ReportagemBurocracia estorva criação de grande metrópole no sul da China Hoje Macau - 29 Jan 2019 Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]A[/dropcap]grande metrópole do Sul da China, no Delta do Rio das Pérolas, é um exemplo de dinamismo chinês, limitado pelas fronteiras com Macau e Hong Kong, exemplo de um “país dois sistemas”. No Centro Logístico do Oeste do Rio das Pérolas, dezenas de operários embalam, dia e noite, produtos para a firma de comércio electrónico Tmall, que são depois enviados para diferentes pontos da província chinesa de Guangdong. O sistema, semi-automático, permite processar, em média, 300.000 encomendas por dia, mas, no terreno em frente, estão já a ser erguidas novas instalações logísticas, ilustrando as expectativas num aumento da procura, face à criação de um mercado único que integrará Guangdong com os territórios vizinhos de Hong Kong e Macau. “O objectivo é formar um porto terrestre que sirva como centro de distribuição na Área da Grande Baía”, explica à Lusa Li Weichao, vice-director do Centro Logístico, situado no condado de Heshan, entre as cidades de Jiangmen e Foshan. É o lado menos desenvolvido do Rio das Pérolas. No lado oposto, as cidades de Cantão, Shenzhen ou Hong Kong representam a vanguarda da manufactura, tecnologia ou finanças da China, e acumulam dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) da região, que na totalidade ascende a mais de 1,3 bilião de euros – superior ao PIB da Austrália ou México. Mas as autoridades de Heshan acreditam que a localização do condado, no coração da Grande Baía, vai impulsionar a economia local. O projecto visa construir uma metrópole mundial a partir de Hong Kong e Macau, e nove cidades de Guangdong, através da criação de um mercado único e da crescente conectividade entre as vias rodoviárias, ferroviárias e marítimas. Guangdong é a província chinesa mais exportadora e a primeira a beneficiar da política de Reforma e Abertura adoptada pelo país no final dos anos 1970, contando com três das seis Zonas Económicas Especiais da China – Shenzhen, Shantou e Zhuhai. “O Governo quer usar a Área da Grande Baía para encurtar a lacuna [tecnológica] que a China tem com os Estados Unidos, Japão e outros países desenvolvidos”, revela Edmond Wu, professor de Economia na South China University of Technology, em Cantão. “Existe aqui uma cultura de inovação, porque a província de Guangdong e, [em particular], Shenzhen, foram sempre o berço das reformas na China”, resume. Após concluído, o Centro Logístico do Oeste do Rio das Pérolas terá mais de 30 quilómetros quadrados e estará ligado por autoestrada ao novo aeroporto de Foshan. Mas Li Weichao sabe que o sucesso do empreendimento depende da resolução dos obstáculos à integração de três diferentes entidades políticas e aduaneiras, com os seus próprios sistemas legais, fiscais e controlo na circulação de pessoas e capitais entre si. “O sistema regulatório é diferente entre as regiões. É urgente promover o diálogo entre as partes para encontrar soluções”, diz. Macau e Hong Kong têm as suas respectivas leis básicas e gozam de um alto grau de autonomia, incluindo ao nível dos poderes executivo, legislativo e judicial, ao abrigo da política ?um país, dois sistemas’, que perdura até meados deste século. A mega ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau (HKZM), o mais emblemático projecto construído no âmbito do desenvolvimento da Grande Baía, ilustra os desafios que acompanham a integração regional. Cada região tem um número limitado de quotas atribuído aos veículos locais – Macau, por exemplo, tem direito a apenas 600 quotas para veículos locais circularem na ponte. É preciso ainda obter três autorizações diferentes, emitidas pelos governos de Macau, Hong Kong e Guangdong, um seguro especial, que cobre os três territórios, e registar os documentos pessoais com as autoridades do Continente chinês, num processo que demora, pelo menos, doze dias úteis. Desde que a obra foi inaugurada, em Outubro passado, “o volume de trânsito tem sido baixo”, admite Yu Lie, vice-director do organismo que gere a infraestrutura, num encontro com jornalistas. Questionado pela Lusa, Yu admite que, num período inicial, a obra, que custou cerca de 20 mil milhões de dólares, não será rentável. Porém, o seu objectivo político parece ter já sido alcançado. Prestes a atravessar a maior travessia marítima do mundo, o funcionário público aposentado Zhang Lei não tem dúvidas: o Partido Comunista Chinês é “grandioso” e a China é “number one”. “Hong Kong e Macau já estão unidos à pátria”, diz Zhang, que viajou milhares de quilómetros, desde o nordeste da China. “E, a seguir, é Taiwan”, atirou.