Macau Visto de Hong Kong VozesEm busca da palhinha de ouro David Chan - 5 Nov 2025 Em meados do mês passado, em Zhuji, Zhejiang, na China, o Sr. Shou fabricou uma palhinha com 100 gramas de ouro, destinada especialmente a ser usada para beber chá com leite. A palhinha foi avaliada em aproximadamente RMB $100,000. Certo dia, ao entardecer, o Sr. Shou deslocava-se para casa na sua motorizada. De repente, um desnível na estrada provocou um ressalto na mota e a palhinha que levava no bolso, caiu. Como não a conseguiu encontrar, chamou a polícia. Os agentes, considerando a forma cilíndrica do objecto, perceberam que deveria rolado estrada fora e percorrido uma distância considerável. Acabaram por encontrá-la junto a um passeio, a cerca de 100 metros do local onde tinha caído. Embora tenha sido recuperada, a palhinha ficou deformada devido à queda. O Sr. Shou decidiu derretê-la e voltar a fazer outra que estará pronta no próximo Verão. Posteriormente, o Sr. Shou entregou uma faixa aos agentes da polícia para expressar a sua gratidão. Esta história levanta algumas questões que nos fazem reflectir. Primeiro, fabricar objectos de uso diário em ouro é sem dúvida uma manifestação única de um estilo de vida pessoal; no entanto, ter o descuido de colocar uma palhinha de ouro no bolso e precisar de pedir ajuda à polícia para procurá-la, levanta a seguinte questão: é razoável pedir à polícia que use os seus recursos para colmatar uma negligência pessoal? Qual a responsabilidade com que o negligente deve arcar? Agora que a palhinha foi recuperada, esperemos que o dono tenha mais cuidado com os seus pertences de futuro. Se este tipo de casos for evitado, podem reduzir-se os problemas, não será preciso gastar recursos públicos e todos ficam a ganhar. Segundo, a polícia não deixou de se empenhar na resolução do caso embora a pessoa tenha sido negligente. Pelo contrário, demonstrou profissionalismo e capacidade de resolução. Os agentes analisaram as caraterísticas do objecto, estimaram a sua localização e conseguiram encontrar a palhinha no escuro; os dois agentes envolvidos merecem ser louvados. Terceiro, possuir objectos de ouro para uso diário não será uma forma de “ostentar riqueza”, ou simplesmente uma demonstração de que “porque se é rico é-se voluntarioso”? O ouro é muito valioso e utilizá-lo para fabricar objectos de uso corrente é um prazer único. Este investimento prático é mais “realista” do que guardá-lo simplesmente numa caixa. Contudo, não se sabe se o valor do ouro não baixará se o objecto for danificado. O ouro é avaliado ao peso; pequenas arranhadelas têm pouco impacto no peso, mas os danos visíveis podem diminuir o valor “artístico”. A única solução é refazer a palhinha. Quarto, a oferta de uma faixa aos agentes da polícia como forma de mostrar gratidão é um gesto de respeito. No entanto, estes agentes são funcionários públicos e não devem aceitar presentes. Embora a oferta a faixa seja um acto simbólico, o sentimento que a acompanha é profundo. Representa a gratidão, o louvor e respeito do Sr. Shou pela polícia. Acredita-se que a oferta da faixa foi o melhor presente que o Sr. Shou pode ter dado e o melhor presente que a polícia pode ter recebido. Em resumo, usar uma “palhinha de ouro” para beber chá com leite é um acto que combina preferência com riqueza. O chá com leite não fica mais doce se for sorvido por uma palhinha de ouro, mas aumenta a satisfação pessoal. A negligência deve ser prevenida para evitar situações de abuso de recursos públicos. O profissionalismo e a capacidade de resolução da polícia merecem louvor. A faixa pode ser um pequeno presente, mas transporta consigo um sentimento profundo. Na sociedade dos nossos dias que acima de tudo valoriza o dinheiro, quantas pessoas compreenderão o seu verdadeiro significado? Esta notícia não é particularmente relevante para muitos dos nossos leitores, mas pode trazer um sorriso às nossas vidas conturbadas. Quer nos esteja a ler de Portugal, de Macau, ou de qualquer outro lugar, espero que este artigo lhe traga um momento de descontração. Vemo-nos na próxima semana. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo