Zhuge Liang, o Dragão Adormecido

[dropcap]C[/dropcap]omo grande estratega militar, só comparável com Sun Zi do século V a.n.E., Zhuge Liang (181-234) tinha o nome literário Kongming e era conhecido pela alcunha do Dragão Adormecido. Potência à espera de ser acordada pois, pouco antes da sua existência se criara da Filosofia do Dao o Daoísmo religioso como contrabalanço às religiões estrangeiras que chegavam à China.

Em 207, o próprio Liu Bei, descendente da família imperial dos Han, veio a casa de Zhuge Liang pedir para, como homem de Estado e criativo inventor, se tornar o seu conselheiro militar e organizar o exército do que viria a ser o Reino Shu Han, no Período dos Três Reinos (220-280).

Nos finais do século II, a dinastia Han (206 a.n.E.-220) tinha governantes fracos e corruptos, havendo contínuas lutas dentro da corte, sendo a população oprimida e explorada. Em 184, trezentos mil camponeses em muitas partes do país levantarem-se contra o Governo, no que ficou conhecida pela Revolta dos Turbantes Amarelos. Três anos antes, no ano 181 nascera Zhuge Liang em Yangdu de Langya, hoje vila de Yinan, pertencente ao distrito de Linyi situado na parte Sul da província de Shandong. A sua mãe morreu quando tinha três anos (184) e devido à morte de seu pai, Zhuge Gui, que fora magistrado no distrito de Taishan, ainda criança, com oito anos (189) ficou à guarda do tio, Zhuge Xuan.

O general Yuan Shu, um senhor da guerra que mais tarde em 197 se auto proclamou imperador da curtíssima dinastia Zhong, enviou Zhuge Xuan para tomar conta de YüZhang, pequena localidade a Norte da actual província de Jiangxi, próximo de Nanchang. Como a nomeação não teve a aprovação dos oficiais Han, Zhuge Xuan foi ter com o seu amigo Liu Biao, o perfeito (governador) da província de Jing (Jingzhou em Hubei), que no ano 190 mudara a capital de Hanshou para Xiangyang. Assim em Xianyang ficou a viver, acompanhado pelo sobrinho Zhuge Liang, tendo este estudado durante três anos numa escola, talvez na Academia fundada por Liu Biao pelo ano de 196. Ao mesmo tempo, Liang escolheu Pang Degong para ser seu mestre.

Zhuge Xuan morreu em 197 e após a morte do tio, Zhuge Liang com dezassete anos foi viver para a aldeia Longzhong, actualmente próximo de Xiangyang, província de Hubei, onde se dedicou à agricultura. O seu tempo livre passava a ler, assim como gostava de conversar com os mestres Pang Degong e Xü Shu, pessoas mais velhas ensinando-lhe coisas da vida e com quem trocava ideias sobre as convulsões que ocorriam pelo país.

Zhuge Liang passou mais ao menos dez anos em Longzhong, onde fez muitos amigos entre os locais, mantendo relações de amizade com intelectuais como Sima Hui e Huang Chengyan.

Certa vez, Huang Chengyan sabendo Zhuge Liang andar à procura de esposa para se casar, propôs-lhe a filha. Avisou-o ser ela feiosa, apesar de dotada de muitos talentos, que bem se complementaria com os atributos dele. Concordando, casou-se com Huang YueYing, apesar de no registo histórico local Xiangyang Ji, onde vem narrado tal episódio, o nome da esposa nunca ter sido mencionado.

Pérola da imortalidade

É preciso lembrar pouco se saber sobre Zhuge Liang, figura para além de histórica tem a complementá-la várias lendárias e mitológicas narrações a envolvê-lo num ser misterioso e de grande poder. Se a maior parte da sua vida apenas vem narrada no Romance dos Três Reinos (San Guo Yanyi 三国演义) escrito por Luo Guanzhong (1330-1400), há outras histórias que nem aí foram contadas e uma delas, a mais estranha de todas, refere-se a como Zhuge Liang se torna um Imortal. Registada após via oral ter passada de geração em geração e só escrita muito tempo depois nas Histórias de Longzhong.

Nessa mitológica lenda sobre a sua juventude explica-se a razão de Zhuge Liang se apresentar sempre com um leque de penas na mão e uma túnica de mestre daoista.

Ainda criança, durante o dia trabalha numa loja de chá e à noite estuda em casa. Certo dia, à loja, cheia de gente a beber, chega um idoso daoista e sentando-se, logo começa a falar sobre assuntos deveras muito interessantes, colocando as pessoas a escutar com atenção. Vem desde então diariamente à casa de chá, sentando-se de manhã até à hora do fecho, aparecendo cada vez mais gente para o escutar e com ele falar. Parece saber de tudo, desde o passado histórico até aos dias que correm, de astronomia à geografia, de política aos assuntos militares. Como empregado Zhuge Liang muito aprecia aquelas sessões e cada vez mais a admiração cresce perante aquela prodigiosa figura, mas, devido à sua juventude e posição, não lhe é permitido questionar a distinta personagem. Assim aumenta a curiosidade sobre aquele estranho ser.

Certa vez Zhuge Liang encontra a oportunidade de saber onde ele habita pois, usando inteligente solução, enquanto o ancião entusiasmado fala, consegue apoderar-se da bengala de bambu que sempre o acompanhava. Pegando no bastão, faz um buraco na última sessão e aí coloca uns pós de incenso. Bengala no lugar, sem que o orador desse por nada.

Após este sair da casa de chá, Zhuge Liang, para não ser apanhado a segui-lo, espera, pois, apenas tem de perseguir o rasto desse pó deixado pelo caminho e assim pôde chegar ao local onde o idoso estará. A marca do pó desaparece em frente a um pequeno pinhal, sem haver casa alguma. Estranho!

De repente o som do ressonar e olhando de onde vem, repara num ninho colocado no alto de uma dessas árvores, onde dorme um grande crane. Devagar aproxima-se para melhor analisar o ninho e já por baixo, continuando a olhar para cima, de repente do bico cai uma gota de saliva em forma de pérola na boca de Zhuge Liang, que a engole.

De repente o crane acorda e com a pérola desaparecida, cai do ninho e ao chegar ao chão, logo se transforma no nosso conhecido ancião. Este desabafando refere trabalhar na pérola há milhares de anos e ter ela o poder de saber fazer muitas coisas. Transmitida quando ele a engoliu, agora podia deixar a vida. Ao ouvir tal, Zhuge Liang assustado e pesaroso pelo que provocara, logo escuta do ancião, ter acontecido porque tinha que ser (yuanfan).

Então relatou-lhe ter ali vivido milhares de anos, sem ninguém o ter encontrado. – Hoje tu viste-me, por isso és uma pessoa especial. Assim, após eu passar desta vida e transformado em crane, tu retiras sete penas de cada uma das minhas asas para fazeres um leque e ofereço-te as minhas roupas de mestre do Dao que te protegerão. Quando tiveres algum problema, abanas o leque e a pérola dentro do teu corpo dar-te-á a solução.

Terminada a conversa o idoso finou e transformou-se de novo num crane a jazer no chão. Assim, estes dois adereços, roupa e leque, passaram a acompanhar Zhuge Liang durante toda a vida.
Ana Maria Amaro refere sobre “a pérola que todos os dragões transportam e que não podem perder, para manterem a imortalidade, pérola que é formada pela sua própria saliva e tem a propriedade de satisfazer todos os desejos se for apanhada por algum feliz mortal”.

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