GP | FIA vai continuar a apostar na Formula Regional em Macau

O facto de a FIA ter trocado a Fórmula 3 pela Fórmula Regional (FR) continua a ser um tema recorrente quando o tópico é o Grande Prémio de Macau. Apesar da prova rainha do programa não ter desapontado na edição deste ano, apagando um pouco a má imagem deixada no ano passado, ainda existe um sentimento generalizado de que a federação internacional privou o Grande Prémio da sua prova preferida

No final da 72.ª edição, a Coordenadora da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, Lei Si Leng, quando questionada novamente pela imprensa local sobre um eventual regresso da Fórmula 3, afirmou que a organização vai continuar a cooperar com a FIA para escolher as corridas que mais se adequam a Macau. Ao mesmo tempo, a dirigente do Instituto do Desporto de Macau deixou a garantia que o plano passa por continuar a receber pilotos em idade de formação e que se afirmem como o futuro do automobilismo.

“Nós temos vindo a comunicar de forma estreita com a FIA para sabermos quais as provas que podem ser realizadas em Macau e a FIA tem seleccionado os melhores pilotos para virem cá competir”, disse, acrescentando que espera “que possam vir os melhores pilotos a Macau e que continuemos a colaborar com a FIA para organizar as provas mais adequadas para Macau”.

Do lado da FIA, existe a convicção de que a FR é a disciplina que melhor se adapta às características do Circuito da Guia, um traçado que permanece praticamente inalterado após sete décadas de existência. O descontentamento que ainda subsiste é considerado natural. “O desporto motorizado é tradicional, e não me recordo de alguma mudança que tenha sido bem recebida no início, mesmo as boas mudanças” admitiu Emanuele Pirro, o actual presidente da Comissão de Monolugares da FIA, em conversa com os jornalistas em Macau.

O ex-piloto italiano, um conhecedor do Circuito da Guia e vencedor da Corrida da Guia pela BMW, aproveitou a passagem pela RAEM para recordar que “se olharmos para a história de Macau, começou com a Fórmula 2, ou Fórmula Pacific, e depois passou para a Fórmula 3. Em 1984, um jornalista podia ter perguntado: ‘porque já não corremos com Fórmula 2?’ Acho que é inevitável. Tudo tem um preço. Para termos o privilégio de contar com um circuito que permaneceu inalterado ao longo da sua história, o preço a pagar é utilizarmos carros que continuem a ser razoavelmente seguros. E penso que a Fórmula Regional oferece um bom equilíbrio em termos de velocidade.”

Numa rara entrevista à revista especializada INSIDE, o ex-coordenador do Grande Prémio, José Manuel Costa Antunes, alertou para que não se deixe cair o nível da prova. “Hoje, com a transição para a Fórmula Regional e a Fórmula 4, o que não é um problema, são apenas carros diferentes, vemos mais pilotos inexperientes”, referiu o homem que esteve ao leme do evento por mais tempo, tocando num tema sensível: “Algumas pessoas podem simplesmente comprar um lugar. Isso é preocupante. Como fãs, queremos corridas a sério, não bandeiras vermelhas. Devemos à história do Grande Prémio recuperar esse processo selectivo, para garantir que apenas os melhores competem aqui.”

Números apoiam a decisão

Olhando para as folhas de tempos, conclui-se que os registos por volta da corrida principal da FR se situaram na casa dos 2m16s, cerca de dez segundos mais lentos do que os tempos verificados no último ano dos monolugares FIA F3, em 2023. Em termos históricos, estes cronos colocam os carros da FR num patamar semelhante ao dos Fórmula 3 do final da década de 1990. No entanto, do ponto de vista da segurança, as velocidades atingidas no “sprint” para a Curva Lisboa continuam a ser a principal preocupação desde o acidente de Sophia Flörsch em 2018. Com o cone de aspiração, velocidades superiores a 290 km/h eram frequentes em 2023 com os Dallara F3, mas a mudança para os carros da FR reduziu esses valores para a ordem dos 260 km/h.

Em 2026, espera-se a chegada a Macau do novo carro da Fórmula Regional, o Tatuus T-326, que está equipado com um motor Toyota ATM163T de três cilindros e 1.6 litros, preparado pela Autotecnica Motori, mais potente e eficiente. O chassis foi concebido segundo as últimas especificações da FIA, de forma a proporcionar melhorias ao nível do desempenho, da segurança e da aerodinâmica, facilitando as ultrapassagens e promovendo corridas mais animadas. Todavia, apesar de ser expectável que os tempos por volta voltem a descer, provavelmente as velocidades de ponta não serão dramaticamente mais altas.

Convém referir que a mudança para a FR não foi motivada apenas por questões de segurança. Quando a FIA concedeu à Formula One Management (FOM) os direitos comerciais e promocionais da Fórmula 3, a prova do território passou a ser uma corrida extra-campeonato de uma competição internacional, limitada à participação das mesmas equipas que disputavam o campeonato. Esta alteração foi recebida de forma desfavorável pelo próprio promotor, uma vez que o mesmo nunca desempenhou um papel verdadeiramente interventivo no âmbito do Grande Prémio. Acresce que a realização da prova em Macau, no mês de Novembro, implicava uma logística particularmente exigente, com impacto negativo no planeamento e execução dos testes de pré-temporada.

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