“Grand Tour” consagra Miguel Gomes em Cannes como melhor realizador

O realizador português Miguel Gomes venceu o prémio de melhor realização do Festival de Cinema de Cannes, em França, pelo filme “Grand Tour”, foi sábado anunciado na cerimónia de encerramento. É a primeira vez que Miguel Gomes é distinguido na competição oficial do festival de Cannes.

Miguel Gomes recebeu o prémio das mãos do cineasta alemão Wim Wenders e num curto discurso agradeceu ao cinema português, sublinhando a raridade que é haver filmes portugueses na competição oficial, e estendeu o agradecimento a “grandes cineastas” como Manoel de Oliveira, que o inspiraram a fazer cinema.

Há 18 anos, em 2006, na competição de longas-metragens esteve “Juventude em Marcha”, de Pedro Costa. A história de “Grand Tour” segue um romance de início do século XX, com Edward (Gonçalo Waddington), um funcionário público do império britânico que foge da noiva Molly (Crista Alfaiate) no dia em que ela chega para o casamento.

“Contemplando o vazio da sua existência, o cobarde Edward interroga-se sobre o que terá acontecido a Molly… Desafiada pelo impulso de Edward e decidida a casar-se com ele, Molly segue o rasto do noivo em fuga através deste ‘Grand Tour’ asiático”, refere a sinopse.

Durante a semana, em conferência de imprensa em Cannes, Miguel Gomes, 52 anos, explicou que “Grand Tour” é um filme “sobre a determinação das mulheres e a cobardia dos homens” e tem ainda como ponto de referência um livro de viagens, “Um gentleman na Ásia”, de Sommerset Maugham.

Périplo asiático

Na preparação deste filme, ainda antes da pandemia da covid-19, Miguel Gomes fez um arquivo de viagem pela Ásia – por exemplo, Myanmar (antiga Birmânia), Vietname, Tailândia, Japão -, para traçar o trajecto das personagens, recolhendo imagens e sons contemporâneos para uma longa-metragem de época de 1918.

Só depois desse périplo, Miguel Gomes rodou as cenas com os actores em estúdio, em Roma. O argumento é co-assinado pelo cineasta com Mariana Ricardo, Telmo Churro e Maureen Fazendeiro. “O que é interessante no cinema é que se pode viajar para um mundo alternativo, um mundo ficcional que contém todos os tempos; as memórias do tempo passado, o tempo actual em que vivemos, o presente”, disse Miguel Gomes na mesma conferência de imprensa.

“Grand Tour” foi produzido por Uma Pedra no Sapato, de Filipa Reis, em co-produção com Itália, França, Alemanha, China e Japão. Miguel Gomes já tinha estado anteriormente em Cannes, na Quinzena de Cineastas onde apresentou “Aquele querido mês de Agosto” (2008), “As mil e uma noites” (2015) e “Diários de Otsoga” (2021), correalizado com Maureen Fazendeiro.

Miguel Gomes soma vários prémios em festivais internacionais, nomeadamente o prémio da crítica do festival de Berlim com “Tabu” (2012), o prémio de melhor realizador (repartido com Maureen Fazendeiro) no Festival Mar del Plata (Argentina) com “Diários de otsoga” (2021) e o prémio especial do júri em Guadalajara (México) com “Aquele querido mês de Agosto” (2009). A 77.ª edição do Festival de Cinema de Cannes começou no dia 14 e terminou sábado.

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