Livro | Obra de Telma Carvalho explora exemplos de chinês vernacular na literatura

“A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa” é o mais recente livro editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau e a Universidade de Macau da autoria de Telma Carvalho. Nele a autora procurou analisar e traduzir escritos de autores chineses que começaram a usar o chinês vernacular na literatura, publicados na revista Nova Juventude

 

Foi editado, em Dezembro último, o livro “A Revista Nova Juventude e os Experimentalistas da Literatura Moderna Chinesa”, da autoria de Telma Carvalho, licenciada e mestre em Tradução e Interpretação Português-Chinês e Chinês-Português, sendo esta obra resultado do relatório de projecto para a conclusão do mestrado.

O livro, editado pelo Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) em parceria com a Universidade de Macau (UM), procura analisar alguns exemplos de chinês vernacular que começaram a ser usados por autores chineses no princípio do século XX, e que pertenceram ao chamado movimento “Nova Cultura”. Depois da queda do regime imperial, com a revolução Republicana de 1911, começou a pensar-se numa forma mais simplificada de usar o idioma, baseado na linguagem falada, ao invés do chinês clássico e literário usado até então.

Desta forma, este livro procura caracterizar “as primeiras experiências literárias em chinês vernacular que integraram a revista Nova Juventude”, que foi “uma publicação central no debate cultural durante o movimento Nova Cultura”.

“Tendo como ponto de partida as criações literárias que surgem como resposta aos primeiros apelos do movimento”, a autora olhou “para os contextos dos autores e elementos que contribuíram para a construção de uma nova literatura no país”.

Além disso, a obra inclui, segundo uma nota oficial, “a análise a algumas mudanças linguísticas manifestas nos textos publicados neste período de revolução linguística e que persistem no chinês de hoje”.

No início do século XX, sobretudo com o início do regime republicano, a China “testemunhou profundas transformações políticas e sociais”, sendo a mais marcante no domínio da língua. “Após décadas de crescente contestação ao uso predominante de chinês clássico na escrita, viveu-se na era republicana uma mudança de paradigma, resultante de insistentes apelos a uma generalização do chinês vernacular”, é explicado.

Porém, o chamado movimento Nova Cultura não se debruçou apenas sobre o uso da língua, tendo também feito “uma profunda reflexão sobre vários aspectos da cultura e da sociedade”, pelo que se defendeu “a criação de uma nova literatura a partir de uma livre experimentação literária em chinês vernacular”. Desta forma, “a chamada revolução literária em 1917 marcaria o início da literatura moderna chinesa”.

Lu Xun e companhia

O relatório de projecto, defendido na Universidade de Lisboa para a obtenção do mestrado na área da tradução e interpretação, contém análises e traduções aos escritos de Hu Shi, nomeadamente quanto às suas sugestões para uma reforma da literatura; Chen Duxiu e a sua “chamada para a revolução literária”; Chen Hengzhe, Lu Xun, Zhou Zuoren e Liu Bannong.

Conforme explica a autora no referido projecto que dá origem ao livro, “todos os grandes nomes da literatura moderna chinesa haviam presenciado, directa ou indirectamente, um momento marcante na língua e literatura do país”, que foi o Movimento Quatro de Maio.

Desta forma, “a afirmação do chinês vernacular na literatura e na sociedade chinesas, no início do século passado, tinha aberto as portas para essas forças criativas”, destacando-se o papel que a revista Nova Juventude teve, ajudando “a moldar o chinês moderno”, tal como o fizeram outras publicações.

Telma Carvalho denota ainda que nas páginas desta revista “encontram-se alguns dos experimentalistas que, não constando nas listas de grandes nomes literários chineses, certamente contribuíram para os sucessos da literatura que se desvendariam mais tarde”.

Relativamente às mudanças ocorridas na China no início do século XX, Telma Carvalho descreve que “a amálgama de acontecimentos culturais dificultou a delimitação entre a reforma literária e outras restruturações sociais, mas possibilitou um pluralismo de ideias e uma abertura para o diálogo, o que se relaciona com as vidas dos autores e as suas experimentações literárias”.

Além do curso de tradução, que incluiu a frequência de alguns semestres em Macau e Pequim, Telma Carvalho viveu durante dez anos em diferentes regiões da China. Nesse período, foi professora universitária nas áreas de português e de tradução e aprofundou os seus conhecimentos sobre a cultura e sociedade chinesas. Em 2020, concluiu o mestrado, e no ano seguinte traduziu para português “O Problema dos Três Corpos”, de Liu Cixin.

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