Portugal está a perder a juventude

Quando eu andava no Liceu de Évora apenas sonhava com a universidade em Lisboa. A família tinha meios financeiros para que eu pudesse estudar. Digo-vos isto, porque no nosso país estão a acontecer fenómenos tristes e desoladores com a nossa juventude.

Cada vez há menos alunos que desistem do ensino secundário; cada vez mais estudantes que terminam o secundário não têm possibilidades de ordem financeira para se inscrever numa qualquer universidade; cada vez mais temos “jovens” com 35 anos de idade a viver na casa dos pais porque não têm emprego que lhes proporcione o aluguer de uma residência; cada vez mais existem casais de namorados que não podem decidir casar porque não têm possibilidade de pagar as despesas do casamento, dinheiro para conseguirem uma casa e muito menos pensar em ter filhos; cada vez mais temos jovens universitários que a meio dos cursos desistem por falta de apoio oficial para o pagamento das propinas e procuram um trabalho diverso, em alguns casos, apenas conseguem laborar num restaurante; cada vez mais temos jovens que terminam o curso superior e não têm condições para obter o mestrado e o doutoramento; cada vez mais temos jovens que tiram o curso de enfermagem e assim que iniciam o trabalho num hospital ou centro de saúde, logo concluem que o salário obtido não chega para sobreviver e decidem emigrar; cada vez mais assistimos a jovens licenciados a emigrarem para Inglaterra, Alemanha, França e Holanda; cada vez mais somos confrontados com jovens que nos interrogam se existe alguma possibilidade de irem trabalhar para Macau; cada vez mais temos à vista desarmada jovens a dormir na rua depois de terem consumido um qualquer tipo de estupefaciente e cada vez mais ouvimos jovens a dizer que em Portugal não têm futuro e que se vão embora para o estrangeiro.

Naturalmente, que esta realidade é chocante e revoltante, porque as autoridades governamentais não querem dar-se conta que o país está a perder a sua juventude e que daqui a uma década serão muito poucos os jovens que viverão em Portugal. Não é possível chegar aos 35 anos e continuar a viver em casa dos pais, alguns na companhia da namorada. E este caso processa-se em residências paternais que têm possibilidades de sustentar os filhos, porque a grande maioria não tem o pecúlio necessário para manter os filhos em casa. Isto, é degradante, é triste e leva-nos a pensar que os governantes não têm qualquer preocupação com o futuro da juventude.

Há dias, um jovem que tinha desistido do curso de Medicina por não poder pagar as despesas inerentes às aulas, dizia-nos que iria para Espanha, mais concretamente para Madrid, visto que tinha lá um amigo que lhe arranjava um bom emprego numa clínica médica e que simultaneamente poderia terminar o seu curso clínico. São inúmeros os exemplos como este. Os jovens só por si são revolucionários e sonhadores. Nós também o fomos, mas nos dias de hoje em Portugal nem podem ser revolucionários nem sonhadores. O único sonho é a emigração. E esta, tem inserido milhares de raparigas e rapazes. Se forem a Paris ou a Londres logo se deparam com este triste panorama, felizmente de bom grado para os jovens que decidem emigrar. E há o outro lado da moeda. A família. Os jovens que emigram sofrem com saudades dos pais, dos irmãos e muitas vezes das namoradas. Os pais ficam pelas suas localidades a vaguear e a pensar a toda a hora nos filhos que viram partir e que não sabem quando os voltarão a rever. É um quadro negro para uns e outros. Para os que partem e para os que ficam.

Na semana passada recebi um email de um filho de um amigo pedindo-me que nada dissesse aos pais. O jovem transmitiu-me que iria deixar a Europa e que tinha arranjado um bom contrato para exercer a sua profissão de engenheiro na Nova Zelândia. Ou seja, no fim do mundo. Imaginam certamente, o estado em que vão ficar os seus pais quando souberem que o filho vive para lá da Austrália. O país, melhor, os responsáveis pelo ensino e pelo trabalho dos jovens têm muito rapidamente de mudar de atitude e legislar medidas de grande apoio social aos jovens. Se um estudante a meio do curso participa às autoridades que não tem dinheiro para continuar, o Governo tem a obrigação de lhe pagar as propinas. O Governo não pode continuar a assistir impávido e incompetente face ao que se passa com a juventude. E, para não falarmos no ano lectivo que está a terminar e que foi um ano perdido para a maioria dos estudantes devido à justa luta dos professores que há mais de um ano enfrentam um ministro da Educação incompetente, cruel, arrogante e que conseguiu que durante o ano lectivo as escolas estivessem praticamente encerradas. Ainda na semana que findou os professores atravessaram Portugal de norte a sul para explicar ao povo do interior as razões da sua luta e a incompreensão vaidosa do ministro e da sua equipa na tutela da Educação.

Não temos dúvidas que Portugal está a perder a sua juventude, o que já acontece nos dias de hoje. As estatísticas de jovens que têm emigrado são assustadoras e chocantes. Termino com um apelo a quantos amigos leitores vivem em Macau: se receberem algum contacto de um licenciado a pedir ajuda para trabalhar na RAEM, façam tudo o que puderem para que esses jovens possam ter um trabalho, casa, companheira e filhos.

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