Perspectivas VozesGeoturismo e Parques Temáticos Jorge Rodrigues Simão - 10 Set 2025 “Through our close the partnerships with the globally renowned IPs, LINE FRIENDS, we hope to discover more unique tourism resources, enhance Macau’s tourism appeal, and promote “IP + Tourism” as the diversified development of the tourism industry. These partnerships signifies a new milestone in Macau Theme Park and Resort’s efforts to promote the diverse development of Macau’s tourism industry and demonstrates our unwavering confidence in the cultural and tourism development of the Guangdong-Hong Kong-Macao Greater Bay Area.” Angela Leong No século XXI, o turismo evoluiu para além do mero deslocamento e lazer, tornando-se um campo estratégico de produção simbólica, desenvolvimento territorial e diplomacia cultural. Neste contexto, os parques temáticos integrados em hotéis e resorts emergem como dispositivos sofisticados de geoturismo não apenas pela sua capacidade de atrair visitantes, mas pelo poder de narrar o território, reinterpretar identidades e gerar valor cultural. O conceito de geoturismo, tal como definido por organizações internacionais e instituições académicas, vai muito além da apreciação cénica. Refere-se a uma forma de turismo que valoriza a geografia, cultura, história e identidade de um lugar. Trata-se de uma abordagem que transcende o turismo convencional, oferecendo uma imersão interpretativa no espaço vivido. O geoturismo não consome o território, mas revela-o, narra-o e enobrece-o. Neste sentido, os parques temáticos inseridos em hotéis e resorts representam uma evolução paradigmática. Ao integrar narrativa, arquitectura, gastronomia, arte e memória, estes espaços tornam-se plataformas de interpretação territorial, onde o visitante não é meramente acomodado, mas envolvido numa dramaturgia identitária. Ao contrário dos parques de diversões convencionais, os parques temáticos hoteleiros funcionam como dispositivos de territorialização simbólica. Cada elemento desde a cenografia à programação cultural é concebido como um acto de interpretação. A piscina deixa de ser um mero espaço de lazer e torna-se uma evocação da geografia local. O restaurante não serve apenas refeições mas oferece também composições gustativas que narram o território. O quarto não é apenas abrigo mas transforma-se num palco de imersão temática. Estas empreitadas operam como micro-repúblicas culturais, onde o território é dramatizado, estetizado e experienciado. A sua força reside na capacidade de transformar o espaço em linguagem, o serviço em narrativa e o consumo em reconhecimento. O valor dos parques temáticos hoteleiros no contexto do geoturismo ultrapassa largamente a experiência do visitante. É estratégico, institucional e simbólico. Estes empreendimentos geram capital simbólico ao posicionar o território como espaço criativo e narrativo; contribuem para o reconhecimento internacional como no caso de Macau, designada “Cidade Criativa pela UNESCO”; promovem a diplomacia cultural ao integrar saberes locais com técnicas globais; estimulam economias territoriais ao valorizar produtos, ingredientes e talentos locais; e fortalecem a identidade colectiva ao oferecer experiências que educam, comovem e conectam. Apesar da sua originalidade e poder narrativo, o modelo dos parques temáticos como dispositivos de geoturismo permanece subdesenvolvido na literatura internacional. A maioria dos estudos foca-se em parques de diversões ou resorts convencionais, ignorando as dimensões territoriais e simbólicas destas empreitadas híbridas. É essencial reconhecer e aprofundar esta categoria analítica emergente de arquitecturas de experiência territorial que dramatizam o lugar através da hospitalidade temática. Os parques temáticos integrados em hotéis e resorts representam uma inovação estratégica no campo do geoturismo. Ao transformar o território em narrativa, a hospitalidade em dramaturgia e o visitante em intérprete, estes espaços inauguram uma nova forma de turismo mais sensível, inteligente e comprometida com a valorização cultural. O seu valor reside não apenas na estética ou entretenimento, mas na sua capacidade de produzir reconhecimento, pertença e legado. São, portanto, instrumentos de diplomacia simbólica, desenvolvimento territorial e inovação cultural. E como tal, merecem ser estudados, protegidos e replicados como modelos de excelência no turismo contemporâneo. Angela Leong e o seu filho Arnaldo Ho desempenharam papéis fundamentais na criação do Lisboeta Macau e na sua actual gestão, não apenas como um empreendimento comercial, mas como uma homenagem à identidade cultural e à memória colectiva dos residentes de Macau. Com uma arquitectura nostálgica inspirada em marcos históricos como o Hotel Estoril e o Macau Palace, o projecto reflecte um profundo respeito pelo património da cidade e uma vontade clara de preservar o seu carácter único face à modernização acelerada. A longa trajectória de Angela Leong na Assembleia Legislativa de Macau e o compromisso público de Arnaldo Ho em “nunca esquecer as suas raízes em Macau” evidenciam a dedicação de ambos à comunidade local. A liderança que exercem neste projecto revela uma visão mais ampla que valoriza o reconhecimento dos residentes, a continuidade cultural e a protecção do tecido social de Macau, garantindo que a população permaneça no centro da evolução da cidade. O Lisboeta Macau constitui um exemplo emblemático desta abordagem. Ao integrar parque temático, hospitalidade, gastronomia e programação cultural, o complexo oferece uma leitura inovadora da identidade sino-portuguesa. A sua arquitectura evoca a Lisboa histórica, enquanto os espaços interiores celebram a fusão cultural que define Macau. Posicionado entre a memória urbana e a inovação turística, o Lisboeta Macau não é apenas um hotel é, em essência, uma obra de arquitectura narrativa que transforma o território em experiência. Localizado na zona do Cotai, entre grandes resorts de jogo e centros de convenções internacionais, o Lisboeta Macau emerge como uma alternativa disruptiva, com um parque temático que não apenas entretém, mas também reflecte, preserva e comunica. A sua proposta é radicalmente distinta dos modelos convencionais de turismo asiático. Articula memória urbana, estética retrofuturista e identidade sino-portuguesa numa linguagem espacial que transcende o espectáculo e inscreve-se na pedagogia do lugar. Em vez de importar narrativas globais, o Lisboeta Macau constrói a sua própria mitologia urbana, sensorial e profundamente enraizada na história de Macau. O parque temático é concebido como uma extensão simbólica da cidade, uma cartografia afectiva que reinterpreta o Macau das décadas de 1960 e 1970 através de uma lente contemporânea. A arquitectura do complexo incorpora fachadas inspiradas em edifícios históricos, calçadas portuguesas estilizadas, iluminação evocativa de antigos bairros comerciais e cenários que remetem à vida urbana pré-moderna. Cada elemento é desenhado para funcionar como signo, vestígio e evocação. Entre as suas características distintivas destaca-se o mencionado design retrofuturista, que combina nostalgia e inovação para criar uma atmosfera visual que simultaneamente honra o passado e projecta o futuro. Esta fusão é rara no turismo temático, onde a maioria dos empreendimentos opta por estéticas futuristas genéricas ou descontextualizadas. O cenário urbano recria ruas, praças e fachadas que recordam o Macau histórico, promovendo a memória colectiva como experiência sensorial. Os visitantes não se limitam a observar mas também habitam, percorrem e interagem com uma cidade reimaginada. A narrativa integrada é outro traço definidor pois cada espaço dentro do parque conta uma história. Gastronomia, decoração, atracções e até os percursos pedonais são concebidos como capítulos de uma narrativa territorial. O Lisboeta Macau não é um parque temático sobre Macau, mas é Macau contado através da linguagem do espaço. A experiência oferecida é totalizante. Não se trata de um conjunto de atracções isoladas, mas de uma cartografia cultural onde cada elemento serve a identidade territorial. Quando comparado com outros parques temáticos integrados em hotéis na Ásia, a singularidade do Lisboeta Macau torna-se evidente. Em Singapura, o “Resorts World Sentosa” oferece experiências centradas em marcas globais como “Transformers” ou “Jurassic Park”. Em Tóquio e Hong Kong, os hotéis da Disney replicam universos ficcionais que poderiam existir em qualquer parte do mundo. Na China continental, empreendimentos como o “Chimelong Hotel” ou o “Hangzhou Songcheng Park” misturam elementos culturais locais com entretenimento de massas, mas sem coerência narrativa territorial. Na Tailândia, hotéis como o “The Okura Prestige Bangkok” apresentam cenários temáticos discretos, sem parques integrados. Nenhum destes projectos articula, como o Lisboeta Macau, uma proposta de parque temático simultaneamente urbana, histórica, sensorial e educativa. Nenhum transforma o território em narrativa experiencial. Nenhuma propõe o turismo como forma de leitura espacial. O Lisboeta Macau encarna plenamente os princípios do geoturismo e da diplomacia cultural, entendidos como práticas turísticas que sustentam e valorizam o carácter geográfico de um lugar, incluindo o seu ambiente, cultura, estética, património e bem-estar dos residentes. Além disso, desempenha um papel estratégico para Macau ao oferecer uma alternativa ao turismo de jogo, contribuindo para a diversificação da economia local; ao celebrar a fusão sino-portuguesa, reforça a imagem da cidade como ponte entre culturas; e ao integrar memória urbana com inovação temática, posiciona-se como referência internacional no turismo cultural com identidade. O Lisboeta Macau não é apenas inovador; é singular. Num mundo onde o turismo se tornou espectáculo, propõe uma experiência com alma, história e território. Uma jornada que não apenas entretém, mas reflecte; que não apenas atrai, mas educa; que não apenas diverte, mas transforma. Este projecto constitui um novo paradigma no turismo temático hoteleiro, sem equivalentes directos na Ásia ou noutras regiões. É arquitectura narrativa, pedagogia espacial, diplomacia simbólica. Em suma, é uma obra que merece ser reconhecida, protegida e disseminada como referência internacional em inovação cultural e territorial. (Continua)