O sonho de um aeroporto

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Os leitores que residem em Macau há muitos anos e que assistiram à construção do aeroporto local no mar em tempo recorde ficam incrédulos quando ouvem dizer que em Portugal se anda há 50 anos a dizer que Lisboa irá ter um novo aeroporto. O caso é pior que uma telenovela mexicana.

Nos últimos dias assistimos ao surrealismo governamental sobre este assunto referente ao novo aeroporto de Lisboa. Só em estudos de impacte ambiental já foram gastos 70 milhões de euros. A localização do aeroporto tem sido uma panóplia de locais que tem deixado o povo indignado e revoltado com tanta incompetência, clãs de interesses económicos e depravação de adquirir terrenos mal se menciona na imprensa um local possível para o novo aeroporto.

Já se falou em 17 locais diferentes e o nome daquele que devia ser mencionado nunca foi escutado, o de Beja. Falou-se na Ota, Alverca, Montijo, Évora, Ponte de Sôr, Alcochete e agora um barraqueiro rico que foi accionista da TAP veio propor Santarém. Os estudos e as comissões já não têm número certo. O que se sabe é que há uns anos, uma comissão com especialistas do melhor que temos em Portugal realizou um estudo e apresentou um relatório salientando que o campo de tiro de Alcochete reunia todas as condições para ser o novo aeroporto de Lisboa. O relatório foi para a gaveta e as obras em Alcochete não se iniciaram. Caso contrário, já existia um novo aeroporto.

O local que ninguém compreende porque é silenciado é Beja. Naquela cidade alentejana funcionou durante muitos anos uma base aérea alemã e se os alemães escolheram aquele local e certamente que não foi por acaso.

Hoje, aterram no aeroporto de Beja os maiores aviões do mundo. Tem espaço e condições para expandir-se e aumentar estruturas de apoio ao movimento aéreo. Fica situado perto de Lisboa e a mobilidade rodo e ferroviária teria o menor custo para os portugueses.

Há semanas, o ministro das Infra-estruturas, Pedro Nuno Santos, morreu politicamente ao anunciar sem dar cavaco ao primeiro-ministro, ou a alguém, que o aeroporto Humberto Delgado iria ter obras de beneficiação, que em Montijo se construiria o aeroporto de apoio à Portela e que se edificava em Alcochete um aeroporto que estaria pronto em 2035…. Bem, ficou tudo doido e António Costa recusou de imediato a decisão absurda do ministro. O homem não se demitiu e apareceu agora com nova proposta. Algo que ultrapassa o limite do absurdo.

Já ninguém pode ouvir falar em aeroporto novo para Lisboa. Imaginem que o Governo não apresentou uma decisão para este ano. Inacreditavelmente, o mesmo ministro precisamente no mesmo dia em que a Polícia Judiciária fez buscas no edifício do Conselho de Ministros por suspeitas de corrupção do secretário-geral do Conselho, veio a público anunciar, leiam bem: que ficou decidido criar uma Comissão Técnica, liderada por um coordenador-geral, sob a indicação do presidente do Conselho Superior de Obras Públicas, do presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (não se riam) e do presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento sustentável.

E o périplo ainda não terminou porque estas três personalidades vão sugerir um coordenador-geral que depois vai constituir seis equipas, repito, seis equipas que vão trabalhar em seis dossiers diferentes. Seis dossiers para onde vão ser contratados mais de 20 “amiguinhos” do ministro.

Tudo isto para quê? Para nos dizerem que no final de 2023 a tal Comissão Técnica apresentará o local definido para o novo aeroporto de Lisboa.

Não há vergonha para tamanha façanha. Isto, é brincar com todos nós. Não é sério. Se não querem, tal como nos últimos 50 anos, construir o aeroporto, digam logo. Não andem com estes subterfúgios e “tachos” para amigos com a desculpa da construção de um aeroporto de segunda categoria. O ministro das Infra-estruturas ainda teve a sem vergonha de anunciar com todas as letras que “Criámos uma estrutura que vai ter a participação de muitas personalidades das mais diversas origens, para poderem, durante o resto dos meses deste ano e durante o próximo ano, concretizar e concluir uma avaliação ambiental e estratégica que fundamentará a decisão sobre a futura localização do aeroporto”.

Não satisfeito com as palavras balofas, o ministro divulgou as soluções que a tal Comissão Técnica vai estudar. Única e simplesmente, cinco. Uma em que o aeroporto Humberto Delgado fica como aeroporto principal e Montijo como complementar (não se riam), uma segunda em que o Montijo adquire progressivamente o estatuto de principal e Humberto Delgado de complementar (não se riam, uma terceira em que Alcochete substitui integralmente o aeroporto Humberto Delgado (não se riam), uma quarta em que será este aeroporto o principal e Santarém do barraqueiro o complementar (não se riam) e uma quinta em que Santarém substitui integralmente o aeroporto Humberto Delgado (não chorem)…

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