h | Artes, Letras e IdeiasXunzi 荀子 – Elementos de ética, visões do Caminho Hoje Macau - 28 Jan 202228 Jan 2022 O Caminho da Liderança, Parte XI Um líder de homens que não tiver favoritos, nem membros fiáveis do seu círculo interior, chama-se “entrevado”. Se não tiver primeiro-ministro, conselheiros ou assistentes que possam receber responsabilidades, a isso se chama “solidão”. Se aqueles que enviou como emissários aos senhores feudais nas fronteiras dos quatro lados do estado não forem as pessoas certas, a isso se chama ser “abandonado”. Se estiver abandonado, solitário e nas trevas é conhecido como aquele que “está em perigo”. Mesmo que o seu estado ainda subsista, os antigos lhe chamariam “perecido”. As Odes dizem: “Quão incrivelmente refinados e numerosos eram os homens bem-criados! O Rei Wen os usou para conseguir a paz”. Isto exprime o que quero dizer. Da classificação das pessoas segundo aquilo de que são feitas: serem conscienciosas, honestas, contidas e arduamente trabalhadoras, meticulosas no cálculo e poupadas, nunca ousando perder ou desperdiçar nada – disto deve ser feito um oficial, escriba ou funcionário. Ser cultivado, cuidadoso, probo e correcto, exaltando o modelo apropriado e respeitando a posição que lhe for atribuída, livre de qualquer tendência para o coração se transviar; alguém que vela pelas suas responsabilidades e cumpre as tarefas que lhe são dadas, nunca se atrevendo a elas acrescentar ou subtrair; alguém a quem pode ser dado o trabalho da geração anterior, mas que não pode ser forçado a abusar ou apoderar-se daquilo que não compete ao seu cargo – disto deve ser feito um homem bem-criado, um grande ministro ou um supervisor de oficiais. Compreender que o modo de venerar o seu senhor é pela exaltação do ritual e de yi [justiça]; compreender que o modo de obter uma boa reputação é apreciar homens bem-criados; compreender que o modo de conseguir a paz para o estado é cuidar do povo comum; compreender que o modo de unificar os seus costumes é através [da implementação] de um modelo constante; compreender que a forma de desenvolver as realizações é pela elevação dos meritórios e emprego dos capazes; compreender que o modo de aumentar os recursos é trabalhando nas tarefas fundamentais e proibindo as diligências insignificantes; compreender que o modo de conseguir ser expediente é evitar disputas com subordinados sobre pequenas questões de lucro; compreender que o modo de evitar que as coisas se atrasem é através de regras e medidas claras e pela aferição de que as coisas correspondem aos usos a que se destinam – disto deve ser feito um primeiro-ministro, conselheiro ou assistente. Contudo, isto ainda não constitui o caminho da liderança. Ser capaz de ajuizar a qualidade das pessoas destes três tipos, sendo depois capaz de as colocar em cargos oficiais, sem cometer erros nas respectivas patentes – esse é o caminho do líder. Se assim for, ele próprio estará tranquilo e o seu estado será bem ordenado. Os seus feitos serão grandes e boa a sua reputação. No máximo, poderá tornar-se um verdadeiro rei e, no mínimo, será um tirano. Este é o ponto crucial pelo qual o líder dos homens deve velar. Se o líder dos homens não for capaz de ajuizar a qualidade daqueles três tipos de pessoas e se não tiver por seu caminho aquele que acabamos de descrever, acabará simplesmente por desqualificar a sua autoridade ao mesmo tempo que se exaure em esforço. Deixando de lado prazeres dos olhos e ouvidos, passará os dias a tratar pessoalmente de ordenar matérias de grande detalhe. Consumirá a totalidade de cada dia na distinção exaustiva das coisas enquanto delibera sobre como discutir coisas menores com os seus ministros e subordinados e sobre como demonstrar capacidades especializadas. Desde tempos antigos até ao presente nunca houve uma situação assim que não resultasse em caos. É aquilo a que se chama “inspecionar aquilo para que não se deve olhar, escutar aquilo que não se deve ouvir e almejar aquilo que não é para ser obtido”. Isto exprime aquilo que quero dizer. Xunzi (荀子, Mestre Xun; de seu nome Xun Kuang, 荀況) viveu no século III Antes da Era Comum (circa 310 ACE – 238 ACE). Filósofo confucionista, é considerado, a par do próprio Confúcio e Mencius, como o terceiro expoente mais importante daquela corrente fundadora do pensamento e ética chineses. Todavia, como vários autores assinalam, Xunzi só muito recentemente obteve o devido reconhecimento no contexto do pensamento chinês, o que talvez se deva à sua rejeição da perspectiva de Mencius relativamente aos ensinamentos e doutrina de Mestre Kong. A versão agora apresentada baseia-se na tradução de Eric L. Hutton publicada pela Princeton University Press em 2016.