Este país não é para políticos com maioria absoluta

O nosso país não é para políticos que façam parte de uma maioria absoluta. Por quê? Porque goste-se ou não, o PCP é o único partido político coerente e que na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) só se preocupou com os muitos cambalachos que aconteceram na TAP ao longo de diferentes governações. Na semana passada foi apresentado o relatório preliminar dos trabalhos que decorreram durante meses. Assistimos a 46 audições no parlamento. Mas, ninguém acredita, que o relatório é um autêntico branqueamento de diversos assuntos graves que tomámos conhecimento ao longo das audições. A TAP foi partidarizada pelo governo de Passos Coelho. Essa partidarização foi uma vergonha, onde os accionistas levaram a companhia aérea portuguesa quase à falência. Um deles, David Neelman até levou uma indemnização de cerca de 50 milhões de euros. Um escândalo. E o relatório quase que se preocupou apenas com isso. Depois, o governo de António Costa nacionalizou a empresa e o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, delegou no seu secretário de Estado Hugo Mendes a tutela da TAP. Esse governante teve uma prática política que bradou aos céus, dando ordens constantemente à CEO francesa da TAP, esta CEO começou a embirrar com a competência da administradora Alexandra Reis, ao ponto de a querer despedir e colocar os advogados de ambas as partes a negociar uma indemnização para a engenheira Alexandra Reis. Esta gestora acabou por levar 500 mil euros de indemnização para deixar a administração da TAP. O ministro das Finanças, Fernando Medina disse na CPI que não teve conhecimento… quase para rir. Não ter conhecimento do meio milhão de euros que foi entregue à engenheira, quando a sua mulher era directora jurídica na TAP e que aconteceu com o beneplácito do ministro Pedro Nuno Santos, que ao mentir e ao meter os pés pelas mãos sobre o assunto, acabaria por se demitir. Medina ainda viria, para cúmulo, a convidar Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro. A bronca dos 500 mil euros rebentou e a senhora nem aqueceu o lugar no ministério.
Nas audições da CPI, João Galamba, como ministro que substituiu Pedro Nuno Santos na pasta das Infraestruturas teve um comportamento indigno e a provar-se que, realmente, o primeiro-ministro devia ter aceitado a sua demissão. Galamba, através da sua chefe de gabinete, contactou com o SIS (Secretas) a fim de esta instituição ter um comportamento ilegal de funções policiais ao ir reaver um computador de um adjunto do ministro Galamba. O caso deu água pela barba e agora o relatório da CPI não aborda a gravidade destes factos que ficaram provados. O partido neonazi, de André Ventura, até já marcou pontos, vindo anunciar que o relatório foi redigido pelo Governo e entregue à deputada presidente da CPI. Os outros partidos políticos têm-se manifestado abertamente contra o branqueamento inserido no relatório sobre factos graves de que se tomaram conhecimento ao longo das audições e que o relatório nada refere.
O Estado português introduziu na TAP mais de três mil milhões de euros do povo, alegando que seria para salvar a empresa de transporte aéreo. Com esse dinheiro foi criado o tal Fundo da Airbus, para a aquisição de aeronaves, mas afinal, a TAP ainda tem mais de 20 aviões por receber da Airbus. A discussão não tem fim. Há partidos políticos que dizem ir votar contra o relatório. Outros manifestaram que irão redigir outro relatório com todos os factos graves que foram abordados na CPI e que todo o país ouviu e leu através da comunicação social.
Um relatório sobre 46 audições parlamentares não pode ser uma espécie de generalizações balofas omitindo as passagens graves que comprometiam membros do Governo e até o Partido Socialista, quando, por exemplo, o seu grupo parlamentar mobilizou uma reunião com a CEO da TAP para combinarem as perguntas e respostas durante a audição na CPI. O facto de um relatório parlamentar desta importância ser apresentado de um modo leviano e partidário é muito grave. O primeiro-ministro, António Costa, disse que se pronunciava apenas quando o relatório estivesse finalizado. Pudera, ele sabe que o relatório não haverá de conter nada que comprometa a sua governação. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa (que voltou a desmaiar na semana passada) também afirmou que aguarda pelo final das conclusões do relatório para convocar o Conselho de Estado. O caso não é nenhuma brincadeira e o povo sabe perfeitamente que a TAP tem sido um cambalacho de enormes dimensões para certos indivíduos e os trabalhadores é que viram os seus salários diminuir e outros foram mesmo despedidos da empresa aérea. O relatório tem, no mínimo, três pontos muito polémicos e de grande controvérsia: a afirmação de que o Governo não interferiu na gestão da TAP, quando se sabia que o ministro Pedro Nuno Santos dava ordens para a CEO da TAP todos os dias, a afirmação de que não sabia do valor da indemnização de meio milhão a Alexandra Reis, quando o próprio secretário de Estado Hugo Mendes é que tratou de tudo e depois deu conhecimento ao seu ministro e a ausência de referências ao episódio que envolveu João Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, o que constituiu uma das maiores palhaçadas jamais vista na governação democrática. Neste último particular, inventaram-se cenas de pancadaria, agressões a funcionárias, roubo de computador, chamada dos SIS para fazer de Polícia Judiciária, insultos ao telefone e o relatório nada refere? Não, assim, o povo já nem na casa da democracia acredita. É o descrédito total quando Ana Paula Bernardo, relatora do relatório se encontrou com os jornalistas, dissecou uns quantos (poucos) temas relacionados com as 200 páginas e levantou-se da mesa dizendo que tinha de se ir embora porque existia outro compromisso, precisamente no momento em que os jornalistas queriam colocar as mais diversas perguntas. Bem, isto já não é democracia, não é nada. Reina o compadrio, o partidarismo e a pouca vergonha.

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