Sexanálise VozesCheira a Sexo Tânia dos Santos - 24 Abr 2019 [dropcap]A[/dropcap]s feromonas contribuem para a atracção e o bom sexo. Dizem os especialistas – ou a cultura popular? Há alturas em que já não sabemos ao certo. O odor cheio de hormonas importa, diz-nos a etologia com o estudo do comportamento dos mamíferos não humanos. Nesses casos a atracção e a cópula dependem de uma compatibilidade olfativa. Nós, como bons mamíferos que somos, também seguimos o exemplo – ainda que tenhamos uma capacidade olfativa muitíssimo pobre. Mesmo assim o cheiro consegue associar-se a memórias e a respostas emocionais – e pode muito bem afectar o nosso ser sexual com pouco esforço cognitivo, i.e., não precisamos de pensar, simplesmente o sentimos e respondemos. Mas estes automatismos puramente fisiológicos não me convencem. Claro que o cheiro interessa na atracção e na cama. Não é por acaso que os desodorizantes masculinos – especialmente esses – são anunciados como ímanes de mulheres. A investigação bem mostra que são as mulheres as mais sensíveis aos odores. Como é que o olfacto afecta a excitação é que não tem sido sistematicamente estudado. Curiosamente há um estudo publicado no ano passado no Archives of Sexual Behaviour que sugere que o cheiro afecta, mas negativamente. Neste estudo as mulheres viram um filme pornográfico e metade farejaram um algodão com odor corporal e as outras farejaram um algodão sem qualquer odor. Parece que aquelas que cheiraram o algodão sem cheiro ficaram mais sexualmente excitadas ao ver o vídeo. Isto sugere algo de verdadeiramente fascinante: o que é natural não é tão natural assim. Esta reacção anómala à naturalidade das feromonas no sexo aponta para a nossa tendência de artificializar o sexo. Como um jogo de repressões e liberdades, no sexo já nada do que é natural é amplamente aceite ou confortável. Basta pensar nos pêlos púbicos, por exemplo. Ou até podemos continuar nos cheiros – como é que se aceita o cheiro de uma vagina? A indústria dos produtos de higiene feminina é prolífica por alguma razão. Mesmo que queiramos insistir que existam instintos inatos no modo como a sexualidade é sentida e praticada, a forma como temos construído a sexualidade é pautada pela incapacidade de abraçarmos a naturalidade. Cheiros incluídos. Tenho cá para mim que o estudo não correu bem porque os tais algodões tinham suor do sovaco de um membro do sexo oposto completamente aleatório. Por mais que se queira activar os processos automáticos associados ao processamento do cheiro e das feromonas, a cognição provavelmente se enojou do cheiro a rato morto que aquele algodão emanava. Mas isto sou eu a conjecturar explicações para um resultado que pareceu surpreendente ao que se pensava saber sobre o sexo. Os homens não apresentaram grandes flutuações ao cheiro – talvez porque confirme a hipótese que o homem é muito mais visual do que as mulheres. Ainda não se sabe ao certo. Não quero eu dizer que as feromonas não tenham um papel importante na nossa sexualidade. O cheiro interessa quando está dentro de um pacote de seduções e atracções. Mas esta é só a minha teoria. A atracção, por mais inata que seja, é construída de expectativas. Quando essas expectativas por quem queremos copular se alinham com um cheiro e feromonas irresistíveis, que mostram uma adequação genética incrível (seja lá o que isso for), aí é que está o tesão.