Ai Portugal VozesCasa de Macau parece abandonada André Namora - 16 Ago 2021 Quando a revolução do 25 de Abril de 1974 veio para rua festejar a liberdade que não se sentia há cerca de quarenta anos, passei pelo largo do Príncipe Real, em Lisboa, e vi uns rapazolas, para não lhes chamar uns nomes muito feios, que atiravam para a rua o mobiliário e outros bens da Casa de Macau. Um absurdo que nada tinha a ver com a revolução que se vivia no país, onde a hora era de festejo. Alguns desses rapazolas, em vez de serem presos, foram para Macau e nunca mais ouvi falar deles, mas tenho os seus nomes na minha agenda. Pensei que a Casa de Macau tinha terminado os seus dias de convívio e de acções culturais que promoviam o nome da comunidade macaense. Mas, há dias, ao visitar Lisboa, passei pela avenida do aeroporto e vi uma vivenda linda que tinha um letreiro junto do portão de entrada que dizia “Casa de Macau”. Fui investigar que imóvel era aquele? Qual não foi o meu espanto quando me disseram que aquela vivenda luxuosa estava praticamente abandonada depois de ter sido adquirida pelo Governo de Macau, durante a última administração portuguesa chefiada pelo general Vasco Rocha Vieira. Disseram-me que vieram muitos milhões de euros de Macau para que o imóvel ficasse a pertencer à comunidade macaense residente em Portugal. A vivenda transformada em Casa de Macau parece que abriu as portas para uns almoços com um número ínfimo de sócios, a maioria composta por senhoras macaenses já de certa idade. Que a Casa de Macau nunca procurou contactar com muitas famílias macaenses e com cidadãos que continuam a amar e a ter saudades de Macau pelos anos que lá viveram. Ora, uma atitude de gestão desse tipo devia levar à imediata demissão. Na pesquisa que realizei sobre uma instituição que devia ser acarinhada e promovida na sociedade portuguesa, como é a Casa de Macau, informaram-me que presentemente o presidente da instituição é um senhor chamado Faustino que esteve no Turismo em Macau e na delegação de Macau sob administração chinesa que desenvolveu a sua actividade na avenida 5 de Outubro, em Lisboa. Pois, o senhor Faustino devia imediatamente realizar um levantamento exaustivo das pessoas que nasceram e viveram em Macau. Procurar realizar um inventário que o levasse a convidar toda essa gente para sócios da Casa de Macau. E a partir daí, pensar na dinamização do nome de Macau por todo o Portugal através de iniciativas levadas a efeito nas instalações da Casa de Macau. Por Macau, passaram pintores, escritores, poetas de renome, jornalistas, arquitectos, engenheiros, cozinheiros, empresários, historiadores, que muito mereciam que as suas obras ou as suas histórias fossem patenteadas na Casa de Macau. Temos de nos lembrar que Macau foi e é parte da história de Portugal. Que o nome de Macau não pode ser abandonado, especialmente, existindo uma instituição que custou aos macaenses milhões de euros e que está praticamente abandonada sem levar a efeito reuniões, exposições, palestra, seminários, convívios onde impere a culinária macaense e outras actividades que demonstrem que Macau continua vivo no coração dos portugueses que conheceram aquele enclave português inserido no Império do Meio. O senhor Faustino tem uma grande responsabilidade depois de ter aceitado ser o presidente da Casa de Macau. Tem de se compenetrar que não pode fazer na Casa de Macau o que fez na 5 de Outubro, onde pessoas com mais de 20 anos de vivência de Macau lhe foram pedir patrocínio para escreverem livros sobre Macau e este mesmo senhor assobiou para o lado, porque o que lhe interessava eram as feiras de turismo que lhe proporcionavam benesses para a promoção do seu currículo de carreira. Quando me informaram da nova administração da Casa de Macau, acrescentaram-me logo, que ainda ninguém sabe que o senhor Faustino é o novo responsável por um marco tão importante da cultura macaense. Temos em Macau os mais diversos artistas plásticos, alguns dos melhores do mundo, por que não convidar alguns a expor as suas obras na Casa de Macau em Lisboa? Por que não convidar as cozinheiras e pasteleiras macaenses a virem a Lisboa para nos fazer saborear os seus pitéus excelentes? Por que não convidar historiadores, escritores e até antigos governantes que têm abordado a temática macaense ao longo das suas vidas e na Casa de Macau palestrarem sobre as suas experiências? A dinamização da Casa de Macau com eventos de valor e bem promovidos a nível nacional é algo que se impõe. Macau merece não ser esquecido quando deu tanto a Portugal. É a hora de renascer o seu nome através de uma Casa de Macau que tem todas as condições para ser um vector de promoção de 500 anos de história digna e que nunca deixou o nome de Portugal nas ruas da amargura. O senhor Faustino que se lembre que Macau deu-lhe tudo o que é hoje e que a sua compensação para com o nome de Macau está agora nas suas mãos no sentido de realizar um trabalho que promova e que mantenha os laços de fraternidade que sempre existiram entre portugueses metropolitanos e macaenses. A Casa de Macau em Lisboa tem de passar a ser uma virtude constante do que foi e é Macau. Caso contrário, que se transforme o imóvel de luxo numa casa de repouso para os idosos que viveram e amam Macau. *Texto escrito com a antiga grafia