EntrevistaPaíses europeus são hoje mais prudentes em relação à China, diz Carlos Gaspar Hoje Macau - 10 Fev 2019 O investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), Carlos Gaspar, considera que os países europeus estão a reavaliar a estratégia e investimentos chineses, adotando uma “posição mais prudente” do que no passado. “Há uma reavaliação da estratégia chinesa”, por parte de Portugal e dos seus parceiros europeus, destacou o analista, em entrevista à agência Lusa por ocasião dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre Pequim e Lisboa, que se celebrou a 8 de Fevereiro de 1979. Segundo o investigador, a União Europeia identificou “padrões” nos investimentos chineses que “mereceram resposta por parte das autoridades”. Carlos Gaspar, antigo assessor de dois Presidentes portugueses para o Extremo Oriente, dá como exemplo o caso da Alemanha, que, no ano passado, impediu as empresas chinesas de tomarem conta da rede eléctrica nacional, para demonstrar que “está em curso uma posição mais prudente em relação à estratégia de investimentos chinesa do que existia no passado”. O investigador sublinhou que “esta mudança radical” ainda não é claramente visível, mas existe e está a condicionar as relações entre a Europa e a China. “Portugal e os seus parceiros [europeus] vão ter de garantir um certo número de condições de segurança estratégicas, designadamente, autonomia nos domínios de tecnologia, que vão marcar uma separação em relação à República Popular da China”, como está a acontecer com o 5G, reforçou. Outro sinal deste “reenquadramento das relações” é a Comissão Europeia ter decidido que devem ser criados mecanismos de avaliação dos investimentos externos em função da segurança nacional europeia e de cada país. África é palco de competição Salientando que Portugal, “como os outros países, tem de defender os seus interesses”, o especialista do IPRI notou que a China “é um competidor” em África e que Portugal deve procurar aliados. “Na África austral, Portugal tem relações especiais com Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, tem uma grande comunidade na África do Sul, tem de procurar aliados para sustentar as suas posições e tem de ter uma posição realista”, aconselhou. Por outro lado, considerou que os países africanos “têm uma visão muito aguda do que é a sua soberania e a sua independência” e que estas são mais importantes do que o dinheiro. Para o investigador, “a China está a projectar um modelo alternativo de organização da política internacional que é a negação da ordem liberal que Portugal e os seus aliados europeus defendem”, o que leva a uma nova perspetiva. Se inicialmente havia um grande empenho em garantir a integração da China como um parceiro responsável na política internacional, agora o objetivo é garantir que o país respeita e se submete às regras internacionais, nomeadamente, em termos comerciais e económicos. A partir da instalação do Presidente Xi Jinping no poder (2013), “há uma nova estratégia da China, é uma estratégia de uma grande potência reconhecida como tal e a única que pode pôr em causa a preponderância dos EUA”, referiu Carlos Gaspar, notando que a elite chinesa tem uma “enorme confiança” e instrumentos políticos, económicos e militares para projetar o seu poder e o seu modelo económico e social internacionalmente.