Teatro D. Pedro V | Celebração de nascimento de Carlos Paredes acontece amanhã

Para celebrar o centenário do nascimento de Carlos Paredes, um dos grandes nomes da guitarra portuguesa, acontece amanhã, no Teatro D. Pedro V, o “Concerto de Homenagem a Carlos Paredes”, com Paulo Soares, na guitarra portuguesa, e Rui Poço Ferreira, na viola. Em entrevista ao HM, Paulo Soares desvenda um pouco as notas que se farão ouvir amanhã

 

Cumprem-se este ano os 100 anos sobre o nascimento de Carlos Paredes, nome sonante da guitarra portuguesa, e a pensar nisso a Casa de Portugal em Macau (CPM) decidiu assinalar a data com um concerto que decorre amanhã no Teatro D. Pedro V, a partir das 20h00. Ao palco, sobe Paulo Soares, guitarrista, seguidor dos passos dos “Paredes”, nomeadamente Carlos Paredes e o seu pai, Artur, e Rui Poço Ferreira, na viola de acompanhamento.

Paulo Soares, que se assume como “especialista em toda a música dos Paredes [Artur e Carlos Paredes], e não só”, ensina guitarra portuguesa há 35 anos e tem-se dedicado a estudar o legado do músico português. Mas o espectáculo de amanhã não vai ser apenas pautado pelas composições dos Paredes.

“O espectáculo vai ser sobre a influência dos Paredes na guitarra portuguesa. Antes do Carlos Paredes temos o pai, Artur Paredes, que foi um guitarrista revolucionário e virtuoso no seu tempo, com quem Carlos Paredes muito aprendeu. Aliás, ele sempre referiu que aquilo que sabia tocar tinha aprendido com o pai. Carlos Paredes teve também aulas de violino, e expandiu aquilo que aprendeu com o pai, na composição e na forma como usou a guitarra.”

Esta influência verificou-se em muitos guitarristas portugueses, sobretudo na cidade de Coimbra, onde também existe o género musical Fado de Coimbra.

Assim, amanhã apresentam-se músicas de dois desses guitarristas influenciados pelos Paredes. “Um deles, Octávio Sérgio, que tem agora 88 anos, foi o último guitarrista a acompanhar José Afonso, tendo uma obra muito interessante. Podemos colocar essa obra na continuidade de Carlos Paredes, até mais do que de Artur Paredes. Conheço pessoalmente Octávio Sérgio e tenho estudado a sua obra. Depois termino com obras minhas, porque a melhor forma de homenagear os Paredes é continuarmos tudo isto, expressarmo-nos através da forma como eles nos inspiraram. Será um espectáculo bem mais abrangente do que uma mera interpretação das composições de Carlos Paredes”, explicou ao HM.

Limitações do génio

Carlos Paredes nasceu em 1925 em Coimbra, a 16 de Fevereiro, no seio de uma família com fortes ligações à guitarra portuguesa. Aos nove anos de idade já acompanhava Artur Paredes e com 14 anos estreia-se com o pai num programa radiofónico, na então Emissora Nacional.

A família muda-se para Lisboa em 1934. A par da carreira de músico, Carlos Paredes foi sempre funcionário administrativo do Estado, começando em 1949 a trabalhar no arquivo de radiografias do Hospital de S. José, até se reformar a 1 de Novembro de 1986.

Musicalmente, Carlos Paredes foi também influenciado por músicos dos anos 60 que mudaram a guitarra portuguesa de forma conjunta, como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e António Bernardino. O primeiro álbum de Carlos Paredes, o EP em nome próprio, saiu em 1962.

Porém, e apesar de uma vida dedicada ao dedilhar da guitarra, Carlos Paredes “nunca foi capaz de ensinar ninguém”, recorda Paulo Soares. “Sei que tentou fazê-lo, mas a verdade é que não se conhece ninguém que toque guitarra e que tenha aprendido com Paredes. Artur Paredes também não ensinou ninguém, apenas o filho, era algo natural. Carlos Paredes referiu que Artur só lhe deu uma indicação de mão direita a tocar guitarra.”

Paulo Soares confessa que sempre quis aprender com Paredes, mas também “quis transmitir”. “Faço o oposto daquilo que os Paredes fizeram. Há 35 anos que ensino guitarra portuguesa e esta não morre, porque não tem como, já que há muitas pessoas interessadas em aprender.”

Paulo Soares destaca ainda outra curiosidade sobre a capacidade musical de Paredes. “Carlos Paredes também dizia que a sua forma de tocar estava cheia de limitações, o que é verdade, embora estivesse também cheia de qualidades. Tocar como Carlos Paredes é uma forma de mostrar as suas qualidades e também que é possível ultrapassar as limitações, e é interessante em termos culturais e da perspectiva da guitarra.”

Mais concretamente, o músico tinha “uma forma de tocar que o permitiu expressar-se extraordinariamente bem, a tocar as suas próprias composições”. “Sei de duas pessoas que tentaram trabalhar com Carlos Paredes e ele não foi capaz de sair do seu mundo musical. Mas isso não tem de ser um problema”, referiu Paulo Costa.

Sem contratos

Outra limitação de Carlos Paredes, parece ter sido a falta de capacidade para gerir uma carreira musical. “Penso que teve o devido reconhecimento em vida, mas ele próprio não foi capaz de gerir a sua vida pessoal e musical de forma comercial. Isso está escrito e documentado, teve hipótese de assinar contratos chorudos que o poderiam ter tirado de uma certa miséria em que vivia e ele não foi capaz de aceitar isso.”

“A sensação que tenho é que era uma pessoa que levou tanta pancada na vida que só quando tocava guitarra se sentia bem. Acho que nunca foi capaz de assumir a guitarra como um compromisso”, remata Paulo Soares.

Segundo uma biografia divulgada pela CPM, Paulo Soares nasceu em 1967 e é hoje “um dos mais versáteis e generosos guitarristas de sempre da guitarra portuguesa”, estudando e investigado este instrumento “há mais de 40 anos, buscando a excelência da sonoridade e do discurso musical”, sendo também “o mais profundo conhecedor da guitarra de Carlos Paredes”.

“A sua síntese inovadora das técnicas e intenções das guitarras tradicionais de Coimbra e de Lisboa são o alicerce para a sua enorme versatilidade musical e guitarrística, plena de entusiasmo e profundidade”, descreve a mesma nota biográfica.

“Como pedagogo e impulsionador da guitarra portuguesa, a obra de Paulo Soares é indubitavelmente das mais importantes. É autor e editor do Método de Guitarra Portuguesa, obra de referência na aprendizagem do instrumento. Tem ensinado consistentemente, tem auxiliado outros professores e tem partilhado generosamente várias transcrições de sua autoria, sendo um dos maiores impulsionadores do desenvolvimento moderno da nossa guitarra”, é ainda referido.

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