Hong Kong | Conflito com Taipé sobre caso que motivou protestos

No dia em que a lei de extradição deverá ser formalmente e definitivamente afastada é também posto em liberdade o suspeito de homicídio que desencadeou os problemas que se têm vivido na antiga colónia britânica. O homem pretende entregar-se às autoridades de Taiwan, mas as autoridades de Taipé querem um acordo de assistência mútua

 

[dropcap]O[/dropcap] Governo de Hong Kong pediu ontem a Taiwan que não coloque a “política acima da justiça”, numa alusão à entrega de um suspeito de homicídio, um caso na origem da crise política na região.

“Em vez de permitirem que considerações políticas se sobreponham ao Estado de direito e à justiça, complicando uma questão simples, espero que as autoridades de Taiwan consigam ser pragmáticas e pró-activas. Quando um homem procurado quer entregar-se, por que razão se insiste num acordo de assistência mútua”, questionou o secretário para a Administração de Hong Kong, Matthew Cheung.

O governante falava ontem de manhã antes de presidir à reunião semanal do Conselho Executivo, numa altura em que a chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, se encontra no Japão, de acordo com o jornal South China Morning Post.

Chan Tong-kai, o suspeito do homicídio que levou Hong Kong a apresentar uma proposta de emendas à lei de extradição vigente, na base da contestação social desde Junho, vai sair em liberdade esta quarta-feira, após 18 meses atrás das grades sob acusações de lavagem de dinheiro.

O residente de Hong Kong é procurado pelas autoridades de Taiwan pelo alegado envolvimento no assassínio da namorada grávida, Poon Hiu-wing, de 20 anos, em Fevereiro de 2018, quando ambos se encontravam de férias na ilha Formosa.

Matthew Cheung, que falava na qualidade de chefe do Governo interino, garantiu que o executivo de Hong Kong examinou já “todas as opções disponíveis”, tendo concluído que a melhor solução será deixar Chan entregar-se livremente às autoridades de Taiwan.

No entanto, Taipé respondeu que só iria receber Chan depois de um acordo de assistência mútua, uma decisão que o Governo da antiga colónia britânica disse esconder motivações políticas.

De saída

As emendas à lei de extradição teriam permitido a transferência de fugitivos para jurisdições com as quais Hong Kong não tem acordo prévio, incluindo Taiwan e a China continental.

Contudo, a proposta desencadeou protestos maciços contra a alegada crescente interferência de Pequim nos assuntos de Hong Kong, desencadeando a pior crise política desde a transferência de soberania do Reino Unido para a China, em 1997.

Desde o início, a região administrativa especial chinesa é palco de protestos e ações violentas quase diárias contra o que os manifestantes definem como a erosão das liberdades no território.

De acordo com Matthew Cheung, a proposta vai ser formalmente retirada esta quarta-feira, depois de o Governo já ter anunciado a decisão, a 9 de Setembro.

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