Ai Portugal VozesTotourgências André Namora - 14 Jul 2025 Antes, tínhamos o Totobola e o Totoloto. Agora, temos o Totourgências. Nada mais, nada menos, que o caos nas urgências dos hospitais do país. Há sempre mais que uma urgência encerrada. Aos fins de semana o povinho fica doido, especialmente as mulheres grávidas. O escândalo está instalado quando ficamos chocados que uma grávida perdeu o filho porque andou de hospital em hospital a ver qual é que tinha a urgência de Obstetrícia aberta. No mínimo, em cada fim de semana estão seis urgência encerradas e já estiveram dez. Não há compreensão para que o ministério da Saúde gaste milhões de euros e não resolva um problema premente e de importância vital num país onde a natalidade só tem baixado. As mulheres grávidas deviam ser as únicas cidadãs que não deveriam ter uma urgência sequer encerrada. Chega-se ao ponto de muitas grávidas terem o parto no interior das ambulâncias, porque o Totourgências é andar de hospital em hospital a ver qual é que lhe cai em sorte de modo a aparecer um com a urgência obstétrica aberta. O aumento é notável devido ao encerramento de serviços de urgência obstétrica e de Pediatria em vários hospitais. Em alguns casos, grávidas são transportadas para hospitais mais distantes devido a essas indisponibilidades, e o parto ocorre durante o transporte. No último ano, cerca de meia centena de bebés nasceram em ambulâncias. E por falarmos em ambulâncias, estamos perante outro grave problema porque um grande número de ambulâncias está num estado de risco elevado de acidente. Há ambulâncias sem revisão e manutenção, com pneus a pedirem substituição e com os motoristas a protestar junto dos responsáveis do INEM que não é mais possível conduzir ambulâncias em tão mau estado de conservação. Mais uma vez, a tutela faz ouvidos de mercador e a propaganda governamental só sabe anunciar que está a gastar muito mais dinheiro na Saúde. Em quê? Em dermatologistas que ganham num dia 50 mil euros? Em gestores que são demitidos por suspeita de corrupção na aquisição de material hospitalar? Em salários miseráveis a bons médicos cirurgiões que acabam por se transferirem para o privado?… Os milhões desaparecem e o socorro aos cidadãos está cada vez pior. Continuam a decorrer inquéritos às mortes de pessoas sem socorro durante uma greve do INEM. Quando na nossa opinião, INEM, médicos e enfermeiros nunca poderiam fazer greve. Há dias, em Bragança, uma mulher de 69 anos morreu por alegada falha no socorro do INEM, depois de ter sofrido um AVC. A doente demorou mais de duas horas a dar entrada no hospital, por não haver ambulâncias disponíveis em Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, tendo a paciente vindo a morrer. Ainda na passada quinta-feira, uma grávida esperou 40 minutos por socorro do INEM, quando a grávida era levada para o hospital o bebé nasceu na ambulância, mas viria a morrer. Os casos sucedem-se e a ministra da Saúde não se demite e foi reconduzida no novo governo por Luís Montenegro. Isto, quando o último caso escandaloso de falta de socorro tem a ver com a falta de helicópteros ao serviço do INEM. Um concurso público anunciado o ano passado ainda não levou à compra de qualquer aeronave. Actualmente, está apenas um heli do INEM operacional no país, algo inacreditável. E o que fez a ministra? Combinou com o seu colega da Defesa que houvesse um acordo com a Força Aérea a fim de que os helicópteros militares pudessem transportar os doentes. Em princípio podia ser uma solução provisória. Só que, reina a incompetência e a falta de conhecimento da realidade. Um helicóptero militar levantou voo, socorreu um doente e dirigiu-se ao hospital mais próximo, ali chegado não aterrou porque o heliporto era de pequenas dimensões, edificado para os pequenos helicópteros que o INEM possuía. O heli militar seguiu para outro hospital e a cena repetiu-se até que aterrou em local próximo de um hospital e uma ambulância transportou o doente. Imaginem quanto tempo se perdeu com toda esta manobra e deixando-se de poder contar com os helis da Força Aérea. E isto, não é vergonhoso? Não é motivo para a demissão da ministra? Para terem uma ideia do Totourgências, no passado fim de semana, sete urgências estiveram encerradas no sábado e oito no domingo, sendo uma de Pediatria e as restantes de Ginecologia e Obstetrícia, indicou o Portal do Serviço Nacional de Saúde (SNS). As urgências de Obstetrícia e Ginecologia dos hospitais do Barreiro, Setúbal, Vila Franca de Xira, Santarém, Aveiro e Leiria estiveram encerradas no sábado e domingo, enquanto as do Hospital de Abrantes fecharam no domingo. Nos hospitais de Amadora-Sintra, Loures, São Francisco Xavier-Lisboa e Braga encerraram as urgências das especialidades referidas durante a noite ao fim de semana. Com este panorama nacional, a preocupação governamental continua a ser a venda da TAP, o aeroporto de Alcochete e o TGV para Espanha. Já não há cu que aguente… P. S. – O semanário ‘Expresso’ publicou em manchete na sua edição de sábado passado, precisamente o que o ‘Hoje Macau’ anunciou aqui há duas semanas, que militares no activo deram instrução a um grupo neonazi com o fim de acções muito violentas e terroristas no país.