China espera que Europa “retire os óculos da ideologia”

A China espera que a Europa “retire os óculos da ideologia” e respeite regras para evitar o “lançamento de políticas e iniciativas anti-globalização e exagero do conceito de segurança nacional”, segundo o embaixador do país em Portugal.

Numa conferência em Lisboa, Zhao Bentang, abordou ontem como a “chamada ‘redução dos riscos’ é uma falsa proposta” e que a “cooperação económica e comercial entre a China e a UE (União Europeia) é bem fundamentada, frutuosa e promissora”.

“Espera-se que a parte europeia retire os óculos coloridos da ideologia, exclua a interferência externa, adira à autonomia estratégica, e forme uma percepção independente e objectiva da China”, afirmou o embaixador, para quem deve ser continuada uma “política proactiva e racional”, além do respeito por “normas básicas de uma economia de mercado” e cumpridas as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) para “evitar o lançamento de políticas e iniciativas anti-globalização e exagero do conceito de segurança nacional”.

O diplomata defendeu ainda que os novos produtos energéticos resultam de “vantagens comparativas e da lei do mercado”, garantindo que não existem subsídios proibidos pela OMC.

“Para a nova indústria de energia da China, o ‘excesso de produção’ é um disparate, é um pretexto para o proteccionismo”, adiantou o mesmo responsável, recusando ainda que haja ‘dumping’, uma vez que os “preços de exportação também estão em conformidade com as leis do mercado, não há problema de dumping”.

Perdas a dobrar

Na sua intervenção, o embaixador considerou, assim, que “defender a bandeira do desenvolvimento ecológico e, ao mesmo tempo, usar o bastão do proteccionismo para restringir as exportações chinesas” como veículos eléctricos “é uma atitude típica de dois pesos e duas medidas”.

Zhao Bentang argumentou que essa atitude “não só prejudicará a transformação ecológica da economia mundial, como também os esforços globais de combate às alterações climáticas, resultando numa situação de dupla perda”.

Na semana passada, a China tinha avançado que “reserva o direito” de apresentar uma queixa à OMC depois de a UE anunciar possíveis aumentos das tarifas de importação de veículos eléctricos chineses.

Em comunicado divulgado na quarta-feira, o executivo comunitário indicou que, provisoriamente, as importações de veículos elétricos da BYD passarão a ser taxadas em 17,4 por cento, da Geely em 20 por cento e da SAIC em 38,1 por cento, sendo estas as marcas incluídas na amostra investigada.

A Comissão estabeleceu, a título provisório, ser “do interesse da UE remediar os efeitos das práticas comerciais desleais detectadas, mediante a instituição de direitos de compensação provisórios sobre as importações de veículos eléctricos provenientes da China”.

Para além dos três mencionados, outros construtores chineses de carros eléctricos que cooperaram com a investigação, mas não foram incluídas na amostra serão taxadas em 21 por cento e as que não cooperaram em 38,1 por cento.

Guerra e paz

Na conferência de ontem o diplomata afirmou ainda como Pequim “compreende o impacto da crise ucraniana nos povos da Europa”, não sendo a China “nem criadora nem parte ou participante”, mas que tem “desempenhado um papel construtivo na promoção de uma resolução pacífica da crise” e fornecido apoio humanitário à Ucrânia.

Sobre o conflito israelo-palestiniano, a “China insiste em que a saída fundamental (…) reside na criação de um Estado palestiniano independente”.

“A história tem provado repetidamente que a causa principal da repetida instabilidade da situação israelo-palestiniana é a falta de aplicação efectiva das resoluções das Nações Unidas, a erosão contínua da base da solução de dois Estados e o desvio do processo de paz do Médio Oriente do caminho certo. A China está pronta a reforçar a cooperação com todos os países amantes da paz e a contribuir para o restabelecimento da paz no Médio Oriente”.

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