SociedadeMandarim estimulado no ensino e cantonês com futuro incerto em Macau Hoje Macau - 2 Dez 2024 O mandarim, falado pela maioria da população chinesa, é opção crescente do ensino em Macau. Não é só o futuro do cantonês, língua dominante no território, que está em causa, mas a cultura local, adverte uma linguista. À hora do almoço, na Universidade Politécnica de Macau, ouvem-se grupos de estudantes a falar mandarim. Três alunos de doutoramento do interior da China dizem à Lusa que não estariam aqui hoje se o percurso académico fosse feito em cantonês, língua dominante em Macau. “Seria um desafio, porque não entendo cantonês”, complementa Liu Tiantao, da província de Zhejiang, no leste chinês. Actualmente, 70 por cento (39.080) dos estudantes a frequentarem o ensino superior local vêm do interior da China, apontam dados da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ). Nos “anos mais recentes”, tem chegado também “um número elevado” de professores do outro lado da fronteira, para leccionar nas universidades do território, indica a académica e presidente da Associação do Dialeto Yue (ou cantonês) de Macau, Tong Choi Lan. E o mesmo acontece no ensino básico e secundário: “Na escola secundária [Hou] Kong, fala-se realmente mandarim, além de que há muitos alunos transfronteiriços [vivem no interior da China e atravessam a fronteira diariamente]. Quando passo pela escola ao meio-dia, ouço as crianças a comunicar em mandarim”, conta sobre a instituição de tradição patriótica. Notando que as autoridades da Educação têm vindo a incentivar as escolas a usarem o mandarim para ensinar a disciplina de chinês desde cerca de 2011, a linguista refere que a maioria acabou por fazê-lo. Algumas, diz, optaram mesmo por adoptar o mandarim como língua veicular de ensino. À Lusa, Chen Yiwen, professora de chinês na secundária de Talentos Anexa à Escola Hou Kong nota que o estabelecimento “utiliza o mandarim como meio de instrução”. A lei da língua Questionada pela Lusa sobre o assunto, a DSEDJ não respondeu quantas escolas leccionam actualmente a disciplina de chinês em mandarim, nem quantos professores do interior da China foram contratados pelos estabelecimentos educativos. Os únicos dados disponíveis dizem respeito ao ano lectivo 2016/2017: 22 por cento das aulas de chinês no ensino primário e 26 por cento no ensino secundário eram dadas em mandarim, declararam as autoridades competentes em 2017, num programa da rádio chinesa da Teledifusão de Macau. A ideia, referiu nesse mesmo ano a então directora da Educação, Leong Lai, é que “a taxa possa ser aumentada de forma estável”. “As escolas de Macau podem escolher diferentes línguas de ensino, de acordo com as suas características escolares. A DSEDJ não obriga as escolas a utilizar o mandarim como meio de ensino da língua chinesa ou de outras disciplinas”, respondeu à Lusa aquela direcção. A opção pelo mandarim no ensino, alerta Tong Choi Lan, pode vir a ter um forte impacto no próprio cantonês. “Se todas as escolas falarem mandarim, o cantonês vai alterar-se numa geração. Isto é do conhecimento geral da sociolinguística”, assume.