A rosa de Sharom

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É Verão no Hemisfério Norte, essa Estação que dá flor, cheira a sol, e sobe luminosa em cada olhar, muito embora as flores estejam distantes dos nossos quotidianos de azáfamas várias e de uma certa tradição que é o de fazer dos locais espaços mais floridos – que uma certa noção de Jardim nunca nos abandonou – mas o certo é que não somos contemplados nesse desejo.

A Terra parece não querer florir no seu estertor, domada pelas férreas necessidades humanas, e quando isto acontece prepara-nos para a desolação da sua parte mais agreste. Parece que só agora estamos a ter uma incontornável memória do que significa ser expulso. Mas, e antes de tudo isto, os desertos eram locais com a textura ambiental para o encanto delas, e por ser deserto e tudo se queimar entre as areias, esses espaços que floriam nos podem ainda mostrar o reduto de maravilha que nos prende ao significado mais profundo da nossa humanidade. Elas redimem afinal a memória da nossa própria condição.

Estamos na Palestina nas montanhas de Efraim, e a Rosa de Sharom nasce como as profecias nesses locais onde se apascentavam os rebanhos e por onde se inscreveram as mais belas páginas de que há memória [ entre a mulher Sulamita e seu amado] EU SOU A ROSA DE SHAROM, UM LÍRIO DOS VALES. Há quem diga que não seja exactamente uma rosa, mas em hebraico é assim que se designa, o que ela tinha de rosa para em flor nos deixar tão plenos, são segredos dos desertos onde cada uma delas é abençoada como uma dádiva de amor. Se formos para a de Jericó, as comparações, embora distantes, fala-nos ainda de como a ressurreição é afinal uma realidade destes locais “desmorrer, morrer, renascer” RESSUSCITAR. Esta fonte floral que nos acolhe é a nossa melhor encíclica enquanto predestinados ao sentido transcendente da vida, e não há mais memorando, nem animal, nem mineral, que dela diste de forma tão perfeita perante o sentido da vida. Esta parte do mundo é o local mais profundo da Terra, e de Rosa passa a Lírio, regado pela corrente funda de seus vales. Há muito leite vindo das ovelhas, e mel que a flor inunda para realizá-lo, pepitas de ouro atravessando alvoradas.

Dei-me conta de como é deleitoso consubstanciar em nós estes produtos transformados, e se a Rosa de Sharom é o vinho amante dos dias em flor, se a sua natureza nos faltar, seremos expulsos também do ventre da Baleia.

Para sempre e ainda somos transformáveis, mas não suficientemente autónomos e singulares para esquecer tudo isto, que depois disto, um Homem das rosas de Sharom, veio dizer que era o «Lírio dos Vales» e que eles não trabalham nem tecem, só que não se encontrava já estranhamente no Paraíso, ele era o Paraíso ressuscitado em memória e posto a laborar num sistema já distante às fundas raízes da Rosa de Sharom. Mas. Não era passível de ser vencido. Que. « O meu Amado desceu ao seu Jardim, aos canteiros de especiarias, para colher os lírios».

Neste instante mundial atravessamos aspectos desonrosos para continuar a falar das Rosas, é certo, mas um leve movimento trazer-nos-á a lembrança do roteiro das coisas essenciais; que o olfacto volte a ser reposto como memória e as formas se precipitem para falar connosco de modos vários sem a visualidade arbitrária de uma forma de cegueira que coloca os invisuais no topo de uma visão muito mais esclarecida. É inefável o quanto pode transmitir de imortalidade o odor da flor em nós, que ela é como um “lírio entre os espinhos”. Temos ainda o

«Sermão da Montanha» mas é nestas bases que ele se dá, tentando à posteriori com evidente neutralidade de género anular a condição da primeira natureza – que a Rosa de Sharom é mulher amada- inteiramente térrea enquanto Rosa num destino que lhe subjaz.

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