Macau Visto de Hong Kong VozesCo-habitação feminina David Chan - 22 Jul 2025 Recentemente, uma notícia que circulou online, informava que a “Sociedade de Ajuda Mútua à Co-Habitação de Mulheres”, no Reino Unido, sediada em Londres, tinha recebido mais de 50 mulheres todas na casa dos 50 anos. A sociedade de ajuda mútua só recebe mulheres que estejam sozinhas. É um espaço exclusivo reservado apenas a mulheres, onde os homens não têm lugar. O objectivo é proporcionar a estas mulheres um espaço onde possam viver de forma independente, ajudar-se umas às outras e viver com dignidade e autonomia, numa fase mais avançada da vida. Estes espaços exclusivos são apartamentos que podem ter um, dois ou três quartos, propriedades da Sociedade de Ajuda Mútua. O preço mais alto de um apartamento com 3 quartos é de £400.000, cerca de 4,2 milhões de dólares de Hong Kong (HKD). As mulheres podem comprá-los de acordo com a suas capacidades financeiras. Os cuidados mútuos incluem gestão financeira e manutenção doméstica de grupo, etc. As mulheres podem participar em diferentes grupos em função dos seus interesses e das suas competências que põem ao serviço da vida colectiva. Por exemplo, o grupo pode encarregar-se de contratar pessoal para fazer entrega de refeições a mulheres doentes e tomar conta de quem já não é auto-suficiente. Se os membros do grupo não conseguirem desempenhar estas tarefas sozinhos podem pedir ajuda a outros residentes. Uma senhora que vive na sociedade de ajuda mútua afirmou que este modelo lhe deu coragem para enfrentar o envelhecimento. O motivo do surgimento de sociedades de ajuda mútua para a co-habitação de mulheres prende-se com o facto de elas deixarem de trabalhar mais cedo para cuidarem dos filhos e da família e a sua condição económica e o círculo social serem mais limitados. Mas ainda mais significativa é a maior longevidade feminina. Se viverem sozinhas numa idade avançada, a sua situação merece mais atenção. O Guardian divulgou que desde 1997, 1 em cada 6 britânicos passou a ter mais de 65 anos. A partir de 2017, esta percentagem aumentou para 1 em cada 5 e estima-se que em 2037, em cada 4 britânicos 1 terá mais de 65 anos. Esta tendência reflecte o envelhecimento da população britânica. No Japão, mais de 76.000 pessoas que vivem sozinhas morrem em casa desacompanhadas e mais de 21.000 só são descobertas 8 dias depois do óbito. Por conseguinte, um lugar onde um grupo de pessoas idosas vivem juntas pode evitar a solidão e a possibilidade de morrer sozinho. Na sociedade dos nossos dias, existe uma tendência para morar só. Um dos atractivos desta situação é a diminuição do fardo financeiro. Quem vive em família tem mais despesas e ainda tem de tomar conta dos pais. Os solteiros têm uma vida mais desafogada. Como foi acima mencionado, o preço de um apartamento da sociedade de ajuda mútua com três quartos ronda os 4,2 milhões de HKD, o que pode representar um valor acessível. Outra vantagem de ser solteiro, é a liberdade de que se desfruta. Claro que esta liberdade implica abdicar de uma vida familiar, da possibilidade de ter relacionamentos românticos e filhos. O conceito tradicional chinês de “criar filhos para assegurar a velhice e armazenar o grão para evitar a fome” (養兒防老,積穀防飢) não se pode aplicar aos solteiros. Devemos optar por ser solteiros ou devemos organizarmo-nos para ter uma vida familiar com filhos? Não existe uma única resposta a esta pergunta. Depende de como os indivíduos pesam os prós e os contras dos vários aspectos das suas preferências antes de tomarem uma decisão. Em qualquer dos casos, devemos pensar cuidadosamente antes de optar. Apesar de tudo, esta decisão vai afectar toda a nossa vida. Se depois dos 40, uma mulher quiser subitamente fundar uma família e ser mãe pode vir a ter dificuldades em atingir esse objectivo. Quando uma pessoa atinge a fase inicial do envelhecimento, ainda se pode deslocar livremente e tem pleno uso das suas capacidades mentais, por isso viver numa sociedade de ajuda mútua não representa qualquer problema. À medida que a idade avança, a condição física deteriora-se gradualmente, as capacidades intelectuais começam a abrandar e as doenças reduzem a mobilidade e a capacidade de comunicação. Por exemplo, os idosos com Alzheimer precisam de ter cuidados profissionais. Estes profissionais estão presentes nas sociedades de ajuda mútua para resolverem estes problemas? Não existe informação detalhada sobre o assunto. No entanto, para garantir cuidados apropriados aos idosos é mais adequado que sejam prestados por profissionais. Para que as sociedades de ajuda mútua funcionem em pleno, devem prestar muita atenção a este assunto. Devemos, enquanto sociedade, fomentar o aparecimento de mais sociedades de ajuda mútua para alargar estes serviços a mais pessoas? Para responder à pergunta, devemos tentar perceber as necessidades sociais e analisar cuidadosamente se existe alguma sobreposição nos papéis das sociedades de ajuda mútua e das agências de serviços para idosos. Uma decisão que só pode ser tomada após mais pesquisas. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau Email: cbchan@mpu.edu.mo