h | Artes, Letras e IdeiasTemplo de Fu Xi na Colina de Tai Shan José Simões Morais - 5 Jan 2022 O templo em Gua Tai Shan, local onde Fu Xi criou o Bagua (oito trigramas), teve desde 1516 permissão oficial para, a par de Chenzhou (陈州, actual Huaiyang, em Henan, local da sua capital e mausoléu) também poder fazer cerimónias de sacrifício a Fu Xi. Saia assim da lista dos templos a destruir editada em 1371 por o Imperador Ming Zhu Yuanzhang (Tai Zu, 1368-1398), devido à proliferação na dinastia Yuan de templos a homenagear os Três Ancestrais (San Huang), e permitia apenas preservar os templos dos mausoléus. Abandonado durante anos, o templo na Colina de Gua Tai, construído na dinastia Sui (581-618), fortificado na Song do Norte (960-1127) e os palácios e outras salas na dinastia Jin (1115-1234), preparava-se em 1521 para ser reparado quando serviu de base ao pedido do governo de Gansu para o imperador permitir a construção de um novo templo agora dentro da cidade, em Qinzhou (秦州), hoje Qincheng (秦城), a parte antiga de Tianshui. Em Fevereiro de 1531, o templo em Gua Tai Shan começou também a ser reparado, obra terminada em 1533, tendo sido construída uma muralha em torno do recinto, situado no cume da colina e virado para Sul. De arquitectura usada depois nos mausoléus dos imperadores, o templo com um eixo central constituído a partir do Sul por um par de arcos de pedra decorativos (牌坊, paifang), colocados lateralmente, aparecia de seguida o arco memorial de pedra (Wu men, 午门, a porta=men do meio-dia=wu), tendo no lado Leste, a Torre do Sino e a Oeste, a Torre do Tambor (钟鼓楼, Zhong Gu lou). Continuando para Norte, um pátio, havendo a Leste e Oeste casas (Chao fang, 朝房) para os preparos dos governantes às cerimónias. Ao fundo, o Palácio XianTian (先天殿, Xian Tian dian), de um enorme e único salão e a meio a estátua de Fu Xi. No pátio, 17 pinheiros baseados nos 9 Gong (九宫, Jiugong) e nos oito Gua (八卦, Bagua). Jiugong, quadrado mágico de ordem 3 (isto é 3X3), contém sinais de ordem supernatural do Universo. O Bagua, os oito trigramas, representa os oito estados da Natureza, constituídos pelas oito possíveis combinações de três linhas (inteiras e quebradas). Como o templo na cidade de Qinzhou passou a ser onde os governantes faziam as cerimónias de sacrifício a Fu Xi, o de Gua Tai Shan perdeu importância. Em 1654, durante a dinastia Qing, houve um grande tremor de terra em Qinzhou e em Gua Tai Shan tudo ruiu. Dois anos depois, um oficial de Qinzhou deu dinheiro para a sua reconstrução, baseando-se a edificação no anterior templo existente na dinastia Ming, sendo em 1656 a última vez que os governantes se interessaram pelo templo da Colina de Gua Tai. Longe do centro do poder, muralhado era nos conflitos armados um lugar de refúgio para a população e por isso, visto como um sítio sagrado protegido pelos deuses. O templo ficou à guarda dos habitantes locais e apesar de já não se prestar homenagem a Fu Xi, tornou-se um popular lugar de sacrifício aos deuses. A Leste de Wumen, nos finais da dinastia Qing, passou a haver um templo-sala em honra de Cai Shen (财神, deus da Riqueza e da Abundância) e outro a Ling Guan (灵官, o deus do Fogo). Na parte Oeste de Wumen foi construído um templo a Tu Di (土地, deus da terra) e outro a Niang Niang (娘娘, Senhora que ajuda as crianças). Em frente ao Wumen o palco para teatro (戏楼, Xi lou). Durante os reinados dos imperadores Tongzhi (1862-1874) e Guangxu (1875-1908) alguns monges aqui viveram, pregando e propagando os ensinamentos budistas. Em 1875 e 1895, a população local arranjou dinheiro para reparar os edifícios do templo e no período de guerras as pessoas de novo dentro das muralhas se resguardaram, sendo a Colina Gua Tai então conhecido por Xi Tai Bao. Em 1920 outro grande tremor de terra em Gansu e de pé apenas ficaram as traves mestras dos edifícios XianTian dian, Wumen, paifang e as torres do Sino e do Tambor. Tudo o resto ficou destruído, sendo reconstruídos os pavilhões com as traves mestras de pé, assim como o palco de teatro (Xi lou), o local Oeste onde os governantes se prepararem para as cerimónias (Xi Chao fang) e a casa dos monges (僧房, Seng fang). Não voltaram a ser construídos os templos a Tu Di, a Niang Niang, a Ling Guan, a Cai Shen e Dong Chao fang que ruíram. As cerimónias de sacrifício aos deuses pararam em 1958 e as pessoas deixaram de aí aparecer. Em 1966, durante a Revolução Cultural, os edifícios foram destruídos e mesmo, o sino datado da dinastia Ming, a estátua de Fu Xi feita em ferro e muitos das estelas desapareceram. Do par de paifang feito em 1533, apenas um restou, o de três portas, que fora reconstruído em 1656, mas colocado de frente em vez de estar perpendicular ao Wumen. Em 1981 recomeçaram no templo as celebrações dedicadas a Fu Xi, que acorrem a 15 do segundo mês lunar. Actual templo O governo de Tianshui iniciou em Setembro de 1981 a reconstrução do templo em Gua Tai Shan, seguindo com ligeiras modificações a matriz do reconstruído entre 1531 e 1533, durante a dinastia Ming. Ainda em 1981, foram colocadas de pé as duas estelas, as únicas então encontradas. Os dezassete pinheiros plantados em 1531, baseados nos Nove Gong (九宫, Jiugong) e nos Oito Gua (Bagua), cortados alguns em 1966, voltaram em 1982 a perfazer os dezassete. Em Março de 1984, o palco de teatro (Xi lou) estava pronto e em Outubro de 1987 foi a vez de Xian Tian dian (o palácio central, feito de um enorme salão e a estátua de Fu Xi a meio) ficar terminado. O arco memorial de pedra (Wumen) com cinco portas, reconstruído em Abril de 1993 seguiu o modelo do existente na dinastia Ming, feito em 1531, reparado em 1656 e destruído em 1966. Dong e Xi Chao fang e Zhong Gu lou (as torres do Sino e do Tambor) estavam em Junho de 1994 também edificadas. Como em cada reconstrução ou visita de governante era de norma colocar uma estela (bei, 碑), para comemorar e fazer a descrição sobre tal ocorrência, estivera o recinto do templo recheado de estelas, mas em 1966 a maior parte foi deitada fora e agora apenas três existem no templo. Uma delas não tem já nada escrito e as outras duas, em frente ao Palácio (Xian Tian dian), a estela do lado Oeste era de 1531, do sexto mês lunar, período da construção do templo, durante a dinastia Ming e encontra-se inteira. Com uma altura de 183 cm e largura de 86 cm, conhecida por QinZhou HuaGua TaiXinJian FuXi MiaoJi 《秦州画卦台新建伏羲庙记》, tem texto escrito por o Alto Oficial Civil Kang Hai (康海, 1475-1540, nascido em Shaanxi), professor da Academia Han Lin (Han Lin Yuan, 翰林院). Já a estela do lado Leste é uma junção de duas diferentes estelas de distintas épocas. A parte de cima julga-se ser da dinastia Yuan (1279-1368), enquanto a pedra da parte inferior é da dinastia Qing, do ano 1656 e foi escrita por Guo Zhen Du. Como a este bei desapareceu a parte superior, apenas um terço dos caracteres se lêem, sugerindo na altura fazer-se a reconstrução do templo da Colina de Gua Tai.