Via do MeioPedra Amélia Vieira - 24 Jan 202424 Jan 2024 «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja» Um tempo mineral inaugura uma marcha doce como a espuma do mar. Jesus dá o sinal para uma jornada que já não será escrita a Fogo como as «Tábuas da Lei» e convoca o seu discípulo para uma grave e completa aventura-Pedro era um discípulo muito querido- não obstante no momento amargo disse que não conhecia aquele homem, mas tudo se passou na maior perfeição já que os desígnios são de condição supra-humana. Estamos no deserto, e a edificação de qualquer coisa escapa ao vegetal, daí o minério ser tão importante. Disse ainda que as portas do Abismo nada poderiam contra ela, e outras informações lhe terá passado que desconhecemos. Esta Pedra, tenaz, impossível de desvendar, este minério que vem da estrutura tribal das gentes, é a origem do próprio nascimento de Deus. A noção patriarcal é por demais evidente enquanto corroboração ao duro minério, estamos quase perto de Saturno, o deus impiedoso que devora os filhos, e nem Abraão escapa diante do pedregulho onde em lágrimas esteve pronto a degolar seu Isaac. Esta saga que envolve a vida mineral é de uma rudeza sem limites, é um tumulto agreste entre as esferas masculinas na dureza e no poder que se mantiveram intactas até aos nossos dias. E o que tem isto a ver com a nossa espuma? Quase nada. Em Portugal por exemplo, a ocupação de antenas informativas de futebol, geringonças políticas, atavismos de morgados, explanações de incompetentes, estabelecem domínio que desejaríamos menos ilustrativos. Mas a Pedra está no sangue patrístico destas estruturas! A Pedra que brota água a um Povo sedento será ainda assim a imagem ejaculatória de uma qualquer dádiva que forneça vida, e no prólogo a acontecer, se não fosse pedra, nada de milagroso em suspensão acontecia. A tenacidade imperiosa como o masculino teceu este formato, impediu que outras formas de vida tivessem espaço conversável no mundo, e por isso se volveu tão duro. Estranhas enfermidades se acumularam para edificação da estátua humanizada do Homem vazio. Ele pode estar entre a espécie complementar procurando a sua alma e nunca a encontrar. O roteiro da Pedra tende para a petrificação, e qualquer movimento é sempre uma ânsia de a implementar. Nós, tecido mais vegetal, observámos o desastre, mas a Flor é frágil em seu domínio: ela “nasce, morre, renasce…” tem pétalas de orvalho, e pertence a outra Encíclica. Mortas as estruturas, elas reclamam a sua neutralidade, uma espécie de carbono, mortos os arquétipos, eles fulminam os corpos com desorientação apetecível, e a Pedra quase arde no meio da tempestade. Estamos curvados perante o Maciço Central da desintegração, e isso não deverá ser o problema maior, mas sim, o que fazer com o resto desta humanidade que nos advém. A Pedra já se foi, não há Tábuas, Templos conquistáveis, e passámos há muito o esteiro das edificações. Quando Deus quiser, que se faça nuvem, que nós transbordamos de mistério.