O plano bilionário de Musk (2)

A semana passada, falámos sobre a proposta da Tesla para atribuir ao seu Director Executivo, Elon Musk, 1 bilião de dólares em acções a título de prémio de desempenho, na condição de atingir uma série de objectivos. Estes objectivos seriam: Primeiro, inverter o recente declínio na venda de carros. Segundo, desenvolver o negócio de venda de carros autónomos, etc. Depois de todas as metas serem atingidas, não só o valor e os lucros da Tesla aumentariam significativamente, como Musk receberia uma enorme compensação financeira, beneficiando assim ambas as partes.

No entanto, como a tecnologia de condução autónoma ainda não está completamente desenvolvida, e países de todo o mundo vão rever a legislação rodoviária em função desta inovação, a cobertura dada pelos seguros contra terceiros também irá sofrer alterações. Estes factores geram incerteza e podem vir a afectar a Tesla. Hoje, vamos continuar a analisar o impacto que o plano de compensação no valor de 1 bilião em acções vai ter na Tesla, em Musk e nos accionistas.

Terceiro, o plano da Tesla para fabricar 5.000 a 10.000 robots humanoides Optimus em 2025. O objectivo é criar robots que possam substituir os trabalhadores manuais, como carregadores, trabalhadores domésticos, etc. Contudo, a tecnologia do Optimus ainda não está aperfeiçoada. Muitas empresas de IA estão a trabalhar afincadamente para atingir este mesmo propósito. Ainda está por saber se a Tesla será bem-sucedida na sua investigação e se se irá tornar a primeira empresa a dominar o mercado da robótica.

Quarto, a fábrica da Tesla Shanghai Energy Storage Giga começou a produção no passado mês de Fevereiro. A empresa pretende trabalhar com um único operador de soluções energéticas, que forneça serviços de geração, armazenamento e gerenciamento de energia para complementar o negócio do automóvel, da robótica, dos super-computadores e da energia. Este objectivo requer padrões extremamente elevados tanto para software como para hardware. As tensões entre a China e os Estados Unidos podem ter consequências ao nível da importação e exportação de produtos, um factor que fica para lá do controlo da Tesla.

Quinto, o facto de Musk gerir várias empresas de IA faz com que disperse a sua atenção, e algumas das suas declarações públicas tiveram um impacto na imagem da Tesla. O prémio de desempenho que deveria ter recebido pelo seu trabalho em 2018 está actualmente em fase de recurso e ainda não se sabe se o prémio de 2025 será aprovado pelos accionistas e pelos tribunais. Tudo isto são questão que Musk deve considerar.

No plano do prémio de desempenho no valor de 1 bilião, Musk incorpora três qualidades essenciais num magnata de negócios bem-sucedido. Primeiro, a gestão que faz de várias empresas demonstra a sua dedicação ao trabalho e revela esforço e paixão. Segundo, assim que atingir os seus objectivos, as suas acções da Tesla aumentarão de 13 por cento para 25 por cento. Com um reforço do seu controlo sobre a empresa, Musk pode continuar a desenvolver o negócio e conduzi-lo até uma próxima década de prosperidade, provando o seu empenho num crescimento futuro. Terceiro, Musk possui um profundo sentido de aventura e, correndo riscos, cria grandes benefícios para a empresa e para si próprio. Só transformando a Tesla numa empresa tecnológica sem precedentes é que Musk poderá colher compensações substanciais, vinculando a longo prazo o seu património pessoal ao valor da empresa.

O conselho de administração da Tesla espera que este plano assegure o foco de Musk no seu projecto ao longo da próxima década, conduzindo a empresa para a transformação do negócio e o crescimento dos lucros. Se a investigação for bem-sucedida a Tesla pode vir a gerar lucros substanciais. O fracasso pode anular todos os investimentos e resultar em perdas. O risco é a essência do negócio. Lucros e perdas são precisamente a consequência de se correr riscos. Comparado com os 8,5 biliões que a empresa vale e os seus 400 mil milhões de lucro, o prémio de 1 bilião é só uma gota no oceano. Não é uma quantia significativa para a Tesla, mas une os interesses da empresa, dos seus accionistas e de Musk, cimentando um destino comum.

O sucesso do negócio da Tesla significa aumento dos dividendos dos accionistas, uma subida do valor das acções e um conjunto de accionistas satisfeitos. No entanto, alguns deles podem estar com medo que Musk não cumpra todos os objectivos propostos pela empresa, e que à medida que ele tenha mais acções, a participação no capital desses accionistas seja diluída. Este plano tornará-lhes-á mais difícil a aprovação de resoluções que assegurem os seus interesses no futuro. Neste cenário, a Tesla pode tornar-se incapaz de prescindir de Musk, alguns accionistas podem sentir que ele é indispensável, mas Musk pode ir-se embora quando os seus objectivos forem atingidos.

Temos de esperar pelo resultado da reunião de accionistas da Tesla que irá acontecer em Novembro e ver se Musk consegue criar outra lenda no mundo dos negócios.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários