os familiares percorreram hospitais e morgues à procura de vítimas.

Trata-se do incêndio em edifícios mais mortífero a nível mundial desde 1980, excluindo incêndios ocorridos em discotecas, prisões ou centros comerciais, de acordo com pesquisas na base de dados de catástrofes da Universidade de Lovaina (Bélgica). É também o mais grave em Hong Kong desde 1948.

Ainda se ignora em que medida o balanço poderá aumentar devido ao número de pessoas sobre as quais ainda não há notícias. Entre as pessoas desaparecidas, há 19 empregadas domésticas filipinas e 11 indonésias, segundo dados da organização Mission for Migrant Workers citados pelo jornal local South China Morning Post (SCMP). Os bombeiros terminaram hoje, sexta-feira, a inspeção a todas as habitações.

O que causou a tragédia?

As causas iniciais do incêndio não foram estabelecidas com rigor. O chefe de segurança admitiu que a investigação poderá demorar três ou quatro semanas. Com base em constatações preliminares, Tang disse que o fogo terá começado nas partes baixas das redes do estaleiro que protegiam contra o pó e a queda de objetos.

A propagação das chamas, segundo Tang, terá sido favorecida pela utilização de bambu para os andaimes, comum em Hong Kong, e de materiais inflamáveis como painéis de espuma que protegiam as janelas. O chefe dos bombeiros de Hong Kong, Andy Yeung, corroborou também o que muitos testemunhos entrevistados pela AFP afirmaram. “Constatámos que os sistemas de alarme nos oito edifícios não estavam a funcionar corretamente”, afirmou.

Quem é o responsável?

A comissão de luta contra a corrupção anunciou hoje a detenção de sete homens e uma mulher, com idades entre 40 e 63 anos. Trata-se de dois responsáveis pelo gabinete de projetos que preparou a renovação, dois chefes de obras, três subcontratados de andaimes e um intermediário.

A polícia já tinha anunciado a detenção de três suspeitos de “negligência grosseira” após a descoberta de materiais inflamáveis abandonados durante os trabalhos, que permitiram ao fogo “propagar-se rapidamente” devido ao vento forte. O nível exato do envolvimento dos suspeitos no início do fogo não é claro. As autoridades ordenaram a inspeção de todos os conjuntos habitacionais públicos em fase de grandes reformas, segundo o jornal SCMP.

Qual o risco de incêndio em Hong Kong?

Hong Kong, região administrativa especial da China com 7,5 milhões de habitantes, é um dos locais mais densamente povoados do mundo, o que amplifica os riscos de catástrofes urbanas. A densidade média da população é de mais de 7.100 habitantes por quilómetro quadrado, com vastas zonas íngremes e não edificáveis.

Nas áreas urbanizadas, a densidade populacional é até três vezes superior, um recorde mundial. Este centro financeiro, onde o espaço é limitado e os preços imobiliários estão entre os mais altos do mundo, é famoso pelos arranha-céus em redor da baía. As últimas décadas foram marcadas pela construção de uma profusão de torres residenciais que podem ter mais de 50 andares.

A maioria dos novos projetos de construção ocorreu na parte continental da região verdejante dos Novos Territórios, onde se situa o bairro de Tai Po. Hong Kong conta com 569 edifícios com mais de 150 metros de altura, sendo o maior número a nível mundial, de acordo com dados da ONG internacional especializada CTBUH (Conselho sobre Edifícios Altos e Habitat Urbano).

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