h | Artes, Letras e IdeiasO ar do tempo Amélia Vieira - 4 Jun 2018 [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]onhecemo-lo por Feiticeiro no célebre filme americano de 1939; no entanto, a sua autoria é de L. Frank Baum e data de 1900 em romance, mas o certo é que ninguém mais ficou de fora no seu encantamento. O primeiro Oz foi surpreendente ( até pela técnica de filmagem da altura), havia a cor estranha dessas novas “poções” que iriam a partir dessa época transformar para sempre o nosso próprio imaginário. Diz a lenda que Oz é a terra das fadas situada num continente fictício, uma visão da «Utopia» de Moore: havia o cariz igualitário de harmonia ambiental como se caminhássemos ainda para uma Terra Prometida. Diz estar dividida em quatro e no centro existir a «Cidade de Esmeralda» uma espécie de Jerusalém Celeste. Curiosamente, toda esta geográfica descrição se encontra no meio de um deserto, um fértil reino rodeado de areias, até uma estranha rainha o transformar num chão mágico por causa de uma herança que o culto misógino a Oz usurpou: a herança da cidade era de uma princesa, Oz ma. Não fora toda a correspondente esfera onírica dos sonhos humanos, tão próximos, tão arquetipicamente iguais e nem sobrepúnhamos a esta descrição uma outra, que de forma cultural está em nós: a Cidade de Esmeralda, ou seja, a Jerusalém Celeste, Oz – Amos Oz – que por aqui vive às portas do deserto, que nela nasceu, que num “kibbutz” se fez neófito e extingue Klausner (nome da família de judeus ucranianos). O sonho socialista existe no primeiro romance de 1900 e marca uma parte emblemática da obra, só que a «Cidade de Esmeralda» há muito que existia e Oz apenas conquistou o reino de Pastoria, o que nos remete para o rei David no seu exercício de pastor, alinha a Aliança pelo varão e nunca mais se livrou do seu próprio encantamento. Amos Oz tem o peso de um mito que hoje ainda vive no deserto e mítico porque participou na «Guerra dos Seis Dias», coisas improváveis de terem sido bem sucedidas… vendo talvez um dedo mágico… mas a magia é inimiga do divino. Quem foi, quem é, e a que magia ascende? Onde começa cada princípio? Quem está dentro da Cidade diz que existe uma grande diferença que só os leigos não distinguem e quem não sabe é como quem não vê. Oz funda ainda o Movimento Pacifista para a solução dos dois Estados (talvez quatro) a divisão é quaternária, tudo acaba em períodos de quarentenas, tudo se define por quarenta coisas. Anos, meses, dias, situações. E de facto eram quatro os reinos iniciais. Hoje é sem dúvida o mais virtuoso e controverso escritor judeu, um cidadão activo e com a beleza varonil de um feiticeiro, inspira instabilidade e é acusado de traição ao Estado, ele não desgosta do epíteto: diz que um traidor tem um lado feliz, não gosta do seu pai nem da sua mãe. Havia um outro “mágico” na «Cidade de Esmeralda» que o inspirou, muito certamente, mas aqui já a conversão misógina estava no seu auge não havendo antídoto que resgatasse o género deposto “mulher, o que existe de semelhante entre nós dois?”. São tarefas extraordinárias e toda a retroactividade nos encaminha para uma qualquer coisa no centro do mundo do nosso sistema solar interno que não cessa de construir um Templo onde cada um em alma e pensamento possa morar. A cidade é de Esmeralda, cintila, é um umbigo, um oásis, um dorso de sonhos, de lutas, para decantar o anátema do velho feiticeiro. Mas a parábola da casa voadora é quase uma pintura de Chagall… um roteiro de grandes promessas de aterragem, Judy Garland era a princesa Oz ma transfigurada. Aqueles caminhos, o Homem de Lata, O Leão cobarde, o Palhaço, e por fim a recepção no centro da consciência: esta parte acho-a detestável, assim, como dizer às crianças que não há Pai Natal, ou mesmo ter dito a Moisés que tinha alucinações. A Sarça Ardente existe, e só assim é possível um reino futuro que não seja combusto. Creio que as pedras não ardam e muito menos os diamantes, pois que a fornalha que é apanágio dos infernos se escoa na dimensão mineral da Cidade, e um Deus, por fim, esteja à nossa espera, para continuarmos a viagem. Oz levar-te-ei no longo caminho das coisas transfiguradas. Não acabamos bem os diálogos pois que eles não são para findar, depois de se chegar à conclusão acerca da Cidade, e tendo a magia findado, a máscara não existe, nós, não sabemos colocar o ferro, a lata, o cobre, numa «Cidade de Esmeralda». Nem andaremos puxados a energia fóssil, e mais uma vez creio no carro de ouro do Profeta Elias e no arrebatamento das fontes para a libertação total. E em cada instante olho para Chagall. Ele também é de Oz. Talvez por analogia me venha aquele verso de Pessoa. mas já sonhada se desvirtua, só de pensá-la cansou pensar: sob os palmares à luz da lua sente-se o frio de haver luar. Ah, nesta terra também, também, o mal não cessa não dura o bem. …………………………… MAS é ali, ali, que a vida é jovem e o amor sorri.