Crise de crescimento é oportunidade para qualificar trabalhadores

Numa conferência no Porto, o vice-director do Instituto de Economia Mundial da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhang Bin, defendeu que o arrefecimento da economia chinesa é uma oportunidade para qualificar a mão-de-obra. Zhang Bin admitiu que, nos últimos 10 anos, a economia cresceu a níveis inferiores ao de décadas anteriores, mas “esta situação deve ser olhada de forma positiva, como uma oportunidade para mais investimento e para acumular conhecimento”.

“Este é o momento para a China apostar em investir nas suas infraestruturas e no capital humano intensivo”, defendeu o investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, num painel da IV conferência internacional de cooperação Portugal-China, que se realizou no Porto, assinalando os 10 anos do lançamento da Nova Rota da Seda e a parceria estratégica Europa-China 20, colocando como objetivo contribuir para o “abrandamento da tensão entre a Europa e a China”.

Zhang recusou-se a atribuir a alteração estrutural no ritmo de crescimento económico chinês a fatores que, disse, muitas vezes são apontados nos ‘media’ internacionais, em particular o aparecimento de uma ‘bolha’ imobiliária de elevado nível de risco ou o aumento exponencial da dívida pública da China.

“As razões devem ser procuradas noutro lugar. Desde logo no arrefecimento da procura interna e externa, que afetou os níveis de produção e de exportação dos principais setores da economia chinesa. Mas, também devem ser procuradas na falta de capital humano intensivo”, explicou o professor do Instituto de Economia Mundial e Política.

O investigador defendeu que este momento de arrefecimento da economia chinesa deve ser olhado não como uma crise, mas como uma oportunidade, lembrando que nos últimos anos a China passou a fazer uma aposta na qualidade dos seus produtos e por acumular conhecimento para prosseguir essa trajetória de qualificação.

“Este não é o momento para procurar mais expansão. Este é o momento para investir e para acumular ‘know how’”, disse Zhang, referindo-se às possibilidades de alargamento de zonas de influência comercial propiciados pela Nova Rota da Seda, que devem ser aproveitadas para aprender com outros sistemas, mais do que para serem vistos como novos mercados.

O vice-director do Instituto de Economia Mundial e Política assinalou ainda que, quando se compara o arrefecimento da economia chinesa com o comportamento das economias de países desenvolvidos, é possível perceber a falta de procura externa. Apesar da sua perspectiva otimista sobre o desempenho da economia chinesa, Zhang Bin mostrou-se preocupado com o aumento de desemprego na China, decorrente do arrefecimento da produção. “Mais uma razão para se aproveitar este momento para qualificar a mão de obra na China”, disse o investigador.

A conferência foi uma iniciativa da Câmara de Cooperação e Desenvolvimento de Portugal-China (CCDPC), da União de Associações de Cooperação e Amizade Portugal-China e do Observatório da China, tendo como co-anfitriões o Grupo Parlamentar de Amizade Portugal-China, e realizou-se no auditório da Fundação Manuel António da Mota, no Porto.

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