Bairro da Horta da Mitra | Preces ao deus da terra voltam três anos depois

A festa do deus da terra regressou ontem, pela primeira vez em três anos, a um dos templos mais representativos da divindade, no bairro da Horta da Mitra, em Macau.

“Geralmente, os cidadãos que veneram o deus da terra não estão a pedir muito, estão a pedir uma entrada e saída seguras, bem-estar familiar e crianças para crescerem bem e depressa. As orações são todas muito comuns e esta crença une o bairro”, disse à Lusa o presidente da associação de beneficência Foc Tac Chi Tou Tei Mio de Macau.

“A crença e os costumes do Tou Tei tiveram origem em Macau há algumas centenas de anos. Durante séculos, as pessoas adoraram Tou Tei e lentamente se tornou um costume estabelecido”, considerou Lo Seng Zung, que esteve presente na inauguração das festividades no bairro Horta da Mitra, no centro da cidade, onde fica o mais representativo templo da divindade.

Tou Tei Kung é uma das divindades chinesas mais populares e é considerada pelos crentes como protetora da vida, da saúde e da riqueza dos residentes, entre outros aspetos.

É no segundo dia do segundo mês do ano lunar chinês, que hoje ocorre, que os crentes costumam celebrar o nascimento deste deus com os vizinhos, mas a pandemia da covid-19 obrigou à suspensão das celebrações nos últimos três anos.

Durante as festividades, entre orações e a queima constante de incenso, decorrem danças do leão, representações de ópera cantonesa de Foshan e também banquetes, que “trazem um ambiente animado às comunidades chinesas locais, para as quais esta é também uma importante festa religiosa”, indicou Lo.

A ópera apresenta-se num palco improvisado junto ao templo, com músicos a tocar ao vivo, e atrai a atenção de moradores e de quem passa pela zona.

O orçamento das celebrações neste templo na Horta da Mitra, ou Cheok Chai Un (em cantonês), é de mais de um milhão de patacas, num evento que se prolonga por cinco dias, de acordo com a organização. No último dia, realiza-se um banquete para os idosos, em que as mesas se espalham pelas ruas em redor do templo.

Com cerca de 85 lugares, esta é “uma tradição chinesa de respeito filial pelos idosos”, explicou o presidente da associação.

O mais popular

A crença e os costumes de Tou Tei têm uma longa história em Macau, representada por cerca de 10 templos e mais de 140 altares dedicados a este deus, além de estar presente à entrada de numerosas residências, prédios e lojas.

“Quantas pessoas em Macau acreditam no Tou Tei? É uma ‘quantidade astronómica’. Cada entrada de residências e lojas tem um pequeno altar [dedicado a] Tou Tei. Estimo que cerca de um quarto da população de Macau acredita no Tou Tei”, sublinhou Lo.

Em 2017, a crença e os costumes dedicados a esta divindade foram inscritos na lista do Património Cultural Imaterial de Macau. Quatro anos depois, em 2021, a China incluiu este culto a um dos deuses chineses mais populares, nas mais diversas formas, refletindo uma tradição popular transmitida de geração em geração, na lista do Património Cultural Imaterial do país.

Além desta, o Conselho de Estado chinês incluiu ainda mais duas manifestações de Macau: a Gastronomia Macaense, baseada no método de preparação dos alimentos da culinária portuguesa, integrando ingredientes e métodos culinários da Europa, Ásia e África, e o Teatro em Patuá, arte performativa apresentada pela comunidade macaense em patuá, sistema linguístico criado pelos imigrantes portugueses em Macau ao longo dos últimos quatrocentos anos.

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