Forte vaga da variante Ómicron anula comícios eleitorais na Índia

Os comícios da campanha das eleições regionais na Índia foram anulados hoje devido à nova vaga de casos de covid-19 no país, provocada sobretudo pela variante Ómicron, com o número de infeções diárias a triplicar em dois dias.

Nas últimas 24 horas, a Índia registou 90.000 novos casos da doença covid-19, com Mumbai, a capital financeira do país, a recensear um novo recorde diário de infeções, ao chegar aos 15.166 contágios pelo novo coronavírus num só dia.

Os especialistas em saúde que estão a assessorar o Governo dizem que a variante Ómicron, detetada pela primeira vez na Índia há cinco semanas, está a provocar um aumento acentuado da contaminação nos centros urbanos.

Em várias ocasiões, multidões concentraram-se em comícios para a votação de fevereiro em Uttar Pradesh, o estado mais populoso do país (mais de 200 milhões de habitantes) e um importante reduto do partido no poder, o nacionalista hindu Bharatiya Janata Parti (BJP).

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, percorreu, entretanto, várias cidades importantes para inaugurar projetos de infraestruturas e participar em rituais religiosos hindus em apoio ao governo estadual.

No entanto, várias cidades impuseram o recolher obrigatório e vários partidos cancelaram os comícios face ao risco de um aumento exponencial da contaminação.

“Devido às preocupações com o crescente número de casos de covid-19, todas as […] reuniões do partido foram canceladas”, disse à agência noticiosa France-Presse (AFP), o porta-voz do partido da oposição Congresso, Ashok Singh.

Outro partido da oposição indicou que está já a fazer uma campanha eleitoral virtual, enquanto o BJP cancelou um comício programado para hoje em Noida, uma cidade satélite de Nova Deli também afetada por uma nova vaga de covid-19.

No entanto, de acordo com Manish Shukla, porta-voz do BJP, o cancelamento do evento em Noida não se deve à crise sanitária, mas sim a “razões técnicas”, que não pormenorizou.

Nova Deli, que já tem em vigor um recolher obrigatório, assim como Bangalore, a partir das 22:00 locais, ordenou o confinamento da população durante o fim de semana, com exceção do pessoal das atividades essenciais.

“Impor um recolher obrigatório à noite e chamar [centenas de milhares] de pessoas para comícios durante o dia desafia o bom senso”, escreveu na semana passada na rede social Twitter Varun Gandhi, deputado do BJP.

Já no decorrer desta semana, o governador de Nova Deli, Arvind Kejriwal, anunciou ter contraído covid-19, depois de participar em vários comícios políticos para as eleições municipais na cidade de Chandigarh

“Não há margem para complacência. O sistema de saúde ficará arrasado”, alertou, na quarta-feira, V.K. Paul, médico que trabalha com o Governo na luta contra o vírus.

Entre abril e junho de 2021, mais de 200.000 pessoas morreram de covid-19 na Índia, depois de hospitais, crematórios e cemitérios terem sido sobrecarregados.

Hoje, e em relação às últimas 24 horas, a Índia notificou 90.928 novas infeções, o que multiplica por dez o total registado há uma semana, apesar de metade da população adulta ter recebido as primeiras duas doses da vacina anti-covid-19.

Os dados oficiais sobre a imunidade coletiva indicam que mais de metade da população, estimada em 1.350 milhões de habitantes, desenvolveu anticorpos à doença.

A variante Ómicron entrou na Índia no início de dezembro de 2021, apesar de estarem suspensos os voos comerciais internacionais há quase dois anos.

Embora os números de novos casos já tenham igualado os recordes do país durante o início da devastadora segunda onda de infeções pelo novo coronavírus, entre abril e maio de 2021, impulsionada na altura pela variante Delta, os dados de internamento continuam relativamente baixos.

A capital nacional Nova Deli, que hoje conta com mais de 9.000 camas hospitalares, tem 782 delas ocupadas e apenas 22 com casos graves em cuidados intensivos. Desde o início da pandemia, a Índia acumulou mais de 35 milhões de casos de covid-19, a que estão associadas pelo menos 482.876 mortes.

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