Taipa Art Village | Exposição de Elizabeth Briel encerra programação do ano

Com “Waves of Influence” [Ondas de Influência], mostra que apresenta trabalhos de Elizabeth Briel, a Associação Cultural da Vila da Taipa encerra a programação para este ano. Trata-se de uma instalação artística feita com materiais como ganga e t-shirts transformados em azulejos com características locais. Para ver até Fevereiro

Numa altura em que a RAEM se prepara para celebrar mais um aniversário de existência, a 20 de Dezembro, a Associação Cultural da Vila da Taipa apresenta, até Fevereiro, uma exposição relacionada com os conceitos de transição, cultura local e identidades que por aqui permanecem desde 1999 ou que sempre fizeram parte do território.

“Waves of Influence” [Ondas de Influência], da artista Elizabeth Briel, que trabalha essencialmente com pintura, instalação e gravura, resolveu pegar em materiais recicláveis, como ganga e pedaços de t-shirts, transformando-os “numa parede fluída de azulejos azuis e brancos macaenses”. São como “imagens usadas para definir um lugar em transição”, questionando-se quais as “correntes culturais que estão por detrás da transmissão de ideias que revitalizam as artes de uma era”.

Segundo uma nota da própria artista sobre esta mostra, “Ondas de Influência” teve origem “em horas de trabalho na mesa de estúdio em Macau e ao redor dela, incrustada com porcelana chinesa azul e branca pintada à mão, criada para o mercado de exportação e trazida pelos americanos para Hong Kong”.

“Tracei os desenhos intrincados da porcelana, lembrando-me dos azulejos portugueses de cobalto nos espaços públicos de Macau e das formas como esta forma de arte ligava culturas díspares da China ao Ocidente. Estes azuis eram a arte dos impérios, que, tal como o papel e a ganga, foram transportados através de continentes e séculos através da migração e do comércio, do poder e do conflito, transformados por pessoas de todos os níveis da sociedade à medida que incorporavam estes objectos nas suas vidas.”

A artista confessa ter-se interessado, ao longo deste processo criativo, pelas “transmissões culturais entre os impérios chineses, os califados mediterrânicos e as potências da união ibérica que catalisaram as artes do papel e da porcelana azul e branca durante o último milénio”.

Olhos nos azulejos

No território, Elizabeth Briel examinou azulejos com motivos portugueses colocados pela cidade, “azulejos do século XX que retratavam temas históricos do Mar da China Meridional; e outros recentemente pintados em ‘trompe l’oeil’ directamente nas paredes de estuque”.

“Enquanto experimentava maneiras de traduzir azulejos em papel denim feito a partir do ‘uniforme americano’ global de calças de ganga azuis, examinei as pinceladas individuais dos azulejos para entender as decisões que os pintores haviam tomado. Embora as pinturas de cobalto possam assemelhar-se a aguarelas, os esmaltes são frequentemente mais calcários e mais difíceis de manusear, e era evidente que os pintores tinham concebido soluções alternativas ao recriar esboços e outras imagens nos azulejos.”

Além disso, descreve a artista, a fim de “compreender melhor as mãos e as mentes que os criaram”, Elizabeth foi até Portugal e China “para experimentar as sensações de pintar e imprimir esmaltes directamente do pincel, os toques, os aromas e os sons do processo, o rigor implacável dos esmaltes metálicos e a potencial destruição inerente à queima a 1300 °C.”

Todo este projecto nasceu “do fascínio pela materialidade dos impérios”, transformando-se “numa forma de traçar uma viagem pessoal do Ocidente à Ásia e de volta, gravando papéis com baús de madeira esculpidos de Guangdong usados para transportar uma vida através dos mares, plantas como dispositivos retóricos usados para descrever os imigrantes como espécies invasoras, detalhes arquitectónicos da vida num continente transpostos para outro”.

Outras séries

Em “Ondas de Influência” apresentam-se também trabalhos da artista de uma série anterior, intitulada “Impressions: What Lies Beneath Paris & Hong Kong”, tratando-se de um “projecto da Grande Baía desenvolvido num centro de arte em papel” em Guangzhou.

Elizabeth sempre tentou fazer papel com outros materiais, nomeadamente linho ou algodão, tentando depois “criar instalações modulares em grande escala” com essa base. “O seu trabalho começa com materiais imbuídos de significado, como papel batido por tufões ou feito de uniformes militares e tintas de osso e chumbo.”

A artista nasceu na Califórnia e foi criada em Minneapolis, tendo-se formado em Belas Artes e especializado em pintura na Universidade de Minnesota. Viveu em cidades como Nova Iorque e Boston, deixando os EUA em 2003. Residiu na Ásia por 20 anos.

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