h | Artes, Letras e IdeiasPaís em ruínas e a saque José Simões Morais - 17 Ago 201817 Ago 2018 [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Ópio na China levou à Primeira Grande Guerra Mundial dos tempos modernos pois, a nossa primeira, a Grande Guerra (1914-18) ocorreu sobretudo na Europa e apenas com intuitos políticos e militares, sem visar no imediato o comércio. Após a Primeira Guerra do Ópio (1839-42), quando em 1851 se sentou no trono da China o Imp. Xianfeng, no Sul, Hong Xiuquan fundou o Grande Reino da Paz Celestial (Taiping Tianguo) e iniciou a Revolta Taiping contra o governo Qing e os senhores feudais. Uma verdadeira Guerra Civil, trespassada a meio pela II Guerra do Ópio (1856-60). Hong Xiuquan (1814-64) começou por se juntar a pequenas rebeliões contra os senhores locais e após contactos com missionários protestantes, que depois dessa I Guerra andavam já por toda a China, ao ler um livro que propagava a fé cristã, nele se sentiu inspirado. Intitulando-se o irmão mais novo de Cristo, em 1844 criou a organização religiosa “Bai Shang Di Hui” (Sociedade de Adoração de Deus), que propagava a igualdade e fraternidade entre as pessoas e sexos e opunha-se à opressão feita pelos demónios (oficiais, senhores da terra e o feudal imperador Qing), encontrando terreno fértil em 1850 na revolta dos agricultores da província de Guangxi, devido à grande fome que então ocorria. Em Macau, “No Verão de 1850, o intérprete oficial, João Rodrigues Gonçalves, foi abordado por um chinês bem vestido, que com grande discrição e mistério lhe fez uma proposta: sendo o governador de Macau (Pedro Alexandrino da Cunha) conhecido como um homem justo e humanitário, oferecia-se-lhe o comando de muitos milhares de apoiantes chineses, fortes, bem armados e suficientemente preparados, para o propósito de tomar o império. Pedia-se-lhe que tomasse esse assunto em consideração e que fizesse o favor de dar uma resposta. O intérprete mandou embora o homem, bruscamente, tomando-o por um louco, um brincalhão ou um intriguista. Pouco depois deste estranho incidente, a Revolta dos Taiping estava em pleno auge; e foi então que o intérprete chegou ao significado da proposta.” Montalto de Jesus Em 11 de Janeiro de 1851 Hong Xiuquan fundou o Grande Reino da Paz Celestial, estabelecendo um poder político e militar. Começava a Revolta Taiping, que rapidamente ganhava aderentes entre os camponeses e artesãos devido ao utópico ideal de uma sociedade que sem distinções, em comunhão compartilhava a terra, comida e dinheiro. Em Março de 1853, o exército Taiping entrava em Nanjing e matando os manchus, aí fez a capital do Grande Reino da Paz Celestial, com o nome de Tianjing. Durante um ano chegaram à capital delegações estrangeiras, como a britânica, francesa e americana, a fim de conseguirem um acordo com o novo governo revoltoso Taiping, para que este aceitasse os tratados assinados após a Guerra do Ópio. Mas tal não aconteceu e em meados de 1854, as forças estrangeiras invasoras juntavam-se às do Imperador contra os Taiping. Estes, de vitória em vitória, ocuparam inúmeras províncias e em 1856 estão no máximo do seu poder militar. As potências estrangeiras, percebendo poder aproveitar a guerra civil como uma nova grande oportunidade para aumentar ainda mais o conseguido com a I Guerra do Ópio, arranjaram um pretexto. II Guerra do Ópio Provocada quando a dinastia Qing estava a braços com a Revolta Taiping (1850-64), a Segunda Guerra do Ópio tem início em 1856 após um barco britânico, ao navegar nas águas territoriais chinesas, próximo de Tianjin, ser abordado pelos militares chineses. Pretexto para os ingleses e os franceses bombardearem Tianjin, obrigando a China a abrir mais um porto, a juntar aos cinco conquistados pela I Guerra do Ópio. Assim, pelo Tratado de Tientsin de 1858, Tianjin tornou-se um porto estrangeiro e o ópio na China legalizado, apesar de contrário ao querer dos governantes chineses. Já no Sul da China, a lembrar a partida de Lord Saltoun a 30 de Janeiro de 1846 de Cantão para Inglaterra levando a soma de três milhões de patacas paga pelos chineses em resgate da mesma cidade, a “12 de Fevereiro de 1858 é tomada a cidade de Cantão e enviado prisioneiro a Calcuttá o comissário imperial Yeh; os embaixadores e ministros de Inglaterra, França, Rússia e Estados Unidos dirigem nesse dia cartas a Yu, primeiro secretário de estado em Pequim, mostrando a urgência de ser nomeado pelo imperador um plenipotenciário e de se dar começo, em Shang-hai, às negociações sobre os vários assuntos que nas mesmas cartas se mencionavam. No caso em que o comissário imperial não chegasse a Shang-hai até ao fim de Março seguinte, os embaixadores aliados anunciavam o intento de se transportarem a um lugar mais vizinho da capital, para mais directamente se corresponderem com os primeiros funcionários do governo. Foram portadores destas comunicações Laurence Oliphant e o visconde de Contades, que saíram de Cantão nessa mesma data (12 de Fevereiro de 1858), e as entregaram, no dia 26, na cidade de Su-chau (Suzhou), ao vice-rei da província de Kiang-su (Jiangsu), que as enviou a Pequim.” BO. Ainda em 1858, a Companhia Inglesa das Índias Orientais entregava o governo de todas as suas terras à Coroa Britânica. Pequim ocupada O Tratado de Tientsin tardava em chegar e em Junho de 1859, sob o pretexto de serem trocadas as rectificações dos tratados, vieram os ministros ingleses e franceses em navios de guerra até Dagu, tendo o governo Qing notificado que deveriam desembarcar em Beiting. Ignorada a ordem, estes, com o suporte de vasos de guerra dos EUA, bombardearam o forte de Dagu. A guarnição chinesa ripostou e causou 500 feridos e mortos. Para retaliar, em Julho de 1860 os britânicos e franceses enviaram para Dagu uma força de 16 mil homens, que desembarcaram no mês seguinte em Beitang e ocuparam Dagu e Tianjin. Em Setembro vão o caminho de Pequim, levando o Imperador Xianfeng a entregar a negociação de paz ao irmão, o Príncipe Gong, Yi Xin e com alguns dos seus oficiais foi para Rehe (actual Chengde, Hebei), onde irá falecer em Agosto de 1861. Pequim, a capital da dinastia Qing, foi invadida em Setembro de 1860 por ingleses e franceses, liderados por Charles George Gordon, que destruíram o antigo Palácio Imperial de Verão (Yuan Ming Yuan) saqueando e queimando-o. Em Outubro, para pôr fim à II Guerra do Ópio, à China foi-lhe imposta a abertura de Tianjin como porto de comércio e a permissão dos trabalhadores chineses irem para o estrangeiro; – não mais do que legalizar o tráfico de culis. Como indemnização de guerra prescrita pelos tratados de Tientsin foi aumentada para os 8 milhões de taéis de prata a cada um dos países e à colónia britânica de Hong Kong veio acrescentar-se a península de Kowloon. Entre os católicos, aos missionários franceses da Propaganda Fide, que vinha substituindo o Padroado português, foi permitido comprar ou arrendar terra e construir o que desejassem. Em Setembro de 1861, Shamian, em Guangzhou, tornou-se uma concessão anglo-francesa, como se apresentará ainda na visita de Camilo Pessanha a Cantão.