Astronomia e Calendários (XIV-1)

Após a fundação da dinastia Ming (1368-1644) foi promulgado o Calendário Da Tong (大统历), que apenas era uma simples revisão do Calendário Shou Shi (授时历, Narração do Tempo) formulado por o astrónomo Guo Shoujing (郭守敬, 1231-1316) e o matemático Wang Xun (王恂, 1235-1291) durante a dinastia Yuan (1279-1368).

A série de observatórios astronómicos criados a partir do século VII na Ásia Central, Índia e na China, colocou em contacto astrónomos de diferentes culturas e filosofias, a trocar conhecimentos e leituras das observações, corrigindo ou confirmando os dados e na procura de um datum para os seus calendários.

Já uma anterior grande reforma nos calendários da China ocorrera a partir do importante legado dado no ano 85 por Jia Kui (贾逵, 30-101) ao anunciar estar o ponto do solstício de Inverno distanciado 20,25° de φ (fi) Sagittarii. Pegou no diagrama das “Nove Passagens da Lua” de Lui Xiang e atribuiu-o à excentricidade do curso da Lua, dizendo o apogeu avançar 3° pelo mês anomalístico (tempo gasto por a Terra entre duas passagens sucessivas pelo mesmo ponto da sua órbita). Este datum significa serem necessários 9,18 anos para se percorrer um ciclo completo e o mês anomalístico ser de 27,55081 dias. Técnica a permitir uma exactidão sem precedentes.

Zhang Heng (张衡, 78-140), servindo na corte da dinastia Han do Leste, ficou encarregue de fazer observações meteorológicas e astronómicas para aperfeiçoar o sistema no Si Fen Li (四分历, Calendário do Quarto que Sobra), calendário feito por Jia Kui e em uso desde o ano 85 até 263. Tinha esse nome pois baseado na duração de um ano solar de 365 dias e ¼ e inseria sete meses extra em cada dezanove anos. Continha cálculos precisos no período sinódico de Vénus, Júpiter, Mercúrio, Marte e Saturno, sendo a precisão para o de Mercúrio próxima à de hoje.

Zhang Heng corrigiu em 123 o Calendário Si Fen para que coincidisse com as estações e sobre Astronomia escreveu o Ling Xian (A Constituição do Espírito). Acreditava ser o Universo infinito e os corpos celestes terem uma regularidade no seu movimento, a Lua reflectir a luz do Sol e o eclipse lunar ocorrer quando a Terra obstruía a luz do Sol.

CALENDÁRIOS DA DINASTIA YUAN

Na dinastia Yuan o território chinês expandiu-se para Oeste, abarcando as conquistas mongóis muitos territórios muçulmanos e além de muçulmanos trazidos do Médio Oriente, com eles chegou a cultura árabe, assimilada pela China mongol.

O sistema do calendário árabe foi estudado pelos astrónomos chineses, quando em 1220 Yelu Chucai recompilara o Calendário “Hui Hui” (回回, povo muçulmano a viver na China) através dos estudos feitos no Observatório de Samarcanda e após revistos, passou a Calendário “Ma Ta Ba”, adoptado em 1236 pelos muçulmanos do Norte da China. Com intervenção preciosa na feitura desse calendário, o astrónomo persa Jamal al-Din ibn Mahammad al Najjari veio em 1267 para a China e ofereceu o “Calendário dos Dez Mil Anos” a Kublai Khan (1260-94), imperador mongol da dinastia Yuan entre 1279 e 1294, passando a ser este também calendário oficial.

Guo Shoujing (郭守敬, 1231-1316) fundara no interior do Palácio Imperial em 1279 o Observatório Astronómico de Dadu (Beijing), e em 1283 tornou-se seu Director, tendo aperfeiçoado os relógios de água provenientes dos criados por Yi Xing e o engenheiro Liang Lingzan, assim como por Su Song.

O monge budista, astrónomo e matemático Yi Xing (一行, 683-727) em 727 criara o Calendário Da Yan Li (大衍历) baseado no ciclo lunar-solar, a dar a duração de 88,89 dias para os seis termos do solstício de Inverno até ao equinócio da Primavera e 91,73 dias para o Sol percorrer o quadrante seguinte ao longo da eclíptica. Yi Xing em conjunto como o engenheiro Liang Lingzan (梁令瓒) “construíram no ano 725 o primeiro relógio mecânico do mundo, um relógio de água regulado por uma roda motriz que o punha em funcionamento.

A roda motriz abria e fechava uma válvula fazendo com que o fluxo de água vazasse de modo constante. Este relógio de bronze apresentava um mapa celeste, mostrava as horas, a localização do Sol e da Lua e representava o movimento das constelações equatoriais.

Já na dinastia Song, em 1088, Su Song (苏颂, 1020-1101) fizera um relógio de água e com ele construiu o Império Cósmico, o antepassado do computador, numa fusão de relógio de água, planetário e esfera armilar, iniciado em 1088 e concluído no ano de 1092. “Mecanismo com dez metros de altura, onde as rodas de escape, através de um fluxo de água constantes, giravam de modo a alimentar o relógio e o planetário, uma representação mecânica dos céus, enquanto a esfera armilar permitia calibrá-los através da observação do Sol e dos planetas.” Estava então o dia dividido em 12 shichen (时辰) e cada shichen tinha duas partes: a primeira chu (初) e a segunda zheng (正), passando assim o dia a ter 24 partes.

A criação de um novo calendário foi entregue a Guo Shoujing e a Wang Xun, pois o cálculo das órbitas planetárias e a aplicação da astronomia esférica continuava a conter muitos erros. Serviram-se da Tabela Astronómica Il-Khanate, escrita em persa e terminada em 1272 pelo Observatório Astronómico de Malag, resultante da compilação dos estudos provenientes da antiga Grécia, Arábia, Pérsia e China. Esta foi a base para Wang Xun resolver os problemas matemáticos do novo Calendário “Shou Shi” feito em 1280, que adaptando no cálculo astronómico a fórmula trigonométrica da esfera do Calendário Hui Hui, juntou-a ao cálculo dos movimentos diários do sistema solar, referindo ser a duração do ano trópico de 365,2425 dias, um erro de 26 segundos para o actual.

Guo Shoujing inventou um novo gnomo, chamando-lhe um definidor de sombra, pois facilitava a leitura da linha da sombra do Sol, confirmando estarem correctos os cálculos de Yi Xing sobre o movimento da eclíptica do Sol e a flutuação da sua velocidade aparente. Assim se fez a quarta grande reforma na história do sistema do calendário chinês.

Os instrumentos astronómicos do Observatório Astronómico Zijin, num dos montes a Oeste da Montanha Púrpura (Zijinshan) em Nanjing, foram feitos na dinastia Yuan por Guo Shoujing e Wang Xun para o Observatório da capital Dadu (Beijing). Após a tomada do poder em 1368 por os Ming, foram eles transferidos para a nova capital, Nanjing.

Em 1421, o terceiro imperador da dinastia Ming, Yongle (1402-24) retornou a capital (jing) para Norte (Bei), mas os instrumentos não regressaram, temendo-se trazer má sorte uma nova mudança. Daí serem feitos novos para o observatório construído em 1442 em Beijing.

Em Nanjing encontram-se vários instrumentos astronómicos fundidos em bronze, entre os quais um gnomo e uma esfera armilar de 1437, mas inventada para determinar a posição dos corpos celestes por Luo Xia-hong à volta do ano de 104 a.n.E.. Numa placa, diz-se terem os instrumentos sido levados para Berlim pelas tropas dos Oito Aliados (britânicos, franceses, japoneses, americanos, russos, alemães, austríacos e italianos), após o fim da revolta dos Boxers e só retornaram à China passados vinte anos, em 1921, com a assinatura do Tratado de Versalhes.

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