Estudo | Inquérito sobre a saúde pouco conclusivo e sem graus de comparação

Os Serviços de Saúde apresentaram o Inquérito sobre a Saúde com dados de 2016, dez anos depois ter sido feito um estudo semelhante. Porém, diferenças de metodologia e padrões distintos de medição não permitem tecer muitas considerações

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]ntem à tarde os Serviços de Saúde (SS) convocaram uma conferência de imprensa onde foram apresentados os resultados do Inquérito de Saúde de Macau referente a 2016, o primeiro estudo do género feito desde 2006. Porém, devido às diferenças de método e standards de aferição não foi possível, para vários indicadores, ter uma noção evolutiva dos problemas de saúde que afectam os cidadãos.

Depois de uma conferência de imprensa, onde a língua portuguesa foi severamente massacrada, foi apresentada ao HM a possibilidade de voltar a falar directamente com o responsável do Centro de Prevenção e Controlo da Doença, Lam Chong. Aí foi-nos dito que “o relatório ainda está a ser melhorado, ainda não está traduzido, mas que a investigação está pronta”. De acordo com o chefe responsável pelo estudo, há margem para melhoria “alterando o conteúdo para que o público consiga compreender o relatório”. O responsável sob dependência dos Serviços de Saúde adjectivou a apresentação feita como “sumária” e com margem para melhorias quanto à substância.

De acordo com Lam Chong, o relatório completo será tornado público entre Dezembro e Janeiro. Ainda assim, o responsável revelou que os resultados são mais ou menos iguais aos indicadores de 2006. Isto depois de explicar que muitos dos indicadores tiveram metodologias diferentes.

Por exemplo, nos números do tabagismo relativos ao ano passado foram avaliados cidadãos com idade superior a 18 anos, enquanto que em 2008, 2009 e 2011 avaliou-se o consumo de tabaco a partir dos 15 anos. Ou seja, duas medidas incomparáveis.

Os números

Um dos indicadores mais alarmantes prende-se com a falta de informação de doentes. Entre os portadores de hipertensão com idade inferior a 60 anos, menos de 70 por cento tinha consciência de estarem doentes. Aliás, o caso torna-se mais chocante se tivermos em conta que 10,9 por cento dos inquiridos assumiu nunca ter medido a tensão arterial. No ano passado, os residentes com mais de 18 anos que sofrem de hipertensão situou-se nos 25,5 por cento, uma ligeira melhoria em relação a 2006 quando a doença afligia 28,8 por cento.

Em relação aos diabetes, 32 por cento dos doentes inquiridos não estavam conscientes da sua doença. De acordo com os dados revelados pelo inquérito, a taxa de incidência da diabetes situava-se nos 7,1 por cento no ano passado. Um aparente decréscimo em relação a 2006, quando se situava nos 5,3 por cento. Mas, também aqui, Lam Chong “tem algumas dúvidas se os standards de medição foram os mesmos”, daí não ter sido apresentada comparação.   

Quanto ao consumo de tabaco, os dados do inquérito dos SS revelam que 16,6 dos inquiridos fumavam. Um número melhor em relação ao verificado em 2006, quanto a taxa de tabagismo se situava nos 18,36 por cento, de acordo com os dados fornecidos por Lam Chong. O responsável pelo estudo explicou esta diminuição com o facto de este ser um fenómeno que “se pode controlar com vários tipos de políticas.

Consumos perigosos

No capítulo do consumo de álcool, o estudo mostra que os maiores de idade que beberam pelo menos três vezes por semana no ano passado eram 6,6 por cento. Em 2016, 7,5 por cento dos inquiridos beberam todos os dias mais de cinco doses de álcool, uma subida comparativamente com 4,7 pontos percentuais registados em 2006.

Em relação aos casos de hepatite B, Lam Chong assegura que a campanha de vacinação deu frutos, resultando no declínio das taxas de infecção, que no ano passado se situava nos 7,6 por cento. É de salientar que o programa de vacinação foi implementado em 1989. No que toca à hepatite C, o número de infectados situou-se, no ano de 2016, em 0,3 por cento. Não nos foram facultados números referentes a 2006 de forma a aferir da evolução das taxas de incidência da doença crónica no território ao longo da última década.

No capítulo do excesso de peso, entre os inquiridos no ano transacto a taxa de sobrepeso situou-se nos 25,5 por cento, enquanto que a obesidade afectava 5,1 por cento da população. Resultados preocupantes, tendo em conta que em 2006 o sobrepeso se situava nos 22,4 por cento e a obesidade nos 3,9 por cento. Chan Tan Mui, uma das autores do estudo não tem meias palavras e afirma que “em Macau há um problema de obesidade”.

Quanto à  dislipidémia, uma doença provocada por níveis anómalos de lípidos no sangue, a taxa de incidência em 2016 situava-se nos 24,3 por cento. Quando questionado sobre a comparação com o estudo feito em 2006, Lam Chong disse que a percentagem se situava nos 44,7 por cento. Mais uma vez, um número “que não se pode comparar porque é muito diferente”. O responsável pelo Centro de Prevenção e Controlo da Doença explicou que teria de verificar de novo os padrões usados há dez anos atrás.

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