D. Pedro V | “Fado Nosso”, o espectáculo que celebra Amália

“Fado Nosso” já tem alguns anos de existência no leque de produções da companhia de dança Amálgama, mas chega agora a Macau apresentando-se amanhã no Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, criadora e directora artística, fala de uma produção que celebra a voz maior do Fado, Amália Rodrigues

 

Desde 2003 que a companhia de dança Amálgama sobe aos palcos para dançar o Fado, a música portuguesa por excelência. “Fado Nosso” não é excepção – nasceu primeiro para ser apresentado no Panteão Nacional, onde repousa o corpo de Amália Rodrigues, considerada a maior fadista portuguesa, mas depois deixou de ser apresentado.

No ano em que se celebra o 25.º aniversário da sua morte, que ocorreu a 6 de Outubro de 1999, o Instituto Português do Oriente (IPOR) decidiu reavivar esta produção da Amálgama, trazendo-a de Portugal para o Teatro D. Pedro V. Alexandra Battaglia, directora artística da companhia e criativa do espectáculo, disse ao HM estar muito satisfeita com esta oportunidade.

“Desde o ano 2000, quando fomos criados, que a fusão entre o Oriente e Ocidente, a espiritualidade natural, o património físico e imaterial são os nossos princípios. Em 2003 começámos a trabalhar o Fado e fomos talvez a primeira companhia de dança a mergulhar numa casa de fados”, contou.

Para a criadora de “Fado Nosso”, o Fado “é um património não só de Portugal, pois quando o sentimos de forma diferente é um património universal da alma, e é já nesse estado que o sentimos e criamos”.

“Temos um percurso de quase 15 anos a dançar o Fado em várias criações. A última criação, pioneira, partiu do convite para criarmos, no Panteão Nacional, um espectáculo focado no tributo à voz do Fado, a Amália. Tem sido um sucesso enorme e só parou com a mudança na direcção do Panteão, e depois apareceu a pandemia. Tudo ficou em suspenso. Era um espectáculo que poderia ficar no Panteão eternamente, que seria sempre um sucesso certamente.”

Agora, em Macau, “Fado Nosso” apresenta-se com diferentes fados que vão contando o percurso de Amália Rodrigues, artista que nasceu pobre, mas que acabou por ter uma carreira de sucesso, também a nível internacional.

“No espectáculo do Panteão tínhamos a música ‘Fado Meu’, mas fizemos a mudança para ‘Fado Nosso’ dada a adaptação a outros espaços. Fazemos um percurso pelas diferentes etapas de Amália. Começa com um fado que é ícone nela, e que para nós permite olhar para a fase mais conhecida da fadista, e vamos depois entrando numa espiral de diferentes fases, que passa pelas paixões, os fados mais sensíveis.”

Depois é a vez de se ouvir e dança “os fados mais populares, como o ‘Barco Negro’, ‘Uma Casa Portuguesa’, entrando depois noutra fase com ‘Foi Deus’ ou ‘Com que Voz’. Temos depois fados que representam a fase da carreira dela mais internacional.”

Acima de tudo, “Fado Nosso” surge “do percurso das criações da Amálgama e dos seus cruzamentos com o património material e imaterial português e da humanidade, nomeadamente com o Fado”. Foi um projecto nascido “da vontade de criar um espaço mais informal, numa espécie de desgarrada e improvisos sobre o Fado que ofereça um encontro entre artistas de diferentes percursos e estéticas no dançar e sentir o Fado”, lê-se na descrição oficial do espectáculo.

Influências orientais

Na Amálgama não se começa a dançar com base num conceito ou numa mera ideia, procurando-se estabelecer uma conexão com o corpo, o espírito, o mundo que rodeia os criadores e os bailarinos. Dentro dos princípios da companhia reside uma conexão com o Oriente, e importa lembrar que a companhia nasceu na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa.

“Passámos cerca de nove anos a partilhar metodologias entre a nossa formação em dança, com foco na dança contemporânea, com práticas energéticas e criativas que cruzavam o nosso conceito de dança e identidade artística, numa ligação com princípios taoístas e a relação com a natureza.”

Para Alexandra Battaglia, já aí se denotava que a Amálgama, como companhia de dança, “era muito diferente”. “Procurávamos identidade onde a alma estivesse envolvida, para não serem apenas corpos virtuosos com domínio técnico que executavam coisas. Primeiro fazemos uma busca sobre nós, quem somos e onde está a nossa raiz cultural, aquilo que nos toca como seres humanos e portugueses. Esse conhecimento geral partilhado numa companhia de dança vai depois para a essência do que é ser português. Tínhamos bailarinos a cantar Fado e íamos ao sentir o que era isso, o que era essa ‘coisa portuguesa’.”

Mas Alexandra Battaglia tem também uma forte ligação ao território, quando foi convidada em 2011, pelo Instituto Cultural, para criar a Parada Internacional de Macau. “Precisavam de alguém que soubesse trabalhar com a multiculturalidade e que conseguisse juntar o que está em Macau em caixinhas, desde brasileiros, portugueses, macaenses e chineses. Achava que esta miscelânea cultural e magia que Macau me parecia ter estava fundida, mas não. Procuravam então alguém que criasse identidade e desenhasse a parada.”

Primeiro foi realizado um espectáculo para o Festival das Artes em conjugação com todas as associações artísticas do território, num total de 700 artistas, e depois foi criada a parada. “Com isso quis colocar em cada rua de Macau a arte que se faz, o que o grupo tinha para oferecer, para que olhassem para a arte de uma outra maneira, saída do espaço tradicional e colocar na rua, nos jardins, nas esquinas. Queria criar uma viagem em que o público entrava e se encantava por momentos da arte que iam emergindo.”

A Amálgama esteve também ligada à plataforma UnityGate “que visava fazer fluir, a partir de 2011, artistas entre Macau e Portugal”, projecto que tem estado suspenso.

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