China / ÁsiaChina sem nada a perder se taxas aumentarem mais 50 por cento, dizem economistas Hoje Macau - 9 Abr 2025 Pequim está a aproximar-se de um ponto em que não tem “nada a perder” na guerra comercial com Washington, afirmaram economistas, após o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter ameaçado aumentar as taxas em mais 50 por cento sobre produtos chineses. “A margem de lucro do sector exportador chinês é entre 30 por cento e 40 por cento”, escreveu Dan Wang, director para a China do grupo de reflexão (‘think tank’) Eurasia Group. “Se os Estados Unidos impuserem taxas alfandegárias superiores a 35 por cento, a maior parte dos seus lucros será eliminada. O facto de as taxas serem de 70 por cento ou mesmo de 1000 por cento não faz grande diferença, uma vez que impede a China de negociar directamente com os Estados Unidos”, argumentou. Desde a sua tomada de posse, em Janeiro, Trump já aplicou uma sobretaxa adicional de 20 por cento sobre produtos chineses que entram nos Estados Unidos. Esta sobretaxa deverá aumentar para 54 por cento amanhã. Em resposta, Pequim anunciou que vai impor taxas de 34 por cento sobre os produtos norte-americanos a partir de quinta-feira. O Presidente dos Estados Unidos ameaçou na segunda-feira aumentar as taxas em mais 50 por cento se Pequim mantiver a sua decisão. No conjunto, as taxas iriam para cerca de 115 por cento, segundo Su Yue, economista principal para a China na Economist Intelligence Unit. “Além disso, todas as conversações com a China sobre as reuniões que solicitaram connosco serão encerradas”, ameaçou Trump. Wang explicou que, apesar de os exportadores chineses enfrentarem agora a nova realidade de um aumento permanente dos custos de exportação, isso não significa que as exportações vão parar. Pelo contrário, obriga os exportadores a encontrarem novos mercados e a reduzirem o envio de mercadorias directamente para os EUA. Alicia Garcia-Herrero, economista-chefe para a região Ásia-Pacífico do banco de investimento francês Natixis, também minimizou a última ameaça de Trump. “O mercado dos EUA já está fechado para os produtos chineses, pelo menos directamente da China para os EUA, pelo que [um aumento adicional de 50 por cento das tarifas] não é uma ameaça [eficaz]”, considerou. A decisão reflecte o facto de os EUA estarem a visar a China mais do que qualquer outro país, o que “já acontecia antes de a China retaliar”, frisou. Erros e chantagens A China ameaçou ontem “tomar resolutamente contramedidas para salvaguardar os seus próprios direitos e interesses”, em resposta à ameaça de Trump. Em comunicado, o Ministério do Comércio disse que a imposição pelos EUA das “chamadas ‘tarifas recíprocas’” à China é “completamente infundada e é uma prática típica de ‘bullying’ unilateral”. “As contramedidas tomadas pela China têm como objectivo salvaguardar a sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento e manter a ordem normal do comércio internacional. São completamente legítimas”, lê-se no comunicado. “A ameaça dos EUA de aumentar as taxas sobre a China é um erro em cima de um erro e mais uma vez expõe a natureza chantagista dos EUA. A China nunca aceitará isso. Se os EUA insistirem nesse caminho, a China lutará até ao fim”, apontou.