EventosLivraria Portuguesa | “Macau’s Reflections – Now and Then” até ao fim do mês Andreia Sofia Silva - 15 Dez 2025 A Livraria Portuguesa acolhe, até ao final do mês, a exposição “Macau’s Reflections – Now and Then”, de Pedro Ramos, um fotógrafo muito ligado ao território, onde viveu em criança. Nesta mostra, observa-se o seu olhar particular atrás da lente sobre um território em grande mudança, tendo como ponto de partida o livro do jornalista José Pedro Castanheira, “Macau – Os Últimos Cem Dias do Império” Dezembro é sempre um mês de memória. Foi nesse mês que Macau mudou de rumo e passou a ter administração chinesa a partir do dia 20 de Dezembro de 1999, transformando-se na Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Em jeito de memória desse momento histórico, mas não só, apresenta-se até ao final do mês a exposição “Macau’s Reflections – Now and Then”, na Livraria Portuguesa. A iniciativa, com organização e curadoria das 10 Marias – Associação Cultural, mostra o trabalho do fotógrafo Pedro Ramos. Segundo uma nota, trata-se de um projecto que “oferece um olhar profundo e sensível sobre Macau num período decisivo da sua história: desde a transição do final da administração portuguesa para a integração na China, a partir de 1999, até aos dias de hoje”. A mostra é uma “reflexão e um olhar muito pessoal sobre Macau”, captando-se “a essência de uma cidade em fluxo, preservando visualmente o seu caráter híbrido único”. Aqui, as fotografias “funcionam como um portal para o passado, documentando a arquitectura histórica, os mercados vibrantes, o quotidiano das ruas e as tradições culturais que definiram Macau no crepúsculo do seu estatuto anterior”. Porém, esta mostra é também “um portal para um futuro ‘colorido'”, tratando-se, para as 10 Marias, de um “trabalho esteticamente cativante” e que serve “como um registo histórico e cultural de valor inestimável, destacando o delicado equilíbrio entre a tradição e a modernidade”. Do livro nasce a mostra Nascido em 1976, Pedro Ramos viveu em Macau, onde fez o ensino básico e secundário. Depois de se formar em fotografia em Portugal, Pedro Ramos procurava trabalho na área, até que se deparou com a oportunidade de colaborar com o livro “Macau – Os Últimos Cem Dias do Império”, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira, que se encontrava no território para escrever a reportagem sobre a passagem de testemunho de Portugal para a China. “Algumas foram publicadas no livro, outras não. Fiquei com este arquivo fotográfico dos últimos dias da presença portuguesa em Macau. Desde o início de 2000 só voltei a Macau em 2024, fui de férias, e como ando sempre com a máquina resolvi fazer uma cobertura daquilo que gosto em Macau, mas nos tempos mais modernos”, confessou ao HM. Um contacto com Mónica Coteriano, fundadora das 10 Marias, foi suficiente para trazer cá para fora este projecto, espelhado “na vontade de mostrar um pouco o antes e o depois” do território. Ainda assim, Pedro Ramos explica que esta não é “uma exposição comparativa do antes e depois de determinada zona, ou edifício, não é um trabalho de comparação em que as pessoas vêm uma fotografia do antes e do depois”. “A exposição está organizada com um grande conjunto de imagens da altura da transição, de 1999. No dia da inauguração senti que estas foram as fotografias que mais tocaram grande parte das pessoas que estiveram presentes, porque puderam rever uma Macau que já não existe da mesma forma. Há depois uma parte com fotografias tiradas no meu regresso”, frisou. Pedro Ramos diz voltar sempre aos lugares onde foi feliz, e aqui existem “muitos paralelismos visuais”, nomeadamente com sítios mais icónicos como o Hotel Lisboa e Ruínas de São Paulo. Rever imagens, olhar de novo para alguns momentos e organizar esta mostra constituiu “um dos grandes desafios”. “Tinha todo o trabalho de 1999 impresso, e custou olhar para algumas imagens e, por um lado, houve um acto muito sentimental, mas foi bom poder viajar um bocadinho no tempo.” Pedro Ramos destaca uma fotografia “muito forte e marcante”, de quando o antigo Liceu de Macau tinha sido transformado numa base militar. “Ainda hoje, quando olho para a imagem, sinto estranheza. Não digo que foi difícil, mas foi estranho, e é uma imagem que me diz muito.” Vínculo com Macau Apesar de ter vivido parte da infância e adolescência em Macau, Pedro Ramos mantém um vínculo afectivo ao território desde esses anos. “Sinto sempre que estou de volta a casa e posso dizer que me sinto macaense, porque cresci em Macau e vivi lá um período importante. Quando as pessoas me perguntam como vejo as mudanças, digo que para quem conhece Macau há 30 ou 40 anos como eu, o centro de Macau não mudou assim tanto. O mercado vermelho, as Ruínas de São Paulo, o jardim Lou Lim Ieoc, são locais que continuam a ser muito familiares e se mantêm semelhantes. Acho que, nesse sentido, Macau continua a ser muito igual à cidade que conhecia, embora esteja maior e mais moderna.” Pedro Ramos disse ainda que a exposição pode prolongar-se um pouco mais em Macau, estando nos planos uma extensão a Portugal. “Estou a tentar apresentar este trabalho em Portugal, mas ainda não iniciei os contactos necessários. Fui incentivado a fazer isso porque a comunidade macaense a viver em Portugal é grande e muitas pessoas, que souberam da exposição, tiveram pena de não conseguir ver.” Destaque ainda para o facto de as imagens estarem disponíveis para venda.