Portugal | Farmácias sem máscaras e desinfectantes devido aos casos de Covid-19

Com cinco casos de infecção por Covid-19 confirmados no país, as farmácias portuguesas, de norte a sul, estão sem máscaras e produtos desinfectantes. Se ainda é fácil encomendar desinfectantes o mesmo não acontece com as máscaras, cujos valores estão inflaccionados. OMS alerta para escassez destes materiais

 

 

[dropcap]C[/dropcap]om a chegada do Covid-19 a Portugal, é cada vez mais difícil, se não impossível, adquirir máscaras de protecção e produtos desinfectantes nas farmácias das principais cidades do país. Quando o vírus atingiu o seu pico na China, os asiáticos eram os principais clientes e compravam dezenas de caixas, asseguram farmacêuticos com quem o HM falou. Mas com a chegada do vírus à Europa, são cada vez mais europeus a comprar, incluindo portugueses.

No Porto, onde surgiram os dois primeiros casos, não só não há máscaras como não há qualquer previsão por parte dos fornecedores de quando possam chegar. “Não temos nada em stock, está tudo encomendado.

Temos previsão de que chegará alguma da mercadoria até ao final desta semana, mas apenas de desinfectantes e não de máscaras. Fizemos o pedido, mas as únicas que poderão surgir novamente são as cirúrgicas. Mas também não temos qualquer previsão de quando é que ficarão disponíveis”, explicou uma farmacêutica que não quis ser identificada.

Os preços estão a ser inflaccionados desde o momento em que os produtos são fabricados até à sua venda ao público. “O que se está a passar é que o produto que hoje custa 2 euros daqui a dois dias custa 10 euros e depois custa 20. A ideia que temos, com base nos nossos fornecedores, é que os preços são mantidos. Sei que nas fábricas o produto está a escassear, e depois isto é uma cadeia entre o produtor e a farmácia que vende.”

Filipe Silva, farmacêutico numa outra farmácia no Porto, contou que ainda possuem máscaras, mas a sua venda está raccionada. “Temos algumas máscaras para venda ao balcão, mas limitámos a 10 unidades para que o maior número de pessoas tenha acesso, porque senão as pessoas compram em grande quantidade e só um pequeno grupo de pessoas é que tem acesso às máscaras. Temos previsão de ter em stock mais álcool gel entre esta semana e o início da próxima.”

Nesta farmácia, uma caixa com 10 máscaras custa três euros [cerca de 30 patacas], mas em Lisboa os preços podem atingir 1 euro [cerca de 10 patacas] por máscara. “Estamos a vender cada máscara por 0,30 cêntimos por máscara por uma questão de consciência social.”

Reservas no fim

Esta terça-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para o esgotamento rápido das reservas de equipamento de protecção individual contra o novo coronavírus que causa a doença Covid-19.

“A OMS enviou cerca de meio milhão de equipamentos de protecção individual para 27 países, mas os ‘stocks’ esgotam-se rapidamente”, disse o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa, na sede da organização, em Genebra, na Suíça.

Tedros Adhanom Ghebreyesus considerou que “a capacidade de resposta dos países está comprometida pela desorganização grave e crescente da oferta mundial de equipamentos de protecção individual, provocada pelo aumento da procura, a acumulação e o mau uso”.

A OMS estima que, por mês, sejam necessários no mundo mais de 89 milhões de máscaras cirúrgicas, 76 milhões de luvas e 1,6 milhões de óculos de protecção. A sua falta pode colocar em risco de contágio médicos e enfermeiros que cuidam de doentes infectados pelo novo coronavírus.

O director-geral da OMS assinalou que, apesar de numerosas pessoas terem desenvolvido ao longo de vários anos imunidade contra a gripe sazonal, ninguém “está imune” em relação ao coronavírus que causa a doença Covid-19. Tedros Adhanom Ghebreyesus sublinhou que o novo coronavírus – família de vírus que pode causar infecções respiratórias como pneumonia – é mais perigoso do que os vírus da gripe, apresentando uma taxa de mortalidade de 3,4 por cento (para a gripe é menos de 1 por cento).

Filipe Silva, farmacêutico no Porto, também acredita que a situação vai ficar muito complicada. “Nós estamos precavidos, mas considero que a maior parte das farmácias não o esteja. Há uma preocupação generalizada em parte devido à imprensa que alarmou para esta situação e as pessoas estão bastante preocupadas, daí a correria às máscaras e ao álcool.”

Em Lisboa, a situação não é diferente. Muitas pessoas compram até produtos para reforçar as defesas do organismo, existindo casos em que até a vitamina C esgota. Na Farmácia Barral, na Rua Augusta, as máscaras e produtos desinfectantes estão esgotados desde a última quinta-feira, explicou a farmacêutica Carlota Matos ao HM.

“Todos os dias recebemos centenas de pessoas que pedem estes produtos. O stock já esgotou, encomendámos, mas estamos à espera. Neste momento não nos conseguem dar a previsão se os produtos chegam, e quando chegam. Os preços aumentam cada vez mais porque a procura é maior, o que leva as farmácias a venderem mais caro. Estamos habituados a comprar uma coisa que custa cêntimos e que agora compramos por alguns euros.”

No caso desta farmácia, uma máscara cirúrgica normal custa 1 euro, mas as mais avançadas custam 5 euros. “Vamos passar por uma situação complicada no acesso a materiais, já estava bastante complicado há meses e agora não temos recebido equipamento de todo.”

Carlota Matos nota que os portugueses são agora os principais compradores deste tipo de equipamentos. “No pico do vírus na China notava-se mais os asiáticos a comprarem. Depois com a descida dos casos e com o aumento dos casos em Itália, e como estamos numa zona super turística, temos tido procura por italianos, mas agora é exclusivo dos portugueses.”

Desaparecimento misterioso

A corrida às máscaras é tão evidente que foi reportado, esta terça-feira, um caso de desaparecimento deste material no hospital de Elvas. A Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano (ULSNA) abriu um inquérito interno para apurar as circunstâncias do desaparecimento de máscaras de protecção no serviço de Medicina do Hospital de Santa Luzia.

“Não podemos qualificar se se trata de um furto ou não. Participámos às autoridades policiais esta circunstância e temos aberto um inquérito para apuramento do que aconteceu”, disse à agência Lusa Joaquim Araújo, vogal executivo do conselho de administração da ULSNA, de que faz parte o hospital de Elvas, no distrito de Portalegre.

O mesmo responsável admitiu que o desaparecimento de máscaras de protecção da unidade hospitalar poderá estar relacionado com o novo coronavírus (Covid-19). “Esta situação poderá ter a ver com esta problemática [surto de Covid-19] e as pessoas, especialmente os funcionários, numa atitude defensiva, julgamos nós, tomam esta medida, mas só o inquérito eventualmente poderá esclarecer”, disse.

Joaquim Araújo não quantificou o número de máscaras de protecção que desapareceram do serviço de Medicina do Hospital de Santa Luzia, uma vez que ainda está a ser feito o “apuramento de tudo”.
No entanto, garantiu que a situação “não põe em perigo qualquer fornecimento aos serviços” e afastou a possibilidade de ser feito comércio com as máscaras. “É grave, não nego a situação porque aconteceu, mas já foram tomadas medidas para salvaguardar tudo”, acrescentou.

Na farmácia Castro, na avenida Almirante Reis, perto de uma zona onde existem muitos comércios ligados à comunidade chinesa, as máscaras começaram a esgotar assim que surgiram as primeiras notícias do surto do Covid-19 na China.

“Isto não é só cá, já acontece em Espanha e Itália, e penso que são os chineses que compram as máscaras todas para levar para lá. A maioria dos clientes são chineses e tenho pessoas que todos os dias que me perguntam se temos máscaras. Todos querem, mas não já não há. Quando começaram a surgir os primeiros sinais do surto eram os chineses que essencialmente compravam”, explicou ao HM o farmacêutico Carlos Eusébio.

Há uma semana que esta farmácia já não tem quaisquer produtos deste género para venda. “Vendemos tudo o que tínhamos para vender. Fomos vendendo ao longo dos dias, depois lá nos enviavam uma caixa ou outra, mas num dia ou dois vendíamos logo tudo. Neste momento há mais de uma semana que não temos nada. Fizemos uma encomenda, mas já nos informaram de que não vem tão depressa”, concluiu.

Economia | Ministro diz não existirem preocupações sobre stocks

O ministro da Economia em Portugal, Pedro Siza Vieira, afirmou ontem não existirem “preocupações” ao nível do abastecimento e ‘stocks’ de produtos no sector farmacêutico e garantiu que o surgimento de novos casos de Covid-19 não vai “mudar de forma radical” estas circunstâncias. “Tive ainda anteontem [segunda-feira] uma reunião com um conjunto de sectores da economia portuguesa e do lado do sector farmacêutico e desta matéria, não há, neste momento, preocupações relativamente a abastecimento e stocks'”, garantiu Pedro Siza Vieira.

O ministro assegurou também que o Governo está “preparado para responder e apoiar as empresas” e que a situação vai continuar a ser “calmamente” gerida.

“Vamos continuar calmamente a gerir a situação, a tomar as decisões relevantes com base na melhor informação disponível e perceber que mais um caso hoje, dez amanhã, não vão mudar de forma radical, neste momento, as circunstâncias que estão presentes”, disse.

Questionado pelos jornalistas se havia algum protocolo de apoio, nomeadamente, às empresas, Pedro Siza Vieira realçou que, apesar de esta não ser uma doença “grave” é, no entanto, “muito contagiosa” e que o objectivo passa agora por “conter a sua propagação”.

“Quanto mais conseguirmos conter a propagação da doença, menos gente ficará doente ao mesmo tempo, menos gente estará a sobrecarregar os nossos serviços de saúde e menos impacto económico terá esta doença”, referiu, acrescentando que o novo caso de surto de Covid-19 em Portugal, à semelhança dos restantes, foi contraído fora do país. “Este caso é como todos os outros, o caso de uma pessoa que veio infectada de fora, aquilo que continuamos a tentar assegurar é que conseguimos conter a velocidade de propagação da doença”, concluiu.

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